AS AUTORIDADES LITERÁRIAS AVISAM:
SER FELIZ PREJUDICA SERIAMENTE A SAÚDE
Cheguei a acreditar que a felicidade
não é assunto para os seres humanos
Félix Grande
Alguns -- por incrível que pareça nestes tempos --
ainda se iniciam nos copos
por influência dos poetas simbolistas.
Outros -- de modo igualmente incrível --
acabam a chutar heroína
porque múmias como William Burroughs
bradavam aos quatro ventos que o faziam.
Por motivos semelhantes
negaste sempre a felicidade,
que como se sabe
é um assunto muito mal visto
entre as mentes pensantes deste curral [de moinas, padrecos rabis e moinantes].
Até que a felicidade te caíu em cima
como um prato de sopa
que alguém te entornasse no colo.
Que diabos era isto?
Não estava programado.
Era um novo contratempo;
uma autêntica vergonha.
Como, em menino, mijar a cama
ou fazê-lo nas cuecas.
Tremendo embaraço.
Quem poderia livrar-te desta?
Mas a felicidade insistiu em agitar-se dentro de ti;
percorria-te de alto a baixo
como um fluxo de seiva electrizante.
E ocorreram-te ideias deveras bizarras:
abandonar tudo,
[bombardear Gaza e os dois milhões que as mentes pensantes chamam terroristas]
desatar a correr saltando gritos de alegria,
pintar a manta [e deitar cimento para dentro dos poços de água na Cisjordânia]
e mergulhar de cabeça na vida.
[e alegrar-me de por cada judeu morto morrerem cem palestinianos.]
Ficaste sem pinga de sangue.
Os filhos-da-puta [dos apoiantes da causa palestiniana] tinham esvaziado a piscina.
Roger Wolfe em «Fazer o trabalho sujo», edição Língua Morta
com [] de ZMB
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