sexta-feira, 28 de julho de 2023

Ouro

 Eu tenho um problema com o mundo, não gosto que apaguem a minha voz, acabo sempre por ficar a falar sozinho ou para uma parede. Há poucos dias aconteceu o que de vez em quando se repete: um comentário  numa rede social em jeito de desabafo foi apagado pelo proprietário do espaço onde comentei. Isto chateia-me porque me silencia. Mais valia que me rebatessem e que comigo dialogassem. Também pode acontecer que eu fale a despropósito focando-me num pormenor que li e que acabo por comentar, e que assim gere ruído tóxico, o que ninguém quer à sua porta.

Tudo isto para dizer que nem tudo é mau, também tenho uma ou duas pessoas que comigo falam sem paternalismos. Ontem tive uma conversa dessa, uma conversa literária. Fico contente em ter conseguido ganhar dois leitores das minhas edições em papel, leitores que não me dão cabeçadas mas dizem o que pensam sobre o que lhes parece mal no meu texto. Para mim, isto é o ouro que ganhei com a auto-edição.

Acabei já a meio da noite a enviar por whatsapp um agradecimento pela conversa sincera, disse que prefiro mil vezes que me apontem os erros do que me bajulem, acabei a dizer que as pessoas talvez pensem que eu quero dinheiro e fama mas eu só quero comunicação e troca de ideias e um mínimo para alimentação, fumo, discos e livros.


terça-feira, 25 de julho de 2023

Já não se fazem jovens como antigamente, já ninguém quer vergar a mola, trabalho é para os monhés que nos trazem o hamburguer a casa

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Três dias os passos na cidade. Florêncio corre. Oferece-se. Quem compra? E a fábrica, porteiro e enfermeiro, foi mesmo sorte. É certo, à experiência. Abre e fecha o portão, cumprimenta os engenheiros, atende os que vêm pedir trabalho. Não é difícil. Também não é difícil deixar gotas de um produto qualquer nos olhos dos soldadores ou mudar pequenos pensos. Chato é fazer de polícia, proibir a entrada, pôr na rua. E há sempre tantos, iguais a Florêncio, à procura de emprego!

E o trabalho dá folgas. Por vezes, é só preciso estar ali a ver os operários transportarem pesadas chapas de ferro cor de barro. Mas é necessário ser-se lesto a abrir o portão. Os engenheiros não gostam de esperar. Florêncio só ainda não compreendeu porque é que os engenheiros, inchados ao volante, não respondem à sua saudação. Também não gosta muito que o tratem por tu. Têm a mania, pensa.

E assim por diante. Quinze dias mais. Até podia ler. E a Mãe contente, em casa. Já automatizado. Abrir e fechar. É ali. Tudo fácil. E veio o porteiro de férias e Florêncio entrou para aprendiz de serralheiro. 16$40 diários. Comia na cantina por oito a refeição do meio-dia.

Não era muito, mas era um ofício.

Tempos depois, a tia Emília deu ordens à Mãe para retirar dinheiro do Montepio, e Florêncio teve uma bicicleta de corrida.

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Fernando Madureira em «Acidente Ôcidental»

retirado do volume «Da Angústia de cada coisa» de Fernando Madureira

edição Língua Morta, 2023

Três momentos de uma festa de anos

que nunca aconteceu

domingo, 23 de julho de 2023

Valete - Ele e Ela


Dedicado a todos e todas (e já agora todes, todxs)
os que censuram os meus comentários ou emails ou sms, 
não os publicando ou apagando-os porque as palavras não são naice.

Vão dizer que eu sou ressabiado
mas eu apenas aplico o princípio da reciprocidade.


quarta-feira, 19 de julho de 2023

A Festa De Anos


 

«A Festa De Anos»

desenho a grafite, caneta-pena de preto permanente e caneta bic

sobre papel de 300grms, tamnho 70cm por 50cm

2023

ZMB


terça-feira, 18 de julho de 2023

Três momentos da Exposição Portretto de la animo

Thornton Dial


La Mère François


ZMB


Recomendo a vossa visita a esta exposição.

