domingo, 28 de outubro de 2018

Com dedicatória

Virgin Prunes - Love Lasts Forever "We can run away..." I know all your secrets Please little girl I like the way you frightened, It makes me feel secure Your eyes say something special "We can run away" "We can run away" Pushed against the wall Never are we wrong You can hold my hand We can be strong A thousand ways to show I care I could give you anything I could give you everything I like the way you frightened "We can run away" "We can run away" Please close your eyes So you cannot see Go to sleep Dream of happy things... Blue sky above Hell waits below Angels dancing Angels falling Devil looks at me Spits into my eye Angels dead Angels dead Our love will last forever Our love will last forever Until the day it dies Until the day it dies Until the day it dies...




É sempre triste dedicar esta música a alguém.
'o nosso amor durará para sempre
até ao dia em que morra'

Mas neste caso, o amor nem se aplica:
como poderia eu gostar de uma little girl da qual só conheço o avatar?
Mas algo morreu e foi mais importante que o amor,
foi o carinho que lhe destinava, um carinho igual ao que dou a qualquer ser humano que me estime,
pelo menos, a qualquer ser humano que se coloque em igualdade comigo: nem acima nem abaixo.
Que essa pessoa fale agore pelas costas e me chame de lambão
e tente arregimentar sócios para a sua causa?
Podem até fundar uma liga de chá das cinco com acta e tudo,
é algo a que não darei muito mais atenção
mas assistirei no camarote e baterei palmas quando chegar o «emprego dos dias»
e deixar de haver dinheiro para o maço de tabaco e para o copo de vinho.
Pelo menos, diz ela que, quando esse dia chegar, deixará de tomar ansiolíticos e ficará saudável.
Faz-me lembrar uma pessoa que foi pedir ao psiquiatra um papel que dissesse que ela não era maluca, há poucos meses vi-a na consulta, continuava chorona, tinha chegado ao lumiar... o pior é depois.
Viva a saúde. Eu já tirei bilhete para a performance.

Não sei se foi Rousseau que o disse, mas escrevo na mesma:
«Não concordo com a tua opinião
mas não impedirei que a exprimas.
Reservo-me o direito de resposta.»

E depois há outro ditado, este mais próximo de raízes populares:
«Não deves bater em crianças, malucos, mulheres e pessoas velhinhas.»

São dois princípios ético-morais que tento seguir.
Nem sempre é fácil. O caminho é longo.


sábado, 27 de outubro de 2018

Direito de resposta a uma leitora

Acabo de ler isto e não sabendo se o meu direito de resposta não seria censurado se lá o publicasse, publico aqui:

A leitora tem uma utopia pessoal a que chama «hospedaria» e que na realidade é um blogue pessoal para o qual ela conviddou quem lhe interessou convidar. Uma dessas pessoas convidadas fui eu. Aceitei. Acontece que se a hospedaria é um espaço colectivo e heterogéneo, foi-se tornando ao longo dos tempos um espaço dedicado à leitora ler os textos dos seus colaboradores (podendo ela avaliar da qualidade e bom gosto do colaborador e preencher o seu vazio ou esvaziar a sua ansiedade) e escrever os seus textos e receber apoio e beijinhos por eles (condição necessária para que o comentador não leve com uma assertividade nas trombas). Acontece que a minha ideia de utopia colectiva pressupõe uma horizontalidade na classe e não uma hierarquia em que há uma «hospedeira» e «colaboradores», pressupõe que eu tenha o direito de escrever em iguais circunstâncias ao da hospedeira e tenha o direito de não levar com o que ela chama de assertividade e eu chamo de gongorismo hormonal (se for insulto, a leitora que o chame de «mau humor») em resposta a algo que eu possa escrever e ela não goste.
Compreendendo eu que ninguém deve ser insultado dentro da sua própria casa, resolvi, como ela diz, pirar-me preguiçosamente da hospedaria. Penso que assim a hospedeira já não terá de se incomodar com algo de que não goste e já não terá de se sentir insultada após receber a resposta que não gosta.
Que ela continue a mencionar a minha fuga ocorrida há dois meses, significa que ainda não digeriu bem a situação. A minha vida não é um blogue.

