O livro Na penúria em Paris e Londres permite fazer comparações com os dias de hoje, um século depois:
Em Londres em 1930 a vagabundagem era proibida, as pessoas não podiam dormir nas ruas e quem não tivesse casa não podia ficar na cidade mais de um dia, tinham de andar de um lado para o outro, a pé. Ainda assim, havia albergues de 5 em 5 km, e os vagabundos ou sem abrigo podiam pernoitar uma noite por mês em cada um deles, não pagavam nada e de manhã recebiam um pão e um chá inglês. Para quem podia pagar um mínimo havia pequenas pensões onde dormiam às vezes cinquenta pessoas, as condições variavam de local para local.
Hoje em 2024, no Porto só há um albergue gratuito e tem lista de espera, ouvi dizer que a AMI também aluga divãs em camaratas por mais de 100€ por mês, o pobre entra às 17h e só volta a poder sair de manhã.
Conclusão: há um século era proibido ser sem abrigo mas havia albergues, hoje é tudo legal mas não há onde dormir e se se encontra um canto na rua ou debaixo de uma ponte, logo aparece a polícia municipal a chatear ou um fascista a bater.
Diz-me um hospede do Hotel Tijuana que o Moedas em Lisboa queria aumentar a taxa turística para 6€, no Porto brevemente vai aumentar para 3€. Isso significa que o casal do quarto 1 vai pagar por mês 42€ de taxa turística para poder usufruir de um quarto sem ar condicionado, na cave, só com wc e sem acesso a cozinha e sem pider fumar no quarto, basicamente só para dormir, ora 42€ a juntar aos 750€ de renda não deve sobrar muito para fazer qualquer outra coisa.
- É claro sr Rogério, que se pagar em numerário podemos esquecer a taxa.
E o hospede paga em numerário e o hotel não entrega a taxa. Outras vezes, pede-se ao hispede que pague a taxa em dinheiro explicando que o banco cobra uma comissão pelo pagamento em cartão e sabe, sr Rogério, o dinheiro não é para nós, temos de o entregar, e claro que o patrão se receber em dinheiro simplesmente não declara, ladrões da câmara, ladrão do Estado, taxas e taxinhas, sempre a asfixiar o empresário, ora vamos lá baixar os impostos, o IRC, sr. Mintonegro ajude-me a não ir à falência, eu tanto posso vender o Tijuana a um holandês por milhão e meio como aumentar um piso ao edifício, diz o patrão. Vamos dar um benefício aos jovens para eles comprarem casa, benefício que sai do dinheiro de todos os contribuintes e acaba no bolso da imobiliária porque entretanto o preço do imóvel aumentou: senhorios, imobiliárias, hotéis, a mesma luta, a habitação como um negócio.
Por isso, registo a leitura daquele esquerdalho no livro do Orwell que só trabalhava meio dia e se fazia despedir ao início da tarde no restaurante porque o patrão era por lei obrigado a pagar o dia inteiro. Por isso, escrevo que às vezes nos apetecesse dinamitar o local de trabalho e os patrões que não alugam a ciganos porque dizem que estes são ladrões e depois cobram tarifas à porta mais caras do que pela Internet sabendo que pela Internet se paga uma comissão à agência, querem lá saber se há pessoas que não têm onde dormir, sr Rogério, isto é um negócio!
E o sr Rogério diz para ele próprio: hoje estamos cheios, não temos quartos, ide ser explorados noutro local, ide dar o dinheiro a outro patrão.
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