Outra maneira de perder amigos é falar sobre elas, olha o Capote que ia buscar a sua inspiração à coscuvilhice das amigas e da sociedade.
Depois, quando misturas as tuas perspectivas de um evento fora do anormal em que participaste juntamente com factos que te contaram, quando inventas um eu e um outro em relação a factos distorcidos de modo a criar ficções literárias e uma literatura em que as pessoas se reconhecem ao ponto de dizerem És um mentiroso Isto não aconteceu assim, só podes perder amigos.
Ninguém gosta de se ver mal no retrato pintado. Ninguém gosta sequer de ser retratado e o pintor ou o que pinta escrevendo às vezes não sabe mais, há nele às vezes apenas o desejo de fazer.
O problema é como fazer.
Numa discussão há quem tenha razão no argumento mas que perde a razão pelo modo como exprime essa razão, e nenhum amigo aceita que tu escrevas essas razões e esses modos e essas discussões. Ninguém gosta de ver público o que era privado. Terem passado anos a chatear-te com as suas razões e projectos mas basta um Cala-te Não me Chateies dito num safanão de um insulto que seja impossível de ignorar por ter ficado escrito na pedra do livro para que o escritor perca logo a razão e seja considerado irracional.
E um louco que escreve é um perigo. É logo silenciosamente bloqueado ou apagado.
Porque conversar com um louco é correr o perigo de ser contagiado, e o louco pode vir contar tudo mais tarde.
Acabamos todos sozinhos. Não posso esperar que essas pessoas voltem a falar comigo.
Paciência e caldos de galinha e um cigarrinho para enganar o vício é o dia a dia.
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