-- Atão quer dizer que a discussão de ontem em que se mandaram respectivamente apanhar no sítio onde os ratos apanham, e o Luis exigiu de volta ao Giuliani o casaco de camuflado que lhe oferecera na véspera... e eu até pensei: o Giu antimilitarista a mostrar o casaco de tropa no café dado pelo mano de coração Luis, tudo aquilo ontem não passou de uma ressaca de branca?
-- Claro, estás maluco ou quê?, a branca voa. O senhor Neca veio há meia hora agradecer a demão de tinta na parede de sua casa, que eu ontem dei a mando do Luis porque o senhor lhe pedira, e este disse ao Luis: olha, obrigado, toma aí vinte euros para o pequno-almoço, e sabes o que o patrão da obra fez? Deu três pontapés nas plantas dos pés do Ximenes que estava pedrado a dormir no chão e disse-lhe: olha, vai buscar um torrão de açúcar à fortaleza, e ele foi estremunhado, feito pau-mandado, nem um cigarro pediu, e a mim, que lhe fiz com a tua ajuda as obras na casa, e agora estou a pintar com esmalte os cano da água dos telhados, nem um euro recebi, por isso te pedi um euro para ir beber uma súrvia que servirá de almoço, a branca é fodida!
-- É, os chefes, os patrões da obra recebem sempre, mandam, o oficial e o ajudante fazem, o maioral recebe as prendas dos vizinhos e nós... nós trabalhamos arre foda-se!, ou melhor tu trabalhas, mesmo sem receber, porque és viciado em trabalho... ele disse que a mãe investiu cinco mil euros na obra, e que fizemos o trabalho rápido demais, agora só no fim do mês a obra nas restantes casas recomeçam.
-- Cinco mil... cinco mil foi o que a mãe lhe deu, ele na obra gastou seiscentos...
-- Eu pensei em mil, com a nossa mão-de-obra...
-- Qualquê, agora estão a dormir no chão, deitámos-lhe o colchão de pulgas fora e agora dormem os dois no chão, disseram que iam pôr vinil no chão e arranjar dois beliches na Remar, eles levariam a mobília que está lá fora para o lixo, o Luis pagar-lhes-ia cinquenta pelo serviço mas... o dinheiro voa, estão a dormir no chão, é o que te digo: o caneco é fodido.
-- Achas que a mãe sabe para onde foi o dinheiro?, o próprio senhor Neca disse que cinco mil era muito dinheiro...
-- O senhor Neca não sabe de certeza, mas o Luis disse que a mãe lhe disse: droguem-se mas não se aleijem, eu não faço seguro...
-- Essa cona real não queria eu para minha mãe, olha a droga ser matéria prima para o filho fumar enquanto nos faltou o primário para aplicar na parede antes de pintar, o branco está bege da humidade...
-- E não é só isso, por causa dos fumos da cozinha e da nicotina as paredes deviam ter sido lavadas com lixíva e só depois aplicar o primário, por isso...
-- Bem, ao menos aplicámos criolina, retirámos a madeira podre, pulgas, percevejos e térmitas desapareceram...
-- Eles disseram que apareceram quatro baratas...
-- Pois, quando houver dinheiro, pelo menos para uma porta nova com fechadura, a gente aplica um pó na entrada e elas não entram mais.
-- Mas podem nascer na cozinha, eles ontem à tarde apareceram com dinheiro e uma garrafa de uísque, fumaram o torrão e torraram o dinheiro que mãe lhe deu para o são joão em mais um táxi, à noite já estavam no crava.
-- E a história continua...
-- Fase 1 terminada
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Claudio Mur
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