quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A jangada sume-se na profundidade das loucuras antiquíssimas

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Meter palavras em papel metido em canto: não sei como isso possa ser sem que o escrito saia talhado, leite lanche de vermes.
Recordo. Tempos em que temi ser diferente. E mais: o sossego sol de Abril quando percebi que o era mesmo, segundo as leis de ser pessoa. Só que muitos poucos ousam abertamente as consequências, e são então explosões ou os pequenos golpes da cuidadosa, afiada sacanice. Quem frequentou determinados casamentos, ou tavernas em noites de jorna, viu.
À parte isso, a cada qual um destinar-se. E assim desenham-se impressões intransmissíveis, digitais. As minhas também, talhadas por sucessos em que a própria vontade não jogou, e me safaram dos hábitos do canto em coro. Reforços recebidos para o concelebrar, mãos de estar-com dadas a algumas criaturas que me apareceram, a quem apareci. O meu saber o mundo desde o começar: situação de naufrágio. Foi como se nascesse a bordo de jangada onde pessoas inseguras andassem reinando ao estamos-num-paquete. Vi água entrando como em passador, e lá-vai-d'eu, nadar até trepar noutra jangada. Quando esta segunda geringonça naufragou, foi nova natação até que entrei numa terceira. Já estou (momento actual) de novo a dar aos braços e às pernas; que a jangada III se está sumindo na profundidade das loucuras antiquíssimas.
De todas essas reproduções miniaturais d'O Naufragar ficou-me a memória perfeita do que amei: os camaradas de jangada e risco, meu lote no respiro. Ficou-me pois o horror de ver a maioria deles ir ao fundo por carência de saber apredejar de riso o tenebroso. Vi-os cair a pique no abismo como caranguejos enfeixados uns nos outros.
Não sei se houve Barca inicial, acho que não. Acabaremos por construir alguma? Ignoro, e não é desse iinterrogar que me vem rasto. Sinto: nadar para aguentar o próprio do corpo, e então cresce conjunto de promessas no dar e receber dos mútuos, múltiplos impulsos. Vou mais: da fortaleza em companheirismo se descobrirá talvez nosso destino, que o passado profetiza. Peixe deu animal de seco, anos depois nós-mesmos. Homem é apogeu desértico. Entrevê distantes águas e talvez seja miragem, talvez não. Possível que o oceano venha, e nós a ele. E água e gente uma misturação de respirar completo, mudança do presente noutras luzes por sumidos o passado e o futuro.
Donde: cercado por detritos de jangadas e viventes esbracejando à tona das areias, parece-me que o meu nadar tem exacta relação com as metidas frases no papel - a outros destinado. Nas noites mornas do Quartier Latin, nos intervalos entre fogo e sangues, quando um vagabundo músico toca aceitavelmente, o grupo silencioso que se forma no passeio em escuta fica, por momentos, reunido mediante a audição dos mesmos sons de jazz, anónimo.

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,página 113

'A noite e o riso'
Nuno Bragança
Moraes Editores,
3ª edição 1978

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A white rainbow and xmas is drawing near



'A white rainbow'
from the single 'Winter solstice'
1999
Coil

Lyrics:

A white rainbow under an unquiet skull
(A roaring aura)
(A tremulous column of air, hanging there)
Moon's milk spills from my unquiet skull
And forms a white rainbow
(A psychosis, a roaring aura)
(Aurora borealis)
A white rainbow
A lunar ascension, a solar declension
A tremulous column of air hanging there
A bleached beach, a psychosis
(Laughing like skeletons clattering at midday)
Feel the moon's pull
Feel the moon's pull
Moon's milk spills from my unquiet skull
A white rainbow
Inverted vertigo, a psychosis
(Moon's milk spills)
And overhead, overhead
(Feel the moon's pull)
A tremulous column of air, hanging there
(A white rainbow)
(Laughing like skeletons clattering at midday)
And overhead, a white rainbow
Under an unquiet skull, under an unquiet skull
Feel the moon's pull
A white rainbow



'Xmas is now drawing near'
form the single 'Winter solstice'
1999
Coil

lyrics:

Christmas is now drawing near at hand 
Come serve the Lord and be at His command 
And God a portion for you will provide 
And give a blessing to your soul besides

