domingo, 10 de abril de 2016

A Joana Adicção diz:



Nos comentários a este vídeo no ytube escreve-se que
esta música é um símbolo da geração x

A letra e a interpretação pode se lida aqui:



E este, em baixo, é o meu tributo a JJ que conheci:
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Antes que regresse já num comboio na linha do norte e depois do café às sete da manhã em pirinéus bascos, sem chuva do lado de cá da montanha, lembro-me que todos temos um vidinha mal cheirosa e todos falamos mal da vida dos outros, recordo essa jj, ela merece um poema solidário e a pré-história neste caso não interessa muito: We are doomed my friend fiend. Não interessa quando te vejo pela primeira vez perdida na abdução por assassinas pedófilas e paisinhos de farmácia, foi há uns anos. Eu pareço à minha pessoa já uma couve frita. O que parece aos demais não o sei bem. Tantas opiniões ouvidas por detrás dos ombros. Tantas dúvidas se se está a fazer a história ser irreversível e por isso já um facto secular ou se se está a abolir o tempo sendo livre para criar o que quer que seja pintando pinando pinando pintando mas pouco, muito pouco, muito gordo parecido com um garrafão onde se pode apoiar a cerveja, agora mini, para fazer um moks que não bate devido à pastilha. Se o dou a entender não sei mas sei que sou uma couve frita, tudo bem que se pode argumentar que mesmo a couve tem alma mas frita?! Eu exalo um cheiro a porco assado saído do dentista. Por isso a minha história não interessa e falo-te como o meu pai nunca me falou. Não te conto para que me julgues ou pode para isso ser mas para que possas no futuro decidir pela tua cabeça. Aliás tu ainda nem existes nem espero que alguma vez existas a não ser por acidente ou por mudar de opinião e assuma a responsabilidade de durante toda a vida te pôr sardinhas no prato e nunca te deixar ir para a escola roto ou descalço, sem lápis borracha. Se te tiver terei de ser responsável e transmitir alguns valores e eu duvido que tenha alguma vez sustento estável, é uma sina que não quero que seja a tua. Mas falava-te dela? Diz-me minha mãe que está internada. Falou com a avó por telefone. A avó está com uma depressão. A mãe está separada do pai. A neta está internada. O irmão tem um part-time. A minha mãe diz-me estas coisas ao jantar no final do jogo do euro. Diz-me que jj falou de mim. Diz-me que ela está a ter melhorias, que está muito bem. Está numa clínica privada. Ela falou de mim. A avó tinha-me dito há uns meses atrás para eu ver se a jj se deixava internar. Eu desinteressei-me do caso mas digo à minha mãe: Interná-la?! A culpa é dos pais. Eles é que se desentenderam, ela deu-me a entender isso pelo modo como reagiu quando lhe perguntei pelo pai depois de perguntar pela mãe, eles é que a puseram num colégio interno aos doze, não quiseram ou puderam tomar conta da educação da filha. Ajudar a interná-la, mãe?! Eu que também estive estou dentro. Digo à avó dela: O que ela precisa é de um namorado. Pois é… suspira a avó. Você podia ajudá-la… diz a avó. 
Eu que não tenho nada ou eu que tenho muitos objectos e que por isso não sou livre de me mudar sem ter que levar todos os objectos atrás, eu hoje tenho muitos objectos. Quando foi tempo de partir e pari sozinho para nunca mais voltar, para ter futuro e não passado, tinha poucos objectos, menos objectos e mesmo assim levei os objectos e as memórias que encheram duas malas de viagem e voltei mais tarde com ideias para novos objectos, novas ideiotas. Eu que não tenho nada mas muito objectos. Ela falou de mim, de mim que não tenho nada mas que gostaria de ter, mas ter quem? Afinal eu até curto a minha solidão. Qual é o meu tipo de gaja, eu que não tenho gaja? 
