dedicado à jana amora <3
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
The Floyd & Pink connection
drawings finished in 2008
by ZMB
No 10º ano da escola secundária eu tinha dois colegas com quem gostava de estar.
Não me recordo dos nomes, apenas as alcunhas.
Um era o Pink, outro era o Floyd.
Eram fanáticos por Pink Floyd. Era fascinante ouví-los a discutir música.
Apenas divergiam na apreciação que faziam da banda Genesis.
O Floyd não gostava da «fanhosice» dos Genesis, fanhosice que era o que o Pink gostava na banda.
Para eles, PF acabou quando o Roger Waters saiu em 1983.
O Pink saía das aulas com uns megaphones Sony nos ouvidos, ouvindo nós, a seu lado, a linha de baixo de Money e a sua dança caminhante pelo passeio fora,
O Floyd era mais reservado, chegou a dizer-me:
-- Olha, ofereço-te o Momentary lapse of reason, não gosto desta merda.
Eu, caloiro em PF, agradeci, vim para casa com o disco, era o meu primeiro disco deles,
mais tarde gravar-me-iam em k7 as primeiras edições em cd da banda
e eu próprio me tornei devoto que cheguei com 18 anos à universidade
a dizer que os PF eram a melhor banda do planeta,
enquanto colegas me falavam de Pixies.
A minha cópia de A momentary lapse of reason teve o mesmo destino,
ofereci-a a alguém que apareceu no meu Amexus 51 já no seculo 21,
e devo ter repetido as palavras do Floyd:
-- Este disco é uma merda!
quinta-feira, 29 de setembro de 2016
Grantchester Meadows
"first, you have to tell me who you really are."
Lourenço, R. (1973-1997- )
"Grantchester Meadows"
Icy wind of night, be gone.
This is not your domain.
In the sky a bird was heard to cry.
Misty morning whisperings and gentle stirring sounds
Belied a deathly silence that lay all around.
Hear the lark and harken to the barking of the dog fox gone to ground.
See the splashing of the kingfisher flashing to the water.
And a river of green is sliding unseen beneath the trees,
Laughing as it passes through the endless summer making for the sea.
In the lazy water meadow
I lay me down.
All around me,
Golden sunflakes settle on the ground,
Basking in the sunshine of a by gone afternoon,
Bringing sounds of yesterday into this city room.
Hear the lark and harken to the barking of the dog fox gone to ground.
See the splashing of the kingfisher flashing to the water.
And a river of green is sliding unseen beneath the trees,
Laughing as it passes through the endless summer making for the sea.
In the lazy water meadow
I lay me down.
All around me,
Golden sunflakes covering the ground,
Basking in the sunshine of a by gone afternoon,
Bringing sounds of yesterday into my city room.
Hear the lark and harken to the barking of the dog fox gone to ground.
See the splashing of the kingfisher flashing to the water.
And a river of green is sliding unseen beneath the trees,
Laughing as it passes through the endless summer making for the sea.
This is not your domain.
In the sky a bird was heard to cry.
Misty morning whisperings and gentle stirring sounds
Belied a deathly silence that lay all around.
Hear the lark and harken to the barking of the dog fox gone to ground.
See the splashing of the kingfisher flashing to the water.
And a river of green is sliding unseen beneath the trees,
Laughing as it passes through the endless summer making for the sea.
In the lazy water meadow
I lay me down.
All around me,
Golden sunflakes settle on the ground,
Basking in the sunshine of a by gone afternoon,
Bringing sounds of yesterday into this city room.
Hear the lark and harken to the barking of the dog fox gone to ground.
See the splashing of the kingfisher flashing to the water.
And a river of green is sliding unseen beneath the trees,
Laughing as it passes through the endless summer making for the sea.
In the lazy water meadow
I lay me down.
All around me,
Golden sunflakes covering the ground,
Basking in the sunshine of a by gone afternoon,
Bringing sounds of yesterday into my city room.
Hear the lark and harken to the barking of the dog fox gone to ground.
See the splashing of the kingfisher flashing to the water.
And a river of green is sliding unseen beneath the trees,
Laughing as it passes through the endless summer making for the sea.
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
Os anos em tempo parcial no asilo
Este meu primeiro livro, diz o autor, foi uma viagem de dezassete anos em mares de tempestade intercalada por longos períodos do mais alienado deserto. No dia de sair do asilo a primeira vez tinha a minha família (como sempre tive) à espera, tinha acordado bem disposto por me saber de volta à liberdade, deixei até que me dessem uma injecção de haldol sem protestar, cheguei a casa e sentei-me na varanda, saudei os pedreiros que construíam uma divisão com telhado e janela no espaço do quintal que durante trinta anos tinha sido um galinheiro, o meu pai disse-me «é para ti, para as tuas pinturas, para ouvires música.», eu baptizei-o de Anexus 51 e fui fazer uma pequena introdução de texto no livro, no capítulo zero escrevi: «título pensado há seis anos.» Seis anos desde que a ideia surgiu, desde que imaginei algo tão grande como a história de vida, morte e renascimento de um personagem. Tudo o que escrevi durante três anos foi deseperadamente rasgado e lançado janela fora de um comboio em andamento, quando cheguei à conclusão que a minha vida era uma farsa e não tinha futuro válido e que mais valia suicidar-me a ter de suportar, não a farsa que o mundo também é mas, a minha própria culpa. Pouco me recordo dos escritos deste período, além de uma história em que táxis amarelos passavam pela frente do café, um ensaio a dizer como um pai devia ser, e um poema onde eu gritava a palavra jasmim, jasmim era a namorada que eu vivera, que eu morrera e que, depois de todas as torções necessárias ao texto, por fim eu renasceria forte como o touro, que eu dizia que era, pronto para dar a cornada nos, quem sabe, invejosos que diziam «as mulheres que tu arranjas…» Eu podia ignorar responder aos que me picavam e provocavam com palavras eruditas, eles mesmos cientes que as minhas respostas eram imprevisíveis, eu podia verificar que tinha culpa no facto de alguns contactos sociais darem errado, mas não podia suportar a lei do mais forte. O mais forte era para mim aquele que vinga, e eu sabia que o mais forte tem sempre histórias sobre como ultrapassou este ou aquele obstáculo, histórias sobre gente que vai sendo enterrada enquanto o mais forte ascende na escala, sabia que a minha escala não era a mesma das pessoas à minha volta, tinha de abandonar uma vida inteira, tinha de me transferir, tinha de me tornar transparente, tinha de me transfixar, ultrapassar paredes, tornar-me pintor em vez de engenheiro.
