domingo, 27 de fevereiro de 2022

Various -- Afros e Afoxés da Bahia



Malê-Debalê
Olori
Afreketê
Ilê-Aiyê
Badauê
Oju Obá
Muzenza
Oludum
Ara-Kêto
Ijexá (Filhos De Gandhi)


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Leitura recomendada

Para perceber a guerra e a desinformação:

A arte da guerra, de Sun Tzu, eu tenho a edição da frenesi.

O príncipe, de Machiavelli, eu tenho a edição da guimarães editores


A guerra está a pôr-me doente e mal consigo trabalhar quanto mais pintar ou fazer rádio, é essa a minha última novidade, a terceira emissão de "Corpos Esquisitos" repete na próxima 3f às 22h na Rádio Paralelo online e é dedicado às últimas magias de John Coltrane,
Tune in and drop out.

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Papagaios de papel


 

«Papagaios de papel»

desenho a caneta-pincel de preto permanente e caneta bic

sobre papel de 300grms grão fino, tamanho 70cm por 50cm

2022

ZMB

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Breve apontamento ideológico

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Tive no hostel onde trabalho um hóspede angolano que ficou uma semana, o meu pai quis saber a sua cor política, se era do MPLA ou da oposição, ora como esse senhor me tratava ora de amigo ora de campião quando eu o ajudava a estacionar o BMW super-familiar ou o via com um fato de treino do Madchester United e que passava ele próprio a sua camisa de seda roxo-clara... eu disse a meu pai:
-- Ó pai, eu não quero saber a cor política dos meus hóspedes, não quero que fiquem mal contra mim nem contra a casa, eu quero que eles voltem, há dias esteve lá uma evangélica brasileira que dizia que era de Deus e nós éramos todos bandidos, e até houve um senhor que falou bem do Passos... eu ouvi e calei...
-- Mas, filho, tu, um filho de rico não pode ser de esquerda...
-- E tu és rico, pai?
-- Havia um comunista que o dizia: eu tenho uma casa logo sou rico!
-- Eh eh, e quem tem 50 casas?
-- É um ricaço.
-- E os bancos que têm milhares de casas?
-- As casas não são deles...
-- Pois não! Atão, o que são? São ladrões!
'

Claudio Mur

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Anonim@s do século xxiii

O amor redime do mundo
Mas onde está o mundo senão aqui?
,
verso de Mário Cesariny

