terça-feira, 30 de setembro de 2014

Claudio Mur - Três contos morais



'3 contos morais'
2012
Claudio Mur

Este livro contém três contos escritos por Claudio Mur
(Dois deles são co-edições com o seu pseudónimo irlandês - John Moore)
e ainda
mensagens subliminares em guardanapos escritas por Xanda,
mensagens virais enviadas por Icata e
desejos de explendor escritos  por minha irmã Via Láctea.

O texto completo com os desenhos de ZMB pode ser descarregado em
https://archive.org/details/zmb_mur_TresContosMorais

The full text along with ZMB's drawings can be downloaded here:
https://archive.org/details/Zmb_murThreeMoralTales

As imagens contêm versões de
Botticelli, Caravaggio, Judi Castelli, Egon Schiele e Lucian Freud.

sábado, 27 de setembro de 2014

The Shamen



'Move any mountain'
12-inch remix 1991
The Shamen

well well back in the day
em que havia torneiras a jorrar dinheiro em Portugal
nós que sempre fomos remediados com emprego estável
mas que nunca fomos ao algarve coitadinhos de nós
snif snif ai que vou chorar
mas havia dinheiro para competir com os outros aspirantes a galo
e comprar uma sapatilhas Diadora por doze contos de reis
e hoje compro sapatlhas Start a imitar as
All-star por dez euros não but back in the day
quando com dezoito verões entrei na faculdade
e regressei de uma primeira ou segunda semana de caloiro
e borga fora da família
para ir jogar bilhar ao Maior com os colegas de forno town
e ouvir uma qualquer versão desta música dos The Shamen,
tudo parecia possível.

Eis outro exemplo de como os The Shamen definiram uma geração:



'Here me o my people'
do album "En-tact"
1991
The Shamen

Lyrics:

Oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people

We seize at this moment, justice
Still standing on the streets of South Africa
And apartheid still reigns supreme all through this land
And the price too high and the end is near

We hear the voices of the beast
As it shouts at us, as it tries to frighten us
As it tries to intimidate us
And we know the price is high but the end is near

We know, we know, that we will have to pay
And get squashed, and the struggle is long and hard
And through each part, the price is high but the end is near

Do not be scared, do not do wrong
Do not betray our faith, do not betray our children
Do not betray our fathers, do not betray our mothers
Do not betray our vision
Do not betray the justice we are fighting for
Do not betray the lands we will see that will rise up
Out of the ashes of this country
And apartheid will crumble
The price will be high, but the end is near

Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people

Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people
Hear me oh my people

Read more: http://artists.letssingit.com/shamen-lyrics-hear-me-o-my-people-1xkhmqt#ixzz3EWyBDBBS

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Claudio Mur - Um retrato da falsa revolução