De 3f a Domingo até Novembro 2023

no Museu Nacional Soares dos Reis

Porto, Portugal


(p.s. o bilhete individual custa cinco euros)

segunda-feira, 17 de julho de 2023

sábado, 15 de julho de 2023

Grupo De Cantares De Manhouce -- Vozes Da Terra


As primeiras seis músicas do disco 
«Vozes da Terra» do Grupo De Cantares De Manhouce

https://www.discogs.com/release/16350444-Grupo-De-Cantares-De-Manhouce-Vozes-Da-Terra

1 Senhor Lexandre
2 Espadelada
3 Ó Menina Aurora
4 Vai-te Embora António
5 Rabela De Vilarinho
6 Reis De Manhouce

Texto na capa do CD:
«Encantatórios são estes cantos entoados pela alma da Serra. Alma Mater saudosa do polo celeste com que consumava o Todo. Vozes que liturgicamente conjuram o reatar das núpcias do céu e da terra. Neles perspassam acentos melódicos do canto gregoriano? Escutai antes na fonte de onde eles jorram, primitivas melodias hebraicas entranhadas nos ritos populares beirões por uma antiquíssima cultura semita que vinda do Médio Oriente remanesce no húmus popular das Beiras. E é da persistência desse hoje comprovado património em que se inscrevem arquétipos matriarcais provindos de uma teologia do feminino provectamente anterior à religião patriarcal dos hebreus que, da magia do Coral de Manhouce, se eleva, como uma branca auréola musical a voz puríssima de Isabel Silvestre em que se ouve o marulhar das águas maternas da origem.
Bem hajam os cânticos que adormecem os corações insones destes tempos escurecidos pela peste do ter que incendeia a história!»



quarta-feira, 12 de julho de 2023

Exposição PORTRETO DE LA ANIMO ART BRUT ETC.








A exposição Portreto de la Animo, 
inaugura dia 13 de Julho às 18h no Museu Nacional Soares dos Reis.

Curadoria: António Saint Silvestre

O Museu Nacional Soares dos Reis,
e os colecionadores António Saint Silvestre e Richard Treger,
com o apoio do Circulo Dr. José de Figueiredo,

apresenta uma exposição de retratos e autorretratos

uma das mais importantes e extensivas coleções privadas de Arte Bruta no mundo.


A partir da expressão em esperanto portreto de la animo –
que em português significa “retrato da alma”–,
a exposição irá proporcionar o encontro entre obras
do acervo do Museu Nacional Soares dos Reis e da coleção Treger Saint Silvestre,
em depósito no Centro de Arte Oliva.
Retratos e autorretratos apresentam-se como ferramentas de exploração do mundo interior
e das suas múltiplas expressões.

A fruição da obra de arte é complementada por um programa de atividades para públicos diferenciados. Destacamos os momentos de reflexão e debate sobre a articulação entre arte e saúde mental, tema que atravessa grande parte das obras em exposição.

Richard Treger e António Saint Silvestre iniciaram a sua coleção inspirados no percurso iniciado por Jean Dubuffet, pioneiro na recolha de produções artísticas que se convertem em relatos do inconsciente. Pela primeira vez, apresentam a sua Galeria de Retratos no MNSR.

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A partir da expressão em esperanto portreto de la animo – que em Português significa retrato da alma – e com obras da Coleção Treger Saint Silvestre e do acervo do Museu Nacional Soares dos Reis, a exposição apresenta uma abrangente seleção de obras da coleção Treger Saint Silvestre tendo como ponto de partida o retrato, uma das manifestações artísticas mais antigas da representação humana.
Os retratos - pintados, fotografados, esculpidos ou filmados - têm sido fonte de inúmeras exposições, mas nesta podem conhecer-se retratos pouco convencionais, realizados muitos deles por autores do domínio artístico da Arte Bruta, que constitui o foco desta coleção criada por António Saint Silvestre e Richard Treger há mais de quarenta anos.

