quarta-feira, 27 de novembro de 2024
sexta-feira, 22 de novembro de 2024
Crítica literária
Da minha prima hoje pelo whatsapp, referindo-se ao livro Várius: Contos Morais
:
«Tu quiseste que o mundo desse cabo de ti»
Eu sorri concordando.
terça-feira, 19 de novembro de 2024
domingo, 17 de novembro de 2024
Notícia cusca edificante
sexta-feira, 15 de novembro de 2024
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
domingo, 10 de novembro de 2024
O elefante
A Teodora sentia-se muito bem instalada no salão restaurnte do hotel de luxo. A Elli, de quem aquela fazia as vezes de elefante, escrevia cartas, onde contava que estava a ter uma vida regalada.
As criadas do restaurante deitavam a sopa nos pratos.
Isselstein e Hopfner surgiram aos pulos e a conversa animou; tenho tão pouca capacidade na arte de me saber expressar como um miúdo!
Ão-ão! Quem fez este barulho?
O nosso Hopfner, que deixava o olhar deslizar em torno da silhueta de Teodora.
Esta estremeceu, mas, na sua qualidade de elefante, manteve-se provisoriamente em silêncio. Os elefantes têm a arte de estabelecer relações. Para si próprios não têm em mira nenhum objectivo. Teodora não passava de uma espécie de apêndice.
Voltemos então a Hopfner, que gostava de dizer: «Deus me livre!» E também aqui me assemelho mais uma vez a um miúdo, porque não domino a arte de imitar.
Os desejos de Isselstein centravam-se cada vez mais na Elli, a qual não estava a notar nada do interesse de Hopfner pelo elefante.
Panorâmica da discreta natureza alpina e um novo «ão-ão» de Hopfner.
A correspondência era cada vez mais animada.
«Porque é que não diz nada?», implorou Hopfner. O belo seio dela agitou-se. A incapacidade de fazer prosa elegante apresenta as suas desculpas.
Ele prosseguiu: «Será que acha impensável que a tomem a sério?»
«Tenho de me habituar primeiro a essa ideia.»
«Não suporto mais continuar a ficar privado de um sim dito por esses lábios tão queridos.»
Ela fixou nele o olhar; ele compreendeu a resposta.
Isselstein e Elli encontraram-se também um ao outro; os quatro regressaram ao local de onde haviam vindo.
O papá não queria nada com o Isselstein, estava a contar com o Hopfner, que lhe fez saber da sua predilecção pelos elefantes.
Wally, a mãe, achou propícia a ocasião para fazer sobressair o seu sobressalto. Elli defendeu com sucesso a causa do seu Isselstein. Teodora espantou-os a todos. Verificar que um fenómeno acessório pode ter quem o deseje era para todos uma novidade absoluta.
Os pais deram-se por satisfeitos. A Elli ficou abraçada ao seu eleito, que continuava, como dantes, a chamar-se Isselstein.
Hopfner não fez mais ouvir o seu «ão-ão» nem, também, o seu «Deus me livre!» Fez uma coisa muito mais significativa.
Declarou à Teodora: «Tu agora és minha, mas eu nem consigo ainda acreditar que isso é verdade.»
«Eu tão-pouco! Somos os dois muito parecidos nisso de não-conseguir-acreditar-ainda-que-tudo-isto-seja-possível.»
O Cupido aconselhou-os a beijarem-se.
Hopfner levou ainda algum tempo a fazer tentativas até que conseguiu executar a sua obra e ambos confundiram os seus hálitos em ternas audácias até que o menino à boca de cena fez correr o pano.
Robert Walser
página 116 - 117
em A Rosa
edição Relógio d'Água
tradução de Leopoldina Almeida
quinta-feira, 7 de novembro de 2024
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
Adenda 05h33m
Adenda 05h33m: Ganhei uma adepta -- a dona Júlia. Ofereceu-me outro cigarro quando retornou da rua.
03-11-21 05h PM
Estou no Café Corim. Cheguei há meia hora. Pedi um café ao balcão e fui à casa de banho. Na volta, paguei e trouxe o café para a esplanada no exterior. Era para começar a escrever logo aquilo que tinha para escrever: o desejo que me surgiu durante e após o final do turno hoje às nove da manhã ao ter ido ao banco nos Aliados e chegado a casa às onze.
Era para desenvolver isto aqui no café logo quando cheguei mas apareceu o Zézinho, velho amigo da zona. Ele apertou-me a mão, convidei-o a sentar-se, ele puxou de uma carteira de cigarrilhas e acendeu uma e eu continuei o meu charro, trocámos os números de telefone e fizémo-nos amigos no facebook, dei-lhe as condolências pelo falecimento prematuro do seu filho de cinco anos, tinha uma doença degenerativa, disse-me que está de baixa psiquiátrica devido ao luto e que, apesar de essa baixa ser um esquema para se esquivar às convocatórias para emprego enviadas pelo Centro de Emprego, vai-se apresentar amanhã perto do hospital numa obra como servente. Foi outro nosso amigo, o Tintol, que lhe arranjou o trabalho. Por sinal, o Tintol começou a trabalhar nessa mesma obra há alguns dias, após se ter passado dos carretos há duas semanas na empresa onde estava efectivo, ele trabalhava na recolha do lixo há vários anos, esteve anos como temporário, a agência de trabalho mudava mas herdava o pedido da firma e ele todos os seis meses tinha o contrato renovado, depois mudou de firma e com a experiência adquirida ficou efectivo, Fartou-se, devido ao desleixo da gestão e da falta de consideração do encarregado. Teve duas semanas de folga para estroinice e alistou-se numa obra, gostou e convidou o Zézinho. Lá estarão eles os dois amanhã a botar brita às oito da manhã.