Um retrato da falsa revolução

A revolução disse que toda a gente seria livre de escolher e toda a gente aderiu. Disseram-se sociais
e comunitários e embarcaram no sonho de uma sociedade livre e de sucesso para todos os sócios e
tanto pelo menos como o nosso vizinho do lado.
Quem se revoltou? Todos o que nada tinham, os que tinham venderam se ainda puderam e fugiram
para gozar reformas no exílio. Deixou-se de ter como amigo o senhor fulano de tal pois este deixou
de ter um amigalhaço numa empresa exportadora para o verdadeiro mercado interno, as colónias.
Deixou-se de ter de fugir para um bidãovil, caso se tivesse um mau currículo ou não se tivesse o tal
amigalhaço, como alternativa à prisão ou à porta da igreja para turista visitar e fama de pedinte mal
educado vendendo o coto de miséria como mercadoria. Tudo porque a revolução disse que o estado,
ao se dissolver progressivamente, seria o sócio amigo em quem confiar e ninguém precisaria mais
de ser pedinte da corporação ou da igreja para o ser, em vez, do novo estado, o sonho prometido
para quem se revoltasse e aderisse à revolução social do cidadão. O estado refundado legislou que
no interesse do novo cidadão, ele, ainda pobre, perdesse a vergonha e se registasse no sistema com
o nome de 'vítima da sociedade' e se juntasse como 'voz da experiência' a uma nova associação, uma
nova casa, loja, lobbie, um novo partido, uma nova corporação que defendesse o sonho privado de
cada um: por decreto regulamentar, aspirar a transcender a natureza do ser humano e ser monarca
do seu próprio nariz e ser ainda reconhecido pela história como o Senhor Alguém Que Fez Obra,
aquele bem falante benfeitor de quem toda a gente fala e deseja vir a ser.
Chamaram-lhe o bolo social e disseram que, se bem integrados neste faroeste social regulamentado,
todos poderiam comer um pedaço de bolo se fizesse o compromisso. Todo o filiado subiu na escala
social trocando de posição conforme a conveniência e dizendo aos filhos: estuda para seres um
senhor porque eu mato-me para te dar um futuro. Se eras amigo levaste uma palmadinha nas costas
e a caridade ocasional de um cheque ao fim do mês. Se não eras amigo perguntaram pelo currículo
e fizeram um contrato dando a ilusão que seria cumprido desde que te tornasses amigo, te
identificasses como escravo do bem comum da empresa, da nova família.
A ilusão do espírito livre, um amigo, um sócio em potência capaz de causar mudança para si e todos
os sócios, vendo a lei apenas como instrumento temporário de registo da sua liberdade, uma medida
para ser ultrapassada. Uma lei para todos mas com a honrosa excepção de cada um. Às vezes
repressora e tirana de quem não pensa de acordo, a ilusão de liberdade é perdida todos os dias no
modo como a nossa mente interpreta a revolução social e o nosso papel na revolução social em
romarias ao cemitério para ver os novos mortos, a nova tradição. Lembras-te de quando éramos
novos, do nosso papel na revolução? Éramos uns pobres salafrários, uns grandes malucos mas agora
depois de mortos somos burgueses cool. Já viste o tamanho do meu instrumento? A ilusão
continuou com o direito a poder participar na festa de adoração do sucesso, personificado no líder.
O sucesso mede-se em dinheiro, na quantidade de bolo redistribuído pelo líder, champanhe para os
accionistas e sopa para novos cartões de pobre, os que não têm amigos nem currículo à porta das
novas igrejas, agora reaccionariamente sociais apelando ao sentimento do turismo de mausoléu,
dizendo que jesus afinal era socialista e nunca gostou de mercadores nem capital.
E assim as corporações se renovaram e voltaram a ser o que sempre foram e pareceram. Estatuto,
hierarquia e repressão para quem não aceita ou não pode aceitar a opção do contrato social. As
coisas não mudaram assim tanto, não passou de uma falsificação organizada por iluminados a soldo
que souberam propagandear nas gentes a ilusão de o sol poder nascer igual e independente, de e
para todos, para que no fim cada um, depois do estatuto adquirido e da ruptura ideológica com o
clube de juventude rebelde, poder viver hoje de pantufas no sofá a reforma dourada mandando
trabalhar as gentes, ou seja, os outros porque, claro, eu trabalhei muito e a minha obra, o meu nome
fala por mim.
Mudaram apenas os nomes numa passeata evolutiva até à dissolução final do seu sentido de palavra,
do desejo de produto à produção do desejo até à propaganda do desejo. Afinal até deus não morreu
e tornou-se múltiplo e relativo, foram-lhe mudando o nome conforme a utilidade, de partido
bondoso e mártir a portador da luz e maldoso até à reforma compulsiva para taxa de juro e capital,
uma teo-social democracia do proletariado, para quem a palavra mudou de anarquistas do partido
social para fiéis colaboradores descartáveis vivendo instrumentalizados no substrato ilusório e