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Conversa ideológica

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Agora os almoços estão menos ruídosos. A tevê avariou, dá som mas não dá imagem. Pensamos que seja devido ao disjuntor de fase no quadro eléctrico ter disparado três vezes em cinco minutos: porquê? Foi-se ver: forno ligado, bico eléctrico ligado e termoventilador ligado: pum, luz abaixo, tevê off, como se diz na terra: deu o peido e enquanto não vem uma substituta temos comido em silêncio ou ao som da Antena 1: através do meu telemóvel ou mesmo o som da RTP2 que tem um programa de ecologia do qual o meu pai gosta porque fala da natureza, vulgo o campo, e ele sente nostalgia do seu tempo de criança. Sempre é melhor que ouvir o meu pai criticar os jornalistas, que para ele só dizem mentiras e as repetem até nos dias seguintes, às vezes, lembramo-nos de qualquer coisa ou começamos a comentar o que o som diz, este Sábado foi assim:
-- A casa fica perto da igreja do cristo-rei?, pergunta o meu pai.
A minha mãe diz: -- Sim, fomos a casa dessa senhora que quer dar os livros para o Banco Alimentar reciclar.
A minha mãe gere uma pequena loja associada à igreja daqui e que entre outras coisas distribui comida doada pelo Banco Alimentar, todos os meses lá vai a carrinha da loja ao armazém do banco buscar as paletes com bens alimentares que muitas pessoas doam no supermercado, depois, o meu pai, a minha mãe e mais alguns voluntários fazem as listas, marcam dois dias do mês, avisam quem tem direito a receber a ajuda e distribuem-na, eu sou sempre céptico, digo: -- Vocês não recebem pelo vosso trabalho mas as directoras do Banco e a presidente, o contabilista do Banco, o dono da sonae e do pingodoce, todos esses recebem, depois temos casos de paletes de azeite pesadas ao kilo e embalagens de vidro, mais pesadas mas só com meio-litro de azeite! em vez dos vulgares 75 centilitros.
O meu pai concorda mas acaba por ser pragmático e quem se lixa é o carenciado que recebe menos azeite, ele já disse à doutora do Banco quando ela veio à loja isso mesmo mas ela não quis saber, por isso e quando se falou hoje em entregar livros para o Banco estragar, eu disse:
-- Eheh, já tenho que fazer hoje: vou à venda roubar ums livros ao Banco Alimentar eheheh.
A minha mãe que sabe do meu vicio por livros, sorriu e disse: -- hoje não é bom dia, os livros ainda estão na garagem da loja...
-- Está bem, disse eu.
Depois o almoço continuou: cozido à portuguesa: a minha mãe disse: -- Esta comida é boa mas faz mal!
-- Porquê, mãe, desarranja-te os intestinos?
-- Não, a gente fica enfartada.
-- Quando se come bem... Sabes do que me lembrei? Olha, do Zé, o Zé tem azar, arranjou emprego como servente, ao segundo dia aleijou-se no ombro, depois teve covid, meteu baixa, ontem recebeu a carta para o fundo de desemprego...
-- Ele não tem direito a subsídio...
-- Eles mandaram na mesma, mas como não accionaram o seguro, o Zé diz que vai na 3a-feira à ACT fazer queixa.
A minha mãe nada diz, sabe tão bem como eu que não vai dar em nada, eu continuo: -- Por outro lado, o André arranjou emprego, diz que começa Segunda na distribuição, não sei de quê... Ainda bem, deu-lhe a telha e despediu-se das obras depois que o chefe o mandou acartar sozinho os mármores todos até ao sétimo andar escadas acima, vá lá!, uma semana depois conseguiu novo trabalho, menos mal, já tem emprego, parece que o desemprego está nos seis ou sete porcento, no tempo do Passos estava nos 14...
-- Mentira!, diz o meu pai.
-- Atão, estava em quanto?
-- Não sei.
-- Ah, não sabes mas dizes que eu estou a mentir..., disse eu e levantei-me da mesa para vir fazer café, já na cozinha ouço o meu pai dizer:
-- É, o Costa é bom e o Passos era mau...
Não respondi à ironia, pus a cafeteira no fogão, fui ao WC, lavei os dentes, voltei à sala porque o café ainda demora cinco minutos a ferver, o meu pai diz: -- Vai aí ao Google, e pesquisa os números do desemprego em 2014...
-- Vou sim, já viste tu?
-- Eu estou sem óculos, a tua mãe que diga...
-- Quanto, mãe?
-- 4,8%
Eu fui ver e pesquisei por <taxa desemprego Portugal 2014> e encontrei uma tabela, a mesma que eles viram, eu disse então:
-- Pai, tens aí os óculos? Pois foi de 14,8% e não 4,8%... Eu há bocado exagerei, pensei que fosse só 12 porcento e olha, olha aqui no observador e também no ine: 13,9%, ó ó.
Mostro a meu pai e ele cala-se, a minha mãe vai lavar a louça porque daqui a meia-hora tem de ir para a loja, eu bebo o meu café, o meu pai recomeça a falar, ele agora fala comigo, está bem melhor que antes, fala muito da tropa, às vezes da infância, eu fico contente, tenho o meu pai de volta, mesmo que perfilhemos ideias políticas antagónicas, mas eu não posso viver em casa do meu pai e dar-lhe porrada como se fazia nos anos 30, o meu édipo já cegou: a bem da minha sanidade mental: prefiro conhecer agora que estou a caminho da meia-idade o que ainda puder do meu pai e dos porquês de ele ser um conservador católico que votou nos fascistas, quero pensar, por engano, deixo-o falar, dizer como ia para o monte com as ovelhas e com medo dos lobos, ouço-o dizer: -- Os meus pais importavam-se lá,  o meu irmão mais velho quis casar e o nosso pai deu-lhe um pinheiro e disse agora constrói a tua casa.
Quem vive o olho por olho, o dente por dente, a lei da selva acaba a desejar que os outros passem o mesmo que eles passaram.
"

Claudio Mur


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Soneto II de Bocage

Das faixas infantís despido apenas,
Sentia o sacro fogo arder na mente,
Meu tenro coração inda innocente
Hião ganhando as plácidas Camenas.