Tudo se complicou quando a época de exames chegou, várias pressões internas e externas exerceram peso sobre a minha consciência e julguei que devia atirar-me nessa noite porta fora desse comboio, devia acabar comigo, não suportava a culpa do fracasso com professores, com pais, com amigos, com a namorada, comigo próprio por me sentir fraco, por não querer ser e viver uma farsa, uma fraude. Foi-me necessário ser muito forte, ganhar muita coragem mental, vontade de vencer o medo de morrer, não me lembro de nenhumas últimas palavras, fechei os olhos e lancei-me no escuro e falhei a morte, falhei porque o meu desejo foi morrer e quando abri os olhos não morri e pensei que estava noutra realidade, noutro mundo, no outro mundo. Três anos passaram até ao inevitável internamento num processo em que me tornei quase-actor da minha peça de teatro, fui o ser imortal, o ser que emana, fui o ser que não morre mas que também não vive, o ser que atrai toda a espécie de comentários, e, quando nessa manhã o hospital me abriu as portas da liberdade, eu cheguei a casa escrevi I'll never die e fiz propósitos de ir comprar cds durante a tarde, entrei no autocarro e sentei-me na cozinha e li o grafitti nas costas do banco da frente dizendo «lourenço nº12», fiquei a pensar que era a primeira aposta da equipa quando fosse necessário melhorar o resultado. O problema é que eu, primeiro jogador suplente, comecei a sentir-me no autocarro com muito sono, os olhos a quererem fechar, o corpo a ficar rígido, a viagem foi um tormento, quando cheguei a casa ao fim da tarde e nos dias seguintes foi um suplicio, durante o dia não conseguia manter os olhos abertos, durante a noite não dormia, a médica na consulta seguinte prescreveu-me um comprimido para combater os efeitos adversos do haldol, a rigidez, a própria ganza deixou de fazer efeito, a médica acabou por responder à minha simples pergunta: «O que é que eu tenho?» «Você tem esquizofrenia mas se for medicado pode ter uma vida normal…» E eu que tinha passado os últimos anos a admirar os malucos pelo que eles deixaram de obra ao mundo, eu que tinha desejado escrever obra semelhante à obra dos meus mais malucos heróis, eu via-me agora, todos os dias em casa, maluco e deitado ao comprido na cama, sem conseguir dormir, sem ter vontade de ouvir musica, escrever, desenhar, sem saber porque tinha a doença, sem saber como eles tinham descoberto sem eu ter alguma vez lhe aberto a boca, e estar, ainda por cima, transformado num cadáver com cérebro de vegetal, eu simplesmente não conseguia pensar, o haldol bloqueara não só o excesso surreal de imagens pensadas como a mais leve expressão de vida pensante, descobri que do pensamento à fala muito neurónio se queima. Havia alturas em que estava no café com os vizinhos e queria participar nas conversas, dizer algo, e nem sequer conseguia esboçar mentalmente a frase quanto mais dizê-la de boca.
Uma vez, disse a um vizinho, trolha de profissão, que tinha estudado engenharia, e, a partir dai, passei a ser conhecido como «o engenheiro», a farsa, portanto, continuava a nível social. Se eu, na fase ascendente da minha psicose, tinha alimentado a farsa, exagerado causas e consequências, toda ela se manifestou no dia de diagnóstico pré-internamento, as palavras saíram da minha boca, as acusações foram lançadas à arena do consultório e, quando lembradas mais tarde, fizeram-me sentir ainda mais desgraçado. Não saí de modo nenhum curado do hospital. Descobri as causas mas tive vergonha delas e, como agora estava na merda, já ninguém mais se importava. Já ninguém batia em mortos para ver se eles acordavam. Já ninguém matava os que queriam viver e não sabiam como e como eu deixei de saber, de me preocupar com factos apenas plausíveis que iam sendo notícia, acabei por adormecer e, durante meses, alienado sem motivos para acordar, sem motivos para viver, fui perdendo os empregos. Afinal quando o poeta escreveu «first they came for the jews» e eu não me importei, agora eles tinham tocado à minha porta, uma das vezes até conheci o metal das algemas, afinal ainda havia várias andares abaixo do zero na escala social e eu tinha sido um insecto e tinha ajudado a escavar o meu próprio subsolo e agora sentia-me um caracol impotente chorando com as lágrimas bloqueadas. Era um inumano humano sem manos que o aceitassem.
(continua daqui)
domingo, 25 de setembro de 2016
Another pearl for the stoner rave shit xperience
BOMB THE BASS -
Butterfingers
[Adam Sky Ravebummer Mix]
enjoy, have fun
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
Bourbonese Qualk -- Gag
'Gag'
Simon Crab: electronic percussion, bass guitar, electronics
Julian Gilbert: Voice
Steven Tanza: acoustic percussion
Recorded and produced by Bourbonese Qualk
London UK 1984
Originally released in 1984 on the 'Hope' LP
Recloose Organization LOOSE007
From http://bourbonesequalk.net/ :
‘Bourbonese Qualk 1983-1986’ Mannequin Records 2015.
In February 2015 Mannequin records in Berlin released a double CD/Vinyl LP official compilation of the groups work from 1983-1986, covering the albums ‘Laughing Afternoon, ‘Hope’, ‘Preparing for Power’, ‘The Spike’ and ‘Bourbonese Qualk’.
Press Release:
Mannequin Records is proud to present a CD compilation of one of the most important Industrial bands active during the 80’s in the UK.
Bourbonese Qualk were an experimental music group from England who where active from 1979 until 2003. Throughout this period they had a number of different line-ups but this album concentrates on the period from 1983 until 1987 with the trio of Simon Crab, Julian Gilbert and Steven Tanza. During this time the group released five albums: ‘Laughing Afternoon’, ‘Hope’, ‘The Spike’, ‘Preparing For Power’ and the self-titled ‘Bourbonese Qualk’ on their own Recloose Organisation and New International Records labels.
