terça-feira, 26 de julho de 2022

A resposta ao ciúme só pode ser ma[ndar o relvas estudar]

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A resposta ao ciúme só pode ser ma[ndar o relvas estudar] 

meu camará!


Bagunça o desejo numa folha de papel

Esconde-o com cuidado dentro de um saco debaixo de uma árvore

Quando tu eventualmente o esqueceres

Este bem pode tornar-se verdade.

O doido sabe-la toda

E como dizia Michaux:

«Quem esconde seu louco, morre sem voz.»


— Ola

— Quem és?

— Saara

— Olá Saara peço desculpa, não me lembro. Podes ajudar?

— Tens 10 euros k me possas adiantar bjs

— Não tenho dinheiro para dispensar a desconhecidas que não se dão a conhecer

— Obrigado na mesma és um bom rapaz xi

— Se me conheces mesmo convida-me para um café e logo verei se não és tanga

— Ok logo as 22h no bom dia

— Onde fica o bom dia?

— Praca velaskes antas

— Lá estarei. Hasta

— Liga me kando chegares

— Mandarei sms e esperarei 15min


[09h55m pmm] — Cheguei. Estou de azul


[Quatro dias de silêncio depois] — Olá kerida gostei muito do outro dia temos de combinar nova sessão bjs


[Ontem] — Ola

— Bad luck try again

— Wow…

— Dial my number

— Pussy

— Cock


[The] End Less: 

O trabalho é pó preto e a cocaína é pó branco,


Diz, acusa-me por sms de eu ser um drunk cowboy junky anarco urbano depressivo,

Diz-me escrevendo: «Diz-me uma coisa: quantas gramas de tabaco fumas por dia? Responde sinceramente.»

Então eu cozinho a resposta ao longo das linhas seguintes:


Olha, sabes?

Houve uma pessoa

Que nossa senhora bendita a tenha

Credo!

Que me disse um dia:

Então mata-te!

E eu matei-me e não me parece que tenha sido por amor.

A seguir, num universo cruzado, foram precisos três lustros para o poeta,

Que santo crowley o tenha, credo!,

Dizer de mim: «mauricinho de merda»


Quando lhe recusei o charrinho de graça, chegou até a queimar em filme a obra Dedicada à mulher que segundo ele estava a dar o cu pelo tal charrinho de graça,

Olha, sabes?, descobriu o erro demasiado tarde.

Honra de ressacado da pastilha quatro vezes mais paranóico com prescrição clínica?

A única coisa que vejo são trinta anos de asfalto borrados pelo ciúme,

Ainda a certeza que dentro do hospital há mais honra do que na ostentação

De certos caracóis que deixam cair a toalha depois do batido de soja e se esquecem

Nus e ao que parece sonâmbulos depois de uma tablete de dez solidários grátis no cat.

Olha, sabes?, e vens agora tu dizer de mim à minha frente:

Lancem-no ao rio. 

Duas vezes «lancem-no!» repetido.

Olha, sabes?, a hipocrisia no mundo da droga abunda.

Obrigar alguém a entrar nas guerras que não escolheu é de facto complicado de gerir.

Certas pessoas são verdadeiramente sujas, sabes?

Olha, sabes?, saber que não sou santo e que um dia a minha hora chegará…

É o que me faz escrever este epigrama e esquecer-te no sono

E amanhã acordar com o ritmo da música do Xano no despertador do telemóvel

E com alegria despertar e mandar à merda por sms o gajo que

Com duas universidades no currículo diz não saber enviar um anexo de email [olha sabes?,

Tivesse ele apresentado como experiência válida de vida a sua gestão do folclore!]:

— Sinceramente, palhaço, perguntas-me pelo meu consumo ilícito e diário? Atão, aqui vai:


«70 gramas de tabaco west

Dois sabões de ganza um bidão de erva jamaicana

Meio quilo de cavalo e um de branca

E para finalizar um taparuere de 40 cogumelos mexicanos com massa refogada,

Tudo terminando em duas doses de café de saco cinco estrelas.

Precisas de mais alguma informação? Em que te posso ser útil? A minha memória. Send.»


Xana, escrevo para te dizer que guardo o teu quadro, guardo tua oferta

Sem cuidado é certo, mas sem a ter posto no contentor.

E quanto a ti Ó-tario, dir-te-ei beijinhos se me perguntares onde está a tua mulher,

Dir-te-ei que talvez tenhas de fazer como o poeta e

Pôr uma trela na mulher em quem tu não pareces querer carregar,

Beijinhos, deves pensar que eu sou como uma gaja que entra na cozinha e suspira

E te perdoa a merda que lhe fazes e um filho cresce na seringa e nos copos bebidos

Por não terem mil e quinhentos euros para a conta investimento reforma,

Beijinhos é o que te deseja o ninguém que a tua mulher insiste em desejar elogiar,

E ainda me chamam às vezes de tanso. O pouco que sei é verdadeiro.

