terça-feira, 25 de julho de 2023

Já não se fazem jovens como antigamente, já ninguém quer vergar a mola, trabalho é para os monhés que nos trazem o hamburguer a casa

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Três dias os passos na cidade. Florêncio corre. Oferece-se. Quem compra? E a fábrica, porteiro e enfermeiro, foi mesmo sorte. É certo, à experiência. Abre e fecha o portão, cumprimenta os engenheiros, atende os que vêm pedir trabalho. Não é difícil. Também não é difícil deixar gotas de um produto qualquer nos olhos dos soldadores ou mudar pequenos pensos. Chato é fazer de polícia, proibir a entrada, pôr na rua. E há sempre tantos, iguais a Florêncio, à procura de emprego!

E o trabalho dá folgas. Por vezes, é só preciso estar ali a ver os operários transportarem pesadas chapas de ferro cor de barro. Mas é necessário ser-se lesto a abrir o portão. Os engenheiros não gostam de esperar. Florêncio só ainda não compreendeu porque é que os engenheiros, inchados ao volante, não respondem à sua saudação. Também não gosta muito que o tratem por tu. Têm a mania, pensa.

E assim por diante. Quinze dias mais. Até podia ler. E a Mãe contente, em casa. Já automatizado. Abrir e fechar. É ali. Tudo fácil. E veio o porteiro de férias e Florêncio entrou para aprendiz de serralheiro. 16$40 diários. Comia na cantina por oito a refeição do meio-dia.

Não era muito, mas era um ofício.

Tempos depois, a tia Emília deu ordens à Mãe para retirar dinheiro do Montepio, e Florêncio teve uma bicicleta de corrida.

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Fernando Madureira em «Acidente Ôcidental»

retirado do volume «Da Angústia de cada coisa» de Fernando Madureira

edição Língua Morta, 2023

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