segunda-feira, 28 de setembro de 2020

[Parental advisory] Mesmo a morte é melhor que esta vida inútil

Esta transcrição, em baixo, é dedicada ao poeta que escreve debaixo do nome Diogo Vaz Pinto. Os textos que ele escreve debaixo da etiqueta «modus operandi» no seu blog estão cada vez mais apelativos a que os meus neurónios trabalhem e não se deixem morrer como o corpo, eu estou morto há mais de vinte anos, mas a minha consciência ainda vai despertando de duas maneiras apenas: com o sorriso cúmplice de uma mulher madura ou com as palavras sensitivas de um ser humano onde vejo humanidade. Ele pode escrever com um machado e eu há muito tempo que usei um machado para cortar o meu próprio escalpe, metaforicamente claro, não se assustem em demasia. Os golpes são os únicos actos de amor que ainda me acordam. Tudo o resto é apenas higiene mental. Mas as palavras contam. Ele talvez me perceba mesmo que a linguagem e o estilo seja diferente: não sou teu igual nem te quero roer o coração nem o amor do teu coração, mas somos semelhantes, sou talvez o teu primo doente e distante, o teu coleguinha da primária que punha pióneses no pião para no chão este rodar mais bonito.


U Capítulo minus XIII

Joan LaBarbara: Sound paintings

Scanner: That’s ok

Swans: Greed/Holy Money

 

Acordei tarde hoje. Como o hoje era Sábado, levantei-me por volta das duas horas da tarde. Não acordei bem-disposto nem rápido. Esta atitude tem-se repetido ao longo das semanas. A culpa das olheiras penso ser da preguiça e de algumas pestanas queimadas. Quando finalmente saí da cama, fui directo ao espelho. Levei as mãos à cara e puxei com violência a pele para baixo, irradiando os meus olhos de sangue capilar.

Banho?, pensei eu.

Não. Tomo amanhã.

Dirigi-me à casa de banho, experimentei a nova espuma de barbear e as novas giletes. Quando pus a lâmina na cara, esta queixou-se: ai!, as da outra marca eram bem mais amáveis, bem mais gentis para comigo.

Levei a toalha à cara, e vi no espelho uma pequena incisão vermelha, abri a boca tentando encontrar as amígdalas mas não vi nenhuma, então respondi: pois é, tens razão, devia ter aberto o pacote e ter experimentado antes de o comprar.

Voltei ao quarto. Enrolei um Águia. A gaveta esperava que eu lhe tocasse. A sua virtude continha comprimidos para a memória e ampolas bebíveis para a boa disposição. Ao voltar ao espelho comecei a pensar: bem, agora vou sair e comprar o jornal, tomar um café e comer qualquer coisa, sim, preciso de comprar... preciso de comprar umas calças, preciso de tempo, preciso de escrever as palavras que o assassino de psiques me inspirou, Hipócratres nada percebia de prescrições psiquiátricas senão prenderia médicos, preciso de falar com os Coil, a sua loucura induzida por drogas, a droga como estímulo inspira-me. Hoje, acordei a lembrar-me da conversa de um colega que, ontem, me dizia: acho que quando terminar a licenciatura, vou para o Havai, acho que o meu futuro pode passar pela Internet. Vê só! Havai, ondas, surf, mulheres... e ele, aqui, baba-se como se fosse um lobo esfomeado! Iá, interrompi eu, uns coqueiros. Imaginei-me... imaginei-me logo eu, a minha personagem com um copo de waikiki na mão, a pensar... a pensar em quê? Ouve lá, sabes como se faz para apagar um ficheiro? Ele reponde um tanto assustado: mdel... e, a seguir, o nome do ficheiro. Pois!, eu devia saber uma coisa destas...

Começo a vestir-me, penso que, quanto muito, tirarei um dez no exame final do CReEA daqui a quatro meses, sou um ruqui em informática, os meus colegas são mais havai e gajas enquanto eu sou mais loucura e droga, estou-me a cagar para tudo, sinto-me condenado há muito tempo, quero música que me aliene deste mundo, desta sociedade, sou um zombie com vergonha de o ser, fujo com a música, há muita música para mortos vivos, toda a gente tem a fixação de associar a música ao músico, ou seja, todas as pessoas têm o hábito de caracterizar a música como sendo um reflexo instantâneo do modo de ser e agir do músico e, se a acham desagradável, dizem que eles deverão ser desagradáveis, uns merdosos, eu não espero que eles sejam boas pessoas, apenas espero que a sua música o seja. Já me chega. É suficiente, basta-me, além disso, a música sempre foi o mais importante, mais do que as famosas palavras... e, além do mais, os músicos podem ser os maiores merdosos e a sua música ser altamente. As drogas estão aí à mão de qualquer um. As pessoas são livres de fazerem o que quiserem, todos têm o direito de viver, de morrer, etc., o dia D já se foi. Eu só quero que o produto que adquiro seja bom e não me interessa o resto. Toda a gente tem o direito a consumir. Aliás, vivemos numa sociedade de consumo.