Na minha terra diz-se : «Vai-te fazer ao futre, peçam-lhe um subsídio para o esquema.»

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Claudio Mur

sábado, 23 de julho de 2022

Desde que a erva cresça, o vento sopre e o céu seja azul

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Desde que a erva cresça, o vento sopre e o céu seja azul


«Olá,

como estás?

Apetece-te falar, partilhar, dizer algo, algo que me diga que estás viva

e bem…

Eu estou mais ou menos como sempre, tu sabes

espero que ainda saibas: alone but not alone alone with Sanea Vallis in our head

as usual

metastizando hemorragias

fazendo coisas para vos oferecer

esperneando às vezes por não ter paciência para esperar que aturem o

meu modo de tentar Ser


diz algo vá lá

e lembra-te que és ou foste uma Mulher Muito Importante para mim

diz algo, comunica

não deixes que eu te esqueça

não sei que mais dizer: malmequeres, talvez?

SEND» para a pessoa errada.


G is the hairy queen of all us four,

I only have good memories of her,

the others pretend to forget this or that.


Afastei o meu passado e o meu passado afastou-me, uma vez por outra lembro-me de

saudar a Saudade e ela ou ele recusa voltar ao diálogo. Não tenho valor de mercado.

O instinto de sobrevivência leva-me à conclusão: 


«não preciso mais de palhaços travestidos de curiosidade 

ou de meninas artistas e senhoras com lágrimas de cristal.»


Estas foram as últimas linhas verdadeiras, a sinceridade de tudo o resto,

desenhada a partir de notas dispersas e cartas-bomba ao passado nas quais às vezes

pus um selo,

revelar-se-á menos ou mais verdadeira ou mais ou menos errada.

Porque a verdade é o erro mais expediente, como diz Vaihinger.

Porque estupidez não é sinónimo de loucura e apenas um maior ou menor grau.

Porque a loucura está para lá do género sexual.

Porque de tanto negar a mentira ela se torna verdade.


Dedico estes contos de fadas e tresvarias autopsicográficas ao poeta criminal rehabilitado, louco não assumido, estúpido pedante, doente como eu, ele chama-se:

Mauricelho da Sogra.

«Quem quiser que faça dele uma bandeira» tchouk tchouk.


Porque no fundo sei que mais vale pintar a catástrofe do que explicá-la em palavras.

A erva não cresce, o vento não sopra e o céu não é azul.

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Claudio Mur



quarta-feira, 20 de julho de 2022

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Sony TV


Início de óleo e pastel de óleo e grafite sobre papel tamanho A2

Título provisório 

domingo, 17 de julho de 2022

sábado, 16 de julho de 2022

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Abrindo o segredo das páginas de um livro

 


«Abrindo o segredo das páginas de um livro»

óleo sobre tela

dimensões da tela: altura 60cm, largura 45cm

2022

ZMB


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Faz-se a estreia de um novo género de suplício, e não dos menores; suplício do deserto, das miragens e de outras fantasmagorias maldosas da sede e da reverberação, até haver a sorte de uma nova descarga nos permitir voltar a utilizar a nossa máquina, tirar proveito dela e dar-lhe o impulso, arrastando com ele todo um dispositivo de feroz egoísmo e total indiferença à dor.

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página 127 de «A dificuldade de ser» de Jean Cocteau, edição Sistema Solar





segunda-feira, 11 de julho de 2022

Porque se um koan é um enigma, uma cona é um enigma também

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*


Hoje acordei às 06h30 da manhã. Regresso das férias ao trabalho às 08h30. Todos os meus colegas apareceram. Chegou também o Júlio Tremidinho, o sócio-patrão. Disse-me que tinha umas folhas para eu assinar.