Na sua carta aberta, a leitora faz ainda considerações sobre o meu estado mental e refere a sua experiência de dois anos como assistente de psiquiatria. Aproveito para lhe dizer: não será bom aproveitar a sua experiência e aplicá-la à sua própria condição mental (já que assume a condição de ansiosa) e tentar avaliar se aquilo que a leitora chama de assertividade não a está a prejudicar nas suas relações sociais quer online quer na sua vida real.
Esperemos sem ironia que a leitora nunca precise de reforçar a toma de medicamentos para a sua ansiedade.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Corolário meu sobre a utopia


Para quando uma utopia em que todas as pessoas, independentemente da sua religião, cor, sexo ou género, tenham uma função que gostem de praticar, sintam prazer em trabalhar nessa função e possam ser artistas no seu esforço, numa sociedade onde não haja hierarquia e as classes sejam horizontais e em que as pessoas não precisem de ser reclusas ou violentas para poder criar e viver o melhor possível entre os seus concidadãos com o pleno direito ao respeito pelas diferenças entre cada ser humano?

História das Utopias, de Lewis Mumford: duas transcrições

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Não devemos, no entanto, deixar de dar atenção a dois trechos significativos [na Cidade do Sol de Campanella]: um deles é sobre o reconhecimento do papel que a invenção pode desempenhar na commonwealth ideal. O povo da Cidade do Sol possui veículos movidos pela força do vento e barcos «que navegam sobre as águas sem remos e sem a força do vento, mas antes por meio de um engenho maravilhoso». Existe uma antecipação muito clara dos avanços da mecânica tão visíveis no século XVIII. Na parte final da narrativa do capitão, o Grão-Mestre exclama: «Ah, soubésseis o que os nossos astrólogos contam sobre a era que se avizinha, que terá mais história em cem anos do que o mundo inteiro viveu nos quatro mil anos já volvidos! O que nos dizem sobre a maravilhosa invenção da imprensa e sobre as armas e o uso do íman [...].» Estando as artes mecânicas muito desenvolvidas, o trabalho alcançou um estatuto de dignidade na Cidade do Sol: não há escravatura. Todos desempenham a sua quota-parte do trabalho comum, pelo que não são necessárias mais do que quatro horas de trabalho por dia. «São ricos porque não lhes falta nada, pobres porque nada possuem; e consequentemente, não são escravos das circunstâncias, as circunstâncias servem-nos a eles.»
O outro ponto sobre o qual a observação de Campanella se revela extremamente perspicaz é a sua análise da propriedade privada e do domicílio privado com a commonwealth. Ei-lo:

    Dizem que toda a propriedade privada tem origem e se desenvolve porque cada um de nós possui casa, esposa e filhos. Isto leva ao amor-próprio, pois todos queremos deixar riquezas e honras aos nossos herdeiros. Então, ou somos tentados a deitar mão à propriedade pública -- quando somos poderosos e temidos; ou tornamo-nos avarentos, astuciosos e hipócritas -- quando somos débeis, de poucos recursos e origem humilde. Mas removido o amor-próprio, resta apenas amor pela comunidade. 

Como evitar que a utopia comunitária seja neglicenciada devido ao investimento de cada indivíduo na sua pequena utopia privada?
Este é o problema crucial que todos os nossos utopistas têm de enfrentar, e Campanella segue os passos de Platão na solução proposta. Será talvez inevitável que a experiência de vida de cada um dos utopistas se reflicta na solução que apresenta, dando-lhe muito da sua cor. É aqui que as limitações dos nossos utopistas se tornam claras. More e Andreae, homens casados, defendem a família individual. Platão e Campanella, solteiros, propuseram que os homens vivessem a vida do monge ou do soldado. Talvez estes dois campos não estejam tão afastados como poderia parecer. Se adoptarmos a teoria de Edward Westermarrck, esse excelente antropólogo, facilmente aceitaremos que o casamento é uma instituição biológica, sendo a promiscuidade, no mínimo, uma forma pouco usual de acasalamento. Platão ter-se-á apercebido disto, deixando-nos em dúvida sobre se os seus artífices e lavradores paticavam de facto a comunidade de esposas -- porventura abrindo, assim, o caminho para uma solução segundo a qual a vida normal, para a maioria dos homens, seria o casamento, com os seus interesses e lealdades de natureza individual, enquanto os elementos mais activos da comunidade praticariam uma forma menos exclusiva de acasalamento. O pintor Van Gogh fornece uma pista ao afirmar que a vida sexual do artista terá que ser a do monge ou a do soldado, pois de outra forma perturba o trabalho criativo.
Podemos deixar esta questão em aberto, desde que compreendamos que todas as utopias dependem da nossa capacidade de chegar a uma solução.
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, página 92-93