Mas aqui há uma questão que me azucrina: o que é mais importante, se a arte e a obra ou a vida e as opiniões de vida de um autor? Reparo em mim numa mudança de ponto de vista, agora que me sinto um nojo menor que zero, dou por mim a dar valor à vida que ainda quero viver, quero lutar por subir do grau zero, deixar a tona de água e subir no balde se alguém vier buscar água, quero olhar bem a lua no zénite e descobrir neste poço uns quaisquer degraus revelados nas reentrâncias do abismo em que estou como um náufrago, como o lobo enganado pela raposa que lhe oferecia o mais belo queijo. O que é mais importante? A arte ou a vida? Dou um exemlo, em duas partes.

A primeira: se a música for excelente e eu nada conhecer do músico, se a sua música me der epifanias e oportunidades de a lincar a memórias ou acontecimentos psicogeográficos... então tudo bem, respeito e aceito mesmo sem concordar com as opiniões e modos de vida do músico. Podem é eles passarem de moda para mim e eu desligar-me de conhecer novas obras devido às suas posições geralmente políticas com as quais não concordo.

A segunda: se eu conheço uma pessoa anónima na minha vida pessoal e a respeito pelo modo como vinga ou não na comunidade em que ambos vivemos... então tento partilhar o mais que puder com essa pessoa, e se essa pessoa se vier a revelar portador de qualquer actividade criativa que eu goste de seguir, torno-me quase incondicional no apoio a essa pessoa, compro mesmo a sua obra se ela estiver disponível, e posso ler ou ouvir ou apreciar a obra de arte ou colecção e não gostar ou não concordar e ter opiniões divergentes, mas não ofendo a pessoa, respeito a opinião artística contrária à minha e tento tanto não antagonizar como não evangelizar.

De maneira que... ah!, a sociedade de consumo e os filiados no partido dos desadaptados da sociedade de consumo, sim, estou a seguir a tua linha de pensamento, adorei a tua assertividade,´estás cada vez mais top, mas o que eu queria mesmo era falar-te dos sapatos, os meus sapatos comprados ontem dão-me um andar agradável, nunca pensei que o tamanho me servisse, não me posso esquecer de comprar... o que se põe nos sapatos?, é graxa não é?, é ridículo mas eu devia perguntar isto numa sapataria: olhe, por favor, enseba? Estou mesmo a ver o grande filme, um remake de uma produção obscura a preto e branco filmada em locais reais com o personagem, um adolescente de quinze anos entra numa papelaria obcecado por Ginas e Tânias e pergunta à empregada, ainda nova: olhe, tem foda? Não, não temos. E o adolescente volta para casa, vê o tonto do director do colégio de frades e muda de passeio, nunca gostou do grupo de jovens daquela paróquia, ainda assim, recorda as visitas de estudo, os gunas no castelo, as bolas de bilhar roubadas, as mamas da empregada do restaurante e como o patrão lhas cobria com os abraços e eu, nesse momento, pensava: descobre-lhe as mamas pra eu ver... hum, aqui não me estou a ver a trabalhar, por exemplo, num restaurante ou, então, sempre posso ganhar o totoloto. Bolas!, esqueci-me de o registar ontem.

Devias ser violado: Rasga a voz vindo pelas colunas da aparelhagem. Imagino um quarto, não... uma casa, a casa que compraria com muito impacto, muito requinte. Mas porquê uma casa e não um quarto? Oh, porque um quarto é sempre um espaço muito pequeno para todas as minhas coisas. Se eu for para fora, se emigrar terminados estes trinta meses de CReEA, deveria esquecer o meu passado? Para isso, teria talvez de fazer uma operação plástica e, mesmo assim, haveria sempre espelhos para mostrar a máscara, desmascarar quartos, quadros envelhecendo ao longo dos anos com as ampolas bebíveis para a boa disposição, mas porque raio tomo eu os comprimidos?, para aqui não esquecer o meu ser... e lá fora não me esqueceria, já não as tomava, é isso? Juro eu, em baixo assinado juro, juro nunca mais tocar em drogas, em bebida e em carne humana durante toda a minha vida. Ófcorse. Eu deveria esquecer o meu passado para só ter futuro e a casa estaria dividida em vários estúdios, imagino: um estúdio de gravação, um atelier de pintura, um escritório e, claro, um quarto, o choco. Tudo coisas que gosto de fazer e, tirando a alcova, tudo coisas que gosto de fazer sozinho embora não saiba como fazê-las. Nietzsche disse: Não quero que me tomem pelo que não sou, o que exige que não me tome pelo que não sou.

Então, esfaqueia-me: Rasga a voz na aparelhagem continuando a demolição da minha mente. Vai-se na rua, olha-se para as pessoas que se cruzam connosco e vê-se Zero, e vemo-nos a nós próprios e vemos menos que zero. Eles fazem ou sabem fazer algo. Nós não sabemos fazer nada. Não, minto. Nós zombies sabemos sempre olhar para os outros e dizer: que banalidade, sabemos dizer nada, nada nos interessa, não nos interessa chegar à beira de um desses ilustres espécimes humanos e perguntar com espírito de aluno: olha... sabes como se faz para regular a luz de uma máquina fotográfica?, é que eu estava interessado em tirar umas fotos, meti um rolo de trinta e seis fotografias na máquina e quem ma emprestou disse-me mas eu esqueci, sabes?, e estás a ver, não tenho vontade de lhe perguntar outra vez, podes dizer-me?

