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Canoa, parar nos pés ainda não está e já miúdo avançar mar dentro. No olhar, mais-velho tem receio no primeiro, no despois habituação e vê rindo neto é peixe no mar.
Contentamento dá para pular, gesto largo, gritar maju dentes alegres, Pai Zé! Pai Zé! Pai Zé!
Cada manhã é assim. Velho vem vindo ximbicando musculosamente petu grande nas águas cada cadavez menos irrequietas sem longe da praia. Figura do pescador e da canoa é mais vista e movimento ritimado dele de se baixar e se levantar, cantiga no meio, também. Marulhar das ondas é vento quem põe nos ouvidos.
Quando rede é cardume, desembarca da embarcação e com o neto, ali mesmo já areias molhadas, vendem peixe. É ver então quitandeiras se pegarem na disputa e a caírem no meio dos peixes ainda traquinos.
Na tarde, muhehe brisante refrescando corpos, ventando nas cassuarinas, canoa nos pés fronteira do mar, massuicas mufetando peixe, sentados na areia pescadores falam conversas deles, enquanto põem ngúia nos remendos e mangonham olhar no mar.
- Pai Zé, amanhã me levas?
Mesmo de dia sonhava mar assim alto desta altura. Muitos kwanzas se juntaram um dia e então assim apareceu o mar -- foi assim que me explicaram o aparecimento do mar. Avô nunca lhe respondia sim está bem. Ora lhe sorria só e quando estava atrapalhado no serviço não lhe respondia.
Pai Zé cospe longe, arremata mais um nó na rede e fala:
-- Sim, amanhã vou te levar no mar!
No coração do neto está falar é mentira e por isso outravez: «Amanhã me levas?». Mais-velho repete sim. Miúdo berrida notícia nos avilos. Cada noite, Pai Zé saindo kamene-mene madrugada fora, pés arrastando areal, neto lhe espreitava tapando tosse.
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, páginas 81 - 82
Boaventura Cardoso
em
«O fogo da fala»
edição Edições 70
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