sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Viva a baixinha



 «Este desenho é de 95? Em 95 eu tinha dois anos...»

Ela sorri ao dizer isto e eu sorrio também. Estou-me cá a lembrar «oh minha rica filha» mas acabo por lhe dizer «é, em 95 eu andava na universidade...»

Ela continua a folhear a pasta de desenhos e eu digo «esta pasta é a dos desenhos mais malucos, e esta é a dos desenhos mais naturalistas, aqueles em que eu desenho o que vejo, sentado a tomar café ou fumando um cigarro numa viela turística, e depois populo o desenho com pormenores psicogeográficos»

«Este é um retrato?»

«É, eheheh, é um auto-retrato de quando eu tinha cabelo, é de 98.»

É verdade, estou-me a divertir aqui nesta feira, devo ser o gajo mais velho dos expositores e agora estou a falar com uma baixinha de cabelos longos e lisos, e com a carne toda nos sítios certos e roupa a condizer, é, uma delícia vinte anos mais nova que eu, e ela gosta dos desenhos e diz que perdeu um caderno onde fazia rabiscos.

Baixinha, o símbolo das elinhas com quem eu me metia há vinte anos, era com elinhas que eu tinha sorte, as minhas elas sonhadas eram todas altas, e quanto mais baixa fosse elinha, mais carnuda mais fado elinha se tornava. 

Gosto do aspecto matreiro das suas falas, sempre a mandarem uma boca num lábios grossos de sorriso a querer derrubar o macho zed, zed's dead bebé zed's dead, este sempre tão no fim da escala dando confiança para que todas as elinhas cresçam.

Viva a baixinha!, ela dá-me pica.

De maneira que depois de três valentes copos de maduro tinto bem atestados e de uma cachupa do verde cabo ou mesmo da guiné, cheguei a casa aos sses e depois de executadas as urgentes necessidades de fazer a obra, obrei e dormi o sono dos justos.

Hoje, acordei zen e com vontade de ouvir Buraka. Bota xangui.


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