The group were always obsessively and uncompromisingly focussed on controlling their work – they ran their own record label, recording studio, tour organisation and music venue (the notorious ‘Ambulance Station’) – they refused to integrate into the commercial music racket turning down publishing deals from major labels – stubbornly opting for total independence.
The group are known for their political activism which was formed in the crucible of the 1980s Britain: The Miner’s Strike, Falklands/Malvinas war, Anti-fascism, Thatcherism, Moneterism, squatting/housing, local government corruption, anti-capitalism, and Anarchism – which was further re-enforced by touring Europe and meeting like-minded groups and organisations.
Bourbonese Qualk saw their music as a revolutionary cultural force – a belief that radical musical forms must be part of positive social change. Despite this position, the group avoided dogma, cliché and propaganda, preferring to let their audience come to their own conclusions – their work was often ambiguous and directly critical of cynical power-politics of any color – often irritating members of the traditional ‘organised left’.
In 1984 Bourbonese Qualk occupied a large empty building on the Old Kent Road in South London which they turned into a base for their activities and a co-operative for artists, musicians and writers as well as a centre for radical political activism – specifically as a co-ordinating centre for the ‘Stop The City’ anti-capitalist riots of 1984-1986. Most of the recordings on this album were recorded in their studio at the Ambulance Station.
The group never record in a ‘proper’ studio (not that they could ever afford to), choosing instead to work with their own extremely basic equipment (at a time when home studios were very unusual – the unique raw sound of these recordings is the result of their choice – which now, ironically, is in vodue due perhaps to the overwhelming obliquity of ‘clean’ audio digital production tools.
If Bourbonese Qualk have a legacy, it is that ‘culture’ should be reclaimed, re-defined and owned by the people, wherever they are, however small and not by the state or the market and that ‘culture’ is a vital vehicle for debate and radical change.
The fight goes on. (Simon Crab, London, 2014)
O Gretua
O Gretua é o Grupo de Teatro da Universidade de Aveiro.
Vi enquanto estive lá a estudar algumas peças de teatro,
a primeira que vi chamava-se Crash e era baseada no texto de Arthur Miller:
"A morte de um caixeiro viajante".
Mais tarde, um colega meu que andava no Gretua
convidou-me a participar numa peça na qualidade de técnico de som, a minha função era simples:
passar trechos de uma k7 com música pré-gravada para acompanhar a actuação,
era uma peça produzida inteiramente e interpretada por alunos no âmbito da sua avaliação e
a audiência era maioritarimente composta por professores e alguns amigos.
A peça, não me recordo agora, se produzida por Borgia Ginz ou Juca Pimentel, era
uma adaptação de sequências de 'Naked Lunch' do WS Burroughs.
Quanto a mim, gostei da actuação destes meus colegas e gostei também de participar no som,
a k7 tinha, entre outros, Tom Waits do album Black Rider,
mas a melhor parte é aquela em que há uma entrevista entre o Dr. Benway e um cliente
e que termina em apoteose com uma música de
Bourbonese Qualk chamada Gag.
Uma história do Gretua pode ser vista aqui:
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
Uma vergonha esta câmara ao nada fazer de concreto além de oferecer medalhas e apoiar a construção de hóteis
http://www.jn.pt/local/noticias/porto/porto/interior/julio-machado-vazdevolve-medalha-da-cidade-em-protesto-5402497.html
https://www.facebook.com/julio.vaz.777/posts/886869708124113
transcrevo na totalidade e subscrevo a publicação de Júlio Machado Vaz:
'
Em Outubro a Paulo Vallada terá deixado de existir.
Neste momento as nossas meninas/mães vão sendo encaminhadas para outras instituições ou seguem os trajectos de vida já iniciados. Desejo-lhes toda a sorte do mundo, com uma tristeza não isenta de culpa. Racionalmente, digo-me que esgotei todas as portas a que podia bater, mas lá no fundo sobrevive a dúvida, “fiz tudo ao meu alcance?”. À equipa uma enorme gratidão pelo profissionalismo e entrega com que se tem dedicado ao trabalho, como se não vivesse uma preocupante contagem decrescente no que ao futuro diz respeito. O mesmo reconhecimento aos nossos voluntários, sem os quais este desenlace teria acontecido há muito tempo e cuja dedicação é demonstrada pelo último pedido das nossas meninas/mães antes de partirem – com eles se reunirem uma última vez.
Sabendo de antemão que pecarei por defeito, deixo outros agradecimentos: ao Juiz Armando Leandro, por ter aceitado presidir à Assembleia Geral da Associação, emprestando-lhe a credibilidade de toda uma vida ao serviço dos mais carenciados deste país; à Fundação Montepio, nas pessoas do seu Presidente, Engenheiro Tomás Correia e da Dra. Paula Guimarães, sem a sua ajuda não teríamos durado nove anos; ao senhor Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Dr. Vieira da Silva, que não se limitou a acusar a recepção do meu relato das necessidades da Paulo Vallada – simples gesto de cortesia que durante dois anos o seu antecessor não teve… -, mas desencadeou mecanismos que, triste ironia!, se poderiam traduzir num auxílio precioso a curto prazo; ao Centro Distrital da Segurança Social do Porto, que colaborou nesse processo e foi de uma gentileza inexcedível para connosco; ao senhor Engenheiro Luiz Oliveira Dias que, com o seu exemplo, mobilizou a nosso favor a solidariedade do Mercado Abastecedor do Porto; ao Dr. Carlos Abrunhosa de Brito que, na qualidade de Presidente do Conselho Consultivo da Fundação da Juventude, tudo tentou pela sobrevivência da Paulo Vallada aos mais diversos níveis; ao senhor Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, Dr. António Tavares, que fez o mesmo, desde a primeira conversa que mantivemos sobre a necessidade de encontrar novas instalações para a Comunidade. E a tantos outros, a quem, obviamente, expressarei o meu reconhecimento pela palavra dita ou escrita.
Aos que muito prometeram e nada cumpriram deixo o que já lhes pertence - espelhos e consciências. Com a excepção da Câmara do Porto, à qual deixarei algo meu. De imediato um esclarecimento: refiro-me à Instituição porque, embora quase todos os contactos tenham sido mantidos com o Dr. Manuel Pizarro, o meu colega deixou bem claro que falava em nome do Executivo, o que, de resto, o Dr. Rui Moreira teve a gentileza de também sublinhar durante o processo.
