sexta-feira, 27 de março de 2015

“Schizophrenia involves thought, mood, cognition”



Um artigo a ser lido
por toda a gente que vive ou já conviveu ou poderá vir a conviver no futuro,
quer profissionalmente quer familiarmente quer pessoalmente,
com a doença e o seu estigma.

Sonic Youth - Schizophrenia



A versão original desta música está no álbum 'Sister' de 1986
Leiam os comentários no site 'song meanings' acerca desta canção.

"Schizophrenia" 
as written by
Kim Gordon, Lee M. Ranaldo, Steven Jay Shelley and Thurston Joseph Moore:

I went away to see an old friend of mine
His sister came over she was out of her mind
She said Jesus had a twin who knew nothing about sin
She was laughing like crazy at the trouble I'm in
Her light eyes were dancing she is insane
Her brother says she's just a bitch with a golden chain
She keeps coming closer saying "I can feel it in my bones
Schizophrenia is taking me home"

My future is static
It's already had it
I could tuck you in
And we can talk about it
I had a dream
And it split the scene
But I got a hunch
It's coming back to me


quarta-feira, 25 de março de 2015

Procura-se, parte 2


Dona lúcia,
administrativa a quem devo grandiosas sessões de
sexo, bhang e vinho,
milf duas vezes virgem e
vendedora de flores com inegáveis qualidades,
procura agora cavalheiro substituto para a tão desejada sanduíche:
O lúcio confessou-se ao estômago e mandou-a passear.
Diz que não tem dinheiro para a previsível pensão de alimentos.


segunda-feira, 23 de março de 2015

Schizofrenia - Taste of Blues (1969)




Schizofrenia - Taste of Blues (1969)

Formed around Claes Ericsson, who would later perform in the 70's band LOTUS, Taste of Blues challenges their listeners with a saucy concoction of the late 60s psych sound as well as something entirely original and free. It might just be a stretch to call this one Krautrock, but when one jumps in at the deep end here, the overt improvisations beyond the relative blues banner up front, is downright uncanny. Loads of CAN reminding moments, and this is well before CAN even developed their legendary monotonous rhythm based structure.
Schizophrenia opens with the title track, which is a feast of krautocking hypnotising rhythms and then flips over to a more bluesy style on the 2nd side whilst still retaining a sonic playfulness.
Maybe this band is obscure beyond recognition, but it (two of the musicians that is)later evolved into the hard and heavy hitting ASOKA that sounded like a psychedelic take on ATOMIC ROOSTER.
American Don Washington provided the vocals that are eerily similar in style and delivery to Malcolm Mooney, and even the repetitiveness and fiery motorik stuttering drumming recalls a certain Jaki Liebezeit.
Taken from Prog Archives



http://www.progarchives.com/artist.as...

Songs / Tracks Listing
1. Schizofrenia
2. A Touch Of Sunshine
3. On The Road To Niaros
4. Another Kind Of Love
5. Another Mans Mind
6. What Kind Of Love Is That

Line-up / Musicians
- Don Washington / vocals
- Rolf Fredenberg / guitars
- Claes Ericsson / organ, violin
- Robert Moller / bass
- Patrik Erixson / drum

sábado, 21 de março de 2015

Procura-se


Senhor falcão,
leitor a quem devo saber que kierkegaard gostava de criadas de quarto,
psicólogo suicida
e escritor de cinco mil páginas com lombada,
procura conhecer cavalheiro pescador de expressão descosida nas mangas
para conversar, partilhar experiências, jogar dominó
e escrever um romance de modo a pagar a renda em atraso.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Dead Combo - A bunch of meninos



'A bunch of meninos' - playlist
Dead Combo

"Um país abandonado, deixado à mercê de um destino que não se vislumbra no horizonte. Um povo descalço, que cai a cada passo que dá, empurrado por uma gigantesca mão feita de aço. Paisagens inóspitas arrancadas, à força, do coração de que é feito esta gente. Um coração que bate, forte, indestrutível. O povo que cai, mas que se ergue sempre após cada queda e continua a caminhar. O povo que é o país, o povo que somos nós. Todos." Dead Combo

