três magnatas da arábia saudita, vestidos de cabedal negro, seguem uma sonda russa, verde e luminosa, até à faixa de gaza. estrelas a fazer de semáforos para deixar passar as três oferendas: gaspar leva acções dos balcãs, baltazar uns tijolos do muro de berlim e belchior a cura do vírus de jacob. um gigantesco abrigo nuclear construído para o evento, capacidade para um milhão de espécies minimais. uma vaca sagrada indiana e uma outra holandesa de reserva. o burrico do sancho pança em ouro maciço. vai nascer o salvador, um corado e anafado bebé-proveta, motor turbo, sistema laser vidente, programado para saber de memória com a mesma facilidade a divina comédia ou o texto da perestroika. hollywood assiste ao parto em circuito interno, implacável e brutal, com visível frieza, como se apenas de mais um filho seu se tratasse. para o baptismo está previsto que salomé peça a herodes a cabeça de um skinhead. estudantes de biodegradação genética empunham painéis luminosos com frases: abaixo a caridade e o amor, cordeiro de deus devolve-nos os pecados já. o mundo ou é mau ou está mal, diria a nossa avó.
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Joaquim Castro Caldas
em «Intérprete da vontade do pássaro»
edição Exclamação
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