Há quase dois anos pedi auxílio para estabilizar a Paulo Vallada. A resposta foi afirmativa, com a legítima exigência de uma redução de custos do funcionamento. O que foi feito em três meses, com dois despedimentos e redução da restante massa salarial. A equipa, que nunca fora a justificada, passou a ser de tal modo “espremida” que, como já disse, o trabalho dos voluntários passou a ser indispensável ao funcionamento quotidiano. Informei o Dr. Manuel Pizarro da nova realidade, fornecendo os números, como era minha obrigação. E esperei. Nada aconteceu, de um momento para o outro os canais de comunicação deixaram de funcionar; silêncio absoluto.
Até ser contactado no sentido de ser agraciado pela Câmara em 2015. Honrado embora - tratava-se da “minha” Câmara e do “meu” Porto -, salientei que precisava mais do cumprimento de promessas feitas do que de honrarias, eu cumprira a minha parte do acordo e a Paulo Vallada continuava em risco. As promessas foram renovadas. E eu deixei passar o Verão, todos sabemos como Portugal funciona au ralenti em época estival. No Outono nada acontecera e as minhas perguntas voltavam a esbarrar no silêncio.
Em Janeiro, foi-me pedido para fazer a apresentação de um livro nos Paços do Concelho, o que fiz com todo o gosto, atendendo a obra e autor. De resto, ao longo de todo este processo colaborei com o pelouro da Cultura sempre que para tal fui solicitado. (Colaborei e continuarei a colaborar!, o Porto está acima de qualquer amargura pessoal). Na referida sessão de Janeiro todas as promessas foram repetidas.
Foi no início do ano que ficámos a saber que até ao Verão teríamos de encontrar novas instalações. Eu e o Dr. Carlos Abrunhosa de Brito fomos bater à porta do Dr. António Tavares. E os três chegámos à conclusão que a melhor hipótese seria tentar uma abordagem inter-institucional do problema. Escrevi ao Dr. Manuel Pizarro, solicitando uma reunião a quatro, comigo pela Paulo Vallada, o Dr. Carlos Abrunhosa de Brito pela Fundação da Juventude e o Dr. António Tavares pela Santa Casa. Nenhuma resposta. Um mês depois repeti a diligência, salientando a urgência da situação. Silêncio mantido.
Sejamos claros: surgiria de tal encontro uma solução? Nunca o saberemos. Mas é aceitável não existir sequer resposta ao pedido? Aqui é preciso evitar o fascínio pelo umbigo, seria fácil argumentar que, se eu servira para apresentar um livro no mês anterior, por que não tinha direito a uma resposta ao pedido de vinte ou trinta minutos de atenção? Tratar-se-ia de um erro, o registo certo não era o pessoal. A questão punha-se noutros termos – por que não merecia a sobrevivência de uma instituição portuense, há nove anos dedicada à premente problemática da maternidade adolescente, uma simples reunião? Não mereceu.
Vivo nesta cidade há sessenta e sete anos. Nasci em Anselmo Braamcamp, cresci em casa e nas “ilhas” que lhe eram vizinhas. Joguei ténis de mesa no Mocidade Invicta, frequentei a Escola Normal e o João de Deus, gastei as cadeiras do Majestic na adolescência, ensinei nas duas Escolas Médicas desta cidade. Aqui recebi o privilégio de filhos e netos, os quais, por sua vez, ainda cá estão, nos tempos que correm ter o clã inteiro à nossa volta vai-se tornando raro, no consultório cada vez mais gente me diz que fala com os seus através de Skype… Espero, assim, que os caprichos do Acaso me permitam acabar os meus dias no Porto. Cujas regras de conduta julgo conhecer razoavelmente. O Porto não avalia os seus filhos pelas honras acumuladas, embora nada tenha contra elas, pede-lhes, isso sim, a intransigente defesa da Honra, que, como Cidade, tantas vezes defendeu até ao limite.
Nunca abordei a questão neste espaço. A razão é simples, qualquer um de vocês poderia pensar que me dedicava a estratégia que por aí campeia – fazer pressão sobre pessoas ou Instituições através dos média. (Manda a verdade admitir que alguns só assim conseguiram ser ouvidos…). O risco já não existe, como disse, na Comunidade já se “lavam os cestos”. Quero acreditar que fiz tudo o que podia pelas nossas meninas/mães e seus cachopos e pela minha equipa. Preciso de acreditar, em minha casa também há espelhos. Mas se a Paulo Vallada fecha as portas no concreto, é minha obrigação defender-lhe a dignidade, de que sou um dos garantes, e que não será devolvida com as chaves. E por isso, amanhã mesmo, a minha Medalha será devolvida à Câmara. Dir-me-ão que se trata de um mero gesto simbólico. É verdade, mas por trás dos símbolos vivem ideias, maneiras de ver o mundo e de nele estar. E, quem sabe?, talvez a próxima IPSS que solicitar vinte ou trinta minutos de atenção tenha mais sorte.
Não voltarei ao tema em público, a menos que alguém insinue falsidades da minha parte. Está tudo dito e feito; é tempo de luto.
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https://www.facebook.com/julio.vaz.777/posts/886869708124113
transcrevo na totalidade e subscrevo a publicação de Júlio Machado Vaz:
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Em Outubro a Paulo Vallada terá deixado de existir.
Neste momento as nossas meninas/mães vão sendo encaminhadas para outras instituições ou seguem os trajectos de vida já iniciados. Desejo-lhes toda a sorte do mundo, com uma tristeza não isenta de culpa. Racionalmente, digo-me que esgotei todas as portas a que podia bater, mas lá no fundo sobrevive a dúvida, “fiz tudo ao meu alcance?”. À equipa uma enorme gratidão pelo profissionalismo e entrega com que se tem dedicado ao trabalho, como se não vivesse uma preocupante contagem decrescente no que ao futuro diz respeito. O mesmo reconhecimento aos nossos voluntários, sem os quais este desenlace teria acontecido há muito tempo e cuja dedicação é demonstrada pelo último pedido das nossas meninas/mães antes de partirem – com eles se reunirem uma última vez.