Da parte da tarde chamou-me ao escritório. Repetiu que tinha as folhas para eu assinar, as mesmas que queria que eu assinasse antes das férias. Perguntei-lhe pelo subsídio de férias. Ele respondeu: «Depois a A– paga-lhe.» As folhas para assinar eram da segurança social, para oficializar a minha inscrição pela C– na segurança social. Eu respondi-lhe que antes de assinar qualquer coisa que se referisse a uma transferência de posto de trabalho da empresa A– para a empresa C–, queria falar também com o senhor A., o sócio conjunto das duas empresas. O Júlio Tremidinho diz-me que só falarei com ele próprio e mais ninguém. Depois tentei dizer-lhe que precisava de uma declaração ou novo contrato de trabalho em que se especificasse que os meus direitos laborais, créditos e antiguidade na empresa A– fossem transferidos para a empresa C–, dado que era isso que se tratava, uma transferência de uma empresa para a outra tendo estas em comum o mesmo sócio, o senhor A.. Ele não me deixou acabar de dizer isto, disse apenas: «Ou assina ou faz a trouxa.» Eu como funcionário da empresa A– e tendo estado emprestado pelo sócio comum à empresa C–  nos últimos meses, saí do armazém após esta conversa, virei à esquerda, caminhei trinta metros e entrei no armazém da empresa A–. Pedi para falar com os patrões. Telefonou-se para eles, expliquei o que se passava e eles disseram que os meus colegas não tinham pedido essa declaração (os três colegas que assinaram os papéis de transferência de empregador na segurança social), por fim disseram: «Ou termina o dia na C–  ou venha cá amanhã às onze horas.» Vim-me embora e fui à loja do cidadão, ao Idict e eles disseram que não me podem despedir, o meu contrato actual é com a empresa A–, confirmam que tenho razão quando peço um novo contrato, quando me posso recusar a ser emprestado entre empresas. Dizem-me que eu posso tentar amanhã às onze dizer-lhes entre linhas: «Se chamo a inspecção das condições de trabalho vocês entram pela madeira dentro.»

Agora são oito horas da noite, estou no quarto da pensão, acabei de fazer o resumo do meu primeiro dia de trabalho após três semanas de férias, não recebi ainda o subsídio, querem mudar-me de empresa sem me pagarem os direitos laborais por ano e meio de trabalho na empresa A–. Mas a autoridade para as condições de trabalho dá-me razão. Ameaçam despedir-me se eu não assinar à força umas folhas que me prejudicam. Estou agora mais calmo, acabei de fumar um charro, já tomei café, decido começar a escrever neste caderno uma epístola (longe vão os tempos das cartas-bomba) à gerência da empresa A–:

«Dona A., antes de mais quero dizer que preciso deste trabalho, não quero ser despedido nem me quero despedir. Se estou bem tanto a nível psicológico como a nível económico (é claro que sou modesto) é devido a este trabalho, é devido à oportunidade que me deram. Dito isto, sempre fui, acho eu, um bom trabalhador, um trabalhador que suplantou a sua falta de experiência com motivação, entrega e perfeição, nunca causei problemas a ninguém, nem alinhei nos «contos e ditos» que se praticam entre os colegas de trabalho e a secretária da direcção que depois lhe espeta a si todos esses contos e ditos nas suas orelhas quentes. Fui bem tratado por todos até ao momento de entrada em cena do Tremidinho. Confio na sua palavra mas não confio na palavra do Tremidinho. É preciso lembrar que quando me pagaram o salário de Julho, o sócio conjunto disse que a C– podia fechar ou então o Tremidinho passar a ser o único sócio. Não vejo qualquer problema em ser transferido dado que um papel seja assinado em que me garantam os meus direitos, mas se o Tremidinho não quer assinar esse papel é porque de algum modo me quer empurrar para a porta de saída sem nunca pagar nada. Junta-se a isso que os meus colegas que assinaram a transferência e a eles coisas de boca lhes foram prometidas e ainda nada obtiveram. Não vejo como comigo seria diferente. Peço por isso a minha integração, o meu regresso à empresa A- pois não acho que possa haver justa causa para rescisão nem motivo para processo disciplinar, peço portanto que me dêem o meu trabalho de volta.»

Termino a epístola. Agora vou fumar mais um charro, ler um pouco e adormecer.

Amanhã às onze a guerra pelo emprego tem nova batalha no armazém A.


*


Hoje de manhã em Tintus Rius, onze horas nas instalações da empresa A–:

«Estou sob contrato há 18 meses, o contrato foi renovado automaticamente por mais seis meses. Só por extinção do posto de trabalho me podem agora legalmente despedir.»

Civilizadamente o acordo chega: «Vai gozar o seu restante período de férias e volta ao serviço dia seis.»

Quando saio da reunião por volta do meio-dia, dou por mim a pensar que o mais provável é cumprir os próximos seis meses e o contrato, a termo certo, não ser mais renovado, pois não aceitei a transferência para a empresa C–. É possível igualmente que me encostem a varrer o chão durante esse período, algo que cumprirei com rigor. Não lhes quero dar desculpas para despedimento selvagem. 

Tenho contas de escravo para pagar, sou um escravo, não sou um patrão, não me posso dar ao luxo de ser sempre insolente perante a gerência mesmo quando tenho razão, e vendo o lado positivo: estas quase duas semanas-extra de férias vão-me dar tempo de me organizar, de encontrar um quarto mais barato e que me garanta uma cozinha. Nesta pensão onde estou é insustentável ficar a longo prazo. 

