um poema de Artur Rockzane em 'Hortênsio Miraflor - suicídio e obra', edições quasi
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um homem barbudo e em cuecas,
passeia um cão bicéfalo e azul numa
rua antiga ladeada de acácias. à ja-
nela duma casa, antiga como a rua,
uma menina vestida de azul fabrica
bonecas de cera; tem os cabelos em
chamas e da sua boca saem peque-
nas aves azuis que se vão esmagar
contra o rosto de pedra do homem,
que ruge versos bíblicos. na sala,
por detrás da menina, sob um reló-
gio imenso e sem ponteiros, ladeado
de bojudos anjos dourados, uma mu-
lher enorme mas estranhamente bela,
estirada num divã japonês, devora
aves azuis como as que saem da boca
da menina. a freira que de joelhos,
reverente, lhe pinta as unhas dos pés,
canta o avé-maria de schubert - as
meretrizes têm o seu lugar no céu,
com certeza.
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desenhos A5 de ZMB,
2012-2015
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