quarta-feira, 30 de abril de 2025
Debate da nação
domingo, 27 de abril de 2025
quarta-feira, 23 de abril de 2025
domingo, 20 de abril de 2025
Páscoa remix
quarta-feira, 16 de abril de 2025
Às vezes, é preciso ler o que dizem de nós para percebermos o quanto somos mesquinhos
A Zélia Gattai no livro «Senhora dona do baile», edição Dom Quixote, narra uma história reveladora do fazer do povo português. A situação passa-se em 1948 em Lisboa numa casa no Campo Mártires da Pátria.
Zélia em viagem de barco do Rio de Janeiro para Génova onde se iria juntar ao marido Jorge Amado, faz escala por umas horas em Lisboa e decide ir visitar a mãe portuguesa viúva do seu cunhado brasileiro, leva presentes do filho como chocolates e uma blusa com motivos bordados de S. João do Maranhão que a mãe muito gostará, leva também a última carta do filho para a mãe. Chega de táxi, acompanhada por um cozinheiro italiano do barco, e toca à campaínha. Aparece uma velha de preto e Zélia apresenta-se como cunhada e representante do filho que vem visitar a mãe, matar saudades e deixar lembranças.
A velha começa a insultar de assassino o filho da senhora e a dizer que ele a matou (porque a mãe tinha sido enterrada nesse dia) com a carta que lhe escreveu nem há um mês.
Zélia não quer crer e pergunta o que dizia a carta de tão criminoso?
Na carta, o filho contava à mãe que estava na praça fazendo negócio.
Segundo a velha, que conta a Zélia as palavras que o filho escreveu à mãe, a expressão «estar na praça» evocou à mãe pensar que o filho, após tanto investimento dos pais no estudo, estava agora no mercado carregando sacos de batata e feijão. E, segundo a velha, a mãe morreu de desgosto.
Assassino! Assassino!
Zélia quase que lhe apetece rir mas, dado que houve nesse dia o funeral da mãe, diz apenas que no Brasil «estar na praça» é estar dirigindo um negócio sendo patrão, e irritada diz à velha, que se identifica agora como senhoria da mãe morta, que o cunhado tem muito dinheiro e que ela Zélia está ali de visita para oferecer uma carta e uma prenda à mãe.
A velha começa então a falar das despesas do funeral e a olhar para o embrulho do presente. E começa a dizer que visto que se o filho afinal é rico pode ajudar com as despesas do funeral. E pretende um adiantamento. E olha para a prenda.
Zélia vê que a velha quer a prenda e dinheiro e que se primeiro o filho era um bandido agora é rico e já pode pagar. Zélia sai dali a correr e manda a strega bugiar.
Moral da história:
Para o português, os estranhos são todos bandidos mas se forem ricos: -- Ò senhor, dê-me uma moedinha...
domingo, 13 de abril de 2025
sábado, 12 de abril de 2025
Machuca Cumbia - Cumbia De Los Bee Gees (More Than A Woman)
sexta-feira, 11 de abril de 2025
E então ele desejou inverter o triângulo
«E então ele desejou inverter o triângulo»
óleo sobre papel
tamanho A2
2025 ZMB
«e depois desfez a barba para parecer mais bonito e poder apresentar o título de disponível»
quarta-feira, 9 de abril de 2025
Depois contei
-- Você contou ao seu pai e eu fiquei com vergonha...
-- Ah, eu nesse dia estava zangado!
-- Mas comigo?
-- Não não. Eu disse ao meu pai: Vês pai porque não posso ser pelos patrões. Depois contei. Quem devia ter vergonha era a tua patroa. E o meu pai que costuma gostar dos patrões condoeu-se da injustiça e resolveu fazer uma boa acção. Ele à maneira dele gosta de ti e gosta de nós.
Ponto de macumba uma vela roxa para exu caveira
segunda-feira, 7 de abril de 2025
Ouvido na paragem do autocarro:
quinta-feira, 3 de abril de 2025
Muito antes disso, às oito da manhã, a avó
Tornei-me imediatamente parte da loucura diária. Evelyn deslocava-se diariamente com o carro à cidade, pois trabalhava como secretária numa companhia de seguros. À tarde, as gémeas voltavam do liceu em Fox Chapel e, por norma, com amigas da escola. Mas, muito antes disso, às oito da manhã, a avó começava a tentar acordar o Billy, que costumava tocar num bar até às três da manhã. De meia em meia hora, ela, com a bíblia na mão e citando-lhe passagens, batia repetidamente à porta trancada numa tentativa de o afastar do seu caminho pecaminoso. O cão, que tinha uma espécie de relação simbiótica e emocional com Billy, esperava pacientemente à porta. Só à tarde é que ele aparecia, espreguiçando-se com prazer, todo nu. A avó fugia e o Billy batia no peito enquanto, no tom do velho testamento, lamentava a sua vida de pecado. O Benjamim, ainda lá parado, ladrava em acompanhamento, mas, sabendo aquilo que o ritual pedia, levantava também o traseiro. Era nessa altura que o Billy mudava para uma qualquer língua canina imaginária e encaminhava o Benjamim pelas escadas abaixo, segurando-lhe nas duas patas traseiras, tal como o Christopher Robin faz ao Winnie the Pooh. Ele ia parando em cada degrau carpetado para continuar a lamentar, na língua canina, as suas aventuras pecaminosas. Lá em baixo, na sala, as gémeas e as amigas guinchantes fugia do jovem nu que agora iniciava a sua perseguição da avó já em fuga. Billy começava então a proclamar a sua jeremiada numa mistura de profeta do velho testamento e cocker spaniel.
página 143 - 144
Werner Herzog em «Cada um por si e Deus contra todos»
Tradução de Mário Prado Coelho
Edição Zigurate
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