sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Haxixe ou porque a morte é a morte

Hashish or because death is death
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Engraçado... mas assim que o meu erro foi julgado pelas autoridades responsáveis num tribunal, considerado culpado e a culpa finalmente admitida pela minha consciência moral, comecei a escrever com mais pormenor, revelando pormenores de verdade escondidos dentro de outros pormenores, revelando outras histórias. Percebi que tinha chegado a esta ânsia de destruição após a violência sofrida e cometida, causada por uma sucessão de eventos criados por mim.
Tudo estará correcto se lermos a fórmula: uma vez escolhido não há arrependimento possível e, mesmo que haja culpa, é seguir até ao fim, são as fugas para a frente, não gostaria de lhes chamar coincidências.
É como se tivesse pedido um destino para que o motor da vida pudesse arrancar em mim. A ambição de atingir esse destino tornou-se a razão principal de existir acompanhando o acto cada vez mais solitário de fumar ganza. Sim, prefiro cada vez mais fumar ganza sozinho. Porquê? Porque os vizinhos voltaram à poeira e porque a ganza me torna introspectivo sem precisar de pessoas, põe-me a ler, a escrever e a dormir bem. a ganza é um meio, a poeira é um fim que recuso.
Há muitos suportes, desde o inicial utilizado para responder no oitavo ano: e agora que vais seguir? Pensei ser piloto de automóveis. Tantos suportes, tantos quantos a minha memória pode alcançar até à experimentação de outros ambientes, alguns reflexos e novas experiências desenvolvendo-se num imenso livro cinzento.
Por isso, preencho as folhas em branco do livro com análises sociais ao dia, ao ainda nosso dia, o que fizemos, que apontamentos tirámos, com quem falámos, as pessoas que passam, aos cafés que se pedem, aos cigarros que elas fumam... é ou não correcto falar em aquisição e percepção de realidade e assumir percorrer um caminho pela simples observação do dia a dia? Reparar, por exemplo, que todos os dias nos levantamos na hora exacta para ir às aulas ou para o trabalho, a seguir almoçamos qualquer coisa na cantina. Depois, tomamos café ou bebemos água das pedras, voltamos ao fim da tarde para o café, para a sopa ou para casa, compramos pão e leite ou o jornal e tudo... tudo isto reparar. Mais vida têm os mendigos e os bandidos.
A monotonia torna assim necessária a existência de outros meios para o suporte deste destino e aqui pergunto-me se os meios são o ponto duplo de escape ou são o suporte uno desse destino, o destino, a consequência da ambição que surgiu quando me interessei por diagramas de circuitos eléctricos muito simples, por exemplo, duas pilhas em série com uma lâmpada e um interruptor, mal sabia eu que iria aprender muita teoria para nada.
A monotonia torna-o evidente: estou errado. Será só para disfarçar ou tentar resolver a monotonia que fico pensativo quando me falam e chego até a pensar em partir para os mares, mas a idade do voluntariado para a marinha já passou e, por isso, é mais um apetite sonhado para um futuro. Nessa ocasião, pensei que seria um bom meio de começar um novo destino ou uma nova rota ou uma nova ambição nascida de um nada ou, então se tudo fosse estéril, uma longa pausa de reflexão. Sempre me achei diferente, também já me disseram que eu parecia alemão, desde cedo quis fugir de casa mas, da primeira vez com doze anos, cheguei ao fim da bouça, sentei-me numa pedra e pensei: e agora... vou pra onde?
O meio escolhido de prolongar este sentimento, quase cristão mas invertido nos valores e, se calhar, aqui o deus é o mal, quem se importa?, eu não, é o acto solitario e rebelde. Torna-se evidente, real e verídico pela imaginação Dele, que este ritual é o ninho de muitas influências surreais que se poderão desenvolver, criar algo de rebelde. E porquê esta sublimação usando haxixe? Porquê esta necessidade de rebelião? Porque acho que ninguém gosta de levar porrada da autoridade só porque no seu tempo a autoridade levou porrada. As crianças deveriam ser amadas e não postas no mundo só porque o mundo precisa de trabalhadores contributivos e obedientes ao pregador. A ganza é o meu tempo de qualidade.
