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Eu justifico-me ou com as melodias em papel areia de gudrun dh virgin prune lawrence ou com as palavras do blixa: mein kopf ist ein labyrinth mein leben ist ein minenfeld.
A minha violência é sobretudo mental, sou mais parecido com um cão que ladra do que com um cão que morde, eu sublimo a violência do tó desabafando ao papel, não me fico pelo oral insulto gratuito de expulsão quase vómito, passo para o papel e envio por carta registada às vezes em linguagem de insulto, às vezes em registo formal conforme a emoção do polícia interno de folga. Se sou doente maluco não me escondo na doença dizendo que não me lembro do que fiz. Claro que não me posso lembrar de tudo, aliás produzo a prova, a evidência do meu próprio acto, do meu erro perante a lei, posso não gostar da lei mas não me faço vítima dessa lei. Boicotemos a cultura do chui e comecemos pelo nosso superego!
Sei hoje em que lado da barricada poderei estar quando um bófia reprimir as verdades e os desejos de um futuro e em que café estarei quando um serviço de ordem de um sindicato reprimir as verdades e os desejos de um futuro.
Sei que, às vezes, não é possível aceitar o contrato social.
Sei que, se fosse bajulador, talvez vendesse livros brochados e pudesse ser considerado um «escritor a sério».
Sei que poderia ter muitos amigos se os que em mim procuraram mel não tivessem sido mandados à merda.
Sei que a minha técnica é fraca. Sei que me vão faltando ideias absurdas para livros onde falta a conveniência pessoal.
Sei que sou o possível que posso ser, sei que tentarei ser qualquer coisa mais e sei que prefiro ter uma cana de pesca do que jogar na lotaria para tentar Ser.
Não sou pedinte por enquanto, vendo um produto quando preciso de ir ao supermercado mas não me quero sentir um produto, apenas um produtor e não apenas um dealer de techno em timbuktu ou em qualquer derza deste planeta.
Sei que posso não ter uma razão científica para o que penso, para aquilo que escrevo parecer replicado com nuances em realidades que se tornam conhecidas pelos mass media.
Sei que tento fugir à noção hermética «algo de bom acontece e algo de mau se replica».
Sei que assumindo-me como zmb o zumbi, transcendo esta definição de morte a cada momento que vivo e que se eterniza pelo uso daquilo que chamam de aspirinas para reescrever ecos de um passado não tão distante assim.
Alguém que parece personagem de filme, ecos de uma casa que renasce a cada momento, a ilusão numa fé ou qualquer outra espécie de esperança, em algo vindo de dentro e expandindo-se para ti num local onde respiramos em comum, um local cheio de estrelas…
moon shine and moon landing, estrelas e asteróides em constelação dizendo ser possível viver cada momento como se este fosse único,
ecos de memória como se esta existência não tivesse fim, tigre! tigre!,
a cada momento perdido no tempo e deslocalizado recebendo feedback sem destinatário assumido e quão ilusório é ser comentado.
Às vezes, não passo de um potencial instrumento jogado na arena a bel prazer conforme as circunstâncias.
Antes de ser pó, gostaria da gratificação pela possibilidade do dia eterno. Depois de verdadeiramente pó, serei apenas pouso de abutres, um hobo sem qualidades de futuro acesso livre no archive ponto org.
Eu sou mais que a minha função mesmo que, às vezes, perdendo a minha noção de função, pense que não existo porque quem não aparece não existe, eu não pertenço nem aqui nem a ti, pertenço à grande nação zumbi vinda de marte, como eu prisioneira do verbo liberdade, das facas esquizóides do indivíduo e dos gunas dependentes do social.
A verdade é que nunca ouvi vozes dizendo-me para esfaquear, a minha violência é mental, sou apenas um cão que ladra e, entre eu levantar a saia da marlene na caixa do minipreço em pensamento e o acto de efectivamente o realizar, vai uma distância que só estudando bem o objectivo tal alguma vez se concretizará, eventualmente, a canábis tem a sua função de divindade, de intoxicação, de quality time imaginal. Se imagino não preciso de o fazer. Poderei não ser aquilo que escrevo mas escrevo a maior parte das vezes o que quero volver.
