sábado, 20 de março de 2021

O dirac da pintura

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Enquanto estudo matemática e, em especial, os diracs, acordo na manhã seguinte sonhando com um jacto de energia infinita projectando-se, através do eixo yy do sistema euclidiano na intercepção ou secção de corte de um plano irregular com as formas esféricas do traseiro feminino: chamam-lhe polução nocturna mas não passa do reflexo psicofisiológico da memória resgatada do disco duro com ficheiros sobre grafitis de pó que o Pinto desenhava na carteira da secundária, era lindo o diálogo com a Soraia, ela desenhava e dizia «a piça do pinto» e ele acrescentava duas meias luas e dizia «a cona da soraia», e levava um estalo ao som de um «estúpido!» Agora, depois do almoço, ouço vindo de uma k7 gravada com Tom Waits o som de um homem a dar de comer aos garnizés enquanto eu penso, penso, vou pensando em tudo e me crescem orelhas de burro ao som dos mantras fúnebres que terminam a k7 a dizer o «dust to dust dust to dust» transformando-se em «quero estudar quero estudar» durante pedaladas de bicicleta à tarde. Ah, como é linda a paisagem. Sinto-me leve e jovem. Meu pai bem me disse: queres as coisas, estuda, trabalha, luta, ganha as coisas. E eu que fodi as senhas de autocarro para fazer filtros, o que o meu pai me diz entra por uma orelha e sai pela outra, acelarada e fumada, mijada contró vento mas... ah que água linda. ela vai sair do barco e oferecer-me um peixe a troco de um euro, vou fotografá-lo para um quadro futuro.
-- Tu já estás a pintá-la.
-- No, I just took the photograph, sou inocente, não tires o t à pintura nem ao passatempo.
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Claudio Mur

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