Procurar o destino e lutar por Ele e, com essa finalidade, tudo ser retirado ou congelado do caminho para que não possa intervir mas apenas assistir à minha chegada aos degraus dessa escada afixa como um símbolo... como se me tivessem de adorar. Ilusões de um gajo que está permeável aos sentimentos totalitários. Tenho de os combater mas tenho primeiro de os perceber. Tudo não passa de um meio de atingir esse fim por modos meio monótonos, esse fim que nunca se sabe bem qual é agora e, depois, subir ao ultimo degrau e encontrar a plataforma, ver o que estará para lá, em Lá? Talvez a eternidade de algo de tão cristão que não conhecemos, foi-nos incutido na escola primária, ouvimos dizer, bem, se não está ligado à morte, então não sei. Que haverá para lá desse último degrau? Ninguém sabe mas muita gente se pergunta ou prega, chamem-lhes talvez de esotéricos, é talvez mais correcto.
Tento imaginar esse momento de morte, esse cenário ou a minha proposta para um cenário: ao longe, o recorte de uma montanha durante o período lunar que vai sendo iluminada por uma linha amarela levemente (des)horizontal, uma linha de luz criada pelos carros que vão passando. Vejo as estrelas e procuro encontrar a estrela Polar mas apenas porque não consigo dormir. Mas, logo a seguir, tudo muda porém, o sol brilha e uma escada levanta-se ao fim da tarde na encosta de terra cavada, porque andaram a desbastar pinheiros ou a incendiar a rama das batatas.
Será esta imagem sem sentido a imagem decisiva da percepção do símbolo destino? Mas qual imagem? A de ser novo e não conseguir dormir ou a de que deveria ter sido agricultor como o falecido pai desejava ou a de que me poderia ter tornado um incendiário? Nunca existirá uma imagem final, eu sou um cão que ladra mas não morde, nunca pintarei o retrato definitivo, as palavras, as maldições proferidas como ameaça tiram qualquer valor, as opções reduzindo a um eterno círculo... em degrau descendente.
Também não sei porquê mas lembro-me de que simplesmente a morte é a morte. Tambem não sei porquê mas lembro-me que se existem meios e tantos suportes, tantos destinos, os deve haver igualmente para provocar a morte ou o desgosto, a propria morte. Muitas das minhas horas são ocupadas no meu acto rebelde de fumar, ouvir música e remoer as ofensas que nunca farei às pessoas que me ofendem. Remoo tudo porque muitas vezes essas ofensas recebidas são quase por distracção, sai-lhes a mão para a cleptocracia quando perguntam que livro ando a ler e se não me ponho a pau, o livro servir-lhes-á de meio de troca por uma esmola. Por isso, sou solitário, prefiro a solidão e prefiro estar sozinho, é raro sair à noite, tudo me é estranho e, às vezes, ando de bicicleta durante tardes inteiras com fones nos ouvidos. Estas subidas, fáceis para um profissional e difíceis para um amador, são para um ganzado como eu mais uma experiência alucinante. Outras vezes, vou ao MarchPush, cumprimento o empregado e peço a dose normal, leio o jornal, fumo um cigarro, prefiro a sopa e dispenso a sobremesa. Outras vezes, vou simplesmente para casa a pensar na vida. Tenho tanta sorte, sou livre porque tenho tudo à mão de semear, sou controlado pelo tutor mas tenho os meus contactos antigos, faço troca directa, troco zines e desenhos por almoços, ganza e a companhia de um sorriso de uma bela mulher. Estou só porque não tenho mulher. Os palhaços que só querem criar ruído aparecem para distorcer o espaço público e criar uma ilusão de competição e eu, casmurro irreversível, dinamito o palhaço e dinamito as dinas deste mundo, mesmo aquelas de quem só conheço o avatar e confundo com beldades pop de tacão de dez centímetros, que aparecem no MarchPush para tomar um meia de leite e um pão com manteiga. Já não mando ninguém para a fogueira, eu sou a fogueira, some-te porque sou louco e lobo. Digo-o porque ando a ler O Lobo das Estepes de Hermann Hesse. Quem me dera que ela me dissesse: ora prova-me lá o quanto mau és?
