-- E o colesterol? Da última vez havia o colesterol mau que estava um pouco acima...
-- Mas agora baixou e até está ligeiramente abaixo, tem feito alguma medicação?
-- Não, talvez tenha passado a comer melhor agora que estou com os meus pais de novo.
-- Deve ser isso sim, e com o seu pai?
-- Ah, está tudo bem, ele fala mais comigo, até conta histórias da sua época...
-- Fala mais consigo também porque você está mais estabilizado...
-- Sim claro, é certo que a revolta já se foi para mim, é a idade, também para ele, ele contar histórias, relembrar é sinal de que já está a ficar velhinho, eu agora faço as compras à minha mãe, ela tem artroses nos joelhos, anda muito devagar...
-- E o que anda a ler agora? Sabe que eu gosto de saber!
-- Eh eh sim, posso mostrar, deixe-me abrir a mochila, olhe... Eça de Queiroz, este, tem o conto de Natal e outras histórias...
-- Ah sim, o conto de Natal, muito bom.
-- Ao ler este livro e outros clássicos fico com a ideia que antigamente havia mais palavras...
-- Como assim?
-- Hoje em dia há uma infantilização da linguagem, vamos buscar palavras ao inglês quando sempre tivemos palavras para descrever o mesmo, antigamente quem lia era uma elite, pouca gente sabia ler ou escrever, a democratização, a alfabetização baixou o nível...
Recordo estas palavras ditas ontem, e ponho a mim próprio a pergunta: queres uma elite a governar brutos sem linguagem ou educação, ou admites que universalizar o acesso á escola e á cultura é o melhor caminho para que o povo possa pensar em subir na vida respeitando o seu semelhante?
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