figurado da conveniência social com promessa de igualdade e fraternidade no acesso ao bolo, à
palavra que dá espírito matando a fome e o choro. Se fores meu amigo e contribuíres dou-te um
prato de sopa no meu palácio, senão meu amigo vai morrer profeta lá longe no paraíso! O papa
benze, o aiatola proscreve, buda contempla, brama é poeta e o imã vive em segredo enquanto deus
omnipotente manda o seu burocrata subir a taxa de juro da nação de poetas. Porque temos de nos
rir, parodiamos de vez em quando em animado congresso de sócios, ou assembleia com as gentes, a
realpolitik da ilusão, fantasia, farsa e propaganda e colamos ao cínico palavras como estúpido
porque não segue exactamente o rebanho, como mau e vingativo porque diz a sua verdade em
noites de facas longas, como mal educado, desavergonhado, impudente, obsceno, imoral porque diz
o que todo o rebanho pensa: a pornografia do poder corrompe.
Agora que o deus anarca do capital deixou cair a máscara e nos expulsou da casa que produzia o
bolo e deixou de distribuir por todo o fiel sócio contribuinte, nós, as gentes, começamos a descrer
do morto deus Sebastião, o tal que foi prometido. Porque esse partido, esse deus, esse mercado não
passa de um turista, um partido estrangeiro, esse que, a soldo e em saldo, comprou o bolo para
produzir sonhos para famílias que vivem lá no paraíso e ter ignorado as gentes de cá. O problema
não é ser um crápula mas não ser eu, err... quero dizer, ser um estranho sem cor e não deixar nada
para mim, ups... quer dizer, para a gente, para a nação, afinal de contas pago impostos para quem?
Não te tenho no meu bolso, deste-me uma facada, oh deus!, eu era teu amigo e, por menos, fiz a
guerra em teu nome. Por favor, não me abandones.
Como resposta os burocratas e polícias cumprem o protocolo e mandam educadamente deslocalizar
a peida para o paraíso porque aqui nunca seremos livres. O estado, a ordem é deus e deus é o
mercado e o mercado sou eu e eu sou o inferno. É trabalhar para comer enquanto há e não bufar ou
só bufar os que nunca trabalham, claro, a quem nos dá de comer por caridade.
Como contra-resposta os clubes e gentes cumprem o protocolo e continuam em passeio a vender a
ilusão de progresso, a democratização do deus capital, capital ao dispor de todo aquele que se quiser
juntar à revolta para ser visto como mártir, um jesuíta dito espírito livre e filantrópico que nos
salvará do inferno, eu, a associação igreja salva do fim do mundo e tu podes ser o meu escolhido.
Para compor a estrutura ditatorial do capital anarca neste cool jogo de futebol no fim do mundo
sobramos nós, os prisioneiros do verbo liberdade, as facas esquizóides do indivíduo e os gunas
dependentes do social. Sempre desconfiamos da promessa, a liberdade sempre foi ilusão, o estado
só serve para receber subsídio em troca de servidão. Sociedade sempre foi e sempre se transformará
em hierarquia e deus sempre foi intoxicação, orgasmo. Conforme a cor do clube ecuménico ou do
capital imperial, conhecemos a verdade com vários nomes mas a palavra com que nos definem
nunca mudará: maluco, imoral, traidor, terrorista, arma de arremesso, drógado. Somos tudo isso.
Dentro de nós um mundo e parte desse mundo é autoridade. Fora de nós existe o mundo-promessa e
esse mundo é autoridade, não nos reconhece direitos se não assinarmos o contrato de recolha de
informação ou provocação social e o máximo que oferece é indiferença bem educada. Para nós
nunca haverá solução porque recusamos que a nossa insurreição seja instrumentalizada embora,
claro, não recusemos o cheque. Não podemos mudar o mundo, apenas mudar o modo como vemos
o mundo e como ele nos influencia numa estratégia de redução de danos. O caos organiza-se
sempre que acendemos a luz do desejo numa outra que és tu. Amor, trabalho, conhecimento e a
responsabilidade de se pudermos não roubar a tv da mãe tanto melhor, deixemo-la rezar porque
rezar lhe dá força. O nosso deus não é jesus nem o capital de jesus, admitimos a nossa condição e
disfarçamo-lo de opção, procuramos o prazer e a experiência sensorial, falhamos perante a
impossibilidade do convívio sem hierarquia, identificamo-nos com uma emoção sempre que o
nosso polícia interno está de folga e às vezes choramos, somos humanos afinal e queremo-nos
imperfeitos, vivemos a possibilidade de eternidade do dia porque conhecemos a noite, intoxicamonos
com um copo de água, e gostaríamos, se pudéssemos, não escrever uma única linha e, quando a
hora chegasse, deixar apenas um corpo bonito sem história, sem efeitos colaterais, apenas pó e já
sem precisar da rehabilitação da laje. Tão válido como dizer sem a tua elegância: quem nunca te
tiver roubado um beijo que atire a primeira pedra.
- Morziinho, vais fazer o jantar?
- Oooó, eu queria ver o futebole...

