quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A MISÉRIA AINDA MATA NA ZONA HISTÓRICA DO PORTO

Uma publicação do facebook ao qual tive acesso:

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A MISÉRIA AINDA MATA NA ZONA HISTÓRICA DO PORTO
O caso do “Toni”: Janeiro de 2017 Antero Pina, conhecido como “Toni”, cabo-verdiano de 71 anos, ex-mineiro no Pejão e na Panasqueira, sem-abrigo (a não ser precário), andava desaparecido desde o princípio do ano, dos locais habituais onde parava. Albergado temporariamente numa dependência da Terra Viva (associação de ecologia social ) na rua da Vitória, de que tinha a chave e onde tinha uma cama, roupa e um pequeno fogão camping-gás, esperava agora que alguns problemas se resolvessem, nomeadamente o seu possível acesso a uma pensão de reforma (já que tinha trabalhado em Portugal desde 1973)e a possível instalação num quarto de uma pensão na proximidade – já que o seu estado de saúde já não lhe permitia grandes caminhadas. Ultimamente só conseguia andar com a ajuda de uma “canadiana”.
Quando no início de janeiro tentámos falar com ele na Terra Viva, já que tínhamos recebido a informação da técnica da instituição que também o apoiava (SAOM) de que finalmente tinham conseguido arranjar-lhe um quarto numa pensão, percebemos que já há alguns dias não dormia no sítio habitual e resolvemos lançar um apelo num folheto que distribuímos para que nos pudessem informar do seu paradeiro. Também contactámos na altura as urgências dos hospitais do Porto mas não havia registada qualquer entrada em seu nome. Tínhamos conseguido obter-lhe o passaporte no Consulado de Cabo-Verde no Porto, tínhamos guardado o original para que não o perdesse e tínhamos-lhe passado uma fotocópia do mesmo, além de termos contactado com Cabo-Verde para que lhe enviassem um atestado de registo criminal ( o que conseguimos) sem o qual ele não poderia ter acesso aqui a medidas de apoio social a que teria direito.
Depois de várias tentativas para o encontrar, finalmente veio a má notícia: o Antero fora entretanto encontrado caído na rua, desacordado, ferido na cabeça, e levado para a urgência do Hospital de Santo António, faleceria alguns dias depois… Como não tinha consigo na altura qualquer identificação, não nos deram qualquer informação quando lá a tentámos obter…
Inicialmente abrigado num edifício vazio na Rua dos Caldeireiros de onde acabaria por ser despejado pelo proprietário, o Antero durante dois anos andou a deambular por aí, chegando a ter sido albergado numa pensão na Rua 31 de Janeiro – de onde foi mandado embora por ter tentado cozinhar no quarto – e não chegou a ir para a pensão do Carregal (que tinha sido contactada por nós e pelo SAOM ) porque lá “não admitiam a entrada a pretos”(…!) facto que denunciámos publicamente na altura. Neste caso a MISÉRIA teve também os nomes de RACISMO a somar ao da usual BUROCRACIA institucional…
18 de Março 2016: O caso do Manuel Coelho, antigo mineiro nas lousas em Valongo, um dos cerca de 40 “sem-abrigo” que em 2010 tinham ocupado o então abandonado e semi-arruinado “Mercado do Anjo” (onde é agora o centro comercial dos Clérigos) tinha regressado há pouco de Espanha por onde tinha tentado arranjar algum trabalho. Não o tendo conseguido, voltou ao Porto e em meados de Janeiro de 2016 abrigou-se inicialmente com outros amigos numa antiga “ilha” da Rua dos Caldeireiros, de onde acabou por sair para uma casa abandonada perto do jardim da Cordoaria. Uma noite de Março, ao passar pelo centro comercial dos Clérigos teve uma discussão com um dos seguranças da “Líder” que o atacou violentamente. Em resultado disto foi parar à urgência do Hospital de Santo António onde veio a morrer das pancadas que recebera na cabeça…
Outros casos anteriores
De entre os “sem-abrigo” que tinham participado em 2010 na “ocupação” das ruínas do antigo Mercado do Anjo, pelo menos 3 acabaram por morrer na rua (um deles abandonado no que restava daquelas ruínas, antes das obras de renovação do local), já que os apoios sociais a que teoricamente teriam direito nunca chegaram a funcionar verdadeiramente ou a ser-lhes acessíveis. Não deveremos esquecer que grande parte destas pessoas são atingidas por hábitos de alcoolismo e de consumo de drogas- único escape que conseguem à miséria da vida que têm – e que na maioria dos casos, as instituições ditas de “solidariedade social” aqui existentes na zona histórica e central do Porto não têm pessoal profissional suficiente, preparado e à altura de lidar com este tipo de população carenciada – que necessita mais de relações de fraternidade, apoio mútuo e de compreensão do que de “bitaites”e sentenças muito “técnicas” atiradas do alto do cavalo…
POSSÍVEIS SOLUÇÕES?...
Para que não mais pessoas morram ao abandono pelas ruas como o “Toni”, o Manuel e tantos outros, a solução não será certamente contar apenas com VOLUNTÁRIOS… Mas TAMBÉM! Há em muitos locais, instituições, associações, grupos informais, entre os vizinhos, pessoas mais sensíveis às dores das restantes, que organizando-se, relacionando-se, como uma REDE LOCAL DE SOLIDARIEDADE POPULAR, poderão ser muito mais eficientes no apoio às demais do que algumas estruturas e organizações cujo principal objetivo parece ser mais mascarar a realidade, esconder a pobreza e servir-se dela do que servir verdadeiramente a causa dos mais pobres e necessitados.
DAÍ ESTE COMUNICADO TRAZIDO ATÉ VÓS PARA QUE NOS POSSAM CONTACTAR E POSSAMOS EM CONJUNTO LEVAR À PRÁTICA ESTA IDEIA.
Grupo de Trabalho Solidariedade Social da TERRA VIVA ! A.E.S - Associação de Ecologia Social
Porto, 16 de Janeiro-2017 Telem.: 961449268 /938896091 Telef.:223324001
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Cowboy fora-da-lei


