segunda-feira, 21 de março de 2016

Esse lamuriento egípcio

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(...) A carpete oriental com seus ondulantes desenhos exprimia a esperança de que as grandes perplexidades podiam ser resolvidas. Os dedos tocavam no braço suave e fresco de Ramona. Tinha a camisa aberta no peito. Sorria, aquiescendo-se com um leve sinal da cabeça ao escutá-la. Muito do que ela dizia era absolutamente certo. Era uma mulher esperta e, mais ainda, encantadora. Tinha bom coração. E usava roupa interior de renda negra. Sabia-o.
(...)
-- Compreendo o que queres dizer.
-- Talvez seja biologia -- continuou Ramona. -- És uma pessoa com tantas capacidades. Sabes uma coisa, a empregada da padaria disse-me ontem que me achava mudada... as minhas feições, os meus olhos, afirmava ela.
-- Miss Donsell, deve estar apaixonada
-- E eu tive consciência de que era por causa de ti.
-- Pareces relmente mudada -- confirmou Moisés.
-- Mais bonita?
-- Linda -- respondeu ele.
O rubor aumentou ainda. (...)
Ramona apagou todas as luzes excepto o candeeirro verde junto à cama. Murmurou:-- Volto já.
-- És capaz de desligar esse lamuriento egípcio? Precisava que lhe esfregassem a língua com um pano de cozinha.
Com um toque, desligou o gira-discos, e disse: -- Só um minutinho -- fechando suavemente a porta.
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, páginas 232-233
'Herzog'
Saul Bellow
Biblioteca Sábado 2009

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