--

publicado no indymedia.pt
em 2012
por alturas do despejo da escola da Fontinha pela camara municipal do Porto

parte deste texto foi reaproveitada em 'Hobo em memória cache',
um conto presente em "Contos de fadas de Manuelle Biezon" por Claudio Mur

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

ZMB - The Mother Mary storyboard



"Mother Mary storyboard"
2012
ZMB

A partir de um pedido online de colaboração visual
para angariar fundos
para uma curta de cinema de horror
de nome 'Mother Mary'
baseada num conto de A. N. Calaway.
O guião a partir do qual fiz os desenhos foi escrito por David Francis

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Filme publicitário sobre zines


Zines from zmb_mur on Vimeo.

"Zines"
2012
ZMB

Um filme realizado para promover o espírito
e as zines em papel lançadas até então
pelas Edições Cassiber

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O biógrafo vendo-se desesperado a tentar salvar a biografia do seu melhor amigo que lhe dirá que não precisa do seu deus mas que o livro está bom para o público

'
O pior é que, se continuo assim, vou acabar por escrever mais sobre mim mesmo do que sobre Johnny. Começo a parecer-me com um evangelista e isso não tem piada nenhuma. Enquanto regressava a casa pensei, com o cinismo necessário para recuperar a confiança, que no livro sobre Johnny só referi de passagem, discretamente, o lado patológico da sua personalidade. Não me pareceu necessário explicar às pessoas que Johnny crê passear por campos repletos de urnas ou que as pinturas se movem quando ele as fita; fantasmas da marijuana, ao fim e ao cabo, que acabam com a cura da desintoxicação. Mas dir-se-ia que Johnny me oferece esses fantasmas, mos coloca, como outros tantos lenços, no bolso, até chegar a hora de os vir buscar. E acho que sou o único que os suporta, que com eles convive e os teme; e ninguém o sabe, nem mesmo Johnny. Não se podem confessar tais coisas a Johnny, como se confessariam a um homem realmente grande, ao mestre perante o qual nos humilhamos em troca de um conselho. Que mundo é este que me cabe carregar como um fardo? Que tipo de evangelista sou eu? Em Johnny não existe a menor grandeza, soube-o desde que o conheci, desde que comecei a admirá-lo. Já há algum tempo que isto não me surpreende, ainda que, a princípio, me parecesse desconcertante essa falta de grandeza, talvez por se tratar de uma dimensão que uma pessoa não está disposta a aplicar ao primeiro que chega e, sobretudo, aos homens do jazz. Não sei porquê (não sei porquê) acreditei por um momento que, em Johnny, havia uma grandeza que ele desmente de dia para dia (ou que nós desmentimos e, na realidade, não é o mesmo; porque, sejamos sérios, em Johnny há como que um fantasma de outro Johnny que poderia ser, e esse outro Johnny está repleto de grandeza; o fantasma apercebe-se que lhe falta essa dimensão que, no entanto, evoca e contém negativamente).
Digo isto porque as tentativas de Johnny para mudar de vida, desde o suicídio falhado à marijuana, são as que seria de esperar de alguém tão sem grandeza como ele. Creio que, contudo, o admiro mais por isso, porque se trata realmente do chimpanzé que quer aprender a ler, um pobre tipo que vai de ventas contras as paredes e não se convence e começa de novo. Ah, mas se um dia o chimpanzé se põe a ler, que ruína em massa, que trapalhada, que salve-se quem puder, eu primeiro. É terrível que um homem sem grandeza alguma se lance desta forma contra a parede. Denuncia-nos a todos com o choque dos seus ossos, despedaça-nos com o primeiro trecho da sua música. (Os mártires, os heróis, de acordo: estamos seguros com eles. Mas Johnny!).
'

Julio Cortázar
em  'O perseguidor'

na selecção de contos "As armas secretas"
edição Cavalo de Ferro 2014

Brion Gysin: I Am That I Am


Love samples


Love Samples from zmb_mur on Vimeo.

