quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A refutação do professor O



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A refutação do professor O,
porque [até] o monstro precisa de amigos!, já o cantaram os Ornatos

- Hello professor O.! How are you keeping your self lately man?

- I'm fine man! And how are you, your self man? Are you doing all right man?

- Bem vamos lá acabar com estas tretas e falar… man!

- Tens aí a cena, faz esse enquanto eu ponho aqui um disco. Vai ser para arrasar.

- E que vais pôr?

- Halloween, a versão maxi dos Sonic Youth.

- Ah, lembro-me bem, de um lado Flower e do outro Halloween.

- Então, o que fizeste até ao dia de hoje?

Flower apanapa, svieira halloween e kim no muro do terraço.

Long brown curly hair and some weed in the belly, lábios de Cabinda.

Long black wavy hair and brown red breasts, lábios da Buraca.

A flor no meu pelourinho e tu olhando colada em mim, desejando que te dissolva.

O teu corpo animal olhando-me das dunas, eu que fotografo a possessão.

O teu desejo de me possuir nas nuvens porque te ofereci uma rosa vermelha.

Aquilo que ela é comigo eu sou com ela.

Às vezes a flor mostra-se infantil e a abóbora introjecta.

Horas mais tarde a abóbora projecta na musa o nosso interior ingénuo.

Um fio de prumo, um ponto de equilíbrio perfilando-se num trajecto em forma de ∞.

Às vezes a flor suga-me a consciência e a abóbora alcança a beleza.

Horas mais tarde a abóbora com uma tocha sugará a consciência da musa.

Que conclusão tirar de um maluco com meios de escape online?

Balanço, jingo, tendo e opto dizendo: não é esta a minha canção.

Apenas para sentir a convolução de mim com o absurdo em forma de ∞.

O resultado desta aniquilação: picos de existência e picas na bochecha do cu.

Escrevo que não sou profeta nem professor nem doutor ou médico.

No entanto filosofo e digo: a desordem de personalidades múltiplas é

Verdadeiramente o suprassumo da loucura, a verdadeira fragmentação.

A esquizofrenia é aquele estado de redução ao menos que zero,

À não consciência, onde no vazio invento o caos apenas para me sentir,

Personagens e identidades actuando para ser capaz de sentir a experiência de existir.

A fragmentação é teatral, perco-me no sonho devir ser algo.

Posso ser confundido ou usado como doença.

Serei mais talvez um modo de vida, uma dádiva, um potencial de ser.

Sempre que não me encaixo, sempre que pressinto que o mundo me oprime,

Lembro-me de partir e experienciar nova experiência de vida e se partisse hoje

Levaria como sempre comigo um objecto com valor fetichista.

Desta vez seria uma embalagem de calgon com resíduo do The Singer de Galás.

A pensar no feitiço, o professor O está hoje em casa a ouvir O disco. Diz:

Uma desgraçada berrando assim a um microfone,

Com o seu próprio acompanhamento de piano o nosso sangue pecador,

Berrando no dia do juízo final a nossa língua assassina.

Seremos a poeira, o musgo da laje gargalhando, fantasmando os viajantes in love.

O pintor muda uma vez mais de ambiente e na mesma sala vê um filme.

O que significa que mudou uma vez mais de cidade, agora habita Anexus 51.

Vê uma comédia com famílias felizes. As filhas crescem e irão para a faculdade.

O que elas não irão fazer em Lá? Festas e orgias?!, diz a personagem.

O que os rapazes não lhes farão, às minhas inocentes filhas!, ai meu deus!

Ah que raiva! 'Não sei qual das três amei menos…', relembra o professor O.

Então eu pintor rio-me da prole que não tenho.

Não tenho remorso. Agora… pouco provável que as venha a ter.

Deixo essa felicidade ansiolítica para o falecido professor que acabo de fumar.

As filhinhas queridas crescerão, ao mesmo tempo as suas maminhas.

Uma voz canta agora em memória cache:

Daddy's coming! Come to daddy!

Yeah! He's a bit of a control freak. Oh! She's a lady of doom.

Em solidariedade cada um de nós seguirá o seu próprio caminho.

A voz do professor raciocina ao dar o último suspiro neste dia no fim de mundo:

Deixei tudo, tive oportunidades, fodi tudo.

Desperdicei tudo por causa da arte. E onde estou eu agora? Ai ai… a obediência.

Expiar a culpa, a traição. 'Se eu pudesse [ao menos] pagar de outra forma'…

O pintor desenha na sua mente as linhas gerais. Soletra as suas vidas passadas:

I think professor O was a bit of a control freak.

He liked that way, he liked to control.

That's why he slammed the holy grail on the priest lady.

That's why he asked for suicide by murder. An useful fiction.

A conscious mistake we've got rid of since.

A conscious error we'll not omit: Lending the lair's lock.

Uma sensação uma cadeira um poster uma cama um quadro.

Frio como a noite eu pareço. Um vulcão de flores de cacto no deserto eu sou.

Um vaguear um delírio um tecto uma caneta um papel. Minto. Capto. Mância.

Nada sei do que realmente gostaria de parecer. Terno como os lençóis gostaria de ser.

Um objecto no meio da multidão perdido? Jamé!

Uma divagação uma negação uma escrita? Tujú!

Só como a sombra eu me sinto. A sombra que enfeiticei.

Uma sombra uma luz uma melodia um objecto um tema um lema uma conversa.

Triste como a noite? Nim! Em paz eu estou só mas não sozinho. Ela dorme.

Um esvoaçar de cigarros uma vontade de adormecer o poema.

Fraco o meu corpo eu permaneço em névoa verde.

Uma sensação de alívio… um sufi fumado com triste beleza.

Eu, [o tóxico místico,

não confundir com tosta mista porque prefiro torrada e galão]

Ouço Fatima Miranda e Galás. Fumo como um sufi.

Atinjo a leveza, dou piruetas no ar. Abandono-me ao vosso cantar sedutor.

Sou infinito no meu castelo masmorra e um grão pecador na areia da praia.

'

Claudio Mur


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