sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Os fantasmas também comem

Hoje, na sopa dos pobres um dos nossos camaradas, que habitualmente costuma sentar-se à minha frente na mesa, disse:
- Hoje é sexta-feira 13?
Reparei que fez gestos de desconforto, expressões faciais do outro mundo, como se tivesse medo da superstição. Eu disse já a pensar em coisas como feitiços:
- Ainda não me dei conta de nada hoje mas... amanhã é dia dos namorados pelo que hoje até que era bom à noite encontrar uma bruxinha eheh.
O camarada acabou por se rir. A comida até soube melhor. De volta ao quarto pus a tocar um vinil de Diamanda Galás.
Acabei a pensar na bruxinha fantasma que, reparo de vez em quando, me segue à distância.
A última vez que a vi eu estava na feira com os meus trabalhos e ela passou e muito senhora de si sem olhar sentou-se a cinquenta metros na esplanada.
Trocámos olhares até ela se refugiar debaixo dos óculos de sol. Eras tu, não eras tu?
Esta baixinha que faz a ronda talvez não saiba que a única culpa que falta perdoar são as circunstâncias com as quais um humano nunca pode, Não sou um superhomem.
Fora não ser o superhomem, o meu mundo é incompleto sem ti, como diz a canção.
És para mim uma fantasma porque ainda hoje penso que a história podia ter sido diferente.
Poderá até não ter terminado de todo. Esse é um passo que tens de dar:
Apareceres, dizeres o teu nome, falarmos face-to-face.
Eu ainda me lembro do teu nome, tu sabes onde eu tomo café.
Sabes que as últimas palavras foram as tuas.
És tu que tens de me perdoar.





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