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Se Coketown, a Casa Senhorial e a utopia nacional tivessem permanecido no papel, seriam indiscutivelmente contribuições agradáveis e edificantes para a nossa literatura. Infelizmente, estes mitos sociais são muito poderosos. Moldaram as nossas vidas e deram origem a muitos males que, como ervas daninhas e malcheirosos, ameaçam sufocar a vida boa nas nossas comunidades. Não é por serem utopias que tenho vindo a criticar tão afincadamente estes mitos, mas por continuarem a provocar tantos danos. Pareceu-me, por isso, que valia a pena realçar que eles são tão reais como a República ou Christianopolis. Poderemos talvez abordar as nossas instituições nacionais com um pouco mais de ânimo se nos apercebermos até que ponto são criação nossa; e com plena consciência de que, sem o nosso eterno «desejo de acreditar», elas desapareceriam como fumo levado pelo vento.
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, página 195

'História das utopias'
Lewis Mumford
edição Antígona
tradução de Isabel Donas Botto

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Sobre a utopia

No livro ‘História das Utopias’ de Lewis Mumford, escrito em 1922 e publicado pela Antígona em 2007, é dada a definição de utopia como um escape à má realidade vivida num momento presente ou como uma tentativa de criar ou reconstruir um local (geralmente uma cidade ou Estado) onde se pode viver aquilo que se chama de ‘a vida boa’. 
Mumford parte da análise do livro ‘A república’ de Platão, passa por ‘Utopia’ de Thomas More, por Christianopolis de Andrea e A cidade do sol de Campanella, entre outras utopias mais recentes como as utopias de Fourier, Proudhon, Marx e alguns utópicos americanos do século XIX e também H.G.Wells com A máquina do tempo. Mumford analisa as diferentes classes sociais da sociedade utópica, o seu modo de vida, de trabalho e lazer. Esclarece que elas tentam criar uma ordem social nova, com pessoas inseridas numa comunidade ideal -- em que todos trabalham para o bem comum, tem direitos e regalias e lazeres comuns. Descreve como as utopias clássicas levaram à criação de dois conceitos como A casa senhorial (ou seja, a classe dirigente que manda e seu domicílio), Coketown (ou seja, a classe que trabalha e a cidade que os acolhe) e O Estado (sociedade império ultra-nacionalista que deve administrar o território). 
Mumford faz a crítica que cada utopia foi imaginada, idealizada e escrita por um único homem, que foram utilizadas posteriormente ao longo dos tempos por grupos de pessoas que as tentaram aplicar, mas que na realidade não se conseguiram realizar por não terem em conta muitos factores: um deles é o ego de quem escreve a utopia (este tenta impor a sua ideia aos demais sem pensar que é exequível eles a aceitarem ou pensarem do mesmo modo), outro factor é o atrito entre pessoas humanas que podem não se dar bem uns com os outros e portanto dinamitar a sociedade comum, a burocracia de todos viverem regulados pelas leis da sociedade utópica, e também o papel dado a quem não adere ao ideal comum. 
Assim, por exemplo, em Thomas More há escravatura, em H.G.Wells há os seres brutos que trabalham no subsolo para proporcionar a vida boa dos ‘seres escolhidos’, em Platão não há artistas. 

Ou seja, eu pergunto-me o que acontece a quem não encaixa nos preceitos da sociedade utópica, quem não tem o trabalho comum ou o lazer comum, quem pensa que pode ter interesses ou gostos ou pensares diferentes do bem comum? As utopias nada falam destes tipo de pessoas mas assumo que não têm lugar na sociedade utópica, estão condenados à prisão ou a ser escravos. 

No mundo real, sabendo que muito foi aproveitado de todas estas utopias para a sociedade em que vivemos, sabemos todos que quem não está encaixado em alguma nomenclatura ou classe de interesses ou associação é considerado um fora-da-lei. Uma pessoa assim por fugir à regra, à norma é considerada perigosa para a sociedade, alguém com quem deve ser dificultada a comunicação e votada se possível à indiferença e solidão. 