Realizado por / Directed by: 
Daniel Costa Neves

Produzido por / Produced by: 
Daniel Costa Neves / Dead Combo / Paulo Pato

Agradecimentos / Thanks to: 
Ainhoa Vidal, Hélder Nelson, José André e Carlos Almeida (Irmã Lúcia SFX), Julia Doesch, Kilito, Lydie Bárbara & João Figueiras (Blackmaria Produções), Mário Melo Costa, Pedro Diniz Reis, Pelouro da Cultura da C.M. Braga, Polícia Municipal de Braga e Theatro Circo de Braga.

2014 © Daniel Costa Neves / Dead Combo

terça-feira, 17 de março de 2015

«Menino rico, tudo isso é vento. (...)
Hoje em dia as pessoas são uma espécie de coisas.
(...) Andas completamente desligado das coisas.»

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Por esse lado, a Aliança dos Filhos da Meia-Noite realizou a profecia do primeiro-ministro e tornou-se verdadeiramente um espelho da nação; estava em acção o modo passivo-literal que eu não deixava de invectivar com crescente desespero e, por fim, com cada vez mais resignação. «Irmãos, irmãs -- radiodifundia eu numa voz mental tão incontrolável como a sua contrapartida física. -- Não deixeis que seja assim! Não permitais que a dualidade imparável da luta de classes, do capital contra o trabalho, eles-e-nós, se instale entre nós! Nós (gritava eu com toda a paixão) devemos ser um terceiro princípio, devemos ser a força que segure os cornos do dilema; só sendo diferentes, só sendo novos, podemos realizar a promessa do nosso nascimento!» Tinha muitos do meu lado, entre eles nada menos do que a feiticeira Parvati; mas sentia-os cada vez mais afastados de mim, distraído cada um com a sua própria vida... tal como eu, em boa verdade, andava distraído com a minha. Era como se a nossa gloriosa Aliança estivesse em vias de se transformar num simples brinquedo infantil, como se as calças compridas estivessem a destruir o que a meia-noite havia criado... «Temos de assentar num programa -- suplicava eu --, no nosso plano quinquenal, porque não?» E aqui soava a gargalhada zombeteira do meu grande rival; dentro de todas as nossas cabeças Shiva replicava com desdém: «Nada disso, menino rico, não há nenhum terceiro princípio; só há dinheiro-e-pobreza, não-ter-e-ter, direita-e-esquerda; só há eu-contra-o-mundo! O mundo não são ideias, menino rico; o mundo não é para os sonhadores nem para os sonhos; o mundo, Muco-na-Penca, são coisas; quem manda no mundo são as coisas e quem faz as coisas; olha para Birla e Tata e todos os poderosos; fazem coisas. É pelas coisas que se governa um país. Não pelas pessoas. É por causa das coisas que a América e a Rússia enviam auxílios; mas há quinhentos milhões com fome. Quando há coisas não há tempo para sonhos; quando não há, luta-se.» Fascinados, os outros assistiam ao nosso duelo... ou talvez não, é possível que nem a nossa disputa lhes despertasse a atenção. Eu: «Mas as pessoas não são coisas; se nos unirmos, se nos amarmos, basta isso, este grupo de pessoas, esta aliança, estes miúdos que-confiam-uns-nos-outros-contra-tudo-e-contra-todos, para se formar uma terceira via...» E Shiva, bufando: «Menino rico, tudo isso é vento. Essa importância do indivíduo. Essa possibilidade-da-humanidade. Hoje em dia as pessoas são uma espécie de coisas.» E eu, Saleem, desanimado: «Mas... a liberdade será... a esperança... a verdadeira alma, por outras palavras, o maatma do género humano... e depois há a poesia, e a arte, e...» Shiva cantava vitória: «Estás a ver? Eu sabia que ias dar aí. Espapaçado como arroz. Sentimental como uma avozinha. Quem é que liga a merdas dessas? Temos as nossas vidas para viver. Raios me partam se a tua aliança me interessa alguma coisa, nariz de pepino. Andas completamente desligado das coisas.»
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, página 237
"Os filhos da meia-noite"
Salman Rushdie
edição: biblioteca Sábado

sábado, 14 de março de 2015

Azul!, afinal o Jesus é azul!