Artistas: 

Agatha Wojciechowsky, Agnès Baillon, Alessandra Michelangelo, Alexander Lobanov, Alfredo García Revuelta, Ali Ben Allal Didouh, Almazov (Nikolaï Vorobiov), Aloïse Corbaz, Anónimo Angolano, Anónimo Americano, Anónimo Espanhol (Collection Lafora), Aurel Iselstöger, Barbara Demlczuk, Carla Gonçalves, Carlo Franco Stella, Charles Steffen, Daniel Gonçalves, Daniel Green, Daniel Green, Derrick Alexis Coard, Donovan Durham, Dusan Kusmic, Dwight Mackintosh, Edmund Monsiel, Eduardo Petersen, Egidio Cuniberti, Ergasto Monichón, Ernst Kolb, Eugene Von Bruenchenhein, Gerald DePrie, Giovanni Bosco, Guo Fengyi, Hans Verschoor, Henry Speller, Ida Buchmann, Igor Andreev, Inez Nathaniel Walker, Jacqueline B., Jacques Deal, Jaime Fernandes, James Deeds, Janko Domsic, Jean-Jules Chasse-Pôt (Paul Rancillac), Jean Velliot, Jean Velliot, Jim Delarge, Jimmy Lee Sudduth, Joaquim Vicens Gironella, Johann Hauser, John Henry Toney, Jorge Alberto Cadi, José de Guimarães, José Manuel Egea, Josef Hofer, Josef Karl Rädler, Josef Wittlich, Kashinath Chawan, La Mère François, Lee Godie, Lewis Smith, Malcolm McKesson, Manuel Carrondo, Marcel Bascoulard, Marco Berlanda, Margarethe Held, Marilena Pelosi, Martha Grünenwaldt, Mary T. Smith, Masao Obata, Mettraux, Michel Gouéry, Mirabelle Dors, Misleidys Francisca Castillo Pedroso, Mose Tolliver, Óscar Morales, Paul Amar, Paul Duhem, Paul Goesch, Pépé Vignes, Philipp Schöpke, Pietro Ghizzardi, Prophet Royal Robertson, Reinaldo Eckenberger, Simone Le Carré-Galimard, Stiina Saaristo, Ted Gordon, Terry Turrell, Thornton Dial, Tomasz Machciński, Tomás Vieira, Toshio Okamoto, Vitalis Čepkauskas, Vladimir Rassohin, Władysław Grygny, Zoran Tanasic, ZMB (Rui Lourenço).

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A exposição tem o apoio mecenático da Fundação Millenium bcp e da Lusitânia Seguros, bem como o apoio institucional do Círculo Dr. José de Figueiredo – Amigos do Museu Nacional Soares dos Reis.




domingo, 9 de julho de 2023

Tuite de fim de turno

Os patrões mais velhos não sabem inglês, e também não sabem muitas outras coisas, o que sabem aprenderam com as experiências bem ou mal sucedidas e com as pessoas que com eles trabalham. Se tudo correr mal abrem falência e mudam para a porta do lado mas com novo nome, e siga para bingo. Alguns acabam a enriquecer nem sempre de modo correcto mas se eles não puderam estudar em jovens porque os seus pais eram lumpem ou agrários e se se fizeram assim à vida combatendo o estigma de burros e dizendo <eu sei o que é trabalhar, hoje ninguém quer trabalhar>, põem os filhos no colégio para eles serem o que eles próprios queriam ser mas não foram, doutores, põem os filhos a estudar para doutor e a ir de uber para o São João, e neles delegam o negócio ou o estabelecimento.
O pior é quando os filhos são mais burros que os pais e porque tendo tido a oportunidade de estudar nada aprenderam e se limitam a seguir os truques.
Até ao dia em que aparece um fundo de investimento que lhes fica com o negócio e os deslocaliza para a República Dominicana com tudo pago.

terça-feira, 4 de julho de 2023

Deux chansons par Ghédalia Tazartès, very religiosas

Ghédalia Tazartès
Profile on Discogs :
French artist Ghédalia Tazartès (May 12th, 1947 in Paris, France - February 9th, 2021 in Paris, France) was a nomad. He wanders through music from chant to rhythm, from one voice to another. Tazartès paves the way for the electric and the vocal paths, between the muezzin psalmody and the screaming of a rocker. He traces vague landscapes where the mitre of the white clown, the plumes of the sorcerer, the helmet of a cop and Parisian anhydride collide into polyphonic ceremonies.

 



https://www.discogs.com/release/3779658-Gh%C3%A9dalia-Tazart%C3%A8s-Ante-Mortem