Sabendo de antemão que pecarei por defeito, deixo outros agradecimentos: ao Juiz Armando Leandro, por ter aceitado presidir à Assembleia Geral da Associação, emprestando-lhe a credibilidade de toda uma vida ao serviço dos mais carenciados deste país; à Fundação Montepio, nas pessoas do seu Presidente, Engenheiro Tomás Correia e da Dra. Paula Guimarães, sem a sua ajuda não teríamos durado nove anos; ao senhor Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Dr. Vieira da Silva, que não se limitou a acusar a recepção do meu relato das necessidades da Paulo Vallada – simples gesto de cortesia que durante dois anos o seu antecessor não teve… -, mas desencadeou mecanismos que, triste ironia!, se poderiam traduzir num auxílio precioso a curto prazo; ao Centro Distrital da Segurança Social do Porto, que colaborou nesse processo e foi de uma gentileza inexcedível para connosco; ao senhor Engenheiro Luiz Oliveira Dias que, com o seu exemplo, mobilizou a nosso favor a solidariedade do Mercado Abastecedor do Porto; ao Dr. Carlos Abrunhosa de Brito que, na qualidade de Presidente do Conselho Consultivo da Fundação da Juventude, tudo tentou pela sobrevivência da Paulo Vallada aos mais diversos níveis; ao senhor Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, Dr. António Tavares, que fez o mesmo, desde a primeira conversa que mantivemos sobre a necessidade de encontrar novas instalações para a Comunidade. E a tantos outros, a quem, obviamente, expressarei o meu reconhecimento pela palavra dita ou escrita.
Aos que muito prometeram e nada cumpriram deixo o que já lhes pertence - espelhos e consciências. Com a excepção da Câmara do Porto, à qual deixarei algo meu. De imediato um esclarecimento: refiro-me à Instituição porque, embora quase todos os contactos tenham sido mantidos com o Dr. Manuel Pizarro, o meu colega deixou bem claro que falava em nome do Executivo, o que, de resto, o Dr. Rui Moreira teve a gentileza de também sublinhar durante o processo.
Há quase dois anos pedi auxílio para estabilizar a Paulo Vallada. A resposta foi afirmativa, com a legítima exigência de uma redução de custos do funcionamento. O que foi feito em três meses, com dois despedimentos e redução da restante massa salarial. A equipa, que nunca fora a justificada, passou a ser de tal modo “espremida” que, como já disse, o trabalho dos voluntários passou a ser indispensável ao funcionamento quotidiano. Informei o Dr. Manuel Pizarro da nova realidade, fornecendo os números, como era minha obrigação. E esperei. Nada aconteceu, de um momento para o outro os canais de comunicação deixaram de funcionar; silêncio absoluto.
Até ser contactado no sentido de ser agraciado pela Câmara em 2015. Honrado embora - tratava-se da “minha” Câmara e do “meu” Porto -, salientei que precisava mais do cumprimento de promessas feitas do que de honrarias, eu cumprira a minha parte do acordo e a Paulo Vallada continuava em risco. As promessas foram renovadas. E eu deixei passar o Verão, todos sabemos como Portugal funciona au ralenti em época estival. No Outono nada acontecera e as minhas perguntas voltavam a esbarrar no silêncio.
Em Janeiro, foi-me pedido para fazer a apresentação de um livro nos Paços do Concelho, o que fiz com todo o gosto, atendendo a obra e autor. De resto, ao longo de todo este processo colaborei com o pelouro da Cultura sempre que para tal fui solicitado. (Colaborei e continuarei a colaborar!, o Porto está acima de qualquer amargura pessoal). Na referida sessão de Janeiro todas as promessas foram repetidas.
Foi no início do ano que ficámos a saber que até ao Verão teríamos de encontrar novas instalações. Eu e o Dr. Carlos Abrunhosa de Brito fomos bater à porta do Dr. António Tavares. E os três chegámos à conclusão que a melhor hipótese seria tentar uma abordagem inter-institucional do problema. Escrevi ao Dr. Manuel Pizarro, solicitando uma reunião a quatro, comigo pela Paulo Vallada, o Dr. Carlos Abrunhosa de Brito pela Fundação da Juventude e o Dr. António Tavares pela Santa Casa. Nenhuma resposta. Um mês depois repeti a diligência, salientando a urgência da situação. Silêncio mantido.
Sejamos claros: surgiria de tal encontro uma solução? Nunca o saberemos. Mas é aceitável não existir sequer resposta ao pedido? Aqui é preciso evitar o fascínio pelo umbigo, seria fácil argumentar que, se eu servira para apresentar um livro no mês anterior, por que não tinha direito a uma resposta ao pedido de vinte ou trinta minutos de atenção? Tratar-se-ia de um erro, o registo certo não era o pessoal. A questão punha-se noutros termos – por que não merecia a sobrevivência de uma instituição portuense, há nove anos dedicada à premente problemática da maternidade adolescente, uma simples reunião? Não mereceu.
Vivo nesta cidade há sessenta e sete anos. Nasci em Anselmo Braamcamp, cresci em casa e nas “ilhas” que lhe eram vizinhas. Joguei ténis de mesa no Mocidade Invicta, frequentei a Escola Normal e o João de Deus, gastei as cadeiras do Majestic na adolescência, ensinei nas duas Escolas Médicas desta cidade. Aqui recebi o privilégio de filhos e netos, os quais, por sua vez, ainda cá estão, nos tempos que correm ter o clã inteiro à nossa volta vai-se tornando raro, no consultório cada vez mais gente me diz que fala com os seus através de Skype… Espero, assim, que os caprichos do Acaso me permitam acabar os meus dias no Porto. Cujas regras de conduta julgo conhecer razoavelmente. O Porto não avalia os seus filhos pelas honras acumuladas, embora nada tenha contra elas, pede-lhes, isso sim, a intransigente defesa da Honra, que, como Cidade, tantas vezes defendeu até ao limite.
Nunca abordei a questão neste espaço. A razão é simples, qualquer um de vocês poderia pensar que me dedicava a estratégia que por aí campeia – fazer pressão sobre pessoas ou Instituições através dos média. (Manda a verdade admitir que alguns só assim conseguiram ser ouvidos…). O risco já não existe, como disse, na Comunidade já se “lavam os cestos”. Quero acreditar que fiz tudo o que podia pelas nossas meninas/mães e seus cachopos e pela minha equipa. Preciso de acreditar, em minha casa também há espelhos. Mas se a Paulo Vallada fecha as portas no concreto, é minha obrigação defender-lhe a dignidade, de que sou um dos garantes, e que não será devolvida com as chaves. E por isso, amanhã mesmo, a minha Medalha será devolvida à Câmara. Dir-me-ão que se trata de um mero gesto simbólico. É verdade, mas por trás dos símbolos vivem ideias, maneiras de ver o mundo e de nele estar. E, quem sabe?, talvez a próxima IPSS que solicitar vinte ou trinta minutos de atenção tenha mais sorte.
