POETA REREREVOLUCIONÁRIO
Dedicou-te o poeta alguns versos bem bons
do melhor que pôde, do melhor que soube.
Suou as estopinhas, tirou macacos do nariz,
irritou-se com a mulher, com a filha e com a criada.
Saiu nervoso de casa e, por ti,
nesse dia, em vez de uísque bebeu bagaço.
O poeta quase morreu a pensar em ti
na forma, no conteúdo, no poema,
no dilema, no crítico e na crítica
situação de dizer tudo, tudo
com palavras-pedra, palavras-chave
graves, agudas, fortes e esdrúxulas.
Garanto-te que o poeta quase se suicidou
para transmitir apenas numa folha
de 35 linhas tudo o que sabe de ti;
e disse coisas maravilhosas.
Falou dos horizontes vermelhos, dos amanhãs que cantam,
dos direitos totais e de outras regalias bestiais
até que cansado parou.
Foi quando enviou o poema ao director do jornal
com pedido de publicação e os cumprimentos do autor.
Fernando Madureira
no volume «Da Angústia de cada coisa»
edição Língua Morta
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