Down in the garden where flowers grow in ranks 
Down on your bended knees and give the Lord thanks 
Down on your knees and pray both night and day 
Leave off your sins and live upright I pray

So proud and lofty is some sort of sin 
Which many take delight and pleasure in 
Whose conversation God doth much dislike 
And yet He shakes His sword before He strikes

So proud and lofty do some people go 
Dressing themselves like players in the show 
They patch and paint and dress with idle stuff 
As if God had not made them fine enough

Even little children learn to curse and swear 
And can't rehearse one word of godly prayer 
Oh teach them better, oh teach them to rely 
On Christ the sinner's friend who reigns on high


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

'O meu filho há-de ser um senhor!', diz um esquecido de deus

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- Por que me perguntas isso? Vês ali o garoto? Vês o molho de trevo? Ele queria um carneiro para a festa. Disse-lhe que éramos pobres. começou a chorar. E então pensei: eis-me chegado ao fundo da miséria. Depois voltei a pensar no crime de Saadi. Torturava-me, agarrava-se ao meu corpo. Foi nesse momento que passou o guarda Gohloche e me contou a história dos varredores. A princípio, não percebi nada. Depois tentei compreender. Sentia-me arrancado do fundo da minha miséria pela acção desses homens, e a sua coragem dava-me forças, e sentia despertar em mim o gosto de viver. Nao sei como explicar-te. Já sou velho, e tudo isso nasceu em mim esta noite.
- Chaktour, meu irmão -, disse Haroussi, - acabo de sair da prisão e garanto-te que estou muito cansado. Já não compreendo nada. Mas apesar de tudo vou dizer-te uma coisa. Há pouco mostraste-me o rapaz e o molho de trevo para me atrair junto do teu coração doente. Agora repara no domador de macacos, lá adiante, ao lado da sua cabana. Estás a vê-lo? Não é meu filho: é um filho da puta,, mas cada vez que me acontecesse encontrá-lo desencadeia em mim sempre o mesmo pensamento: porque não há domadores de homens? Se houvesse, talvez fosse possível saber o que podem fazer os homens.
- Eu sei o que podem fazer -, disse Chaktour.
- Então diz-me.
- Só o sei desde esta noite.
- Não importa. Diz-me.
- Os homens podem envenenar as mulheres, e também podem revoltar-se e espancar o capataz.
- Isso não explica nada.
- Explica tudo. Agora vejo as coisas com clareza que chego a ter medo. A culpa é deste molho de trevo. Estava deitado na minha miséria, sufocado por ela, e não me passava pela cabeça rejeitá-la. Não entendia a vida sem a sua presença. E eis que a criança chega com um molho de trevo, e a miséria torna-se de repente insuportável. Sofro como um homem queimado e a quem arrancaram os olhos para que não possa ver nada à sua volta. Um molho de trevo e era-me revelado o sentido de uma outra vida.
- Que vida?
- Não sei. Há no ar coisas que se anunciam e me dizem que o nosso sangue ainda não arrefeceu por completo. Ainda dispomos de muito calor, de muita vida. Um calor capaz de milagres.
- Vais abrir banca de bruxo?
- Não, eu não. Olha para aquele garoto a chorar. Com certeza que tem frio. Não tem nada por baixo da túnica. E desde manhã que ainda não comeu nada. Mas é ele o fazedor de milagres. É ele o bruxo de amanhã. Há pouco, completamente abatido na minha oficina, perguntava: quem salvará o menino? Pois bem, o menino salvar-se-á sozinho. Não aceitará a pesada herança da nossa miséria. Terá braços suficientemente fortes para se defender. Eis o que o ar anuncia à nossa volta. Escuta, Haroussi...
Sobreveio um silêncio que se estendeu muito longe, até ao fundo das vielas lamacentas. O vento tinha deixado de soprar. A miséria do mundo chegava ao fim do seu destino.
'

, página 80

'Os homens esquecidos de Deus'
Albert Cossery
edição Antígona

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Dois poemas de Ruy Cinatti

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PARA UMA DESCONHECIDA

Deste-me uma orquídea, ó rapariga
em troca de um papel com versos meus.
Eu oferecia-a Nossa Senhora
e ficámo-nos rindo a sós com Deus!...

na capela de Nossa Senhora da Saúde à Mouraria...
                                                 
                                            18.2.77


CONSEQUÊNCIA

No invisível vejo o meu destino
e toco-o com os dedos: é uma flor
a que chamo Cristo e dela faço
o mais vivo farol do meu amor.