Faces gentis, angelicas, serenas,
De olhos suaves o volver fulgente
Da idéa me extrahião de repente
Mil simples, maviosas cantilenas.

O Tempo me soprou Fervor divino;
E as Musas me fizerão desgraçado,
Desgraçado me fez o Deos Menino.

A Amor quiz esquivar-me, e ao Dom sagrado,
Mas vendo no meu genio o meu Destino,
Que havia de fazer? Cedi ao Fado. 


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Texto para uma futura zine com desenhos meus, em breve

 

Violência e criança significa pesadelos ao vivo

 

Quando uma criança de qualquer idade sofre uma violência traumática, uma violência que pode ser episódica ou contínua, ela mais tarde ressurge na forma de pesadelos vivos e ao vivo, como se estivéssemos a viver um filme no momento. Não falo apenas de dormir mal mas de viver dia após dia atormentado por sentimentos aos quais a gente não consegue dar uma expressão dita racional, dita «normal» num mundo cada vez mais violento, um mundo que nos obriga a ser competitivos, iguais ou melhores do que o nosso semelhante. Isso muitas vezes significa não perder logo na entrevista de emprego a vaga de trabalho, significa competir pelo saco de arroz na promoção do Dia do Trabalhador no hipermercado, significa ficar ou não dependente de um benfeitor que quase sempre acaba por se aproveitar da necessidade de quem pede ou de quem procura o que não tem: um pão mas também um carinho, uma palavra que alivie a angústia que oprime, que nos oprime.

A necessidade gera abuso e o abuso é violento e depois do abuso e depois da violência que se sofre, surge um período de esquecimento, uma calma que se compra com promessas e chantagem de quem pretende continuar a abusar porque, ao que parece, a pessoa violentada até pareceu gostar: ai!, os seus gritos eram tão sexys...

Toda a gente sofre, como as pessoas constituem o mundo logo todo o mundo sofre, o mundo fica doente, ganha medos e fobias, combate-os vingando-se no mais fraco e mais próximo, lembra-se que um dia, novo ainda, sofreu e hoje, às vezes, acorda a suar de frio, acorda angustiado e não sabe porquê, esqqueceu e se se lembra: afunda-se na medicação legal ou ilegal, e nunca mais viverá sem essa rotina, surgem as doenças o tédio, a vida sem cor e o medo de morrer, o medo de ir embora deste mundo deixando tudo para trás, sem remédio, sem remissão, directo ao Inferno dos crentes, porque na hora de ir todos viramos crentes cheios de culpa, já não se sabe de quê, que mal lhe fiz eu?, eu gostava dela mas ela enganou-me, a pequenita deixou-me bruto, tive que lhe dar um filho para que ela não esquecesse o meu rosto... começo a imaginar coisas, começo a confundir, começo a não saber se as li, se acordei com elas, ou se acordado as vivi, assemelham-se a fantasmas, seres difusos, luz humana, nevoeiro, fumo sussurrando-me ao ouvido, dando-me conselhos e ordens, tornam-se a voz interior, a autoridade que nos comanda, torna-se o tradutor dizendo que sou mau porque me fizeram mal, e que alguém tem de pagar pela maldade, com a vida ou com algo maior que a nossa vida, a vida da pessoa que mais amamos no mundo, como se essa vida fosse um último sacrifício, a taxa de admissão a um mundo sem fantasmas. Até ao próximo fantasma.

E quando esses fantasmas se tornam avassaladores e as ordens surgem transformando-se em imagens mentais, a solução para não ser engolido pela loucura é extirpar o mal, esse inocente.

O que custa é santificar o primeiro, depois e no final: morreremos todos.

 

ZMB

 

sábado, 5 de fevereiro de 2022

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Rabisco


 

«Rabisco»

desenho a caneta-pincel de preto permaanente, caneta bic e lápis de grafite

sobre papel de 300grms grão fino, tamanho 70cm por 50cm

2022

ZMB