Para quando uma utopia em que o artista não precise de ser um recluso para poder criar e viver o melhor possível entre os seus concidadãos com o pleno direito ao respeito pelas diferenças entre cada ser humano? 



quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Crazy

I remember when
I remember, I remember when I lost my mind
There was something so pleasant about that place
Even your emotions have an echo in so much space

And when you're out there, without care
Yeah I was out of touch
But it wasn't because I didn't know enough
I just knew too much

Does that make me crazy?
Does that make me crazy?
Does that make me crazy?
Possibly

And now that you are having the time of your life
Well think twice
That's my only advice

Come on now, who do you
Who do you, who do you
Who do you think you are?
Ha ha ha, bless your soul
You really think you're in control?
Well

I think you're crazy
I think you're crazy
I think you're crazy
Just like me

My heroes had the heart
To lose their lives out on a limb
And all I remember, is thinking
I wanna be like them
Mm hmm ever since I was little
Ever since I was little it looked like fun
And it's no coincidence I've come
And I can die when I'm done

Maybe I'm crazy
Maybe you're crazy
Maybe we're crazy
Probably ooh hmm




As interpretações dos ouvintes aqui dentro do link:
https://songmeanings.com/songs/view/3530822107858579738/

Skeletal Famine



"Skeletal Famine"
lápis de grafite, caneta preta e tinta acrílica sobre papel
45,5cm por 37cm (com moldura)
2015
ZMB

Do mesmo caderno que contém o 'Kalashnikov Flute' 
apresento-vos este trabalho terminado há poucos dias.
Este foi começado em 2002, eu estava a ler um livro 
sobre a história e mitos da alquimia e tive uma imagem mental
muito vívida que resolvi ilustrar com um desenho 
-- rascunho para um futuro quadro em tela ---
o mito que estava a ler.
Não me recordo agora com exactidão e 
teria que passar uma semana a reler o livro para encontrar o pormenor,
mas pensemos nesta narrativa:
"No dia em que o sol e a lua se unir lado-a-lado no céu
e quando a um homem (Sísifo talvez) é-lhe eternamente devorado o fígado por um abutre
ou um doente é operado por um médico usando a máscara da peste,
aparecerá um herói ou alquimista ou Sísifo (ele-próprio) que
conseguirá quebrar a maldição do eterno retorno 
simbolizado pelo fígado
eternamente regenerado eternamente consumido.
A revolução em suma."

O título deste trabalho é retirado duma frase de Peter J. Carroll:

"Contrast cordon bleu gluttony and skeletal famine"

Adenda 13 de Setembro 2015:
sempre confundi o mito de Sísifo com o de Prometeu
mas é a Prometeu que é comido o fígado:

(fotografia de época)


Kalashnikov Flute


'Kalashnikov flute'
lápis de grafite, caneta preta e pastel de óleo sobre papel
37cm por 45,5cm (com moldura)
2013
ZMB

Este trabalho está num caderno comprado em 1998 na Irlanda.
Não sei recordar ao certo em que período comecei este desenho em particular.
Sei que em 2013 o terminei quando comecei a expôr na rua.


(fotografia de época)



Desenhei-a sentada num banco


'Desenhei-a sentada num banco'
Pastel de óleo e caneta sobre papel
42cm por 37cm (com moldura)
2013
ZMB

Este ano de 2018 substituí a moldura e dei-lhe uma margem de cartão.

(fotografia de época)


'
Em aflição de hipertexto e cliques na open word online, se eu te quiser ven­der este poema como meio de tu mesmo me justificares e o leres como uma súplica de carinho, orgasmo e intoxicação… e se tu aceitares esse valor com confiança… eu serei hoje salvo e nuit aujourd’hui insónia nenhuma assassi­nará o meu id e o sono será refrescante, não haverá sonhos em que a súcuba me trinchará o sexo nem verei meu rebento filho dormindo sobre seu avô, três gerações de mortos, adoradores de kali, yantras for you I will deliver in a minute sleep mais tarde credo, em noites de facas longas tendo-te como sócia, beijo?
'

página 99
"Contos de fadas de Manuelle Biezon"
Claudio Mur
https://archive.org/details/zmb_mur_FairyTalesByManuelleBiezon

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Unity is not taught in school

Going back to these origins
The city is a natural scape
order in the details
Confusion uproar in the whole
In nature reality is selection
the tool of critical intervention
Fragmentation is the rule
Unity is not taught in school
You are an unnatural growth
On a funny sunny street
The city has forgotten you
It's symbols of the past
The meaning of its state
It's order of decay
Stand now in a column
And make the nature scene
Standing now in columns
making the nature scene
making the nature scene
waiting to make their pay
There is no resistance to
the signs along the way
standing all in columns
waiting to make their pay
making the nature scene
Waiting for the day
There is no resistance to
There is no resistance to
Salvation means to count on you
It just


segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Wilhelm Reich alone



Transcript by Mikhail Bakhtunin: It is April 3rd, 1952, at Orgonon, Rangeley, Maine. I, Wilhelm Reich, am sitting alone in the large room in the lower house. All people are gone. In the morning and the whole day yesterday, a meeting took place of the members of the board of trustees of the foundation which carries my name. Everybody is gone now and I would like to add a few words to the recording we made yesterday and today of the disaster which struck Orgonon. There's nobody here to listen to what I am saying. The recording apparatus is the only witness. I hope that someone will at some time in the future listen to this recording with great respect, respect for the courage that was necessary to sustain the research work in orgone energy and life energy all through these years. I shall not go into the great strain, into the details, into the worries, the sleepless nights, the tears, the expenditures of money and effort, the patience which I had to have with all my workers and with all my students. I would like only to mention the fact that there is nobody around, there is not a single soul either here at Orgonon or down in New York who would fully and really from the bottom of his existence understand what I'm doing, and be with me in what I'm doing. They are all very good people. They are decent, honest hard working. I trust them. They are very good friends. All of them - or most of them. But, this does not alter the fact that they all, without any exception, are against, I say, are against what I am doing. Every single one of them spites me, interferes with my effort, crosses it out, blunts out, flattens out, this one thing or another thing, whatever it may be, to diminish my effort - no, to diminish the effects of my effort. To block out the sharpness and acuity of my thoughts. To reduce to rubble and nothing - or nothingness what I have elaborated and about now thirty - thirty three or thirty four years of systematic thinking and in about forty years of human suffering, since about 1912, or rather 1910 when my mother died. There is not a single soul around who would fully understand or would not say "no" to it all. This "no" is identical with: I don't want it, I don't like it, I loathe it, why is it here?, why does he have to exist?, why does he - why doesn't he sit down and take it easy?, why did he have to start this ORANUR (nuclear radiation) experiment which gives us so much trouble? They see only the trouble. They don't see or they don't want to realize what it means for medicine, biology and science in general, as well as philosophy, to have this ORANUR going. To them it is mostly a bother, an inducer of sickness, suffering and at times I have the distinct feeling that they believe or they do not quite dare to admit their own thoughts, that I may have gone hayward. This reaction of my closest friends and coworkers to the situation here is exactly the same that has harassed the human race for as much as we can say, 8.000 or 10.000 years, since patriarchy has ruled its destinies and since natural love was extinguished in the newborn infants. I shall not go into that. It is all written up in my publications. Whoever knows these publications also knows what that means. The discovery of the life energy would have been accomplished long ago, had this "I don't want it, I fear it, I loathe it, I'll kill it, I'll flatten it out, I won't let it exis- live, or exist". If that had not been in their structures, not in their desires, not in their positive conscious wishes. They're all descent and good people. No it is in the structure. It is somehow in their tissues, in their blood. They cannot tolerate anything that has to do with orgone energy, or life energy, or what they call God, or what is their deepest longing for love fulfillment. They cannot tolerate it and they fear it. They fear it by way of structure. Their tissues, their blood cannot stretch out, cannot take it, evades it - avoids it and loathes it. I do not say all this to depreciate their efforts, their honour, their loves, their lives. I say it because it is true, because it turns up in every single move, in every single word, in every single opinion, in every single paper, in every single thing they did to a- to whatever ever had to do with discovery - the discovery of genitality, life, love, such people as Laurence/Lawrence, or such philosophies as Giordano Bruno's or such great lives as Jesus Christ, ensoforth, ensoforth. It is a sad, lonely chapter of the human race. I don't feel that I am obligated to solve this riddle, to do anything about it. I happened to discover the life energy. I happened to induce the ORANUR experiment. I know what it means for the future development of medicine and biology, philosophy and natural science and in this awareness I am completely alone. There is no soul far and wide to talk to, to give one's feelings - to let one's feelings go freely, to speak like - as friends speak to each other. This is all.