Esta história «adiei o desemprego, adiarei a queda na rua!» iniciou-se quando previ um possível momento de apocalipse, o título de «quarenta e nove koans em Derza» transfigurou-se neste caderno de capa preta em «quarenta e nove conas em Derza» porque se um koan é um enigma, uma cona é um enigma também, Sanea pôs-me fora de casa, quis que eu saísse e ao dar a ordem talvez quisesse que eu fizesse por ficar, que lhe pedisse desculpa, lhe beijasse as mãos, lhe comprasse um anel de esmeralda, lhe prometesse umas férias na República Dominicana, lhe dissesse e mostrasse que ainda gostava dela. Mas como eu apenas quis ficar para não ficar na rua, foi sinal de que já não gostava dela. Foi este meu modo de ver a situação que lhe provocou o ataque de choro histérico naquela noite porque, dividida entre os conselhos das velhas teias de aranha e a vontade de que eu ficasse, mandou-me embora mas queria que eu voltasse para casa dos meus pais, para como era habitual daí a duas semanas fazermos mais uma vez a paz. Troquei-lhe as voltas, não volto como derrotado conjugal para casa da mãezinha, vou sim fazer por sobreviver na grande metrópole. Finito.

Caminho agora para a paragem e, antes de decidir em que autocarro entrar e destino sair, ligo para o número da Sandra com quem tinha apalavrado um quarto. Uma contrariedade surge: os outros ocupantes da casa querem conhecer-me. Digo a Sandra: «É natural que assim seja mas deixaram-me todo este tempo pendurado na promessa de um quarto que pode já não ser certo.»

Ela dá-me o contacto telefónico dos outros residentes, desligo e entro no autocarro para o centro da cidade e, enquanto olho a paisagem, penso: «quero ver se ainda esta tarde resolvo o assunto, estou ansioso e em caso de resposta definitiva e negativa tenho de procurar alternativas. Esta tarde os meus planos não passam por fumar, hoje não haverá lazer. Tenho telefonemas para fazer, anúncios para pesquisar.»


*


As consequências de esta tarde não ter havido nem lazer nem ócio fazem-se sentir agora à meia-noite, continuo sem dormir.

Muitas vezes fiz listas de bandas, álbuns a comprar, as melhores músicas para ouvir em modo aleatório nos auscultadores enquanto pedalava, eram tempos em que ignorava o perigo de me alhear no trânsito, era um jovem sem medo e com bicicleta. Nesta altura cheguei a considerar Van Der Graaf como a melhor banda dos anos setenta, Sonic Youth dos oitenta e Coil dos noventa. Hoje pela sua substância psicológica Virgin Prunes é a melhor banda de sempre: «O here we go, round and round again, down the memory lane.»

Agora em noite de insónia ouço Virgin Prunes. A insónia — um produto da ansiedade, não durmo porque estou ansioso, estou ansioso porque amanhã vou ver um quarto-sala mobilado com acesso a cozinha e máquina de lavar por duzentos e trinta euros, água e luz incluído. Vou tentar baixar o preço mas se gostar, aceito de qualquer maneira.

Estou ansioso porque as coisas correram mal, a Sandra vai deixar o quarto e o seu quarto ficaria para mim, foi o que estava apalavrado, mas agora a Célia e o Raimundo parece que precisam da autorização da prima… foda-se podiam ter dito mais cedo!

Quarto riscado da lista, hoje em dia as listas que faço já não são de discos mas listas de quartos para alugar.

Tem o seu quê de piada suburbana. Ora vejamos, falei com o Joaquim e esse quarto já está ocupado. Vi outro quarto por cento e oitenta euros mais água e luz mas não me agradou, muito pequeno. Hum, se amanhã não correr bem, bem… se amanhã às onze em Coñejo Latino não correr bem continuo aqui na pensão até ao fim do mês, não me posso deixar cair em pensamentos negativos, não tenho agora que pensar no que fazer após um apocalipse que, se eu pensar positivo pode nunca ocorrer o negativo mas nem tudo depende de mim, se eu pensar positivo... se eu contar carneiros adormeço agora e daqui a algumas horas já estou a morar num palácio! Ah, quando andava de bicicleta tinha pouco dinheiro para listas de compras e hoje se não tivesse o dinheiro possível de dezoito meses de trabalho, a ganhar o salário mínimo, estava a morar na rua em cima de cartão, é nisso que tenho de pensar para adormecer, não preciso de pensar agora que não sobreviveria se fosse um sem-abrigo, afinal consegui segurar o trabalho por mais seis meses, nem tudo é mau na minha vida.


*


Vou ficar à patrão por 230 euros.

Já comecei a mudar as coisas. O quarto até salamandra tem.

