quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Arte pública



Porto, 8 de Novembro de 2016

Lado a lado, o Mário e o Amadeu gravados na parede.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

La bella dona


'La bella dona'
técnica mista sobre papel
59,4cm por 42cm
2008-2016
ZMB

Costuma-se dizer que para os «malucos» só há duas hipóteses:
o manicómio ou o misticismo.
Vozes mais informadas acrescentam a via da poesia,
ou qualquer outra arte ou passatempo criativo.
No meu caso é a pintura.

Neste trabalho, registo uma minha memória passada.

Há na música a Suzi Quatro (ver wiki),
a quem, penso, os Creedence Clearwater Revival dedicaram
Suzie Q ( https://www.youtube.com/watch?v=1mxaA-bJ35s )

Eu tive durante algum tempo a Suzy V: La bella dona

sábado, 26 de novembro de 2016

Berg, discretibus e secretibus

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-- Posso perguntar-lhe qual o seu direito?
-- O senhor é um vicioso.
-- Basta! Basta! Dá-me licença, peço-lhe desculpa, se faz favor, senhor juiz, eu, Léon Wojts, exemplar pai de família, sem ficha judiciária, tendo trabalhado durante toda a minha vida, dia após dia com excepção dos domingos, entre o banco e a barraca, entre a barraca e o banco, presentemente reformado, mas não menos exemplar, levanto-me às seis e quinze, adormeço às onze e trinta (excepto no caso de um bridgezinho, com a autorização da minha cara-metade), e quanto à minha cara-metade, meu caro senhor, em trinta e sete anos de vida conjugal nem uma só vez, com outra mulher eu, ah... ah... Nunca a enganei. Nem uma só vez. Trinta e sete anos. Nem uma única vez! Já pode ver! Sou um marido afectuoso, bom, compreensivo, cortês, conciliador, o melhor dos pais, cheio de amor, cheio de boa vontade para com os outros, agradável, benevolente, prestável, diga-me lá então, se faz favor, o que é que, em toda a minha existência, o autoriza a fazer-me tais... insinuações, como direi... que eu pretensamente... à margem da minha imaculada vida conjugal... a bebida, o cabaré, a orgia, o deboche, a libertinagem com pequenas, ou até mesmo, quem sabe, bacanais com odaliscas, à luz dos lampiões, mas o senhor bem pode ver, estou aqui sentado, no maior sossego, a tagarelar e (atirou-me em cheio, numa voz triunfal) com a maior correcção e tutti frutti.
«Tutti frutti»! O canalha!
-- O senhor é onanista.
-- O quê? Desculpe? Que é que disse?
-- Cada qual é como é!
-- Que quer isso dizer?
Aproximei a minha cara da cara dele e disse-lhe:
-- Berg!
Foi eficaz. Hesitou, primeiro, surpreendido por a palavra lhe aparecer vinda do exterior. Espantado, olhou para mim com ar irritado e chegou mesmo a resmungar:
-- O que é que está para aí a dizer?
Mas logo o sacudiu um riso mudo, dir-se-ia que quase inchava de hilariedade:
-- Ah ah ah, pois sim, concordo, bergamento do berg em dupla ou tripla dose, berg, discretibus e secretibus por meio do sistema específico, a cada instante do dia e da noite, e de preferência à mesa familiar, na casa de jantar, bembergamento solitário e discreto sob o olhar filial e esposal! Berg! Berg! O meu caro senhor tem olho! No entanto, se mo permite...
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, página 111-112

'Cosmos'
Witold Gombrowicz
Tradução de Luiza Neto Jorge
Edição Vega

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Um charro de conversa entre dois amigos