São férias, não se vê ninguém nas ruas e, então, quando pedalo voltando do Armenia invento longos poemas sobre loucura e ou o acto de estar louco, tento um fugaz ensaio sobre o que deverá ser um louco ou sentir-se louco, digo-me louco, digo que, se calhar, é só um esgar sobre solidão, não estamos ainda fora do sistema, ou melhor, já estamos, já sou vigiado e presto contas em referendos e testes no CReEA, dão-me uma mesada, faço-me à vida e só passo fome se quiser, ou se for preguiçoso, porque há casas que prestam ajuda alimentar... mas eu ainda não estou assim, eu disse que fiz e não fiz metade do que disse que fiz e, por isso, ninguém sabe ainda, têm apenas uma impressão, bem... se não forem demasiado curiosos ao ponto de me querer estudar, não se assustarão. Deixarei para mais tarde aquelas pernas de calças pretas e camisola púrpura... da psiquiatra ou daquela que se tornou a minha mãe sideral?, pergunto-me.
Haverá coisa melhor para passar o tempo do que me dedicar ao estudo de meios para expiar uma culpa ou uma morte anunciada e acontecida, uma vez, antes de chegar ao fim da escada?, só é preciso morrer uma vez para depois as mortes continuarem, sim... no futuro e depois do suicídio absurdo e poético em que morro antes do final do filme, morrerei pelo menos quatro vezes, agora já não me recordo se havia alguma voz a chorar, talvez não, as damas e os paladinos dirão: é o carma. Agora, essa escada circular é cada vez mais sublimada pelo acto solitário? Ou não será para chegar ao fim da escada? Ou como o deverei praticar? Ou será que em cada degrau existe uma morte predestinada? E que meios utilizar para o descobrir? Tudo perguntas que escrevo nesta folha sem lhes saber nunca a resposta. Ah a glória... ah a glória de ser lembrado, é o que me ressoa nos fones, na música que ouço.
Uma vez, igualmente envolvido em ambientes estranhos onde a percepção é extremamente sensível, comecei a imaginar a covardia de um suicida ou a glória dos kamikazes, estranha dualidade esta, disse várias vezes: um suicida é um covarde mas, ao mesmo tempo, esse seu acto é um acto subversivo e rebelde por natureza, é o seu modo de minar o sistema. Às vezes, desejo mesmo alguém que me incruste violentamente de morte, de vermelho sangue e que me deixe, me abandone ao despero ou me permita ficar eternamente um barco fantasma vagueando de pistola em pistola, de agulha em agulha, de cunnilingus em coitus interruptus em formato cinemascope regravado para video, a imagem filtrada fica mais azul, e se tudo isto não são as influências... são todos os pontos G, a ganza erógena despontando para o mundo e fugindo do recalcamento, encontrando a violência poética como ponto fuga, hedonismo para sempre, anarquia!!!
Porém, nem tudo é morte. Existem sonhos e às vezes anda-se de bicicleta e poemas são inventados sobre a louca realidade de mim sem ninguém com quem partilhar a almofada e a quem contar historias. Afinal tinha-me enganado quando a Maria me pediu e eu disse que não lhe queria contar duas mil e uma histórias. A morte é a morte, é a realidade de estar sozinho, o acto solitario é o acto de fumar ganza sozinho e bater punhetas, porque ainda não encontrei a ela com quem fumar e a quem contar os meus sonhos de ganza.