Sou dissidente

Poucas pessoas poderão falar com conhecimento de causa do estado actual do meu carácter moral e ético. Estas poucas pessoas serão o dono da galeria com a qual tenho algum contacto, a minha amiga brasileira que me conhece há dois anos, os meus actuais vizinhos. Estas mais até que a minha própria família, que sabem só o que lhes conto e, claro, sabem tudo sobre o meu passado. Família não é só a que gera mas também aquela que cuida, aquela que acompanha o nosso dia-a-dia. Outra pessoa que poderá ter um conhecimento sobre mim, mas mais técnico, será a minha psiquiatra.
Sobre o meu passado, além da minha família que sabe tudo, saberão factos aquelas pessoas que comigo se cruzaram e falaram ou conheceram, falo de amigos e colegas, amigas e mais-que-amigas, ou até inimigos ou inimigas saberão pormenores. O certo é que estas possíveis pessoas estão algures no mundo, a maior parte delas não quer saber de mim ou simplesmente perdeu o interesse. O meu contacto com elas é nulo há anos, quase décadas em alguns casos. 
Além de todas estas pessoas, poderá qualquer pessoa «saber coisas» sobre mim lendo o que publico aqui neste blogue e já me aconteceu ouvir na minha presença terceiros a comentar modos-de-ser, comentários baseados em impressões recebidas por conversa directa misturada com ideia lida. Por isso, penso que isso poderá acontecer com qualquer pessoa que me leia, ou seja, essa pessoa adquire uma impressão do meu ser, do meu carácter, dos meus actos à medida que me lê. Posso dar um exemplo: começaram a passar a ideia de que eu pensava que andava na rua e ninguém me via, que eu me afirmava como zombie e invisível. ora eu deixei esta ideia correr várias alturas quanto mais não fosse para ver o seu efeito no ouvinte. Mas houve um dia em que disse «não, essa é uma ideia escrita, é ficção, é literatura, e na realidade é o contrário e o reflexo, um sintoma da minha doença, algo que agora acontece pouco: eu ando na rua e parece que toda a gente sabe quem eu sou, portanto não sou invisível sou quase figura pública!, é o que se chama de paranóia, de mania da perseguição». A verdade é que a pessoa ouviu o que lhe disse e compreendeu o meu ser.
Escrevo tudo isto porque sei que, embora não querendo ser polémico, escrevo sobre assuntos polémicos e que dão uma luz a situações, às vezes, alegremente loucas, outras vezes, quase criminosas ou vergonhosas. 
Ninguém me pede e ninguém me obriga a escrever esta e outras prosas, eu escrevo-a como um espaço de liberdade pessoal, escrevo porque tenho uma finalidade no que escrevo que é a de organizar o meu ser, reunir as várias partes, os pequenos fragmentos mentais, as lembranças que me surgem do passado quando no dia-a-dia uma notícia mediática rebenta e eu, ao ouví-la e ao reflectir sobre ela, faço aquela pergunta a mim próprio «e então tu, se fosses tu? como seria?, que tens tu de moralmente superior, não tens tu próprio coisas a dizer sobre um qualquer caso?», 
É por isso que escrevo, para libertar a minha consciência id, o ser animal e bruto que leva porrada do super-ego que com ele cohabita. Eu sou o meu próprio crítico, eu destruo-me a mim próprio, eu faço colapsar o edifício da minha mente para que das ruínas do caos algo de bom surja, isto não é só poesia musical, é também psicologia aplicada, eu aplico a mim próprio os ensinamentos que ganhei da leitura de Character Analysis de Reich, comparei-me com todos esses tipos de carácter, descobri-me algum dia fálico-agressivo, outros dias passivo-feminino, outras vezes masoquista, descobri-me um ser profundamente não-saudável e descobri que Reich conseguiu através do orgone tornar uma esquizofrénica numa neurótica, ele Reich que tinha apenas respeito pelo desconhecido da esquizofrenia conseguiu de algum modo «tratar» esta patologia, aliás bem ao contrário de Freud que tem ódio puro e duro. Deleuze parece-me paternalista de mais embora seja fundamental lê-lo. E eu pergunto-me, porque reprimiram Wilhelm Reich e o seu trabalho e o deixaram morrer na prisão?, porque é que devido ao Macarthismo e à caça-às-bruxas o transformaram num ser destruído? 