Já estou a festejar e posso anunciar o plano: às duas mudo o resto das minhas coisas e para isso terei de pagar mais cinco aérios ao taxista. Depois vou a forno town e volto já para aqui ou vou de imediato fechar o quarto na pensão. Janto no rapide e vejo o porto contra o barcelona. Depois vou à stray kat coffee shop ver um filme. Durmo na pensão. Amanhã faço trabalho comunitário na associação. À noite por três euros vou ver Minda gap. Domingo espero ir visitar o local mítico da metrópole embora desconfie que esteja entaipado de vez. Conto mudar-me de vez na segunda, com o trabalho adiado e contando que recebo subsídio em atraso e o ordenado para a semana não ficarei mal, terminarei projectos e conclusões. Não caibo em mim de contente. O sino acaba de tocar doze vezes. Vou fazer turismo.


*


Acordei às 08h30m, saí da cama às 9h e na rua encontrei a empregada da pensão e disse-lhe que saía daí a meia-hora. Fui ao café de sempre e comi um bolo de arroz juntamente com o café. Não fumei. Li o jornal. Depois de deixar as chaves na pensão e já a caminho do autocarro, encontrei o senhorio. Agradeci-lhe por tudo. Pus-me a fumar e o autocarro chegou. Entrei definitivamente em Coñejo Latino às dez da manhã. Subi no elevador, abri a porta, liguei a televisão, pus a rádio nas notícias, descarreguei o saco. Fumei. Fui tomar café à cozinha, fiz um desenho e falei com um inquilino que acaba de sair para ir ao centro social tomar o pequeno-almoço. Já fiz a primeira lista de compras e o plano das despesas. Agora ouço Meurglyss III, o blues branco. Não não, eu hoje não falo só com plantas e cães, hoje partilho botijas de gás em troca da paz de estômago, pretendo sentir-me um simples operário na multidão, aquele que se perde de vista e deixa um rasto sem nome, sem mágoas futuras no éter.


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O lobo erra e erra até encontrar a toca que o aceita, mas  já não tem paciência e é normal sucumbir à loucura porque não aceita a sublimação solitária.

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Claudio Mur

sexta-feira, 8 de julho de 2022

É como no provérbio sufi que diz qualquer coisa como
«não encontrarás o que procuras mas só o encontrarás procurando»

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Nota prévia:

Eu geralmente escrevo os meus textos ou em papel ou no computador, depois eles ficam a marinar quase que esquecidos às vezes meses e anos, de modo que aquilo que escrevo se torna sempre passado ao qual eu, no momento em que a ele volto, acrescento mais uma camada de pensamento, corto, coso, rasuro, exagero, dou voz presente:


Chego agora ao café. Esperava ler o jornal mas não está disponível.

Chego hoje mais cedo porque estava cansado de estar fechado no quarto a transcrever os cadernos. Li também alguns emails antigos que enviei: vejo que nada faz sentido, vejo que perdi para sempre a chave de descodificação do texto. Ando a transcrever momentos pessoais ocorridos por alturas do meu último internamento. Verifico que os discursos estão cheios de ódio e em voz alta, em erro ortográfico sucessivo. Algo em que caio em estado de descompensação. Ódios contra a família, individualmente e também contra médicos, enfermeiros, auxiliares, polícias, políticos, os internamentos são sempre políticos. Se há alguma verdade no grito, é tudo retorcido. Ódio contra tudo e todos. Este ódio é uma reacção a um veneno. Quem eu odeio lá no fundo sou eu-próprio porque não me acho capaz de uma existência saudável. Agora já não tanto, estou mais equilibrado, começo a aceitar a minha condição. Aliás, se eu hoje consigo falar sem constrangimento com a minha psiquiatra é porque andei anos a psicanalisar-me a mim próprio, a falar comigo próprio porque não tinha ninguém com quem falar e, assim, falava alto e respondia alto a mim próprio, seja entre paredes, seja na rua, no autocarro, ai valha-me cão!, o espectáculo que eu não dava… Nessa altura, não confiava nos médicos, não achava que o meu problema fosse de saúde, era um ignorante, um ovo de cegonha num ninho da torre do castelo. É preciso saber ouvir, é preciso querer ler compreender.

Quando ocorria o que ando agora a transcrever para o computador, tentando agora transcender o texto e dar-lhe brilho, eu projectava o que escondia, motejava em elipses herméticas slogans relacionados com aquilo que reprimia, nomeava, insultava e dizia «eu não, eu não sou assim, eu gosto da revolução.» Era isto que eu dizia. Escondia porque não acreditava ser possível tanta miséria, chegava a pensar ser apenas imaginação minha ou, então, factos plantados por alguém numa tentativa de roubo da consideração pessoal, de invasão do eu. Escondia para que se não soubesse o porquê de me sentir ofendido. «Não gosto de dar parte de fraco, a estátua tem de se conservar.» Isto aconteceu mesmo em plena urgência de pré-internamento compulsivo, eu preferia que me deixassem em paz mas obrigavam-me a falar e eu, querendo esconder o que penso ser facilmente acessível sem palavra-passe via telepatia wifi, verborreava porque pensava que eles sabiam todas as respostas às perguntas que me colocavam e, portanto, só poderiam estar a querer que eu confessasse.  Mas confessar o quê?! Então, foda-se!, explodia generalidades boçais e retorcidas para colocar uma palavra-passe e desviar os curiosos (e eles escreviam: comportamento hetero-agressivo). 