Surgem flashes e desenvolvem-se teorias, fetiches ocorrem em frente aos meus olhos reais: elas tem cabelos longos e lisos e eu ando entre o fetiche daquela verde garrafa de pose gélida de cantora pop... eu imagino que ela canta Portishead e, por isso, sempre que passo Portishead na cabine do dj é para ela... até ao fetiche daquela mais Nine Inch Nails mais animalesca, mais poética, mais África e melhor, um vestido de alças cor de tijolo descendo uma escadaria de pedra de uma casa antiga, onde há noites em que se vê o reflexo de freiras losangais de preto e branco vomitando dedos mas… tudo são sucessões ao longo do tempo, variações sobre a lida insustentável leveza do ser, onde tudo é aprendido mas o desejo reprimido pois não é mutuo, elas não desejam praticar, não desejam passar aos actos. Eu imagino-me um Henry Miller perante as francesas que elas não são e, em todos os sentidos, o Henry Miller, que eu não sou, resvala para a degradação, sou levado a pensar o pior, sou tentado a escrever a pior desculpa e sem poesia que me salve: se calhar serão frígidas ou terão outros amantes... afinal, porque se pergunta se os homens têm medo das mulheres?, não será, às vezes, ao contrário?, e isso não será um sinal para avançarmos?
Um jogo eterno e cheio de olhares e movimentos, dá um certo gozo ser hedonista... e gostar das fotografias de revista da Leni Riefenstahl. Desculpem se o poeta vem a caminho, ah Icata!, como seria bom matar esperma to zoides em cima das tuas super fícies es pon josas, ou se tudo não passa apenas do reflexo inconsciente de, às vezes, sermos obrigados a preferir uma bebedeira, ou qualquer outro delirio social, porque a rapariga prefere ir ao Armenia e não ir para casa após o cinema... era tão fixe estar em forma e actuar em todos os jogos e não só nos treinos.
Às vezes, estou no Armenia a ouvir o Creep dos Radiohead e digo que não gosto da música mas digo-o apenas porque me identifico com a sua mensagem. Outras vezes, estou rodeado de residentes tão bêbados como eu e uma rapariga do teatro vem ter comigo, na altura em que decifro Society is a place where people exist together, that is civilization, e me pergunta porque não me juntei a eles, às pessoas do teatro. Eu sorrio e respondo que não preciso do teatro para nada, pois eu represento já, eu crio as minhas máscaras respondendo aos impulsos. Prefiro não dizer que, deste modo, me esvazio do meu próprio nome e, às vezes, é como se gritassem esse nome a meu lado e eu não reagisse no meio da multidao doppleriana: é um esvaziamento parecido com aquele que acontece quando ela e eu lemos uma passagem escolhida de As lágrimas amargas de Petra von Kant de R. W. Fassbinder e nos beijamos no fim, a dois num espaço fechado, o meu espaço, o covil sem assistência... e esse beijo que damos é, para mim, comparável ao doce açúcar que recolho do fundo da chavena de café.
Penso em tudo isto na meia hora que passa entre sair do alojamento providenciado pelo tutor e me dirigir ao supermercado do centro comercial. Como este, ao Domingo, só abre às quatro da tarde, volto para trás e caminho para casa no sentido para fumar uma unha de bolota. Entretanto, ao passar na vidraça do MarchPush, reparo que L está lá com o J. Ando fodido com J desde que ele vomitou depois de fumar castanha. Há dias em que lhe pergunto: mesmo vomitando curtiste a moca? Sim, diz-me J, curti, é potentíssima, é de ficar cego... mas é estúpida, não quero ficar agarrado. Eu digo que nada tenho já para te ensinar, é uma daquelas situações em que o aluno, que nunca foi aluno, ultrapassa o professor, que nunca foi professor, no entendimento e na experiência das coisas: eu contei-te a minha história com as drogas duras e tu próprio tens toda a informação, quiseste e estás no direito de experimentar, experimentaste e gostaste, repetiste e vomitaste, há dias compraste meia grama e vomitaste cinco ou seis vezes no espaço de oito horas, e gostaste, foi fumar até ao fim, até dizer vai-te satanás heróina do inferno. Tu já sabes mais do que eu, já te contei a minha hstória e tu já sabes mais que eu, o que vale é que a castanha fumada não dá overdose senão...