Não voltarei ao tema em público, a menos que alguém insinue falsidades da minha parte. Está tudo dito e feito; é tempo de luto.
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quarta-feira, 21 de setembro de 2016
Nota pessoal
Eu tenho um passado.
Nem sempre tem glamour. Fui um gajo quase cool, irreverente, olhado, convidado a pertencer a capelinhas. Sempre recusei, sempre preferi seguir aquele que pensava ser o meu caminho. O lema, na altura, era «não fugir para trás, avançar, fugir para a frente.» Cheguei a escrever e, por isso, tinha alguma consciência que algumas pessoas ficavam pelo caminho, magoadas, desprezadas, ofendidas. Quando disso tinha conhecimento, fugia para a frente e dizia «deus não agrada a todos, porque hei-de eu agradar?», escrevia e as pessoas afastavam-se. E eu não me importava com isso, porque havia sempre novas pessoas a aparecer, sorrisos, olhos brilhantes à procura de algo que eu não sabia bem o que era, e eu pensava que era bonito, um gajo cool, que devia ser por isso, não poderia ser pelas minhas palavras que achava feias, sabia-me, afirmava-me rebelde embora não soubesse a causa, era um estudante jovem-adulto virginal em fase ascendente, a vida ainda não me mostrara o que era ser maduro, eu lia para aprender a viver, sabia que o meu futuro seria incerto, tinha consciência que a minha paixão não estava nas sebentas universitárias de, por exemplo, introdução à arquitectura de computadores, sabia que preferia a independência de pensar por mim e criar algo com as minhas mãos. Por isso, li o anúncio e inscrevi-me num curso de iniciação à pintura de 18 horas, um curso dado na associação de estudantes. O curso foi uma revelação para mim, notava-se que eu era um ser bruto, distante, de difícil comunicação, essa era a imagem que se revelava por detrás da aparência falsa do dia-a-dia de aulas de engenharia: aulas, bar para fumar e tomar café, aula, almoço na cantina, aulas, às vezes gazeta às aulas, casa, nenhum estudo, leitura ou... o que começou a surgir como resíduo de mim, a verdade de mim na qual me queria tornar: ver as formas tomarem corpo no papel, ver as cores misturarem-se na tela por acção da minha visão e da minha mão, tinha descoberto quem eu queria ser, recusava em absoluto o curso superior, queria acabá-lo mais por dever de gratidão para com a minha mãe por me ter pago seis anos de estadia numa cidade fora do seu ninho, demorei seis anos a terminar o curso e saí dele a pensar em tentar ganhar dinheiro para sustentar os meus vicios e a pintura, ao mesmo tempo imaginava-me a subir as ruas de Derza com telas gigantes para pintar em casa. Foi por estas alturas que o céu me caiu em cima, eu sabia que não era deus, mas comecei a reparar que as pessoas se afastavam e não eram substituídas, comecei a reparar que as que ficavam me olhavam já não com desejo mas com estranheza, do género «aquele gajo é completamente outsider, é fascinante», comecei a sentir-me um objecto e não sabia mais se queria que gostassem de mim pela minha vitalidade física, se pela minha capacidade intelectual, sempre fui até um certo momento um gajo com pouca auto-estima, desconfiava de tudo, não sabia porquê, não gostava de ser usado como um objecto à distância, comecei a distanciar-me cada vez mais, a tornar-me bruto, um vagaba, os dentes a cair, a careca a aparecer, até que deixei de ter companhia, substitui essas companhias físicas pelas vozes: falava alto nos quartos e imediatamente me respondia eu próprio em inglês, inventei diálogos, dialoguei com a televisão, fui internado e tudo se manifestou.
Tinha chegado ao fundo da escala. O mais irónico e absurdo é que talvez o tenha desejado.
Hoje, estou melhor, vivo sem televisão e deixei de ver cinema. Realizo os meus próprios filmes. Só fui sonâmbulo uma vez na vida embora tenha relapsado quatro vezes. Quatro internamentos, quatro começos a partir do zero. Hoje conduzo-me. Dou valor à amizade. Sei o muito que perdi.
(to be continued eventually)
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
Rock and Roll Station
Eu descobri a história de Vince Taylor aqui
mas já lhe conhecia a voz nesta música de Jac Berrocal
editada em 1977 no album 'Parallèles'.
https://www.discogs.com/Jacques-Berrocal-Parall%C3%A8les/release/1074946
Seria mais tarde integrada na compilação 'Fatal encounters' de 1993
Os Nurse With Wound também fizeram a sua versão da música.
É considerada por alguma audiência uma gema da música patafísica.
https://www.youtube.com/watch?v=NKttC1mHXhg
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
Operação Flores -- epílogo
Eu apesar de ter dito anteriormente que tinha terminado com a minha exposição-venda de aguarelas,
a verdade é que apenas a suspendi por uns dias,
e voltei à rua dias mais tarde.
A razão desta mudança de atitude da minha parte foi
eu ter suspendido por aviso de um colega amigo de que poderia levar por tabela,
mas a verdade é que nenhum fiscal me tinha abordado até então.
Tenho por isso voltado à rua, de modo intermitente, para tentar a minha sorte.
Até hoje. Por volta das duas horas da tarde, um fiscal à paisana aproximou-se,
apresentou o cartão de identificação, disse que eu não tinha licença e
que tinha de retirar as aguarelas da parede, senão haveria apreensão dos trabalhos.
Disse para me dirigir à junta de freguesia e tirar uma licença.
Eu, desconfiado, perguntei se ma davam. Ele disse que, em dois ou três dias, ma davam.
Agradeci, retirei os trabalhos e dirigi-me à junta.
Afinal, vou ter que esperar a saída do edital em Janeiro próximo e concorrer a uma licença.