Disse ao Zé para dar o meu número ao Tintol e falei que também tinha arranjado um trabalho, indiquei-lhe o melhor horário para comunicarmos.
Um aparte:
perguntei-lhe se o Tintol ainda dá na branca: ele era assim, putas e caneco, As putas ainda vá lá mas as duas coisas...
O Zé responde: eu nem sei, há tempos fizemos uma festinha, foram cem, duzentos euros numa hora, ele disse para eu não lhe ligar no fim do mês quando recebesse a féria.
Lembrei-me de uma outra história dele: comprar numa hora dez raspadinhas de vinte euros e não ter sucesso e depois ir ao Pereiró apanhar de carro uma prostituta a ele fiel e levá-la para o motel Havana e com ela passar a noite dormitando nas suas mamas e acordando para fumar crack. Quem não tem companhia em casa, quem como ele nunca teve sequer uma namorada ou mulher a quem não chamasse de cabra... estoura o salário numa noite de ilusão e depois fica a tenir até dia oito do mês seguinte.
Despedimo-nos finalmente e voltei a pegar na caneta para relatar. Posso agora voltar ao início do texto e dizer que a dona Júlia, ontem durante a noite, ofereceu-me dois cigarros como troco de eu lhe haver emprestado o isqueiro. Até falou que eu devia trabalhar num hotel de cinco estrelas. Esse olho azul é bonito, disse ela. Saiu várias vezes durante a noite. Na última e ao abrir-lhe a porta, ela tocou-me no peito e disse até logo. Fiquei a pensar nela: tem cabelo preto comprido e em carapinha, tens uns peitos fartos, é mais baixa que eu. Até logo.
Tive vontade de transar com ela e cheguei a imaginar como seria se um mero recepcionista pudesse envolver-se com a hóspede e seguir o até logo dela, como abordaria a Júlia para lhe dizer Quero lamber sua boceta, acho-te muito bonita. Mas depois pensei que não devo meter-me com as hóspedes. Tenho todos os motivos para refrear o meu desejo, poderia até ser despedido.
Pensando nisso tudo, vi-a voltar a entrar para o quarto às nove e pouco para o quarto, tinha comprado um pequeno vaso com uma flor.
Cheguei a casa e bati uma punheta. Era para imaginá-la roliça sobre mim mas para ser uma rapidinha recorri a um vídeo online, fi-lo com a ajuda de um expediente pornográfico e não com a privacidade de ela e eu na minha imaginação porque quis cortar o envolvimento e impedir o desejo de crescer. Ao recorrer à pornografia, satisfaço o desejo primário e mato o desejo privado pela dona Júlia.
Deste modo, conservarei o meu emprego.
E pensar que um dia destes ela me pediu um cigarro, deve ter-lhe cheirado bem. Tenho que ter cuidado onde fumo e tusso.
04-11-21
Estou de volta ao serviço. Pouco para fazer. Nenhum trabalho de lavandaria. Apenas montar uma mesa para dois pequenos-almoços: dois carpinteiros de cenografia que estão cá esta semana.
O sr. A. informou-me que a dona Júlia está no hospital. Diz: ela se se descuidar com a medicação...
E eu a pensar que ela era prostituta!
Tenho uma mente perversa, afinal ela é doente. subiu na minha consideração. Se já era bonita mesmo que fosse prostituta agora é-lo ainda mais sendo doente.
08-11-21
Taking a coffee ouvindo a Rádio Paralelo.
10-11-21 08h54m AM
Estou a cinco minutos mais a tolerância da chegada da minha substituta.
A dona Júlia deixou o quarto. Vieram cá ontem os filhos buscar as coisas delas. Disseram-me que está internada no hospital de Penafiel e que por lá deve continuar, Disseram os filhos: Ela sabia que podia vir a ser internada, até arrumou as coisas, só não compreendia que não devia deixar de tomar a medicação.
Eu disse: Isso às vezes é o modo de se vingar do mundo, mas claro, ela é a mais prejudicada
Para o seu quarto entrou um homem talvez da minha idade, alugou por uma semana, a família é do Viso, ele trabalha na Bélgica em pladur, tem um problema nos olhos, fumou no quarto, avisei-o que não o pode fazer.
Admiti às quatro da manhã um casal que já cá tinha estado há uma semana, também haviam fumado no quarto e até ganza talvez pois vi cigarros cortados dentro das gavetas quando fui levantar a roupa da cama quando eles se foram embora nessa noite. Pedi-lhes para não voltarem a fumar e até lhes disse do local nas traseiras onde podem fumar. Eles disseram que vinham para dormir, mas pediram comida pela aplicação no telemóvel.
No quarto 3 vive agora por três noites uma negra muito bonita de cabelo rapado, tem um filho de três ou quatro anos. Aqueci-lhe água para a papa do filho e levei-lha ao quarto. Não sei porquê mas ela perguntou-me se eu tinha filhos. Eu disse que não, que tê-los era uma grande responsabilidade. Ela diz que agora que se separou do pai do filho se sente culpada. Vai trabalhar para Aveiro nos próximos dias.
20-11-21 20h45
O bom de voltar para casa dos meus pais é passar a comer bem.
--
Claudio Mur