O efeito de repetição é tal que se me desvio do assunto, este torna-se incompreensível, fragmentado, poesia de voz de cuco. e perante tal espécime de idiota, cada um lava as suas mãos, segue em frente, diz «eu tentei ajudar-te» e eu fico pelo caminho, usurpado e reduzido à insignificância, mas com mais um texto escrito e datado, cheio de segredos, a verdade esquecida para sempre debaixo da consciência.

As pessoas esquecem, outras não perdoam, e eu muitas vezes fico na história como a ovelha negra, o tresmalhado, o que disse que louco governava, as palavras foram essas, as minhas. Utilizei a linguagem e o volume de som de um louco mal educado. A minha diferença era não saber, não ter consciência de estar a ser hipócrita como quase todos e achar que o meu agir era o melhor, pensei que a razão me assistia e podia justificar os meios utilizados, mas os fins quais eram? Oh, esqueci a maior parte das ideias que tive, perdi a consciência, o espelho, no qual a última ideia estava escrita, estilhaçado acabou por se partir. 

É verdade, eu tive um espelho em madeira que se partiu por descuido numa limpeza de quarto, e foi como se, nessa limpeza,  eu tivesse quebrado o feitiço, se tivesse quebrado finalmente a ideia de que eu me embruxara a mim próprio com voltas e reviravoltas, com o «nunca olhar para trás», foi só nos cacos do espelho sendo varridos juntamente com terra, serrim, lixo orgânico, baratas mortas, picos de ganza literal mas ilusoriamente mineralizados… foi o que disseste um dia a um convidado, «esta pedra é agora uma rocha, olha, mineralizou!» É natural que esse amigo te achasse louco ou achasse que o estavas a gozar e se afastasse. É, por isso, natural que não tenhas amigos.

Ah, reler o que se salvou do passado, para ver como fui, ou melhor, para tentar descobrir quais os factos que, mesmo sendo retorcidos, passam o crivo do esquecimento, não penso que seja isto literatura, quereria talvez transformar estas palavras em ouro mas só me aparece lixo. Chame-se erros ou não a tudo isto ou, menos punitivamente, se chame experiências de crescimento necessárias, não é preventivamente saudável esconder ou, à força, reprimir. Outro exemplo: as vezes, pergunto-me se vale a pena atirar pedras quando na nossa casa chove, pergunto-me se atirar essa pedra não é querer que o próximo baixe à nossa condição, «para veres o que é a realidade e não dizeres mais asneiras.» 

Sou arrancado a estas divagações por um telefonema da minha mãe e digo «está tudo bem, não se preocupe, tenho tomado os comprimidos, para a semana volto», digo apenas isto para a não preocupar, ela já não tem idade para isso. 

Saio do café. Caminho para o quarto. Abrando para enrolar um cigarro. Sou abordado por uma voz grossa que me tenta cumprimentar. Olho. Vejo o cabelo grisalho de um antigo colega que já não via há mais de sete anos. Vamos pelo passeio abaixo até ao teatro, onde nos separamos. Fico a pensar no que me diz: «As más notícias sabem-se sempre.» Mas fico também a pensar que nem todos guardam uma má-memória de mim e que, apesar de todo o teu passado, ainda há quem te queira voltar a apertar a mão. É como no provérbio sufi que diz qualquer coisa como «não encontrarás o que procuras mas só o encontrarás procurando», isto parece absurdo, é provável que a frase esteja distorcida mas… se eu estiver calmo a calma virá até mim.

É raro mas, às vezes, acontece.

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Claudio Mur

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Ou seja, lambi umas botas para não dormir na rua

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Citação de um programa da rádio Antena 2: Questões de moral, da autoria de Joel Costa, salvo erro:

«Gosto do que me acontece mas não gosto muito de mim mesmo. Recordar é inventar os pequenos milagres que se gostaria de ter vivido. Esquecer é querer se convencer de que se é independente. Tornar-se um homem é querer-se ser inteligente. Amar uma mulher é acreditar que se é um poeta.»


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Estou no café.

Leio o jornal da casa, na página de cartas do leitor vem um texto não-assinado, curioso e compacto e com o título «Freedom zijn zmb zijn», um texto que decido transcrever para o caderno por causa do seu carácter sincronístico:

«O miúdo de quatro anos leva com o chinelo quando corre para o pai, com saudades, pedindo carinho e após ouvir o pai subir as escadas vindo do hospital. 