domingo, 22 de janeiro de 2017

Bar Pinguim


traço a marcador preto sobre papel A4 em 2012
cor a pastel seco em 2017
ZMB


aguarela sobre traço preto impresso a laser sobre papel A4
2017
ZMB

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Tango Lust Bar


Tango Lust Bar from zmb_mur on Vimeo.

This video came out as an idea around 2012
when I had to develop a design application for a job interview.
The idea was based on developing three image and logo concepts regarding the word 'Lust'.
I designed three images: this one of the girl playing pool with drinks, I called it 'Lust bar'.
But the designs were not at that stage properly presented, so I didn't get the job.
But I liked this image and made it to a flash animation
where I added my word reading from Frank Zappa's Roxy and Elsewhere
and set the background to an image of Ribeira at Porto, Portugal.
This was for some time the entry-point for the 'Edições Cassiber' site,
my own site that is now offline.
In 2017, I just transformed the swf file onto a adobe premiere file
and overdubbed the sound from the Zappa vinyl record.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Jazz is not dead It just smells funny



O final do concerto de Frank Zappa no clube Roxy.
Isto é tão fabuloso como experiência sonora que apetecia
ter nascido a tempo de poder ver 'ao vivo' o concerto em 1975.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Operação Flores, Natal -- a recompensa


A Operação Flores 2016 terminou.
Como me portei bem e consegui vender as aguarelas suficientes,
decidi dar uma prenda a mim próprio:
a caixa de 4lp dos Bourbonese Qualk, este disco:


A má notícia é que no final do mês tenho de sair do meu alojamento.
O senhorio vendeu o prédio e temos que sair.
Dado o preço elevado das rendas no centro histórico do Porto,
talvez tenha de abandonar a área,
o que tornará mais difícil voltar a uma nova Operação Flores em 2017.
Vou ver o que consigo arranjar.
Estes úlltimos anos foram os meus melhores.

Tornou-se mais fácil respirar porque a enorme roda se retirou e já não era preciso enfiar-se entre os raios da roda.

