quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A Comunidade do Além



This film is dedicated to the homeless people and to Zé Pedro (Xutos).
Although the right to a decent house is inscribed in the Portuguese constitutional law,
there is still a long way to go on to give dignity of living to the poor.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Delirium Tremens

Delirium Tremens,
um poema de Artur Rockzane em 'Hortênsio Miraflor - suicídio e obra', edições quasi

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um homem barbudo e em cuecas,
passeia um cão bicéfalo e azul numa
rua antiga ladeada de acácias. à ja-
nela duma casa, antiga como a rua,
uma menina vestida de azul fabrica
bonecas de cera; tem os cabelos em
chamas e da sua boca saem peque-
nas aves azuis que se vão esmagar
contra o rosto de pedra do homem,
que ruge versos bíblicos. na sala,
por detrás da menina, sob um reló-
gio imenso e sem ponteiros, ladeado
de bojudos anjos dourados, uma mu-
lher enorme mas estranhamente bela,
estirada num divã japonês, devora
aves azuis como as que saem da boca
da menina. a freira que de joelhos,
reverente, lhe pinta as unhas dos pés,
canta o avé-maria de schubert - as
meretrizes têm o seu lugar no céu,
com certeza.
'

desenhos A5 de ZMB, 
2012-2015






quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

A sombra, o reflexo na água e a perda da sombra ou o espelho que se parte

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As histórias de duplos terminam geralmente mal. Expressão exacerbada de um narcisismo mal integrado, o duplo surge quando a relação com o outro falha ou é falseada: encerrado num solipsismo patológico, o sujeito procura fabricar o fantasma do outro que lhe falta, e o reflexo acaba por desempenhar este papel imaginário. Opera como um mecanismo de defesa através do qual o sujeito expulsa uma parte interior que censura, delegando nela a responsabilidade de realizar os seus desejos inconfessáveis. O duplo, liberto de qualquer inibição e forjado para escapar às mais variadas frustrações, dispõe então de uma tal energia, que eclipsa o modelo e absorve a sua vitalidade. Daí esses dois traços inseparáveis que os escritores descreveram: o reflexo é que é nítido, preciso, cruel, enquanto o modelo perde a sua substância e se torna desfocado. Por outro lado, o duplo impõe uma personagem desagradável e ameaçadora que persegue o seu modelo até que a morte acabe por restaurar a unidade.
Num célebre livro publicado em 1914 [*], Otto Rank analisou os fundamentos arcaicos da crença no duplo e notou que a sombra e o reflexo na água, através dos quais pela primeira vez o homem viu o seu corpo, se tornaram igualmente «a primeira objectivação da alma humana». Resultante da divisão do eu, o duplo teve por missão proteger o homem contra a morte, porque essa réplica exacta de si próprio era dotada de uma vida real e imortal que lhe assegurava a sua sobrevivência no futuro, depois do desaparecimento do corpo. Mas, ao mesmo tempo que o duplo serve de garantia de imortalidade, ele está constantemente a lembrar-lhe e a remetê-lo para o seu fim, qual espectro da morte que nunca o abandona. Promessa de morte e força de vida: este traço ambivalente marca a maior parte das manifestações do duplo; ele alivia provisoriamente a angústia do sujeito, ao mesmo tempo que o persegue.
Em muitas tradições folclóricas, o duplo, sob a forma de sombra ou de reflexo, simboliza a vitalidade, a energia, a renovação ou ainda a fecundidade, e a perda da sombra - tema muito explorado pela literatura fantástica do século XIX - amputa o sujeito das suas forças vitais, provoca a angústia e atrai a desgraça. Assim se explicam todos os azares associados ao espelho que se parte.
(...) No conto de Hoffmann «As Aventuras da Noite de São Silvestre», a sombra é substituída pelo reflexo. Sombra e reflexo concretizam as aspirações e os vícios do seu proprietário, revelando a cisão do eu. Assim, o duplo liberta e chama a si pulsões interditas, aliviando o sujeito, que desobriga da sua responsabilidade. Mas, ao mesmo tempo, de exutório prestável, transforma-se num eu recusado e hostil, que se vinga.
Por vezes o reflexo ausenta-se completamente do espelho para afirmar a sua total emancipação. A vista, sem o desejo, deixa o espelho vazio. O sujeito cindido olha-se mas não se vê, ou não se reconhece; abandona o seu corpo e manda o reflexo embora para escapar a um duplo perseguidor.
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, páginas 346 - 348

'História do Espelho'

Sabine Melchior-Bonnet
tradução de José Alfaro
edição Orfeu Negro

[*] O livro de Otto Rank chama-se na tradução francesa 'Don Juan et le Double', Denoël, 1932


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

For the sake of big boobs
Dog please fuck my mind for good

Numa altura em que se fala de crítica às apropriações culturais:
o caso da ministra sueca que usa rastas;
o caso da brasileira que se fez fotografar numa cadeira de candomblé e acompanhada das mães-de-santo (uma religião afrobrasileira)

lembrei-me que, há tempos no grupo de discussão da banda Coil no facebook,
um membro lembrou-se de dizer que os homens e mulheres heterossexuais que ouvem Coil
são igualmente apropriadores culturais.

O mundo caminha para a ignorância e para a intransigência e 
esquece-se que pouco ou nada foi criado sem que houvesse conhecimentos prévios e influências,
é raro algo surgir do nada, do vazio.
As coisas surgem do caos do todo, dos substractos já existentes.

Apreciem por isso,
uma banda gay terminar a sua infame actuação em Barcelona com uma mulher nua dançando,
vejam como eles se despedem dela como se ela fosse alá!,
vejam a multidão em delírio, isto é arte sonora, visual e física.

(ps.: Mamas grandes ou pequenas, o importante é venerá-las e tocar com elas )



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Os telegramas do aprendiz

ZMB : Os Telegramas do Aprendiz
from zmb_mur on Vimeo.
'The apprentice's telegrams',
a 23 years journey through ZMB's painting, from 1996 'til 2018
The soundtrack contains a reprocessed sample from Gurdjieff playing harmonium.
Edited in February 2019

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Alegria

Apesar de sentir algumas patadas do mundo, de vez em quando as pessoas deixam-me contente. Houve tempos em que sentia que o meu trabalho não era valorizado. Mas nos últimos anos isso tem vindo a mudar. A minha pintura não é fácil de observar, gostar e comprar mas compensa saber que o último quadro que vendi foi parar à parede do quarto de um casal que muito estimo. Este quadro é para eles tão valioso como uma pessoa. Dialogam com o quadro quando o outro está ausente e se alguma vez se separarem, o que não farão, terão de tesourar o quadro a meio. Isto é loucura, isto é beleza, isto é alegria. É para isto que eu, como pintor, vivo e não para o dinheiro que da venda obtive. Obrigado pela amizade.

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Caseiros da Terra do Nunca, 2


'Caseiros da Terra do Nunca, 2'
óleo sobre cartão de 3mm
44cm por 60,5cm (com moldura)
2018
ZMB