'Love samples'
2011
ZMB

Este filme é uma animação de detalhes da minha pintura
com a adição do photoshop na transformação da cor.

sábado, 6 de setembro de 2014

Pauline Oliveros

From discogs.com:
'
American Composer, performer and author, born 1932. In the early '60s, Oliveros — with Morton Subotnick and Ramon Sender — formed the San Francisco Tape Music Center, and, there, she began her pioneering work with electronics and tape. In performances, Pauline Oliveros uses an accordion which has been re-tuned in two different systems of her just intonation in addition to electronics to alter the sound of the accordion. Throughout the years, she has developed the Extended Instrument System (EIS), a sophisticated setup of digital signal processors designed for use in live performances. Examples of her use of the system can be heard on recordings by the Deep Listening Band. Her early electronic works appear on a pair of CDs: Alien Bog/Beautiful Soop (Pogus, 1997) and Electronic Works (Paradigm, 1998).
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Pauline Oliveros / Stuart Dempster / Panaiotis - Lear

Track taken from "Deep Listening" (New Albion - NA 022 CD).

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Osamu Dazai - Não-Humano

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Tenho pensado, por vezes, que tenho sido sobrecarregado com um fardo de dez infortúnios, e que qualquer um deles seria, se suportado pelo meu vizinho, suficiente para fazer dele um assassino.
Simplesmente não entendo. Não tenho a mais pequena ideia de como ou quão extensas possam ser as angústias dos demais. Os problemas práticos - desgostos que podem ser aliviados se existir o suficiente para comer - são provavelmente os mais intensos de todos os infernos, horríveis quanto baste para desfazer em estilhaços os meus dez infortúnios, mas isso é precisamente o que eu não percebo: se os meus vizinhos conseguem sobreviver sem se matarem uns aos outros, sem ficarem loucos, mantendo interesse em partidos políticos, não se entregando ao desespero, prosseguindo de forma determinada na luta pela existência, podem ser as suas tristezas realmente genuínas? Estarei errado ao pensar que estas estas pessoas se tornaram completamente egoístas e tão convencidas da normalidade dos seus modos de vida que nem uma vez duvidaram delas mesmas? Se é esse o caso, o sofrimento delas deve ser mais fácil de aguentar: são o mais comum dos seres humanos e, talvez, o melhor que se pode esperar. Não sei... Se dormiste profundamente de noite, a manhã será agradável, suponho eu. Que tipo de sonhos têm? Em que pensam quando andam pela rua? Em dinheiro? Dificilmente - não pode ser só isso. Parece-me ter ouvido a supracitada teoria de que os seres humanos vivem para comer, mas nunca ouvi ninguém dizer que eles vivem para fazer dinheiro. Não. E ainda assim, em algumas circunstâncias... não, nem sequer isso sei... quanto mais penso nisso, menos compreendo. Tudo o que sinto são os ataques de apreensão e terror perante o pensamento de que sou o único que é completamente diferente do resto.É-me quase impossível conversar com outras pessoas. De que devo falar, como devo dizê-lo? - Não sei.
Foi assim que acabei por inventar as minhas palhaçadas.
'
,página 12

edição Cavalo de Ferro

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Kcoillapso: o filme publicitário


Kcoillapso booktrailer from zmb_mur on Vimeo.


Um pequeno filme realizado em 2011
para promover a edição online do livro
'Kcoillapso' por Claudio Mur

A versão portuguesa deste livro pode ser descarregada aqui:
archive.org/details/zmb_mur_Kcoillapso_PT_porClaudioMur

The english version of this book can be downloaded here:
archive.org/details/zmb_mur_Kcoillapso_ENG_byClaudioMur