O miúdo vai à janela que se abre para a rua no quarto em frente ao seu e é posto fora desse quarto aos berros porque o pai está nu. Meia hora depois, abre a porta e vê a mãe de robe. 

O miúdo deseja comer a irmã. 

O miúdo decide intervalar o tempo de estar à mesa durante o jantar e vai para o quarto, despe-se e olha a sua primeira erecção, volta à cozinha com receio de alguém o ter visto. 

O adolescente está na cozinha à beira da mãe e pergunta com alguma inocência se as pernas são tortas e ela diz «Isso é coisa de maricas», deixando-o a pensar que talvez também seja maricas por fazer a pergunta das pernas tortas. 

O adolescente leva no pelo ao fim da tarde na escola. 

O adolescente vê a paixoneta do liceu ser comida numa tarde de festa de carnaval ao som da sua música favorita. O adolescente vê as meninas belas, que encontra, olharem para ele à espera que ele vá atrás delas. Como ele não mexe uma palha, outros vão por ele. 

O quase-adulto come a primeira gaja numa festa de fim de liceu, combina um encontro para a semana seguinte e, nesse dia e nesse encontro, agarra-lhe as mamas como um criminoso mudo, ela tem medo e ele vem embora sem qualquer palavra de futuro.

O amor é uma granada defeituosa.»

Fico a pensar: a verdade é que este texto anónimo poderia ter sido escrito por mm, provoca explosões nas minhas sinapses, está calor, estamos em pleno Agosto, estou a morar numa pensão, preciso de contar os últimos dias, estava escrito que não duraria o meu conto de vida em conjunto com Sanea Vallis, ela não queria casar comigo, aliás ela ainda estava em processo de divórcio, eu também não queria casar com ela. Queria apenas viver junto, trabalhar, chegar a casa e fazer amor com ela, jantar, ir tomar café, fazer amor de novo e depois dormir que amanhã é dia de trabalho. Mas se ela não queria casar, queria ainda assim ter um «papel» meu, algo que legalmente a garantisse com direitos adquiridos semelhantes aos do matrimónio, no limite quereria uma pensão de alimentos.

O problema é que ela, vendo a facilidade com que eu largava o meu dinheiro, e se não fosse eu seria a minha mãe que sucumbiria ao choradinho e lhe daria o graveto... o problema é que ela se tinha tornado feia, tinha engordado à vontade trinta quilos, tinha passado por uma pseudo-gravidez para que eu não a mandasse passear antes, tinha-se ela transformado de ninfa em elefante, e já só me chamava assobiando como se assobia a um cão, para ela eu já era um cão, o cão que a sustentava mesmo não tendo papel. 

Até que eu disse: -- Vou arranjar uma velha rica!

Foi o fim. Levada pelos ciúmes fez trombas, refugiou-se em casas de velhas tias, ouviu os conselhos das teias de aranha e só voltou ao fim da noite, disse que eu tinha de sair no dia seguinte. Feriado, dia quinze. Para onde iria eu? Eu disse que não saía porque também contrribuía para a renda, e ela fez chinfrim à meia-noite, choro irado, baba e ranho, foi chamar o senhorio que morava no andar de baixo, como eu era novo no prédio e ela fazia limpeza no apartamento e biscates ao senhorio, ele tomou o partido dela, disse que eu tinha de sair, eu dizer-lhe que era um esquizofrénico e que não tinha para onde ir, só lhe fez ter um pouco de receio e respeito com medo que, durante a noite, algo sangrento pudesse acontecer:

-- Não lhe vai fazer mal nenhum, pois não?

Claro que não. Passei a noite a arrumar as minhas coisas. Voltar pra casa dos pais estava fora de questão, decidi ir morar em Derza. 

Dirigi-me de manhã a uma associação comunitária onde pedi ajuda. Disseram-me que podia trazer as minhas coisas e quanto a dormir, depois logo se veria. Liguei ao André, um amigo da minha zona de infância e ele veio ter comigo a um café às duas da tarde onde eu acabara de almoçar, onde comprava o fabuloso Origenes, um tabaco de enrolar que nunca vi à venda em mais lado nenhum, um café onde nestas férias laborais, passei as tardes a ler Wilhem Reich de cujas palavras intuí que o tipo de carácter psicológico da Sanea, por ela ter uma obsessão com a limpeza, se enquadraria no tipo histérico. Expliquei ao André o que se passava e trouxemos as minhas coisas de carro até à associação em Derza, deixei deste modo para sempre Vallis Longus. 