O que me preocupa, no imediato, é eu ter feito uma aguarela a pedido do Álvaro,
e não lha poder entregar, porque ele também não tem aparecido para tocar.
Ficará guardada.
quinta-feira, 15 de setembro de 2016
A minha história paralela com os Ornatos Violeta
Eu passei alguns anos a estudar em Aveiro,
na altura frequentava uma casa com estudantes pelo prazer da farra
e indirectamente conheci, não sei se pessoalmente não me recordo,
um trompetista que actuava no que era uma banda que começava a despontar:
os Ornatos Violeta.
Tambem conheci brevemente, em finais de 1998, uma pintora
que me mostrou uns trabalhos gráficos que dizia serem para a mesma banda.
Reconheci mais tarde, estes trabalhos na capa do álbum:
'O monstro precisa de amigos'.
Quando este álbum saiu não o comprei. Não conhecia as músicas.
Mas fiquei sempre com a memória do título do disco, era uma imagem que se aplicava a mim próprio: eu não tinha amigos e mesmo as amigas se afastaram, a partir do momento em que adoeci.
Sentia-me um monstro.
Só por alturas de 2007, quando os blogs explodiram com posts músicais e links para partilha e download de álbuns completos, ouvi pela primeira vez o disco.
Gostei demais, foi playlist durante meses. As letas smplesmente fabulosas.
Entretanto, o boom deu-se, o público português rendeu-se à banda, redescobriu a banda e tornou-a um mito. Fizeram concertos com o álbum completo.
Em 2012, vi pela primeira vez o vídeo oficial da música 'Ouvi dizer',
e há neste um grafiti e uma letra torna a música ainda mais especial e
cheia de sincronicidade para mim.
Quem conhecer o livro 'Kcoillapso' de Claudio Mur,
poderá conseguir perceber porque chamei a este post:
a minha história paralela com os Ornatos Violeta.
Note-se que tudo isto é apenas plausível e passível de ser verdade para mim e
para os outros, para os falsos, será totalmente impossível.
na altura frequentava uma casa com estudantes pelo prazer da farra
e indirectamente conheci, não sei se pessoalmente não me recordo,
um trompetista que actuava no que era uma banda que começava a despontar:
os Ornatos Violeta.
Tambem conheci brevemente, em finais de 1998, uma pintora
que me mostrou uns trabalhos gráficos que dizia serem para a mesma banda.
Reconheci mais tarde, estes trabalhos na capa do álbum:
'O monstro precisa de amigos'.
Quando este álbum saiu não o comprei. Não conhecia as músicas.
Mas fiquei sempre com a memória do título do disco, era uma imagem que se aplicava a mim próprio: eu não tinha amigos e mesmo as amigas se afastaram, a partir do momento em que adoeci.
Sentia-me um monstro.
Só por alturas de 2007, quando os blogs explodiram com posts músicais e links para partilha e download de álbuns completos, ouvi pela primeira vez o disco.
Gostei demais, foi playlist durante meses. As letas smplesmente fabulosas.
Entretanto, o boom deu-se, o público português rendeu-se à banda, redescobriu a banda e tornou-a um mito. Fizeram concertos com o álbum completo.
Em 2012, vi pela primeira vez o vídeo oficial da música 'Ouvi dizer',
e há neste um grafiti e uma letra torna a música ainda mais especial e
cheia de sincronicidade para mim.
Quem conhecer o livro 'Kcoillapso' de Claudio Mur,
poderá conseguir perceber porque chamei a este post:
a minha história paralela com os Ornatos Violeta.
Note-se que tudo isto é apenas plausível e passível de ser verdade para mim e
para os outros, para os falsos, será totalmente impossível.
This post is dedicated to my sweet friend Alex:
she knows better and she has class.
This post is not dedicated to the squeamish.
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
segunda-feira, 12 de setembro de 2016
sábado, 10 de setembro de 2016
Álvaro, the great
'Álvaro, the great'
Desenho a lápis de grafite, digitalizado a preto e branco
tamanho A5
2016
ZMB
Álvaro toca temas de guitarra clássica,
entre várias melodias toca aquela que os Doors adaptaram em 'Spanish Caravan'.
Tem igualmente uma banda de heavy metal !!
O desenho por detrás do Álvaro é um grafiti do artista Costah.
Este desenho foi feito por observação de uma foto tirada na Rua das Flores.
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
Ignorava que não é necessário ter dinheiro para ser rico
'
Adquirira o hábito de olhar à minha volta, de observar as pessoas com quem me cruzava na rua, no metro, na tasca onde fazia as minhas refeições do meio-dia. Que é que via? Caras tristes, olhares fatigados, indivíduos desgastados por um trabalho mal pago, mas obrigados a fazê-lo para sobreviver, apenas podendo dispor do mínimo essencial. Seres condenados à mediocridade perpétua; (...) Seres que conhecem o futuro por não o terem. Robôs explorados e paralisados, respeitadores das leis, mais por medo do que por honestidade moral. Submissos, vencidos, escravos do despertador. Eu fazia parte deles por obrigação, mas sentia-me estranho àquela gente. Não aceitava. Não queria que a minha vida estivesse previamente resolvida, nem que fosse decidida por terceiros. Se às seis da manhã tivesse vontade de fazer amor, queria ter tempo de o fazer sem olhar para o relógio. Queria viver sem horas (...). Eu queria «ter tempo para viver», e a única maneira de lá chegar era não ser escravo dele. Sabia como a minha teoria era irracional, que era inaplicável como fundamento de uma sociedade. Mas o que era essa sociedade sem os seus belos princípios e as suas belas leis?