Tudo isto para dizer simplesmente uma coisa, que embora o que eu escreva tenha sempre um fundo de verdade, é sempre uma ficção, boa ou má ficção. Não a escrevo para levantar polémicas até porque o alcance é diminuto e pouca gente comigo interage, escrevo para que eu possa estruturar-me, sentir que expressei uma ideia, uma opinião com validade útil: Dizer às vezes onde errámos e ao repetí-lo no papel, essas palavras entrarem dentro da minha consciência e tornarem-se fé e esperança de no futuro tal não se repetir, o mal não se voltar a repetir.
É preciso dizer também que não posso garantir que ninguém se vai ofender com as minhas palavras, eu assumo a minha incapacidade para ser universal, eu posso querer ser gostado por muita gente mas não o gostaria que o fosse por todos, não sou candidato a líder de Coisa Nenhuma, quero apenas que me compreendam, que comuniquem comigo, que entendam que o passado só se repete em nuances se não houver responsabilidade de parte a parte, os espelhos servem para todas aquelas pessoas que queiram avaliar a sua beleza, este texto como outros é um espelho do que sinto agora que o escrevo,  mais verdadeiro quanto a minha memória pode ser, tento ser não-paternalista comigo próprio, digo a merda que tenho a dizer, a confissão que for, não me escondo nem escondo a realidade, não tenho medo.
Não ter medo não significa ser inimputável e ser irresponsável. Fui quatro vezes internado e duas vezes julgado em tribunal mental, estive sujeito a medidas repressivas como uma injecção intra-muscular na nádega, hoje estou só com um comprimido de olanzapina 5mg e outro de risperidona 3mg por dia, a minha psiquiatra ausculta-me o máximo três vezes por ano, até ela se calhar duvida que eu seja agora um doente, eu sei que sou doente e quando  admiti comecei a melhorar, mas uma médica não muda o diagnóstico mental elaborado por outro médico, o primeiro médico. O que a minha psiquiatra diz é que eu estou estabilizado, devidamente compensado.
Agora integrado na sociedade talvez não esteja, porque há mulheres bonitas que eu conheço e que fogem de mim no supermercado. Talvez não seja bonito, talvez lhes tenha feito mal por palavras e talvez estas não inspirem confiança, talvez tenham medo de mim. «Olha, é o karma!», poderão afirmar os paladinos sentindo que se vai fazendo justiça. E eu aceito a opinião, não estou contra ela, preferia ser reconhecido pelas minhas zonas de claridade mas não posso ignorar que tenho zonas de sombra.
Reich transformou uma esquizofrénica numa neurótica, transformou um ser extra-terrestre numa pessoa adaptada ao mundo, o nosso mundo é neurótico ou louco de qualquer modo, a começar pelas chefias e pelo povo que as elege. Eu sigo o meu caminho, estou marcado pelo mundo, quis estar fora dele e ser fora-da-lei, assumi-o como bandeira e fui tudo isso, foi o id montar a barricada e o super-psiquiatra amansou-o, o grande irmão só nunca conseguirá que eu o ame ou que volte a comprar uma televisão e serviço de tv cabo, sou dissidente a todas as leis e foras-da-lei.