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– Imagina como eu me sinto, ser trocada por um veado, apetece-me matá-lo!
– Ele é mais velho do que tu, vocês estão casados há tantos anos… nunca reparou em nada?
– Pequenas coisas, nunca dei importância…
– Sim compreendo, além de uma ofensa à mulher, é uma ofensa a todas as mulheres… pior do que isso, só tu me desrespeitares e passares a noite, aqui, no quarto ao lado do meu, a beber o vinho que eu não te dou e a dormir cu-com-cu com o meu colega de casa… olha, costumam crescer-me borbulhas na testa, olha esta, é um chifre, o teu traidor tem dois eheheh!
– Não desconverses, eu gosto de ti e você gosta de mim, não precisa de ficar celoso com isso meu amor.
– Cu-com-cu… onde já se viu?! Não deixa de ser um bocado gay, dormir com uma mulher é nariz-com-nariz, aliás!, admito que só o facto de se partilhar a cama com outro homem é um pouco mais de intimidade para o meu gosto… ainda assim, eu próprio no passado cheguei a pensar que não gostava de mulheres…
– Você também?! Estou desgraçada…
– Eu explico gata, eu andava sempre chateado com elas, fazia amor e umas horas depois zangávamo-nos, não as suportava, elas pediam sempre mais do que eu podia dar e elas davam tão pouco… é verdade!, o meio-meio nunca funcionou.
– O que é o meio-meio?
– O meio-meio é a democracia como eu a vejo. Dar e receber, na justa medida, em partes iguais. Chego a pensar que é utopia, ainda assim, o amor é um fim para mim e não um meio, a utopia pode ser uma ficção mas não quero deixar de lutar pelo que acredito.
– Faz um charro querido!
– Porque estás a tremer com a perna?
– É tique, quando eu cruzo a perna balanço-a.
– É nervos. Tem de aprender a relaxar…
– É nada… apetece-me matá-lo!
– Olha, duas coisas que vejo em você que estão mal: os nervos na tua perna e o outro, mais grave, o facto de você querer um homem que te acabe com a vida, que te dê um arraial de porrada que te leve desta para pior… tu procuras um suicídio por intermédio de um homicídio…
– Tens razão, eu sou católica, a igreja condena os que se matam, eu não tenho vontade de viver, apetece-me matá-lo!
– Não! Ele não vale isso, ele não vale nada!
– Eu também não…
– Lembra-te do teu passado, foste violentada em menina, e tiveste a vingança que ninguém te podia tirar, foste condenada por isso, sofreste mas pagaste a tua dívida, tu vales mais do que ele, compreendes? Tens de fazer duas coisas: o tremelicar da tua perna é semelhante ao desejo que tens de morrer, pois eu sugiro, tu gostas de dança, tens de arranjar umas aulas e libertares toda a tua energia corporal, até à exaustão, na dança, quanto melhor te libertares melhor dançarás e mais o público te dará atenção. Quanto a ele, não tens de matá-lo, ele não vale as consequências do teu acto, tu queres uma briga, então o que tens de fazer é vingar-te, mas sem armas, usa as mãos, o corpo, a tua arte marcial, manda-o para o hospital com uma perna partida e a boca arrebentada e mais nada. E, acima de tudo, divorcias-te dele, ganhas a tua confiança na dança e tocas à minha campainha sempre que me queiras ver <3
– Ele não me quer dar o divórcio…
– É natural, sei de quem engenhou um internamento hospitalar para não poder comparecer em tribunal para assinar os papéis e a separação de bens, mas no teu caso o que ele quer é manter a hipocrisia, tanto quanto dizes é que não há bens… o filho já sabe? E a mãe?
– O reino pertence à mãe dele. a mãe pô-lo fora de casa e ligou para falar comigo. Toma…
– Minha amora, é isto que você me deixa, eu pus-me a falar e tu fumaste quase tudo, deixa-me abraçar-te…
– <3
– <3
– 'Tá bom, estou-me a sentir apertada, já chega, volta para o teu canto agora.
– Olha que eu te compreendo, mas quando eu te aperto nos meus braços não é para te fazer mal, é para te proteger, para te dar calor, carinho, compreendes?
– Sim, compreendo mas vamos mudar de assunto, vamos sair, beber uma cerveja?
– Ok, vamos ao paqui, eu aproveito para comer qualquer coisa.
'
Claudio Mur

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Uma boa notícia mas falta saber o nib para se poder contribuir


Desde 1881 a ajudar os mais necessitados.
Fica perto da Praça da República no Porto:

http://www.jn.pt/local/noticias/porto/porto/interior/hostel-para-sem-abrigo-abre-no-porto-5514040.html

E continuo fumando


'E continuo fumando'
lápis de grafite, pastel seco e pastel de óleo sobre papel
42cm por 59,4cm
2008-2016
ZMB + 'Moreira'


O desenho-base a lápis foi realizado no Verão de 2008
numa colaboração minha com um pintor, recém-licenciado na altura, de apelido Moreira.
Ele não gostou do resultado mas eu guardei-o com gosto.
Não tenho contacto com ele actualmente, nem sei se continua a pintar.
Ele, na altura, gostava de bd. Isso é visível no traço dos olhos (alguns) neste trabalho.
Da bd deve também vir a ideia de 'contorno' (outline),
uma noção que ele me disse ausente da minha pintura à época.

Este ano colori este trabalho com pastel.