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-- Puah... que nojo... deixa -- murmurava Turbin.
Nikolka assustava-se, levantava o sobrolho, mas continuava teimoso e desajeitado. Elena transformava-se, muitas vezes, em negro e estorvador Larióssik, sobrinho de Serguei, e, ao voltar a ser a Elena ruiva, corria os dedos algures ao lado da fronte, o que não dava alívio quase nenhum. As mãos de Elena, normalmente quentes e hábeis, agora passeavam-se como ancinhos, compridas, imbecis, e faziam apenas as coisas mais inúteis, incomodativas, tudo o que estragava a vida de um homem pacífico neste maldito campo de armazém militar. Provavelmente foi também Elena a causadora da estaca em que enfiaram o corpo de Turbin baleado. Ainda por cima sentava-se... o que é que se passa com ela?... sobre a ponta desta estaca, e esta começava a girar sob o peso, lenta, nauseabunda... Tentai viver quando uma estaca arredondada se espeta no vosso corpo! Não, não, não, eles são insuportáveis! Então, com toda a força, mas com um resultado muito baixinho, Turbin chamou:
-- Iúlia!
Iúlia, contudo, não saiu  da sala antiga com dragonas douradas no retrato dos anos quarenta, não atendeu ao clamor do doente. Então, o pobre doente seria martirizado até à morte pelas figuras cinzentas que se puseram a andar pela casa e pelo quarto ao lado da própria família Turbin, se não chegasse um gordo de óculos de ouro -- persistente e muito hábil. Em honra da sua chegada, mais uma luz se acendeu no pequeno quarto -- a luz de uma reluzente vela de estearina num castiçal antigo, negro e pesado. A vela ora tremeluzia em cima da mesa, ora andava à volta de Turbin, e por cima dela, pela parede, circulava o monstruoso Lariósik, parecido com um morcego de asas cortadas. A vela inclinava-se, a estearina branca derretia-se. O pequeno quarto impregnou-se do cheiro pesado a iodofórmio, a ácool e a éter. Em cima da mesa surgiu um caos de caixinhas brilhantes com luzes em espelhinhos niquelados e um montão de algodão teatral -- neve de Natal. O gordo e dourado com as mãos quentes fez a Turbin uma milagrosa injecção no braço saudável e, passados alguns minutos, as figuras cinzentas deixaram de se desvairar. O morteiro foi empurrado para a varanda, e através dos vidros tapados por cortinas o seu cano negro já não parecia medonho. Tornou-se mais fácil respirar porque a enorme roda se retirou e já não era preciso enfiar-se entre os raios da roda. A vela apagou-se, o Larion anguloso, negro como o carvão, Larióssik Surjânski de Jitómir, desapareceu da parede, e a cara de Nikolka tornou-se mais razoável e menos irritantemente teimosa, talvez porque os ponteiros, graças à esperança na arte do gordo dourado, se separassem e deixassem de pender tão inexorável e desesperadamente no seu queixo aguçado. Passou um tempinho desde as cinco e meia até às vinte para as cinco, mas o relógio da sala de jantar, embora em desacordo com isso, embora continuando a mandar teimosamente os ponteiros para a frente, trabalhava já sem a rouquidão senil e resmungona, mas como antigamente - tocando num barítono limpo e imponente: tonc! E tocando o carrilhão como na fortaleza de brinquedo dos maravilhosos gauleses de Luís XIV, na torre -- bomm!... Meia-noite... alerta... meia-noite... alerta... Tocava a advertência, e as alabardas de alguém tiniam com um som prateado e agradável. As sentinelas andavam e guardavam, porque o homem ergueu as torres, os alertas e as armas, sem ter consciência disso, com um único objectivo -- o de guardar o sossego e o lar humanos. Por causa disso ele vai à guerra, e no fundo não vale a pena combater por qualquer outra causa, nunca.
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, páginas 192-193
'A guarda branca'
Mikhaíl Bulgákov
tradução de Nina Gerra e Filipe Guerra
Edição Editorial Presença

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Space Finale -- música da terra do frio




Long-standing collaboration of 
Swedish composer/sound artist B.J. Nilsen and Icelandic experimental duo Stilluppsteypa. 
They've been recording since 2005, 
and released majority of their works through 
Helen Scarsdale Agency and Editions Mego labels. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Música para te curar do tempo



Um fan-vídeo com visuais de Maya Deren
no filme 'Ritual in transfigured time'

O três-cabeças pisca os olhos famintos


'O três-cabeças pisca os olhos famintos'
anteriormente com o nome 'Piscando o olho'
óleo sobre pano cru
41cm por 35cm (com moldura)
2006 - 2016
ZMB

Repintura em Dezembro de 2016  deste trabalho em pano cru

(fotografia de época)


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Iluminando ego e ave


'Iluminando ego e ave'
anteriormente com o nome 'Figura com ave'
óleo sobre pano cru
43cm por 32cm (com moldura)
2006 - 2016
ZMB

Repintura em Dezembro de 2016 deste trabalho em pano cru


(fotografia de época)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Ribeira Negra

O bar Ribeira Negra fechou portas em 2016.
Foram 27 anos de actividade, um bar onde se ouvia música rock:
clássicos como Led Zeppelin, Jimi, Stones, Dylan; dvds de AC/DC e Pink Floyd.
Podíamos ter uma conversa com pessoas e turistas, cheguei a falar com um coreano em inglês.
Era o sítio para assistir à Champions e aos jogos do Porto.
O bar Ribeira Negra fechou portas.
A sensação que fica é que a Ribeira morreu .

:(



"Ribeira negra"
óleo sobre tela
30cm por 40cm
2014
ZMB

Este trabalho integrou a exposição colectiva 
de homenagem aos 25 anos do bar Ribeira Negra,
um bar da zona da ribeira no Porto


Aguarela sobre traço preto impresso em papel de aguarela, tamanho A4


Traço a grafite, cor a lápis de pastel seco

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O barão trepa à árvore


'O barão trepa à árvore'
anteriormente com o nome de 'Três animais'
óleo sobre pano crú
31cm por 42cm (com moldura)
2006 - 2016
ZMB

Recriação na mesma tela de um quadro de 2006
inspirado pela leitura de 'O barão trepador' de Italo Calvino



(fotografia de época)



segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Ditado para espantar vozes por detrás das costas

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Perú calado ganha um cruzado
Perú falando sai apanhando
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da autoria de
Anónim@ do séc XXIII

[Repost] Nick Cave & The Bad Seeds - Kicking against the pricks, 1986



Sempre que ouço Nick Cave antigo
lembro-me do Filipe.
Um dia ligou feliz dizendo que tinha recuperado
um saco com duzentas cassetes.
Quase todas mal gravadas tinham sido a alegria do nosso grupo 
quando as ouvíamos no auto-rádio 
a caminho da DayAfter em Viseu ou da States em Coimbra.
Tempos que não voltarão a ser.
Ficam as memórias e a juventude.

Possas tu estar bem e de saúde!