Pois é, nunca tenho vontade para perguntar outra vez. Digo que prefiro esquecer-me e, no entanto, tomo comprimidos para a memória e espero que o vizinho me ofereça uns cabos rca porque eu, embora tendo os duzentos escudos da despesa, não tenho cu para sair do sofá e os ir comprar porque estou à espera que tu mos ofereças. Por isso, como tu não mos vais dar, nada me interessa. Glória, ninguém me interessa. Glória mas preciso deles, de ti. Eles sabem, eu não, eu nunca sei. Sou menos que nada, eu sei que sim.

Vivemos. Ou talvez finjamos que vivemos. A minha definição é um Produto Desadaptado da Sociedade de Consumo, partido PDSC. Eheh, nem à geração rasca, geração X geração Sexo, tão badaladas e tão em voga, eu pertenço. Anos 90. Que fixe. O seu troco, volte sempre.

Quando se está maldisposto põe-se tudo em causa, tudo em dúvida, já não os porquês mas sim os para quês. De vez em quando atrofiamos mas isso faz parte do pão-nosso de cada dia chorado na igreja dos fiéis, chorado também por todos os não praticantes e por aqueles que dizem recusar a moralidade ocidental baseada na culpa, no sofrimento e na expiação de todos os pecados. Se calhar, dizem vocês ou digo eu: eu devo ser o maior cristão no bairro mas aqui fico na dúvida se não serei antes o maior anticristão, pois se assumo a minha culpa... e não no confessionário, sim, estender-me-ei ao comprido simulando cristo e gritando de raiva, implorarei que me atirem merda porque eu mereço, eu sou o culpado, desculpem-me, eu mereço, eu sou um servo.

Divido, assim, o meu atrofio em três grandes domínios:

... em casa sozinho: olho para o ponto mais próximo sem o fixar, mais precisamente olho o ponto focal de uma superfície côncava e ouço this is heaven, this is heaven surgindo das colunas de som, sendo que aquilo que fixo na realidade não existe, o meu pensamento gira ao longo dessa superfície e, de vez em quando, a minha boca fala sozinha e baixinho para que ninguém a oiça, ultimamente saem pequenos urros da minha garganta que só dizem carradas de disparates como: sou inútil, amo-te, quero que me dispares um tiro por favor.

... na rua sozinho: se for de dia, caminho pela rua de olhos bem levantados para observar com cuidado as banalidades, para admirar ou detestar a paisagem e a arquitectura da paisagem, o meu pensar vagueia pelas minhas frustrações e por todas paisagens, frases e flashes de certos filmes que vi e que me vêm à memória; se for de noite, geralmente olho para o chão e, de vez em quando, tremo, nem sempre de frio e ultimamente quando isso acontece olho em frente e começo a falar sozinho... não não, não estás errado, decidiste isso, está decidido, és o juiz de ti próprio, e, de vez em quando, tropeço mas não caio: sinto a tua dor, sou o teu único amigo.

... em público: permaneço desinteressado do grupo. É, aliás, raro falar e, por isso, imagino filmes e oiço aquilo que os outros dizem e, de vez em quando, digo qualquer coisa. Não!, minto de forma brutal, nunca digo nada.

Recordo o olhar apavorado da menina empregada do grande supermercado quando, ainda antes de ontem, lá fui comprar uma segunda garrafa de vodka, algo não habitual em mim. Não!, minto outra vez, têm-me de desculpar esta tendência, neste campo regista-se uma evolução, nestes dias tenho tentado dizer qualquer coisa mas parece que a minha boca parece grudada à rigidez do efeito daqueles comprimidos que o assassino me receitou, o problema é não conseguir dizer nada, ultimamente só tenho dito e feito asneiras em público, o pior é que as pessoas parecem notar, até me telefonam a perguntar como estou, bem obrigado.

Já viste?! As pessoas reparam que tu existes, afinal de contas, e que andas esquisito!

Pois é, nunca te tinhas apercebido, pois não?, tão formais que parecem e sentem, tão desinteressadas da tua personagem, elas reparam em algo, podem não saber a causa mas reconhecem o efeito: a loucura ou drogas mas... mas que tem as pessoas a ver com tudo isto ou contigo?, nada, elas nada tem a ver com... o problema é que o efeito é sempre o mais importante, é aquilo em que as pessoas parecem reparar, agora as consequências parecem ter mudado, agora perdeste o respeito dos outros, para já não falar do teu por ti próprio mas isso é outra história bem mais desagrádavel... e quem é o culpado?, nunca foste muito sociável ou foste e deixaste de o ser, as pessoas aprenderam a ver-te assim, calado e discreto, fazendo algumas asneiras discretamente com poucas pessoas a saberem, as pessoas aprenderam a esquecer-te e tu aprendeste a calar-te, a não revelar as tuas opiniões acerca do nada, e por isso te calaste!, no fundo aprendeste a não raciocinar logicamente, para fora de ti, bloqueaste ou, se calhar, são só as tuas posições que são incómodas, se calhar, dizes coisas que não são bem verdade, as coisas são um misto de ambiguidade de posições onde, às vezes, não se reflecte o efeito do amanhã, é uma máscara deslocada do seu contexto habitual. Ora deixa ver... se virar à esquerda vou dar ali. Sim, mas se virar à direita vou dar aonde? Desculpem-me, aonde quero ir? Merda, não sei!

