Hoje, de manhã, na Rua das Flores aproximou-se de mim um senhor
que, ao ver os meus trabalhos na janela devoluta, me perguntou,
primeiro, se eu era português; depois, se eu podia avaliar umas folhas pintadas.
Ele disse que tinham sido feitas por miúdos
e eu reparei que tinham todas um mesmo tema:
pinturas a guache mostrando um mar e um barquinho.
Como eu virava as folhas e dizia que não queria comprar,
ele falou que estava a pensar em 20 cêntimos cada folha,
eu resmunguei, ele disse dois euros por todas as folhas, eram à vontade umas quinze.
Acabei por lhe dizer: 20 cêntimos nem dá para a tinta,
porque não faz como eu e vem para a rua e tenta vender,
eu diria 2 euros por cada folha.
(eu disse este valor porque ele queria ainda menos,
e as folhas não eram propriamente umas grandes obras de arte,
se não valeriam certamente mais)
Não garanto -- continuei -- que tenha sorte
mas pode sempre tentar.
E podia ter dito o que um outro pintor,
que um dia destes parou para falar comigo, me disse:
em Portugal não há um culto da pintura,
não se vê, como noutros países, os cafés e bares com obras de arte na parede.
A maioria dos pintores em Portugal dá aulas para ganhar a vida
embora também seja certo que alguns já atingiram um nível de reconhecimento
que os faz ter avenças com galerias ou vender quadros por dezenas de milhar.
Eu, pelo meu lado, sigo o meu caminho, apesar de me sentir um proscrito
devido, não só mas também, ao meu modo de ser.
Mas vou continuando, vou sendo livre o mais possível.
E gostando da minha ocupação actual.
(em baixo, 3 pastéis de artistas na Ribeira, Porto)
E gostando da minha ocupação actual.
(em baixo, 3 pastéis de artistas na Ribeira, Porto)
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