Os homens passam, divertem-se, conversam.
São meus irmãos, quero-lhes bem
e em paz lhes digo: Sejam honestíssimos.
O resto virá por graça de Quem vem...

                                           10.3.77
'

,
'Corpo Santo'
Ruy Cinatti
Averno 2014




..

'Tiremos as maiúsculas a deus e a nossa senhora 
que poderão ter a congraça de vir por curiosidade
e substituamos cristo por cada um de nós em plena auto-estima.
Convém também que não sejamos demasiado honestos,
andam tubarões na costa e lampreias no éter.'

As alterações que eu faria a estes maravilhosos versos.

Figuras em molduras encontradas no lixo


'Uma figura'
óleo sobre pano cru
27cm por 22cm
2006
ZMB

Adenda: Maio 2015

Este quadro «Uma Figura» foi vendida na Ribeira,
a um senhor que fez questão de me deixar sem eu o exigir
o seu chapéu escuro
enquanto ia ao Multibanco.

Na altura da Páscoa, estive na Ribeira do Porto
algumas tardes tentando vender alguns quadros meus
e de qualquer modo fazendo uma exposição pública na rua e de graça e anónima.


'Sem título'
óleo sobre pano crú
32cm por 38cm
2006
ZMB

Fotos de época, 
antes de polir e envernizar,



Estes dois trabalhos estão presentes na exposição
'ZMB na Casa da Horta'
Rua de São Franscisco nº12, Porto
 3ª-Sab, 12h-24h
Novembro de 2014

O preço de cada um destes trabalhos no local de exposição é de 30€.
Após o términus desta, o preço será acrescido de portes de correio.
Também posso entregar em mão na zona do Porto.


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Uma ficção distópica, será?

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- O.K. Dois anos de serviço activo depois de me ter graduado. Os brincalhões do céu ainda são mais optimistas que os estudantes e têm mais dinheiro... e entretanto eu aprendera mais matemática e engenharia. Mandaram-me para a actividade exactamente a tempo de ser chamado de novo para a Guerra dos Espasmos. Não me aleijei: estava mais seguro que os civis. Mas isso fez-me perder outro ano, ainda que a luta já estivesse quase acabada quando me mandaram recolher. Isso tornou-me um veterano... com todos os benefícios, enquanto gozava os benefícios de ser um simples estudante. Fui a Manhattan e assinei de novo pela escola. Candidato a doutor. Escola da Educação. A princípio nada pareceu sério, pois estava disposto a usar os meus benefícios de veterano ao mesmo tempo que gozava os benefícios de ser estudante... e dedicava a maior parte do meu tempo a amontoar dinheiro para me qualificar para o legado.
«Sabia que os mais estúpidos estudantes, os mais parvos professores e os cursos mais asnáticos estão concentrados nas escolas de educação. Ao inscrever-me nas conferências de grande assistência, à noite, e nas impopulares aulas das oito da manhã, calculei que podia passar a maior parte do tempo a descobrir como funcionava a bolsa. E conseguí-o, trabalhando lá, antes de arriscar um chavo.
«Eventualmente, tive de escolher um problema para investigar, ou desistir das vantagens de ser um estudante. Estava farto de uma escola em que o bolo era todo merengue sem recheio, mas fiquei porque sabia como lidar com um curso em que as respostas são questões de opinião e a opinião que conta é a do professor. E sabia também como me arranjar com essas conferências nocturnas de grande assistência: comprar OS APONTAMENTOS: Ler tudo quanto o professor publicou. Não faltar demasiado e, quando se resolver aparecer, chegar cedo, sentar ao meio da primeira fila, ter a certeza de que o professor nos vê de cada vez que ele olha na nossa direcção... nunca tirando os olhos dele. Fazer uma pergunta que se sabe que ele pode responder porque foi escolhida entre os seus trabalhos publicados... e declarar o nosso nome sempre que fazemos uma pergunta. Felizmente, Zebedeu Carter é um nome fácil de recordar. Família: Obtive as melhores qualificações quer nos cursos quer nos seminários... porque não estudei educação. Estudei professores de educação.
«Mas ainda tinha de fazer a "contribuição original para o conhecimento humano" sem a qual um candidato não pode ter o grau de doutor na maior parte das chamadas disciplinas... e as poucas que não o exigem são um osso duro de roer.
«Estudei a comissão da faculdade antes de me deixar atar a um problema de investigação... não sem ler tudo quanto cada um dos seus membros tinha publicado mas também comprando os trabalhos por eles publicados ou pagando à biblioteca as fotocópias dos trabalhos esgotados.»
O meu marido pegou-me pelos ombros.
- Dejah Thoris, aí vai o título da minha dissertação. Podes pedir o divórcio nas condições que entenderes.
- Zebedeu, não fales assim!
- Então aguenta-te. «Um Inquérito Ad-Hoc Sobre a Optimização da Infra-estrutura das Instituições Educacionais Primárias na Interface Entre a Administração e a Instrução, com Atenção Especial às Necessidades da Dinâmica de Grupo.»
- Zebbie! Que quer dizer isso?
- Não significa nada, Hilda.
- Zeb, deixa-te de brincar com as senhoras. Um título desses nunca seria aceite.
- Jake, tenho a certeza de que nunca tiraste um curso numa escola de educação.
'