Da discussão nasce a luz. Escondeste-te e agora que fazes bambino?, tentas recuperar o tempo perdido?, tentas recuperar o espaço perdido, conquistá-lo aos mouros?, e os amigos que nunca consideraste... é um pouco difícil eu sei, ultimamente tens vomitado tudo isso, gritando desesperado algo que nem pedidos de ajuda são, sim, ajuda é mesmo o termo: vomitar significa despejar e, no entanto, a minha consciência transladada no tempo diz-me e dirá às pessoas que só se aprende com os erros e com as escolhas erradas, mais um lugar comum.

Não percebo, não consigo perceber, sinto-me inútil.

Pois é, precisas de dormir, precisas de descansar, batatas para o trabalho que tens de entregar senão esgotas-te, tripas a tua cabeça, daqui a quinze dias voltas cá e falaremos da importância de uma mulher na vida de um homem em alturas de depressão, agora tenho de ir tirar o carro do estacionamento senão pago multa, e, depois, não tocarás mais o barco para a frente, começarás a tremer dos pés, ganharás incontinência e diarreia. As pessoas agora já não te olham como um menino-prodígio, já não te cumprimentam com aquele sorriso de intriga e estranheza por ti, se calhar, em certos ambientes baixaste de nível sem se saber, no fundo, não te importas de estar ao lado delas. No entanto, elas nunca poderão saber porque senão vão dizer: olha, mais um que pensa que é melhor que os outros, agora as pessoas conhecem e, se ainda te cumprimentam, é por motivos de etiqueta, mas vê lá tu, já nem disfarçam, alguns já nem estendem a mão, alguns dizem olá de longe e longe deles está o sorriso e a intrigante dúvida, outros são mais sinceros e dizem: tenho de ir ali; outros vem cumprimentar-te e perguntam coisas como: então tudo bem?, e tu bloqueias ou gemes ou desatas aos gritos histéricos e finos, esqueces os modos, a discrição, a amizade e a tua merda vai-se revelando ao público.

Então e que fazes tu ultimamente?

Na Quinta-feira tive um dia estranho, acordei às quatro da tarde. O despertador terá tocado em princípio às nove horas da manhã. Aparentemente não o ouvi e continuei a dormir. Por um lado fiz bem, pois era sinal de que estava muito cansado e só me fez bem... mas pelo contrário fiz mal pois ao abrir os olhos... encontrava-me visivelmente mal disposto, tudo quanto eu hoje tinha para fazer ficou para amanhã. Doutor, sempre que isto me acontece dá-me uma vontade abismal de me elevar a uma outra dimensão, a um outro local, a um outro desconhecido. Assim como estou, vivo sem prazer e sem interesse. A ambição que sempre foi uma das minhas regras está derrotada... só de lembrar o que por ela aguentei e pela qual cheguei até onde hoje me encontro, hoje ela parece-me bem distante, cessou vida. Assim, a única fuga para a frente que agora me resta será deixar-me elevar a uma outra dimensão, a um local desconhecido. Mas já nem nisso penso querer acreditar. A miséria acumula-se à minha volta, saio à rua, vou ao Dolphins beber um café e comer uma torrada porque são as horas que são e ainda não comeste nada hoje, no entanto, não te esqueças de comprar tabaco, e pagas um café ao teu novo amigo que está sem dinheiro. Meia dúzia de disparates para cá e para lá e ele diz que tem de ir beber o resto da garrafa de vodka, que lhe ofereci nos seus anos apenas porque eu não a consegui beber toda na noite em que a comprei, vai beber com a namorada, ex-namorada e amiga, ex-amiga, indiferença, curiosidade, aproximação, amiga e eu digo muito bem e penso que não me importava de estar na tua situação.

Então e que fizeste tu a seguir?