Adenda: Se fosse brasileiro votaria Haddad, se fosse americano votaria Sanders, em Portugal voto numa geringonça reavaliada, não confundam alguma ideia radical minha e a associem a acções de extrema-direita, não voto em pessoas que reprimem a cor, o sexo e o género, a idade (apesar de recriminar a pedofilia), sou contra toda a violência, sou até contra certos aspectos da minha própria personalidade, tento não ser mais o que fui alguns dias. Tento apenas ser alguém melhor todos os dias, alguém que tem direito a expressar a sua voz.

sábado, 6 de outubro de 2018

A barbárie em primeira mão

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Aconteceu há mais de vinte anos. Eu devia ter vinte e dois anos. Andava nesse microcosmos chamado universidade e que nos meus textos eu chamo de prisão. Estava a meio dos cinco anos de curso. Estava só, tentando ultrapassar o final da relação que mantivera. Estava aberto e disponível para conhecer novas mulheres. Mas como geralmente acontece quando uma relação longa temina, eu começava a sentir-me não integrado. Quando eu me chateio com uma mulher, chateio-me ou passo a ignorar os seus amigos e amigas, porque sei que eles ou elas a apoiam. Assim, a minha vida não só amorosa como social sofreu nessa altura um revés. Os amigos tornaram-se poucos, as amigas nem vê-las. Eu quando estou com uma namorada fico quase imune à beleza de outras mulheres que ficam candidatas a serem apenas irmãs por afinidade, como se nos adoptássemos mutuamente. Essas mulheres são apenas amigas da namorada, se eu ficar sem esta fico assim sem mulheres na minha vida. Foi o que aconteceu, fiquei sem companhia uns meses até encontrar alguém interessante. 
Ela tinha cabelo preto e liso, era da minha idade e altura, era muito calma e nunca se zangava, parecia ouvir todos, a sua cara era bonita, tinha toques de diva. Eu era um gajo que tinha ideias que chocavam com as suas no que toca a música e outras coisas. Foi alguns anos antes do meu colapso mental mas penso que muito do que depois experienciei, já nesta altura estava a germinar dentro de mim: o falar muito alto as minhas ideias, indignar-me com opiniões contrárias, sentir-me ignorado pensando eu ser um aprendiz de rei. E o certo é que ela me deu guarida, hoje não sei bem o que foi mas eu devia ter algo dentro de mim que a atraía e começámos a conversar, a ir tomar café e a ir ao cinema com o seu grupo de amigos, comecei a frequentar a sua casa, um t2 transformado em casa com três quartos, um para cada rapariga. O quarto dela era parte da sala antiga, tinha uma estante a fazer de divisória com o espaço onde o social se reunia, ou seja, a televisão, o leitor de cd e o sofá para todos nos sentarmos. Nesta altura, eu fumava haxixe apenas ocasionalmente e neste grupo ninguém o fazia, pelo que éramos todos um grupo de meninos e meninas «de bem» que estudam numa cidade longe da casa dos pais, que têm mesada para gerir, que têm ainda todo o futuro à sua frente, que vão conhecer as suas futuras mulheres ou maridos. 
A verdade é que eu me apaixonei por ela, ou pelo menos tive um forte desejo de estar sempre junto dela e arranjar motivos para com ela falar, não era tímido nessa altura, sentia-me viril e dizia-lho, «quero beijar-te estar contigo», sei lá as palavras que lhe disse, quiz fazer amor com ela, dizia-lho todas as vezes que com ela estava. Ela recusava mas não me mandava embora, calava-se e ficávamos calados até que eu percebesse que estava a fazer figura de parvo e me decidir a ir embora. Parecia que os dias passavam e o meu amor ou a minha fixação por ela aumentavam. Foi assim muitas vezes até que um dia, estando nós os dois sós, ela acedeu a fazer amor comigo. 
Fomos para o seu quarto, seriam umas sete da tarde, já noite, a luz acesa. não nos beijámos, não nos despimos, encostei-me à cama, e ela começa a desapertar-me as calças, mete o membro flácido na boca, não muito tempo é certo, eu não lho tinha pedido, o membro endurece e continuando nós friamente sem nos beijarmos, eu decido tomar a iniciativa de lhe tirar as calças e a penetrar na vagina, talvez devido à minha inexperiência eu a estar a magoar ou ela não querer já ser penetrada ou não querer de todo, lembro-me hoje que ela disse não, e disse-o alto de tal modo que um nosso amigo, que estava na sala com outras pessoas sem nós nos termos apercebido, entrou e terminou com a minha investida sobre ela. 
Na altura senti-me fodido com esse nosso amigo e também nunca cheguei a perceber se ela quiz ou não fazer amor comigo, se fui eu que estava a ser bruto e sem-jeito para o amor, hoje talvez fosse acusado de abuso sexual na forma tentada. Ela calou-se, eu acabei por vir para casa nessa noite confuso com tudo, com a minha atitude, com a dela e com a do nosso amigo. O certo é que não fui renegado, continuei a frequentar a casa dela, toda a gente podia ver que eu gostava dela, uma amiga que vivia com ela começou a ter afinidade musical comigo e sempre que ela me dizia que não outra vez eu vinha até ao quarto da sua amiga ouvir música.
Foi assim durante anos, durante anos ganhei uma fixação mórbida por uma mulher que me disse sempre não, foi preciso que ela tivesse a coragem de me expulsar de sua casa pela primeira vez e a última que nos vimos: aí eu ganhei vergonha na cara e disse «ela nunca gostou de mim».
Foi uma relação frustrada que me ensinou a desistir perante um «não» e a dizer que no fundo tem de ser só quando a mulher quer. Por muito que custe à virilidade do homem, é assim que deve ser, desistir da barbárie e regenerarmo-nos do erro e da pena.
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Claudio Mur

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Arte na rua


Hoje na Rua das Flores, Porto, durante uma manhã de Outubro e aqui ficará até 
a polícia remover este «pedinte» por estar a envergonhar essas autoridades que mandam

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Ela devolveu



https://www.discogs.com/N%C3%BAbia-Lafayette-Quem-Eu-Quero-N%C3%A3o-Me-Quer/release/6639010

Devolvi O cordão e a medalha de ouro E tudo que ele me presenteou Devolvi suas cartas amorosas E as juras mentirosas Com que ele me enganou Devolvi A aliança e também seu retrato Para não ver seu sorriso No silêncio Do meu quarto Nada quis guardar como lembrança Pra não aumentar meu padecer Devolvi tudo Só não pude devolver A saudade cruciante Que amargura meu viver