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«Azul -- diz o jovem padre com a maior das sinceridades. -- Tudo hoje indica, minha filha, que Nosso Senhor Jesus Cristo era azul, um azul belíssimo, como o azul do céu.»
A jovem, do outro lado do confessionário, mergulha no silêncio. Um silêncio de angústia e reflexão. E diz logo a seguir: «Mas como é que pode ser, padre? As pessoas não são azuis. Não há no mundo pessoas azuis.»
O espanto da jovem só pode ser igualado pela perplexidade do padre... porque nunca se poderia supor que ela fosse reagir assim... O bispo tinha dito: «Problemas que os recém-convertidos colocam... quando fazem perguntas sobre a cor são geralmente recém-convertidos... é importante estender uma ponte, meu filho... Lembra-te de que Deus é amor (tinha dito o bispo) e o deus hindu do amor, Krishna, é sempre pintado com a pele azul; será uma espécie de ponte entre as crenças; é preciso um certo tacto, compreendes; além do mais, o azul é a modos que uma cor neutra, o que evita problemas de cores, o ideal é não falar de branco e de negro. Não tenho dúvidas de que devemos optar pela cor azul.» Até os bispos erram, diz de si para si o jovem padre, embaraçado, porque a jovem não se dá por convencida e censura-o severamente através das grades do confessionário: «Como é que pode ser azul, padre, quem é que pode acreditar numa coisa dessas? O melhor era escrever ao Padre Santo de Roma, que ele diria toda a verdade; mas não é preciso ser papa para se saber que não há homens azuis!» O jovem padre fecha os olhos; respira fundo; contra-ataca: «Há os que pintam a pele de azul -- diz, hesitante. -- Os pictos; os árabes nómadas do deserto são azuis; com os benefícios da educação, minha filha, vais ver...» Mas ergue-se do confessionário um grito, uma espécie de desafio: «O quê, padre? Comparas Nosso Senhor aos selvagens do deserto? Meu Deus! Tenho de tapar os ouvidos diante de tanta confusão!»
'

,página 97
"Os filhos da meia-noite"
Salman Rushdie
Edição: biblioteca Sábado

quarta-feira, 11 de março de 2015

A casa dos je suis un pinguin paralítico


Tenho uma relação especial com certos quartos onde habitei.
Assim, tive 'O covil' na rua do carril,
tive os 'Herculano studios' no nº14 do bairro herculano,
tive 'Annexus 51' nas traseiras do nº50 da rua da independência,
tive 'Labutes radio tower' na rua do visconde.

Actualmente, vivo em
'A casa dos je suis un pinguin paralítico'
 Oferece duas janelas, o sol é de graça e pintura de vez em quando.
 Os meus vizinhos são simpáticos comigo.
É aqui que me faço gente
e vou esvaziando o armário dos esqueletos bel@s.
As palavras destes esqueletos são sempre mais bonitas e eficazes que as minhas
para descrever com bondade a miséria com que cada irmão ou irmã vive.
As minhas próprias palavras ferem quando deveriam conciliar e conciliam só quando se já perdeu a razão de ser, então
cálo-me para não afectar inocentes e fujo para a imaginação -- pinto.

Cobro beijinhos e apertos de mão como taxa de sacrifício pela entrada
(como só entram amig@s estou habitualmente só -- tenho poucos amigos)
e dou valor à garrafa de azeite sendo necessário refogar 
um arroz de sangacho de atum para poupar na despesa do jantar
de modo a poder comprar um livro ou dois no final do mês.

