domingo, 26 de novembro de 2017

O substituto

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Ah minha bela!, adoro quando fazes esse beicinho de menina de babete que tenta uma última vez que o seu papá lhe compre um bananaslip, adoro porque pareces mesmo a tua neta, adoro o sorriso que fazes, adoro a carne dos teus lábios, adoro tudo em ti mas agora ouve-me... não precisas mais de fazer de criança mimada, eu expilico, eu já não vou vender o teu quadro ao Benjamim, eu explico, ele ia ter problemas quando chegasse a casa, com a mulher percebes?, tu sabes que vocês mulheres têm um sétimo sentido, notam qualquer tentativa de escondermos, não descansam até descobrir. Por isso, não lhe vendo o quadro, eu explico, ele quando entrou aqui no meu quarto, o quadro que mais lhe chamou à atenção foi o teu, quis logo comprar-mo, disse que ia levá-lo para Alamut para oferecer à mulher, disse que no quadro via o retrato da mulher e da filha, gostou do tom de pele, a sua mulher é africana, a sua pequenina é mestiça, ele não tentou saber quem era na realidade a personagem pintada, identificou-se logo com o quadro, quis comprá-lo e fui eu, que fazendo resistência, comecei por lhe pedir um preço bem acima da minha maior venda -- o que ele aceitou -- e depois lhe contei para ver se o desmoralizava a história do quadro, disse-lhe que o quadro eras tu, tu em dose dupla, do lado direito, tu de olhos bem abertos e com as rugas de hoje e tu do lado bem esquerdo, com a idade e a maquilhagem dos vinte verões gingando na disco, disse que eras uma amiga minha dançando mas isso só veio aumentar o interesse que ele tinha pelo quadro, acertámos o pagamento das prestações, combinámos o envio por correio registado para Alamut, mas os meses foram passando e ele, o Benjamim, foi ficando entre nós, como na sua casa o telhado devoluta chuva, o quadro está bem melhor guardado aqui em casa e o pagamento da primeira prestação ainda não aconteceu pelo que o teu quadro ainda não foi vendido, apesar de estar prometido e reservado, mas tudo isto, Rasa, foi antes de ele te conhecer, agora que ele te conhece ele já não pode contar a história que pretendia contar à mulher, ia-se enrolar na história e a mulher ia ficar a pensar que a mulher no quadro era uma namorada extraconjugal em Derza, e eu digo isto tal como lhe disse a semana passada quando falámos os três ao telemóvel, eu vi o carinho que ele te tem, a voz doce de te aconselhar, ele ia ficar em terra e a mulher seguiria para o México à procura de um chico, como eu não quero que uma pintura feita com amor se transforme num objecto de ódio disse-lhe a ele tudo isto e estou-te a dizer a ti, ele está aqui ao nosso lado e pode confirmar, disse-lhe «não te posso vender este quadro mas vou fazer-te um substituto.», este aqui que vês no cavalete, o que achas Rasinha?
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Claudio Mur

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