Conheço verdadeiramente jj na esplanada, eu estou sentado esperando que chegue alguém com um pinheiro para desbastar e chega ela e senta-se alegre desbastando o seu último pinheiro. Pergunto-lhe se é possível arranjar nalguma bouça uns quantos pinheiros para fazer a árvore do natal que se aprochega. A minha ideia no íntimo eu sei qual é, é pintar pinando pinar pintando com ela o pinheiro. E assim foi, vamos à procura do pinheiro, entramos no autocarro, saímos no semáforo da bouça e caminhamos. Quando voltamos ela fica para trás, fico informado de que ela gosta de outros arbustos aos quais está presa. E presa hoje está numa instituição e (pode ser só a avó deitando a asa com isco para cima do meu ombro de peixe, pode ser só a pontuação de minha mãe ao retransmitir o que a avó lhe disse ao telefone ao jantar…) ela fala de mim. Porquê? Porque há uma ligação entre nós, uma certa afinidade. Ambos estamos perdidos. Há um dia em que eu tomo o meu carioca de café e fumo o meu amber leaf e tu à noite entras e sem mais nem menos me perguntas: Tens? Eu disse que sim. Vamos? Eu pago e vimos. Entramos. Ofereço-te o sofá, eu fico na cabine do DJ, abro a gaveta e retiro a pedra. Corto e enrolo. Fumamos. Ouvimos música. Silêncio. Não há ainda muito para dizer embora eu tenha febre. Tu aparentas febre. Fumamos mais. Passa psychic tv ou thee majesty. A música de natal e então eu falo, digo que tu pareces capaz de manter uma pose, calada, a fumar, que pareces vibrar no teu interior em turbilhão, digo-te que quero que poses para mim e que eu pago, vês? Eu sou honesto, eu pago pelo serviço, pago-te cinco euros à hora. Já não me recordo das suas palavras mas eu penso que ela adivinha a minha solidão, eu estou disposto a pagar para pinar, desculpa, pintar. Então ao nos despedirmos nesta noite, aqui eu recordo as tuas palavras com algum orgulho ferido: então se me quiseres desenhar telefona. A esta ironia respondo com alguma simulação de desprezo: um dia destes… o certo é que mando a mensagem telefónica no sábado seguinte. E voltamos a fumar, faço um desenho, tiro fotos, ouvimos música, começamos a falar, ouço pormenores, gravo-te um cd, vomitas-te no chão por duas vezes na mesma noite, chateamo-nos, pedes desculpa uns dias depois, dizes que precisas de ajuda, dou-te de comer, fazemos passeios entre cigarros enrolados, somos saudados por vizinhos que nos vêem quando voltamos da lojinha – tu com dois discos de vinil, eu com um espelho-porta de guarda fatos – alucino, zango-me quando condescendes que eu te beije mas cerras os dentes, beijo-te os dentes alucinado ao ver o joguinho de menina na idade que pensa que pode ser fatale, ah se eu te desse vinte euros tu farias um servicinho, insulto-te em pensamento e afasto-te ao fim de alguns dias porque me canso de estares perdida. Pois se eu estou perdido não quero nenhuma perdida, embora tu poderás pensarás que eu não estou perdido e que te posso ajudar. Falas de mim, diz a tua avó por telefone à minha mãe… falas de mim a quem? Eu hoje ao jantar no fim do jogo do euro, objecto à minha mãe: Melhorias? Eu quero ver cá fora como será… a verdade é que tento telefonar à tua mãe ainda esta noite mas a central telefónica indica número não atribuído do lado de lá da linha. Eu estou perdido mas quero ir ver-te aonde estás. Solidariedade, pena? Não sei bem definir o porquê. Digo à tua avó: Mas como sabe que ela não me arrastará? Eu tenho afecto à sua neta, eu estou a fazer um quadro dela.
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Claudio Mur em 'Hobo em memória cache'


'we are doomed my friend fiend'
oil on canvas
2008
ZMB

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