domingo, 31 de março de 2019

Uma tradução com nota prévia


Este texto foi originalmente escrito em inglês antes de Fevereiro de 2000, revela as paranóias que me levaram ao hospital pela primeira vez, foi por causa de textos destes que eu também enlouqueci, traduzi-o há dois anos apenas, hoje estas pessoas vivem vidas totalmente desconhecidas e não as reconheço, fizeram com que eu as esquecesse, tornaram-se prosa, é por causa da minha prosa ser tão degradada que me tornei um degradado, mas, tal como leio em 'O trópico de Capricórnio', também Henry Miller foi rebaptizado e renasceu, sou hoje diferente do que escrevi em 2000 e já não subscrevo tudo o que reproduzo em baixo, de qualquer modo se ousei... o sistema no fim ganhou, afinal sou humano tal como tu mas gosto de ler sobre a inumanidade nos outros, Mur é o Outro que eu fui.

Adenda 2 de Abril de 2019: há neste texto três apropriações:
1)«nem mais uma lágrima para as criaturas da noite» é inspirada na música «no tears» dos Tuxedomoon
2) «nada verdade, tudo é permitido» é uma versão do que WSBurrougs escreveu atribuindo o dito ao «velho da montanha» Hassan-I-Sabbah
3) «avanti marinaio» é o nome de uma música de Pop Dell'arte

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Então declaro: nem mais uma lágrima para as criaturas da noite!
Podes-nos contar, perguntam as vozes inquisitoriais, pode-nos contar porquê?
Eu… eu… eu pensei que era um maricas…
?! Porquê?!
Porque… porque…
Talvez por causa dos livros que li e da música que ouvi ou talvez não claro que não!, talvez por causa do absurdo na minha vida ou por causa do mundo segundo a visão do ocidente ou porque eu lhe disse que haveria de experimentar tudo excepto levar no cu e porque ela me disse que gostaria de me ver numa experiência homossexual e porque uma pequena mulher com cabelo amarelo me enviou duas cartas numa semana dizendo que eu podia ter sida porque ela tinha e porque três semanas mais tarde ela riu-se e perguntou porque fiquei eu assustado e porque eu acredito que ela abortou sem me dizer ou então era apenas o filho do outro dado que eles foderam juntos talvez na minha cama e porque o meu melhor amigo confundiu amizade com homossexualidade e convidou-me a foder e eu me ri com repugnância (pergunto-me porquê) e porque o meu chefe era um bissexual divorciado com três crianças que não gostou que eu fosse capaz de descobrir a sua atracção por mim e deu as notícias aos seus amigos para me destruírem com mentiras (foi mesmo assim?) e tu devias saber irmãozinho que eu li alguns livros e neles aprendi que se tu és incapaz de possuir a beleza tu sentes a necessidade de a destruir e porque eu gostei do caso Mishima e porque eu estava a escrever um livro e porque a Claudia era na verdade uma mulher-polícia sobre disfarce com longo cabelo preto com um tira cigana a prender-lhe o cabelo e um rosto pintado à chinesa calçada com botas Doc Martens e calças de ganga apertadas de azul brilhante e porque eu lhe ofereci um poema e ela disse que não lhe era dedicado porque agregava todas as minhas mulheres num só pronome: ela e porque no momento a televisão foi abaixo com um relâmpago vermelho no ecrã e porque depois apareceu dentro de casa uma tia com um carrinho de bebé com um bebé lá dentro e uma irmã saiu de casa assustada e perguntando se estava tudo bem e porque uma criada africana estava-se a rir de todo o acontecimento falso e porque talvez ela era apenas um homem disfarçado apenas para encher o meu filme Borboleta e ó irmãozinho então eu beijei esse homem ó que horrífico que desnatural e eu gostei porque pensei que era uma mulher e porque depois fui revelar algumas fotografias e lhes chamei a todos maricas e paneleiros com todas as letras e algumas inventadas nas escadas de madeira da sala de aula num qualquer alfabeto e eles deram a entender que eu estava cego e porque o filme O império do sentidos sim! Aquela final e imagem real sim real porque aconteceu nas suas vidas que eu vi escondido na cozinha realmente estourou com a minha mente e tu irmãozinho és tu capaz de compreender a insanidade do amor, és tu capaz? e porque adorei ler o Querelle e adorei ver o Querelle sentado no sofá ao lado dela e porque depois de todas estas merdas eu perguntei pela milésima vez ao meu pai se havia microfones a gravar as conversas dentro de casa e ele finalmente confirmou esta merda só para me fazer a vontade e porque eu olhei para o fraco e agonizante espelho e perguntei se ele amava a minha mãe e ele tremeu disse que sim mas perguntou porque lhe perguntei e porque não falar de um bissexual chamado Miguel 'Rosas' que tentou arrastar-me para a sua causa e que quando descobriu a minha causa ser outra começou a falar de esmagar cabeças talvez porque a minha irmã querida gosta de Smashing Pumpkins, o senhor não é o meu pastor e eu deverei feri-los e deverei ser fiel ao meu deus Genet ao denunciar que ele tem o cabelo louro e é o namorado de uma querida e subterrânea actriz de teatro e deverei dizer que as iniciais do chefe eram fm trabalhando na ph, irão eles tentar matar-me? Não tenho medo, irão eles assumir-se? Não acredito … pessoas estúpidas não assumem pessoas estúpidas deviam ser varridas e todos os irmãozinhos estúpidos e chupistas incluindo o Estado venham chupar-me o caralho, dizer que me amam e matarem-se a seguir porque para mim tu és nada e ela foi tudo sim! ela verdadeiramente penetrou no meu interior e que essa imagem do meu ser actuando em duas imagens homoeróticas de cinco segundos seja santificada!, que todos vós estúpidos se venham com a imagem da beleza e se perguntem se realmente aconteceu e querem vocês pôr-me na prisão ou matar-me? Não tenho medo e ah irmãozinho parece-me ser tão fácil descobrir as tuas estranhas preferências sexuais ó irmãozinho é só enviar-te uma pista ou comunicar algo ao telefone como «apaga a sequência do filme» não me tenhas medo rapaz, não me tenhas medo, eu não te odeio … apenas não gosto de pessoas estúpidas sabes … eu sei que sou a alma de um Bórgia sem cérebro falando aos peixes.
Nada é real, nada é verdade, tudo é permitido.
Estou fora e assim eu sou
Procuro sempre a honra como Mishima
Querelle arriba avanti marinaio Querelle para sempre
Adeus mundo real.
Vejo-te no inferno e nem mais uma lágrima para as criaturas da noite.
Quando sonhas sonhas a cores?
E tu, minha irmã gémea e violeta, alguma vez me perdoarás?
E quem roubou o meu cd dos Lucretia Divina devia ser queimado vivo
ZMB o maluco governa.
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Claudio Mur

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