,página 86

"O número do monstro -1"
Robert A. Heinlein
Colecção Argonauta,
Livros do Brasil 1980

He doesn't like what he sees


'He doesn't like what he sees'
óleo sobre tela
40cm por 30cm
2007
ZMB


Do mesmo trabalho uma fotografia de época:



'Vê-se cacos de janela, reflexos de luz e olhares cruzados.'

Hoje a ironia deu por mim a pensar enquanto ia passeio acima buscar o jantar para logo:
O que está a dar é montar uma banca com prospectos em tons elécricos e mostrar uma gravata, gel no cabelo, um bom fato e uma voz de barítono, ser bem-educado para quem nos cumprimenta, e quando nos fizerem perguntas de circunstância levantar o queixo e franzir os olhos e dar a impressão que se pensa no assunto e se sabe qual o caminho a seguir.
- É um senhor, é como a merkle, vai arrumar com a escória dos que não querem trabalhar!

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Scuascraamo


'Scuascraamo'
óleo sobre tela
40cm por 40cm
2000 - 2014
ZMB 

Este quadro faz parte da exposição actualmente a decorrer 
na Casa da Horta.
Estou a colocar aqui nesta etiqueta os onze quadros expostos:

Este quadro é uma representação visual de um poema com o mesmo título.
Escrevi este poema por alturas de 1993/1994 debaixo do meu primeiro pseudónimo: Zombie,
foi publicado originalmente num folhetim em papel chamado Airf Auga 
lançado em Aveiro pelas Produções Ganza.
Viria mais tarde a ser incorporado num capítulo do livro Kcoillapso de Claudio Mur, 
eu próprio as Edições Cassiber.

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Senta-te em cima de um penhasco
e pensa
Convolui-te com a tua mente
Ultrapassa a fronteira
Atira-te
e recorda
Sente os teus conhecidos
Chorando por ti rezando pela tua alma
Recorda o teu passado
pensa nas boas e más acções
Admira os teus momentos de felicidade
e chora
A sorte não te premiou como devia
Mas não te esqueças
Os mortos também dançam
'


É sempre fácil a posteriori arranjar explicações para os factos ocorridos.
São às vezes estas construções da mente que ordenam causas e eventos numa lógica que faz sentido ou aonde às vezes o mínimo grão de impureza na realidade, na verdade dos factos ocorridos, reforça a lógica. Mesmo que esta seja absurda faz sentido.

Facto 1: escrevi este poema ao ouvir as primeiras três faixas do álbum 'Spleen and Ideal' dos Dead Can Dance.
Interpretação: 'tás a cometer um homicídio por incitares ao suicídio. é como te dizerem 'então mata-te'

Facto 2: nunca tive atitudes homicidas, sou mais de prevenir qualquer probabilidade de luta, às vezes calando-me às vezes vindo-me embora para ficar sozinho. quando estou sozinho imagino-me em cima do penhasco a gritar o seu nome.
Interpretação: o que te falta é foderes a tromba ao próximo palhaço que se aproximar de ti!