Como ambos somos fumadores e gostamos de Fernando Pessoa
decidi dar como nome a este trabalho um verso da Tabacaria.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Rima com decisão

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E compreendes que acabou andor
quando aceitar se recusa a tua pinha
o seres trocado por um copo de vinho
quando pretendias fazer o amor
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Claudio Mur

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Verso de uma tela filtrando a luz da manhã que entra pela janela


Ouvindo gatos desmaiados:



extraordinary free jazz from 
Albert Ayler on saxes, Don Cherry on trumpet ,Sunny Murray on drums and Gary Peacock on bass. 
Recorded live in Copenhagen on September 14th, 1964

domingo, 13 de novembro de 2016

Os cisnes e o milagre de amor



Lyrics: 

She holds a key to the room down there
And I, I will follow, but I'll never fall in
Yeah, we'll suffer for nothing, and we'll never forgive
God said to no one to do what he did

One second in your presence is a miracle of love
One second denied is a miracle of love

The young man is weakness in a lover's disguise
The woman is strong in her warm-bitter lies
How will they hold what they can never perceive
And how do they love what they fail to deceive

One second in your memory is a miracle of lies
One heartbeat in your body is a miracle of love
White light on a black sky is a miracle from above
One lonely moment in your arms is a miracle of love!

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O medo está em nós como uma nuvem. Formou um clima interior de escuridão.

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Isto porque nos ensinaram que não há limites para o que um homem pode ser. Há seiscentos anos um homem era o que o seu nascimento demarcava para ele. Satanás e a Igreja, representante de Deus, lutavam por ele. Ele, pela sua escolha, decidia em parte qual seria o resultado. Mas quer fosse, depois da morte, para o céu ou para o inferno, o seu lugar entre os vivos estava marcado. Não podia ser contestado. Mas desde então o palco foi novamente arranjado e os seres humanos apenas passeiam nele e, sob este novo ponto de vista, temos uma história à qual responder. Éramos outrora suficientemente importantes para que as nossas almas fossem objecto de luta. Agora cada qual é responsável pela sua própria salvação, que está na sua grandeza. E isso, essa grandeza, é a rocha sobre a qual se fere o nosso coração. Rodeiam-no grandes inteligências, grandes belezas, grandes amantes e criminosos. Da grande tristeza e desespero dos Werthers e dos D. Juans passámos para as grandes figuras dominantes dos Napoleões; destes passámos para os assassinos que tinham essa direito sobre as vítimas porque eram maiores do que as vítimas; aos homens que se sentiam privilegiados por se aproximarem dos outros com um chicote; aos rapazes das escolas e aos funcionários que rugem como leões enfurecidos; a esses proxenetas e outras criaturas dos bas-fond, oradores nas cafetarias nocturnas que acreditavam que poderiam ser grandes na traição e que poderiam torcer o pescoço daqueles que sentiam ser puros e bons com o laço da sua morbidez; aos sonhos de sombras lindíssimas que se abraçavam num écran impecável. Odiamo-nos terrivelmente e punimo-nos a nós próprios e aos outros terivelmente por causa destas coisas. O medo de ficar para trás persegue-nos e enlouquece-nos. O medo está em nós como uma nuvem. Formou um clima interior de escuridão. E há ocasionalmente uma tempestade, e ódio, e chuva que fere, a brotar de nós.
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, páginas 88-89

'Na corda bamba'
Saul Bellow
Tradução de Maria Adélia Silva Melo
Edição Círculo de Leitores

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Ode to The Pixies, parte 2


Porto, 2016

Não digo desta vez o nome da rua.
A primeira inscrição da qual dei conta aqui: 
esteve à vontade uns três meses na parede antes de eu a fotografar,
bastou eu tirar a foto e publicá-la aqui no blog
para ontem, ao passar por lá, reparar que tinha sido apagada.

domingo, 6 de novembro de 2016

Airf Auga (recriação em 2016)


'Airf Auga'
óleo sobre tela
40cm por 30cm
2002 - 2016
ZMB

Este trabalho é inspirado num desenho
original de Leonel Pintor
e utilizado na capa de um folhetim com o nome
Airf Auga
publicado em papel em Aveiro
em finais de 1994 inícios de 1995



(fotografia de época)



quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Bia e a mãe, a tia e a avó


'Bia e a mãe, a tia e a avó'
óleo sobre tela
40cm por 30cm
2016
ZMB

Futura prenda de natal.
Dedicada à minha sobrinha.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

A mulher invisível


'A mulher invisível'
Acrílico sobre tela
100cm por 140 cm
2016
ZMB

Trabalho realizado no atelier do Espaço T