Na associação era dia de obras e limpezas na casa, eu, para tentar garantir que me dariam um local na casa para dormir, ofereci-me para literalmente demolir uma anexo de tijolo nas traseiras, estavam lá dezenas de simpatizantes e voluntários e eu causei-lhes impressão, reparei que alguém filmou o modo quase neurótico como eu empunhava a marreta e tijolo a tijolo o anexo veio abaixo, terminado este serviço andei a varrer os interiores acompanhado de um dos maiores da associação e também fiz tudo isto admito para que se falasse de mim na reunião comunitária da noite, ou seja, lambi umas botas para que não dormisse na rua, recebi uma mensagem da Sanea dizendo ela que eu tinha lá deixado umas sapatilhas xungosas que ela me tinha comprado nos anos e das quais eu não gostei, varri mais aqui e mais ali, acartei umas pedras, fumei uns charros comunitários e chegou o fim da tarde, na cozinha já estavam a preparar o jantar vegetariano para todos, comprei ganza a um sócio e outro sócio disse que talvez tivesse um colchão para mim em casa dele, fiquei contente, estava cansado porque mal tinha dormido no dia anterior e pensei que apesar de tudo os meus esforços para não cair na merda tinham sido recompensados: não ia dormir na rua.

O problema é que tive de andar colado até às sete da manhã a este sócio e seu grupo de amigos que nunca me dirigiram a palavra durante a noite, foi uma seca, eles eram todos neo-hippies burgueses com ocupações artísticas à custa dos papás e eu era o proletário do empregado de armazém gozando as suas férias laborais que agora se via perdido e abandonado na metrópole de Derza.

Quando finalmente chegamos a sua casa eram sete e meia, deram-me um quarto de arrumos sem janela e com um colchão no chão, pedi um cinzeiro para poder fumar um charro, tinha combinado com o Adolfo na associação às nove e meia da manhã, pelo que quase não dormi, acordei às nove, fiz um charro e saí daquele apartamento, fui ter à associação, continuava com o assunto por resolver, comprei o jornal, li os anúncios nos postes de iluminação pública, fui a um hostel e eles disseram que a duração máxima da estadia seriam três dias, para mim não dava, eu quereria de longa duração, encontrei finalmente um quarto numa pensão por quinze dias, cento e cinquenta euros, daqui a uma semana volto ao trabalho em Tintus Rius, a Sanea é agora passado, até ao fim do mês arranjarei um quarto numa casa partilhada em Derza. Ufa!

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Claudio Mur 

segunda-feira, 4 de julho de 2022

O liberalismo diz: «enriquece à vontade, mas se não chegar para mim não entras no clube.»

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O liberalismo diz: «enriquece à vontade, mas se não chegar para mim não entras no clube.»

Os liberais ou adeptos do liberalismo escreveram nos seus princípios também o princípio da liberdade e dizia mais ou menos o seguinte:

Os homens não podem ser forçados à liberdade, a liberdade não pode ser um presente chegado do exterior, os homens não podem esperar que lhes dêem ou tirem mais ou menos quantidade de liberdade como num regime totalitário, são os homens que devem agir para conquistar a liberdade.

Mas este sentido de liberdade nunca teve como referência geral o homem comum mas sim o homem económico e religioso no poder da ordem social.

Para o liberal o Estado não deve intervir na economia, na criação de riqueza, dizem que o homem é livre de enriquecer e o estado apenas deve intervir na área social como formar e educar indivíduos e integrá-los como uma força de trabalho, incentivá-los a subir na escada social, mas só até certo ponto pois ele não poderá agitar as suas próprias ideias acerca da liberdade, acerca da repressão estatal, económica efectuada pela ordem instalada. Seja feito tal e os liberais dirão que o indivíduo deve ser castigado.

Primeiro difamam-te, depois tiram-te o emprego, depois a mulher e os filhos, a casa e até o carro quando agora este te serve de residência, daí a pôr-te na cadeia por delitos de sobrevivência... É um pequeno passo. O liberalismo prega uma cartilha de valores morais, mas quando se chega à realidade vê-se que se algumas pessoas injustiçadas conseguem mesmo assim se tornar mais fortes, são essas apenas as poucas que conseguem sobreviver, as pessoas são forçadas a trocar a dignidade pela corrupção, pela hipocrisia, apenas essas sobrevivem, o liberalismo pode dizer que o tempo é de mudança, mas a direcção é a de um iluminismo para um absolutismo anti-histórico, uma regressão.

Caminhamos para o totalitarismo liberal.

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Estas considerações foram escritas em 2011 e têm por base a audição de um programa radiofónico chamado «Questões de moral» da autoria de Joel Costa, um programa de reflexão política e filosófica que na altura passava na Antena 2. Gostava de ouvir o programa e as interpretações do radialista, lembro-me de vários programas sobre o Sócrates (tanto o filósofo como o adepto das fotocópias) e de outros sobre a história de amor entre o nazi Heidegger e a judia Annah Arendt.

sábado, 2 de julho de 2022

Irabcdjol em 2022

 


«Irabcdjol em 2022»

desenho a lápis de grafite sobre papel de 300grms satinado

50cm por 70cm

2022

ZMB