A seguir, quis pagar menos que a despesa realizada, por simples e honesto engano mas de qualquer modo não resultou. Então, saio e dirijo-me ao centro comercial, o destino adivinho-o agora é uma loja de discos. Não consigo deixar de reparar que, de vez em quando, me encosto perigosamente à parede e tropeço mas ainda não é noite. Eu sei porque procedo assim. É porque, quando saí em jejum de casa, engoli uma ampola embebida em água juntamente com um Lorenin e uma bomba chamada Normison. Além destes, só conheço o Dumirox e o Valium com vinho das castanhas e rum embora me digam que existem outros igualmente interessantes. Por isso, cambaleio e a minha voz é quase tão imperceptível e distante como a voz do Michael Gira a sussurrar descalço aos peixes e isto, penso ser apenas um meio fácil e rude de descrever o estado de stress funcional do meu cérebro pós-salto de comboio. O Id, doutor, mais que o dono, parece ausente, mais vazio, e, no entanto, até... me tenho alimentado melhor, até comprei uns sapatos que nunca pensei servirem, até comprei um par de calças minimamente ajustadas à magreza actual das minhas pernas. Na minha meninice, recordo usar números largos. Mas esqueci-me de comprar mais comida, esqueci-me, doutor, de ir ao CReEA resolver uns quantos problemas com os professores. Eu, o meu ser ressacado ressacado da vida ressacado de amor, digo que tudo me parece louco demais queimando lentamente o meu cérebro, eu me confesso culpado e mereço que me dispam, me tapem os olhos com uma venda e façam de mim o que quiserem. Ah sim, a loja de discos... é já noite, levo uma revista de alpinismo com umas excelentes fotografias e apetece-me tomar um café mas o salão de chá está já fechado. Vou então à loja de discos inaugurada recentemente, a primeira ideia afinal que tivera após sair do Dolphins, ela tem uma boa colecção de música clássica. Oiço e decido comprar Shostakovitch. É a minha grande acção do dia. Porquê Shostakovitch? Em parte, talvez por me recordar que de vez em quando costumava ouvir a Antena2 enquanto tomava banho, e de ter ouvido nessa altura pela primeira vez o nome e algo de Shostakovitch, algo como uma sonata para dois pianos tocados em timbres e tempos diferentes, algo que gostei muito, e em parte porque foi o primeiro disco que surgiu, não sei, a loja é gerida por duas moças que parecem irmãs e são bem giras e para as quais olho e não sei definir qual a expressão do meu olhar. Quer que mude de faixa?, ela pergunta... não, deixe correr, respondo. Ela vira-se para a irmã dizendo-lhe qualquer coisa que nem sequer ouço embora tivessem falado à minha frente em voz normal. Quando saio a limpar as paredes, resolvo por fim tomar café. Entro, peço, leio o jornal de relance com um peso nos olhos, fumo um cigarro com o cérebro comprimido, levo a mão à carteira e descubro que tenho dinheiro para gastar, pago, saio, e agora? Tudo isto no espaço de uma frase. Perguntei eu à minha personagem quando saí da consulta com o assassino naquele fim de tarde de Inverno: E agora?

Continuo no presente, este passado é o presente destes dias: Vou para casa. O meu quarto ainda é o único local que conheço à minha volta que me permite estar à vontade para fazer asneiras sem precisar me queixar ao público. Eu deveria estudar, deveria criar qualquer coisa mas só me apetece ligar o aquecedor, pegar num livro ao acaso e colocá-lo numa mesinha improvisada ao lado de tabaco, fósforos, isqueiros, água e Lorenin, e deitar-me por cima da cama a ouvir Shostakovitch. Tenho frio. Gosto de nomes russos terminados em itch, são dez horas da noite e acabo de adormecer. Sonhos brancos, pesados.

Acordo com frio por volta da meia-noite e o espaço parece-me irreal, espacial algures, olhos para os cantos... Van der Graf Generator e Meurglys III, a última solidão... Leonard Cohen e o desespero, o frio. There are only me and Meurglyss III. Deito-me por debaixo dos lençóis e tenho a sensação que forcas estranhas me estrangulam, forças estranhas me sugam o cérebro aos poucos. Tento defender-me empunhando uma mão fechada em direcção à força que suga.

E andamos, todos os eus, o Id foi à consulta dos ricos, o J não viu a namorada no Natal, o L escreveu o novo poema para o seu amor platónico, o C definitivamente estraçalhando-se pelas paredes da cidade, o A na sua ideia aluado pela B, o R pintando céus não académicos, o O julgando todos os nós das nozes, andamos nós todos nisto até acordarmos, numa onda de movimento pendular mas em aceleração uniforme até o sino da igreja assinalar a uma hora da manhã. Ouço o badalo e expludo porque não me recordo de nenhum dos meus eus, eles anularam-se todos, são todos ridículos, absurdos e boçais, parolos e pacóvios, nada pode ser assim tão bizarro, tão insuportável, tão absurdo. Se ao menos fosse um itch, se houvese glória na minha tragédia, se se ouvisse a lâmina vingando-se na pele, se o fio da lâmpada de tecto me arrancasse um erecção por asfixia... mas não há crimes de sangue nem cordas piedosas rompendo-se na história, é tudo inútil, a minha vida é inútil, a minha morte é um abutre alimentando-se de quem não atingiu o nível. Perdi as minhas noções de Tempo, Espaço, Responsabilidade por completo. Penso que hoje seja Sábado.

