'A natureza, Diotima e Herberto Hoelderlin'
óleo sobre tela
40cm por 50cm
40cm por 50cm
2013-2015
ZMB
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(coroação)
Ultimamente, ando a apalpar com muita investigação a minha cabeça. Deve haver um significado nisso de a gente apanhar com uma pedra de sessenta quilos (de mármore!) em cima dela, e aparecer -- oh prestígios! -- coroado a toda a volta por estilhaços de vidro. A cabeça tem de responder a propostas tão pouco discretas! Engenheiros de cabeças estiveram em África a olhar para dentro da minha, mas fazia muito calor e, com calor, que se pode pedir da atenção veloz ao longo de um hospital cheio de cabeças? Um meu amigo suicida costumava dizer: esta cabeça não é minha. Não andarei eu a usar uma cabeça alheia? Sabe-se lá o que perpetram mãos em regime extraordinário pelos hospitais da cabala herética. Pergunto-me -- se assim tudo for -- o que anda a minha cabeça a fazer da pessoa que enganadamente a traz, que pervertida ignorância nela executa e que percursos desavindos a insinua? A dúvida da correspondência correcta da cabeça -- eis outro problema. Portanto, cada vez menos sei se posso ser, porque (nas circunstâncias) o «penso, logo existo» cai pela base, digamos, da própria cabeça.
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,página 123
"Photomaton & vox"
Herberto Helder
Edição: Assírio & Alvim
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