terça-feira, 24 de setembro de 2024

Desatámos a rir e então sentimo-nos felizes.

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Aproximava-me da curva da via e ao longe já se viam, apontando para o céu, os doze cascos dos cavalos mortos, como colunas da cripta de Stará Boleslav. Pensei na Mása, no nosso primeiro encontro, quando eu ainda trabalhava com o encarregado da linha, que nos deu dois baldes com tinta vermelha e nos mandou pintar a vedação à volta das oficinas. A Mása, tal como eu, começara a trabalhar nos caminhos-de-ferro, ficámos frente a frente, com a alta vedação de arame farpado entre nós, cada um com o seu pincel e, em frente um do outro, enfiávamos o pincel por entre o arame e pintávamos a vedação, cada um do seu lado, sempre cara contra cara, ao todo eram quatro quilómetros de vedação; passámos cinco meses assim, um em frente do outro, e eu e a Mása contávamos tudo um ao outro, mas havia sempre entre nós a vedação. Um belo dia, já nós tínhamos pintado dois quilómetros de vedação, estava eu a pintar o arame ao nível da boca da Mása com aquela tinta vermelha, disse-lhe que gostava dela, e ela, do lado de lá, também a pintar o arame, disse que também gostava de mim... e olhou-me nos olhos, e como estávamos numa vala entre ervas altas de caniço, estendi os lábios e, através daquele arame farpado pintado de fresco, beijámo-nos, e quando abrímos os olhos, ela tinha um pequeno losango vermelho na boca, e eu também; desatámos a rir e então sentimo-nos felizes.

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Bohumil Hrabal em «Comboios rigorosamente vigiados», páginas 45 - 45

tradução de Anna Almeida

edição Antígona

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