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Claudio Mur

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Jean Giono e John Giorno

 Na Terça-feira da semana passada, precisei de ir comprar tinta à loja Sousa&Ribeiro na Baixa do Porto, e fi-lo a pé. Descendo a Rua Faria Guimarães, parei na montra da Livraria 50Kg (http://edicoes50kg.blogspot.com/), onde um mês e pouco antes havia comprado um livro facsimilado de Vergílio Ferreira de nome «Vagão J», um livro censurado pela Pide em 1946. Esta edição contém o auto de censura e apreensão de exemplares. Já o li. Cheguei a contar um dos episódios do livro aos meus pais, quando falávamos ao almoço de uma reportagem sobre a eutanásia que está a passar na televisão.
Disse eu qualquer coisa como: «Pois, o Chico Borralho era pobre mas trabalhador, mas não havia seguros de acidentes de trabalho na altura, ficou debaixo de uma pedra, amputaram-lhe uma perna mas deixaram o coto a pingar, e a família a queixar-se que o pai e o marido era um fardo, uma boca inválida que não pode trabalhar, e o filho chega com o cunhado e levam o Borralho ao médico em cima de um carro de bois e querem que o médico lhe dê um veneno para ele não sofrer mais nem mais fazer sofrer, mas o médico recusa e eles vêm embora. O pai Borralho ao corrente de tudo, são das ideias, há muito tempo a dar razão à família: sou um fardo. Aproxima-se na estrada uma camioneta e o Chico Borralho atira-se do carro de bois para as rodas da camioneta. Morre e resolve o problema a todos. E todos ficam como parvos a pensar no caso. Lágrimas zero.
Disse eu isto a meus pais porque acho que deve uma pessoa ter o direito de morrer com dignidade, tal como temos o direito de abortar com dignidade. São questões fracturantes para as quais os meus pais têm opiniões diversas da minha e onde a religião tem um papel principal.

Mas na semana passada parei na montra da livraria e vi um livro de Jean Giono. Uma edição antiga por cinco euros. Pensei em comprar logo no momento mas resolvi que melhor era ir primeiro fazer as despesas que me propusera e as outras: passar na tabacaria, comprar mortalhas, filtros e uma nova máquina de tabaco. Talvez na subida de volta a casa, pensei eu. Nã... a subida faço-a pela outra rua, pois ainda tenho de ir ao minipreço.

E assim foi. A semana passada não comprei o livro e eu não moro propriamente na zona, mas andei todo este tempo a pensar no livro de Jean Giono e se haveria de gastar mais dinheiro noutro livro, quando tenho tantos que ainda não li. Passou-se a feira do livro e nela, devido às regras anti-covid, estive dez minutos, comprei no stand da Editora Exclamação. Pelo que andei este tempo todo a pensar que podia investir mais cinco euros e ler o Jean Giono, afinal soube que ele foi recentemente editado pela Sistema Solar e muito me agradei desse facto, embora não tenha comprado esse livro. Andei o tempo todo a pensar até ontem.

Ontem, senti cinco euros seguros na carteira e decidi-me a dar um passeio até à livraria. Cheguei lá, mas o livro de Jean Giono já não estava na montra. Hesitei mas acabei por entrar. Dei uma vista de olhos pelas estantes, encontrei «Pétalas de Sangue» do mesmo autor de «Não chores menino». Vi um livro de Olivier Rolin que talvez... acabei por perguntar pelo livro de Jean Giono que estava na montra nem há quinze dias.

-- Ainda não foi vendido certamente... como se chama o livro?

-- Qualquer coisa como «Vai ficar tudo bem», disse eu e logo me apercebi que era um título ridículo e que a minha memória me estava a pregar uma partida, devia ser um título semelhante...

-- Não sabe a editora?

-- Não, não me lembro. Acho que a capa era verde.

O livreiro começa a procurar ele prórprio nas estantes, consulta o telemóvel e chega à conclusão que não se lembra. Eu digo «deixe lá» enquanto pesquiso mais uns livros e ele continua também à procura. Finalmente:

-- É este aqui. 

E apresenta-me o livro: Jean Giono -- Que a paz seja connosco -- edição Porto Editora.

Eu pego no livro e tento folheá-lo, digo: -- Ainda está por abrir! Tens as folhas por cortar.

-- É, esse livro nunca foi lido.

-- Eu conheço, começo eu a dizer, Jean Giono dos anos 90, na altura ele tinha uma editora que editava discos do Burroughs e dele e doutros.

-- Era um beat portanto.

-- Sim, acho eu.

Acabo por comprar o livro e o «Pétalas de sangue» de Ngũgĩ wa Thiong'o. Venho para casa. Passo o resto da tarde e do serão a acabar de ler o Roberto Arlt. Depois, antes de me deitar, começo a cortar as primeiras páginas do livro de Jean Giono, para o começar a ler hoje. E começo a achar que algo não bate certo, este livro, este autor, numa edição sem data e com mais de cinquenta anos da Porto Editora, algo não bate certo. Reparo que o livro no original se chama «Que ma joie demeure» e vou à procura na internet, em inglês chama-se «Joy of man's desiring». Vejo a página inglesa da sua biografia (https://en.wikipedia.org/wiki/Jean_Giono) e penso: «algo está errado, eu conheço Giono da sua associação ao Burroughs e dos discos da Giono Poetry Systems dos quais recebia os catálogos de edição nos anos 90 em tempos pré-internet.»