Facto 3: escrevi a imaginação de um suicídio por interpretação textual do som vindo dos headphones.
Interpretação: as palavras anunciavam que iam deixar de ter valor, era preciso agir, passar das palavras aos actos, não é isso a revolução?

 Facto 4: a minha psiquiatra diz que as causas da minha esquizofrenia são um mix e que é sem dúvida uma construção a posteriori o facto de pensar que me matei para ter matéria para escrever,
Interpretação: então eu disse-lhe que antes de me atirar já eu escrevia sobre loucura e suicidío e causas sociais, estudantis, amorosas, familiares... é como se houvesse uma maldição tornada real, como se eu prevesse o destino.

Facto 4: eu sobrevivi a atirar-me de um comboio em andamento em plena noite de janeiro, cai na escuridão de um monte de silvas e poucas pedras, foi a minha sorte. não sei quantos segundos estive de olhos fechados, quero dizer que houve um blackout momentâneo, depois abri os olhos e vi as estrelas e fui introduzido lentamente ao longo dos anos no sistema.
Interpretação: ao teres ganho coragem para te atirares para um escuro aleatório, ao desejares a morte até esta te foi negada, foi preciso lidar com o supremo falhanço.

Os dias de hoje: estou vivo, sobre vivo ou morto vivo eu sangro todos os dias lentamente mas não morro hei-de morrer um dia mas não amanhã e enquanto estiver vivo hei-de viver o melhor de todos os possíveis que conseguir atrasando o sangrar, apressando a cura acredito que quando o dia chegar hei-de estar vermelho que nem um cravo, até lá estarei curado porque sei o que não quero para mim.




segunda-feira, 10 de novembro de 2014



Artist: Psychic Tv.
Track: Terminus.
Album: Force The Hand Of Chance.
Label: WEA Some Bizarre.
Released: 1982.



Lyrics:

Quiet and hooded, his eyes stared out, small hands
make patterns on the window. Body shifting on wood,
dog outside the door, flickering memories as trains
maneuver in the old men's eyes. Forever part of a sleep-
ing world, waiting for him to come. Lost dreams of
childhood forgotten like hope. These lives are grey
stones made for cemeteries, this time the victim is
desired, like misery. He stepped down from the train,
dust on road and clothes, across the way a boy was
grinning, hard-on obvious in torn grey trousers
inherited from an earlier victim of the white horse.
Filing past the flowers and signs full of dreams,
light of night filtering where woof tiles slipped,
into that darkness. Each ritual makes demand, a hope-
less coil of expensive death affirming our exeistence.
The direction never changes, never falters. Along
those derelict lines lines to journey's end. Small hands
smear juice on flesh squeezing tight crinkling of
skin against worn eyes. There is no need of light.
Somewhere, in the secret cathedral, small movements,
the whole area covered in sheets of snow, pitted by
huts. He had no expectations, there was no reason,
breathing short as the text on the wall. Whenever the
dog moved, the night trembled, shimmering like water
moved by leaves in a forest. Marks of cold spray in
the dust, as in the future faded by choice. Our appetite
for miracles is not enough. Here, only animals
remain, immaculate, seduced by pain. Ending fear into
specters of welcome. Floor stained with patients. The
moment of least action. He moved like a rat in rubble
toward the sheets of snow, awake and empty, like an
old house, the place where all dreams meet. "He was
grinning before he jumped".
Las night the boy came. Open arms. Black hair.
Strong. Empty pale face. A volunteer. Unsure of why
he came. Seduced by pain. A faded painting. Waiting
for release, he blinked, looked up at the ceiling,
let out a tiny gasp praying for oblivion.
No engines anymoore. The machine engine's stopped. No
ghosts of death playing in the grass. Just simple, as
you would expect. No physical core. No smiles of love
from pitted carriages. Just an empty town. Derelict.
No way to identify. Sound playing across skin like
fingers. Just as ampty as flesh. What do you want?
Nothing in particular. No reason at all. Just a noise
of dreams at the door. Just as before. Did you see
that?
This is the place where all roads meet, the place
where all is the secret. The Place where time stands
still in the comfort of night and love becomes will
in the presence of light. I never want to leave. I
never want to leave. I never want to leave.