A meia hora passa comigo, o L a escrever e o J a ler o desportivo, L oferece-me um café e diz que tem uma prenda: um pólen que trocou com um amigo por um Panaït Istrati usado. Pintor por pintor, agora fazemos a festa encostados à frontaria da lavandaria. Chove. Os tolos molham-se. Os flocos de água entolhem-nos os ossos e nós fumamos um pólen com uma mortalha Elements. A seguir, eles voltam para casa e eu sigo para o supermercado. São agora cinco da tarde. Compro a embalagem de papel higiénico, adiciono à conta dois pastéis de nata. Volto para casa para fumar a minha unha. Dou uma volta ao bilhar grande, porque o pólen me deixou atmosférico e preciso de andar à chuva, mais uma hora e anoitece.
Seis e meia. Chego a casa e ligo o computador, na televisão passa um filme sobre jazz, no leitor de cedê ponho um disco de Gunter Hampel, no walkman ponho Nine Inch Nails, desligo a luz e começo a escrever o abstract que tenho de submeter a exame semestral:
Eu sou o norte porque recebo, nas minhas costas, todas as fontes sonoras, excepto uma componente levemente atenuada, uns 3 dB, de um ventilador. Os componentes isotrópicos são combinados e isolados no meu estranho diagrama de radiação. A sul, identifico o rugir de um sax alto, a sudoeste o sampler de uma bateria. De repente, a sul uma bateria convencional aumenta para o máximo de intensidade, aniquilando com o seu vigor um impulso de tempo de recuperação da ordem dos milissegundos. Na televisão, vê-se uma plateia de negros aplaudindo o grupo Bleak. A sul, uma trombeta, terrificamente digna de um indiano a rufar aos infernos, sobe até aos limites do impossível. Na tevê, os elementos do grupo discutem, alguém puxa de uma faca e decide cortar a orelha a um dos seus irmãos. A festa continua a sul. A norte, sai-se do clube e o ambiente é de dúvida, espera-se para ver no que dá. A sudeste, alguém grita enraivecido. Na rádio, os trompetes são festivos e acompanhados por um piano melódico. A sudeste, não há alteracões. A sul, respondem com uma sirene chamando alguém, seguido de um som de xilofone e de pratos precursivos, que se extinguem para dar o lugar a tambores, rugindo como o Michael Gira à procura da sua presa e a vibrafones que miam e a flautas que gemem e a ela que aparece rodeada por todos eles. A sudoeste, eles tocam-lhe no clitóris e os tambores agora cínicos rugem e param abruptamente, o sax pára igualmente. A sudoeste, o piano continua melodicamente acompanhando os trompetes até que tudo acabe, surjam os aplausos e uma voz grite: The Blues. Afinal, tudo era mentira, não vi nada, o filme estava no intervalo, devia ser só um anúncio de freiras pegajosas, losangos sendo seguidos por velhos com cigarros… o jogo da paciência, a noroeste, indica-me cinco mil quinhentos e sessenta segundos após o ligar do computador e, a sul, ouvem-se pequenos xilofones de brincar.
Paro de escrever. Largo o computador e deito-me na cama, puxo de um cigarro, canta-se Closer to god no leitor de cedê, acendo a luz e fumo um intensificador de sonhos enquanto adoro Keine schoenheit ohne gefahr, adoro a beleza, suporto todos os perigos pela beleza, em poesia adormeço, em sonhos é essa a escada, a minha verdade, a corda.
Decido fazer café de saco.
L aparece mas eu despacho-o facilmente. Às vezes, dá-me para pensar que faço penitência ao aturá-lo e que, por isso, por muito que goste do inferno, irei fazer companhia a deus e aos anjinhos nas nuvens. Outras vezes, como hoje, simplesmente lhe dou um silencioso não. L vai embora triste. Eu fico com remorsos e a pensar: só fazendo amor com uma mulher poderei ser amistoso com as pessoas, só fodendo poderei não ser fascista. É um longo processo de reeducação alimentar. É por isso que estou aqui dentro no centro de reeducação alimentar.
O café já ferve. Adiciono-lhe leite.
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Claudio Mur

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