A internet torna tudo mais fácil, vou ao discogs.com e procuro por Jean Giono e nada, nenhuma associação ao Burroughs, e afinal o Giono faleceu em 1970 e os discos dos quais me lembro são dos anos 80. «Deixa procurar na discografia do Burroughs»

E encontro, e a confusão fica desfeita. Existe Jean Giono, autor francês naturalista e pacifista com obra escrita a partir dos anos 20, 30 do século XX, e existe John Giorno, poeta americano (https://en.wikipedia.org/wiki/John_Giorno), fundador da Giorno Poetry Systems (https://www.discogs.com/label/16963-Giorno-Poetry-Systems) e que editou Burroughs, Laurie Anderson e outros.



domingo, 20 de setembro de 2020

A perspectiva dos dez centavos

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Muitos psicólogos estudaram a personalidade de Don Juan, mas nenhum o fez do ponto de vista dos dez centavos, isto é, de Don Juan perante o problema de não ter dez centavos para seguir uma dama que, depois de olhar para ele, apanhasse um eléctrico.

Porque é preciso reconhecer que Don Juan seria, nos nossos dias, um «pelintra». Não trabalharia, dedicar-se-ia em exclusivo ao amor e, salvo se vivesse de rendas, andaria o tempo todo de bolsos vazios e sem um tostão furado.
Esta história, naturalmente, foi-me sugerida pela confissão de um amigo.
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página 29
«Águas-fortes portenhas»
Roberto Arlt
selecção, versões e posfácio de Rui Manuel Amaral
edição Editora Exclamação

As nacaradas bochechas

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«Pois essas divertidas e caprichosas cenas, tão exóticas como pueris, que, enrodilhadas e com feia catadura, têm devorado páginas e páginas em frases de todos os tamanhos, terão alguma coisa de comum com a suave e desafectada narração dum prometido conto não só verdadeiro, mas até elegante? Um conto! Chama-se isto um conto! Dos que se dizem nos serões de inverno com pasmo das imaginações rudes ou infantis, poderá ser. Mas conto para gente fina e séria, para gente, que sabe de cor Edgar Poe e Hoffmann! Oh, oh!

Sobretudo imperdoável é o desaire, com que o demónio do escrevinhador deixa transluzir das combinações do seu espantoso embróglio o presunçoso intento de fazer um romance, que lhe dê azo a fingir-se modesto, chamando conto ao que, no juízo dele, vale bem um romance. Ora, meu senhor, se queria rabiscar coisa como romance, sofreasse um tanto os ímpetos com que os seus esfalfados heróis se precipitam no epílogo; demorasse as situações com peripécias, episódios e tudo o que lhe lembrasse, capaz de aumentar o interesse e aperfeiçoar o lavor artístico da obra. Não basta encadear dois dissaboridos diálogos e alguns ditinhos simplórios e afectados. Diálogos! Nada mais fácil. Duas pessoas, que falam, uma depois da outra, com intermédio de pausas e reticências... Se queria fazer-se notado saísse a campo com seis, oito, vinte palradores, prendesse-os a uma geral conversação em que falassem todos, alternados e simultâneamente, em grita e com moderação. Então sim. Aí encontraria oportunidade de desvendar a sua mestria nas dificuldades da arte. Mestria essa, que ninguém ousaria contestar uma vez que alcançasse meios de se esquivar a mostrar-nos, pela extravagância da algaravia, de que fabuloso modo se digerem bojudas vasilhas de álcool.

Nesse caso não nos opunhamos a que se levantasse um estátua de barro em paga da sua Estátua viva. Apenas se atreveu, porém, com a parte mais plebeia e chilra deste género de literatura -- o diálogo, coisa que hoje nem os dois mais triviais interlocutores quereriam alimentar; embora iluda um tanto a paradoxal aparência da proposição. Quanto ao visconde de Aveleda é ele, diga-se a verdade, a mais simpática criação, qiue pode deduzir-se de inexperto cinzel.

Porém, que destino! A astúcia deprevada do autor faz que o vejamos na parte luminosa do quadro; que nos ganhe, não direi simpatia, mas um pouco de benevolência...

Depois acende um fogão monstro e de particular estrutura que estava preparado de encomenda para receber um homem inteiro, e lança-o, com bastante pena nossa, ao meio das chamas, e assa-o, não sei bem se com tenção de o comer. Palpita-me que o vai comer. Isto não se faz em país civilizado e liberal! Enfim, seja como for, já gastámos mais cera do que é de lei com ruins defuntos. Oxalá que, aproveitando-lhe a lição, venha a convencer-se de que não sobra quem se empenhe nos progressos práticos da agricultura, e deixe de andar tresmalhado nestes difíceis caminhos, que nunca pés mazorros logram percorrer sem sangue.»

São assim, pouco mais ou menos, as sibilantes expressões da maledicência, que eu desprezo, sem que, todavia, deixe de vir a indignação das grandes almas ofendidas inflamar-me as nacaradas bochechas.