Desde que se descobriu que deus não era um só e podia ser qualquer um de nós, desde que a verdade se relativizou democraticamente, não me desejo vítima nem de mim próprio. Serei talvez um género em evolução dentro de mim próprio.
A sequência da minha narrativa pode começar em alhos e terminar em bogalhos dando a ilusão de um artifício começando no nome de um morto-mas-vivo, aquele estado tanto dentro tanto fora da realidade, da sociedade. A psicose de sentir o imã do meu próprio ser faz-me intuir talvez que me desejas numa passerelle de jet set literário mas opto apenas por passar ao lado nem que, por causa disso, te não tenha.
Eu não sou um anjo nem um santo nem um profeta tendo a ilusão de vir salvar o teu mundo, eu não sou já nem resistente nem desistente, apenas resiliente: eu sou apenas eu e sou já alguma coisa vencida a culpa, o remorso, o ressabiamento.
Tenho uma causa, um programa privado, pessoal e de consciência psicológica e social, eis o manifesto de um só subscritor: às vezes, ponho-me a pensar se as minhas palavras não são escutadas pela percepção do cliente regular. Às vezes, sinto que transmito as minhas mais secretas ideias através de telepatia inconsciente julgando pelas palavras recebidas através do regularmente diário feedback. Às vezes, é difícil sobreviver a coincidências estranhas no que digo passado e observo futuro mas… encontro já a saída e começo a ver a luz. Não me sinto já influenciado por ninguém que não eu próprio, afasto-me do feitiço mesmo que ninguém que não eu próprio o tenha lançado. Não acredito, apenas porque não o sei explicar, mas escrevo que a minha mente é uma onda cool de rádio emissora e retransmissora, um tributo à get-out-of-bed radio, toda uma literatura já escrita, não sonhamos todos com um ficheiro secreto? A verdade é que posso psiquicamente intuir o manifesto que the shamen me oferecem aos ouvidos então com dezoito verões, partilhá-lo mesmo contigo: my kind is yours omega amigo for you I will always have time.
De igual modo se, por acaso, virem no vosso bairro o tone malaiko vendendo qualquer zine ou mesmo uma boneca insuflável — para que cada cruco tenha o seu mur — troquem com ele uns ossos e a moeda, vá lá!, como taxa de sacrifício. Ele saberá como muitos rir-se de ter perdido o medo de viver fragmentado, de lhe chamarem de louco ou drogado ou até mauricinho, estes ding an sich são sempre úteis mas relativos, absoluta será a moeda para nós, os tones. Claro que assim, ele ou mesmo eu poderei ir buscar o meu genuíno meio conto de kenga e, para tudo o que verdadeiramente interessa, haverá sempre fêmeas que me completem. Se não as houver, inventá-las-ei pela imaginação: uma fêmea será sempre uma fêmea, uma mulher invisível um dia tornar-se-á real. Fiesta! Um desejo imortal.
Oub’lá filho se eu, teu pai fantasma sideral e adoptado, posso até nem ser descendente de qualquer raça mítica ou mitómana, a verdade é que não sendo cigano sou tratado como cigano apenas pela aparência de inteligente mas com um modo de vida pouco esperto. Num país que não gosta dos amigos de jacques leonard, eu posso até tentar adaptar-me a esse mundo porque preciso de trabalho mas este mundo só me aceita quando eu consentir em deixar de ser quem sou, e quem sempre quis não parecer, para simplesmente passar a parecer um deles porque um escravo nunca é, apenas parece e quem não aparece não existe, está nos livros.
Por isso, meu filho aprendiz de fantasma, como disse a doninha em celebração no hard club há muitos anos num anterior fim-do-mundo: se queres respeito puto dá-te ao respeito [,respeita] e assim terás o respeito a que tens direito.
Quidditas?, haecceitas. O que é? É isto.
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manuelle biezon
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