quarta-feira, 27 de maio de 2020

Transacção bibliómana

Estava eu a tomar o café caseiro e a digerir o fígado de cebolada com batata cozida do almoço que mandei vir, porque vualá encontrei uma verdinha no chão picante e abrasador deste mês de Maio quando à rua me desloquei e o Giu chama-me pela janela:
-- Ei Rui?
-- Atão tátudo?
-- Posso entrar ou a tua amiga está aí?
-- Não está. Podes entrar, entra.
-- Então, estavas a pintar?
-- Não, estava a ler.
-- Que livro?
-- Um livro de Tom Wolfe...
-- Tom Wolfe.... eu acho que tenho lá qualquer coisa dele...
-- Tens? De Tom Wolfe ou de Thomas Wolfe? Não sei se são o mesmo, eu acho que o Thomas Wolfe é já antigo...
-- Olha, a coisa boa que a Junta me fez ontem, veio cá um senhor, subiu os degraus do corredor da ilha, eu estava à porta do Luis, e o senhor: «senhor Giu, venha cá,» Deu-me uma saca de livros!
-- Pois acho bem, quando eles andaram a deixar os livros da bibloteca nos bancos do jardim e nas paragens do autcarro... eras tu que os apanhavas na maior parte.
-- Olha, depois passa lá em casa, pode haver qualquer coisa que te interesse.
-- Tá Giu, eu depois vou lá, Até logo.
Volto para o quarto, ponho um cedê de Mola Dudle a tocar e acabo a rir-me e a falar comigo próprio: «Andávamos todos a ironizar sobre e eu até fiz uma posta em que falava da entrega dos originais ao presidente que no retorno estacionaria um camião à porta da ilha com livros para o Giu,,, vê-me só o absurdo da ilusão, e agora entregam-lhe à porta um saco cheio de livros, olha, é o livro escrito a cumprir-se. Tenho de ir cheirar o seu Wolfe, se fosse o Roger,,, o Tom da Fogueira das Vaidades que estou a ler é potente, volto já!

Acabo por trazer três livros: Tom Wolfe, Hasek e Stendhal, por um euro mais a troca de um Bernanos, um Mauriac e um Radiguet, todos da colecção miniatura.
O Giu foi tomar o seu café, e eu vim à minha vida.




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