Crítica cordata e justa escutei-a sempre respeitoso. Insolências, à laia das supraditas, não são lanças, que façam saltar da sela cavaleiros do meu jaez, nem hão-de ser em tempo algum admoestações, que corrijam defeitos. A minha generosa indignação não me deixa responder, como pedia o caso, se bem me está borbulhando a ideia de confundir os linguareiros por meio duma digressão ideológica, em que podia patentear os tesouros, que tenho amontoados no meu celeiro. Não quero fazer escândalo. É o que lhes vale. Em desforra, apenas prometo esmerar-me a fim de ser mais natural e correcto no seguimento do conto, que prossegue do seguinte modo:

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Álvaro do Carvalhal em ''Os canibais''

páginas 162-164

na «Antologia do conto fantástico português»

edição Arte Mágica editores, Lisboa 2003


sábado, 19 de setembro de 2020

Miss perfumado

Cesária Évora

Voyage au Cap Vert *** Dxam morrê ta sonha Na sombra di odjo magoado Duma pequena gentil Di corpo perfumado. Assim dxam morrê ô flor Na sombra di bo odjinho Dxam morrê ta sonha Assim cma pomba na sê ninho. Si pomba é feliz na sê ninho A mim também mi é feliz Na sombra di odjo ma carinho Di Miss Perfumado. **********

Laisse-moi mourir en rêvant A l'ombre du regard blessé D'une gentille fiancée Au corps parfumé Laisse-moi mourir ainsi ô fleur A lombre de ton petit regard Laisse-moi mourir en rêvant Comme la colombe dans son nid Si la colombe est heureuse dans son nid Moi aussi je le suis A l'ombre du regard tendre de Mademoiselle Parfumée



sábado, 12 de setembro de 2020

Ao encontro nas Fontaínhas


De volta à rua como espaço de mostra e possível venda, 
desta vez com aguarelas, desenhos de arte bruta e quadros de pequenas dimensões a óleo, 
ainda um livro em argolas expondo / catalogando óleos em tela 
realizados por mim a partir de artistas-músicos de rua actuando no Centro Histórico, pré-covid. 
Nas Fontaínhas no Porto, 
integrado num evento do Bloco de Esquerda. 
Hoje Sábado e amanhã Domingo 13, todo o dia.
Apareçam!

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Capitã Gancho com ampulheta na mão


«Capitã Gancho com ampulheta na mão»
ball point pen and pastel drawing, 
approx. A4 paper
2019
ZMB 

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Publicidade eleitoral

 


Vou votar Ana Gomes. Quero que aconteça!

para que o Ventas se demita 

e vá falar de futebol para a tasca da imobiliária que lhe paga o salário do partido.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

I am not the magma, I shall evolve

This here a song, is about John W Smoke Junior It's about bein' in love and lovin' the love that's hatin' the love The love and the love and the hate that's lovin with all It's around the love that's hate that's the hate that's the love And the love is the love that is the hate that's hatin' the love It's lovin' the hate It's about John W Smoke's mom, it's with his mom It's about his mom it's about his mom it's about lovin his mom And bein' without his mom and lovin' the hate that's hatin' the love And his mom and all the time they're there Hatin' the hate that's lovin' the hate it's love it's the love that's hate And it goes somethin' about like this John E Smoke, oh John E Smoke John Smoke, oh John E Smoke Whaoh John E Smoke, John E John E John E John John, John Smoke John E Smoke Here we go John, John was a little crippled midget lesbian boy But stood ten foot tall with a knife Pretty soon the mole had appeared on John's left leg And real black it extended out 469 different miles And verily verily it was 69 different nuns Speaking simultaineously to John in 69 different languages And then it evolved itself and it was the legless dog that became A cyclone in John's father's fore head And there is was like a twinkie with a halo storm in it And it revolved down into the sky and talked to John Like he was a little puppy himself And John said that I am not the magma, I am not the crust And I shall evolve when the rain had come down here and washed on John And he said that I will be a cigarette butt before it's all done with And they said no, you are the flame itself and you shall burn pure In the South American sky where the blooddogs worship the stairway John E Smoke, oh John E Smoke Oh John Smoke, ooo OW! John E Smoke, oh John E Smoke Oh oh John E Smoke Oh John E John E John E John E John E John E John E John E John E John E John E Jooooooooooooooooo And so brainlessly leglessly hairlessly the foil tip top of itself And revealed to John that the kiwi two luxury liner extended out of John's left side And so it had preach you in Mars with a saram backwards And upwardly they did evolve Downward they fell like a thin sheet of waste product that would come over John's body His body was no longer the primeval express itself And he could be the dog and the dog's eyes which had blood comin' out like they were Roped around John's leg and pulled him up, like he was a canoe and and he flew On the live peasants himself, the South American where he was in love

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Máxima do dia

 «Engana-me que eu gosto» diz a canção, «tell me lies» cheguei eu a caligrafar.

E é bem verdade: Enquanto somos enganados, vamos sendo felizes e vivendo bem.

O pior é quando a verdade te dá um tapa: Vai tudo pró maneta bater punheta