De vez em quando enfio o barrete 
mas nunca pensei em ter funções de governo sobre cidadãos que não eu próprio
e portanto posso chamar de palhaços 
todos os que hpocritamente governam sobre outrém.
Nenhum merecerá o meu voto.

sábado, 7 de março de 2015

Aussi sacré



Musique et lecture: Jac Berrocal

HOWL, POST-SCRIPTUM de Allen Ginsberg

Sacré ! Sacré ! Sacré ! Sacré ! Sacré ! Sacré ! Sacré ! Sacré ! Sacré ! Sacré ! Sacré ! Sacré ! Sacré ! Sacré ! Sacré !

Le monde est Sacré ! l'esprit est sacré ! La peau est sacrée ! Le nez est sacré ! La langue et la queue et la main et l'anus Sacrés !

Tout est sacré ! tout le monde est sacré ! partout est Sacré ! toute journée est dans l'éternité ! Tout homme est un ange !

Le clochard est aussi sacré que le séraphin ! le fou est sacré comme tu es sacrée mon âme !

La machine à écrire est sacrée le poème est sacré la voix est sacrée les écouteurs sont sacrés l'extase est sacrée !

Sacré Peter sacré Allen sacré Salomon sacré Lucien sacré Kerouac sacré Huncke sacré Burroughs sacré Cassady sacré l'inconnu sodomisé et les mendiants souffrants sacrés les hideux anges humains !

Sacrée ma mère à l'hôpital psychiatrique ! Sacrées les bites des grands-pères du Kansas !

Sacré le saxophone rugissant ! Sacrée l'apocalypse bop ! Sacrés les jazzband marijuana branchés paix et came et batterie !

Sacrées les solitudes des grattes ciel et des trottoirs ! Sacrées les cafétérias remplies de multitudes ! Sacrées les mystérieuses rivières de larmes sous les rues !

Sacré le juggernaut solitaire ! Sacré l'immense agneau des classes moyennes ! Sacrés les bergers fous de la rébellion ! Celui qui kiffe Los Angeles est Los angeles !

Sacré New York Sacré San Francisco Sacré Peoria et Seattle Sacré Paris Sacré Tanger Sacré Moscou Sacré Istambul !

Sacré le temps dans l'éternité sacrée l'éternité dans le temps sacrées les horloges dans l'espace sacrée la quatrième dimension sacrée la cinquième internationale sacré l'ange dans Moloch !

Sacrée la mer sacré le désert sacré le chemin de fer sacrée la locomotive sacrées les visions sacrées les hallucinations sacrés les miracles sacré le bulbe de l'œil sacré l'abîme !

Sacrée la clémence ! Pardon ! Charité ! Foi ! Sacrés ! Les nôtres ! corps ! souffrant ! magnanimité !

Sacrée la surnaturelle intelligente extrêmement brillante bonté de l'âme !

segunda-feira, 2 de março de 2015

A natureza, Diotima e Herberto Hoelderlin


'A natureza, Diotima e Herberto Hoelderlin'
óleo sobre tela
40cm por 50cm
2013-2015
ZMB


'
(coroação)

Ultimamente, ando a apalpar com muita investigação a minha cabeça. Deve haver um significado nisso de a gente apanhar com uma pedra de sessenta quilos (de mármore!) em cima dela, e aparecer -- oh prestígios! -- coroado a toda a volta por estilhaços de vidro. A cabeça tem de responder a propostas tão pouco discretas! Engenheiros de cabeças estiveram em África a olhar para dentro da minha, mas fazia muito calor e, com calor, que se pode pedir da atenção veloz ao longo de um hospital cheio de cabeças? Um meu amigo suicida costumava dizer: esta cabeça não é minha. Não andarei eu a usar uma cabeça alheia? Sabe-se lá o que perpetram mãos em regime extraordinário pelos hospitais da cabala herética. Pergunto-me -- se assim tudo for -- o que anda a minha cabeça a fazer da pessoa que enganadamente a traz, que pervertida ignorância nela executa e que percursos desavindos a insinua? A dúvida da correspondência correcta da cabeça -- eis outro problema. Portanto, cada vez menos sei se posso ser, porque (nas circunstâncias) o «penso, logo existo» cai pela base, digamos, da própria cabeça.
'

,página 123

"Photomaton & vox"
Herberto Helder
Edição: Assírio & Alvim