--

Por mais facas que me queiras oferecer
não me conseguirás eliminar da face da terra.
Não voltes. Não és bem vinda.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

O criticismo às escolas de psicologia

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[crítica nº] 9 - Demasiado rápida aceitação da compulsão social como dado psicológico: Todas as psicologias consideram a adaptabilidade como o ajustamento principal e a sua falta um dos maiores impedimentos. A actividade do ajustamento é dirigida para as realidades que se compreendem no termo «meio ambiente». O homem deve ajustar-se ao seu meio, físico e social. A responsabilidade do ajustamento cai decididamente sobre os seus ombros, embora o insucesso seja muitas vezes atribuído a dificuldades insuperáveis existentes no ambiente. Até mesmo condições que são consideradas como impossibilidades são vistas apenas como desafio ao engenho do homem. A natureza deu a este enormes recursos sob a forma de dinamismos que servem de transformadores, amortecedores de choques, dissolventes e emolientes.
Muito se diz em louvor do indivíduo bem ajustado que alcançou a paz com a realidade. Os constangimentos do meio social são aparentemente considerados como meios de pôr à prova a normalidade de cada um. «Sublimem, reprimam, suprimam, substituam, romantizem, vistam com trajes de ilusão, invoquem o Nirvana como escape às realidades - depois não se queixem das circunstâncias». Esta frase parece ser o mote das conversas «animadoras» que lançam a mensagem da filosofia «arriba e vamos a eles!».
Até os Freudianos, que têm rasgado brutalmente o véu da respeitabilidade outrora revestido pela soberana autoridade paterna, pouca esperança têm mostrado de que as novas gerações possam ser emancipada da tirania das realidades ambientais; só conservam a esperança de que as novas gerações possam tirar proveito das lutas anteriores, de forma que venham a transmitir aos descendentes uma carga menos pesada. Esta esperança manifesta uma fé tocante nas tendêncas melhoradoras de uma instrução progressiva. Por infelicidade, esta benigna influência parece que se opera retrospectivamente apenas nos mais críticos estágios do processo da vida, no ajustamento ao conflito-Édipo. Como mecanismo ajustador, «Perspicácia à procura do facto» não é a adaptação sem atritos que se esperaria, a funcionar com um mínimo de pressão emocional.
Mais ainda: até mesmo o ajustamento às imposições sociais não elimina tanto os conflitos quanto o psicólogo quereria fazer-nos acreditar. O indivíduo que teve sucesso em se erguer acima das irracionalidades e arbitrariedades do meio social, raras vezes mostra uma santidade que transmute as inclinações anti-sociais em mecanismos impecáveis de conduta altruísta, ou um temperamento filosófico que possa negar as exigências da carne sem tristeza ou frustação, ou um temperamento artístico que possa encontrar na arte uma protecção contra os «dentes e setas da sorte ultrajante».
Ora, se o indivíduo extraordinário acha difícil sintonizar-se com a realidade, as possibilidades de uma pessoa vulgar para uma adaptação frutuosa são ainda mais ténues. É, pois, conveniente re-examinar o conceito de normalidade e cortar-lhe não só a sua vacuidade mas até a sua complacência incorrigível perante os constrangimentos do meio social. Isto poderia envolver nova ênfase sobre factores de ajustamento, quer inatos, quer ambientais.
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,página 284
"Psicologias correntes"
A. J. Levine
Edições Delfos 1970

Unica Zürn


'Unica Zürn'
óleo sobre pano crú
40cm por 40cm
2014
ZMB

Comecei este quadro do nada,
ou seja, sem uma ideia pré-formada para pintar.
À medida que ia dando relevo e cor à superfície rugosa do pano
comecei a ver que estava pintando as mãos de um pescador
usando como isco homens que ao mesmo tempo 
pareciam subir para uma prancha e mergulhar na piscina-rio
debaixo do olhar de uma nuvem-rosto.
Durante os dias de pintura ia lendo 'O homen jasmin' e 
apercebi-me de uma frase do livro
em que Unica Zürn escreve tomar às vezes consciência 
de haver certos momentos sem explicação 
onde os nossos pensamentos, os nossos actos serão anti-sociais.

Este quadro integra a exposição 'ZMB na Casa da Horta'
aberto: Terça a sábado, 12h-24h em Novembro
Rua de São Francisco nº12 (à ribeira) Porto