Aos vinte anos, mandara-me ela fazer a sua guerra em nome das liberdades, esquecendo-se simplesmente de me dizer que com a minha acção entravava a dos outros. Em nome de quê me dera ela o direito de matar homens que eu nem sequer conhecia e que noutras circunstâncias poderiam tornar-se meus amigos? Essa sociedade servira-se de mim como um peão, aproveitando-se da minha juventude e da minha inexperiência. Criara apenas um falso ideal em nome da «honra da pátria»... Servira-se da minha violência interior e explorara-a para fazer de mim um bom soldado, um bom matador. Via-a, essa mesma sociedade, indiferente à morte dos jovens que morriam em nome da pátria. Comia, arrotava, fodia e dormia na maior das calmas. A sua guerra era longe, estava-se nas tintas, desde que os dissabores não lhe tocassem de muito perto. (...) A sociedade enganara-me ao fazer-me arriscar a pele por uma falsa causa. Entregara-me à vida civil sem se preocupar com as sequelas que essa guerra deixara no meu psiquismo. Portanto, eu ia atirar-me a ela e fazê-la pagar o preço do que havia destruido em mim. Sabia que ao recusar as suas leis, ao recusar-me a seguir o rebanho, ia, mais cedo ou mais tarde, pagar muito caro. No entanto, friamente, conhecia todos os riscos que uma vida marginal podia acarretar para mim e aceitava previamente pagar o respectivo preço. Estava a suicidar-me socialmente. Talvez a minha ideia de felicidade fosse falsa. Ignorava que o homem que ganha pouco fica feliz por ter ganho esse pouco pelo seu trabalho; que não é necessário ter dinheiro para ser rico; que o facto de não ter tempo dá ainda mais sal à vida quando se pode aproveitar um momento de lazer; que criar um lar e ver viver os filhos gerados por nós é a base de uma verdadeira e sã felicidade; que o heroísmo talvez seja justamente fazer face à vida e aos seus problemas. Não sentia nada disso. (...) Queria tudo, mas repudiando o trabalho como se fosse uma doença vergonhosa. (...) Sim, aos vinte e três anos ia fazer do crime uma profissão. Sabia-o, porque assim o decidira. (...) Essa determinação ia conduzir-me ao topo e fazer de mim «o inimigo público número um» de dois países: a França e o Canadá.
'
, página 76-79
Jacques Mesrine
'O instinto de morte, autobiografia de um fora-da-lei'
Edição Antígona
Adquirira o hábito de olhar à minha volta, de observar as pessoas com quem me cruzava na rua, no metro, na tasca onde fazia as minhas refeições do meio-dia. Que é que via? Caras tristes, olhares fatigados, indivíduos desgastados por um trabalho mal pago, mas obrigados a fazê-lo para sobreviver, apenas podendo dispor do mínimo essencial. Seres condenados à mediocridade perpétua; (...) Seres que conhecem o futuro por não o terem. Robôs explorados e paralisados, respeitadores das leis, mais por medo do que por honestidade moral. Submissos, vencidos, escravos do despertador. Eu fazia parte deles por obrigação, mas sentia-me estranho àquela gente. Não aceitava. Não queria que a minha vida estivesse previamente resolvida, nem que fosse decidida por terceiros. Se às seis da manhã tivesse vontade de fazer amor, queria ter tempo de o fazer sem olhar para o relógio. Queria viver sem horas (...). Eu queria «ter tempo para viver», e a única maneira de lá chegar era não ser escravo dele. Sabia como a minha teoria era irracional, que era inaplicável como fundamento de uma sociedade. Mas o que era essa sociedade sem os seus belos princípios e as suas belas leis?
Aos vinte anos, mandara-me ela fazer a sua guerra em nome das liberdades, esquecendo-se simplesmente de me dizer que com a minha acção entravava a dos outros. Em nome de quê me dera ela o direito de matar homens que eu nem sequer conhecia e que noutras circunstâncias poderiam tornar-se meus amigos? Essa sociedade servira-se de mim como um peão, aproveitando-se da minha juventude e da minha inexperiência. Criara apenas um falso ideal em nome da «honra da pátria»... Servira-se da minha violência interior e explorara-a para fazer de mim um bom soldado, um bom matador. Via-a, essa mesma sociedade, indiferente à morte dos jovens que morriam em nome da pátria. Comia, arrotava, fodia e dormia na maior das calmas. A sua guerra era longe, estava-se nas tintas, desde que os dissabores não lhe tocassem de muito perto. (...) A sociedade enganara-me ao fazer-me arriscar a pele por uma falsa causa. Entregara-me à vida civil sem se preocupar com as sequelas que essa guerra deixara no meu psiquismo. Portanto, eu ia atirar-me a ela e fazê-la pagar o preço do que havia destruido em mim. Sabia que ao recusar as suas leis, ao recusar-me a seguir o rebanho, ia, mais cedo ou mais tarde, pagar muito caro. No entanto, friamente, conhecia todos os riscos que uma vida marginal podia acarretar para mim e aceitava previamente pagar o respectivo preço. Estava a suicidar-me socialmente. Talvez a minha ideia de felicidade fosse falsa. Ignorava que o homem que ganha pouco fica feliz por ter ganho esse pouco pelo seu trabalho; que não é necessário ter dinheiro para ser rico; que o facto de não ter tempo dá ainda mais sal à vida quando se pode aproveitar um momento de lazer; que criar um lar e ver viver os filhos gerados por nós é a base de uma verdadeira e sã felicidade; que o heroísmo talvez seja justamente fazer face à vida e aos seus problemas. Não sentia nada disso. (...) Queria tudo, mas repudiando o trabalho como se fosse uma doença vergonhosa. (...) Sim, aos vinte e três anos ia fazer do crime uma profissão. Sabia-o, porque assim o decidira. (...) Essa determinação ia conduzir-me ao topo e fazer de mim «o inimigo público número um» de dois países: a França e o Canadá.
'
, página 76-79
Jacques Mesrine
'O instinto de morte, autobiografia de um fora-da-lei'
Edição Antígona
terça-feira, 6 de setembro de 2016
You haunt me
The Lounge Lizards are a jazz group formed in 1978 by saxophone player John Lurie.
Initially a tongue in cheek "fake jazz" combo, drawing on punk rock and no wave as much as jazz, The Lounge Lizards have since become respected for their creative and distinctive sound.
domingo, 4 de setembro de 2016
Uma rapidinha na Feira do Livro do Porto
Não cheguei nem sequer a metade da feira,
Mal cheguei à banca da Utopia, parei e não avancei mais.
Comprei e voltei atrás para resgatar um livro na Antígona.
Ao todo, gastei 21.5 euros.
Os livros comprados foram:
Madame Edwarda, O morto, História do olho, Georges Bataille
Na corda bamba, Saul Bellow
Memórias de um ex-morfinómano, Reporter X
Para o ano há mais!
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
Ressurreição
'Ressurreição'
técnica mista sobre papel
42cm por 59,4cm
2016
ZMB
Este trabalho tem como referência esta ideia inicial:
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