sábado, 17 de maio de 2025

A casa é o local onde deixas de fugir, onde está ela?

 Que quero eu dizer?

Que tenho de novo a dizer?

Cansei-me das palavras

-- agora só escrevo repetições.

Agitado escrevo

                a ver se a coisa passa.

Não escrevo por querer,

                            nunca escrevi.

É sempre uma necessidade,

                       um alívio.

Só pinto por prazer, 

                    quero ter prazer.


'pensei no futuro, tive ambição,

o campo amoroso um absurdo,

a literatura um absurdo...'

Fodasse! Com bilhete sem destino.

Ganho coragem e salto para o escuro e

abro os olhos num monte de silvas.

'não morri, não morri, não morri...'

E eu a pensar que era covardia e

e e não morri e

e no hospital expludo:

'as mulheres são todas umas putas!'

Ela já mo tinha dito e quando perguntou

                                     eu neguei.

E escondo e sonego e a minha mãe

                                   assina o termo e

em casa toda a gente preocupada e

meu pai pergunta porquê e

eu repergunto: gostas da minha mãe?, e

depois recuso ajuda e deixo-a e 

fico com o absurdo nas mãos:

reverter o édipo -- mandar foder

em vez de mandar matar e foder:

                         -- mandar foder

numa ânsia de destruição e

toda a gente repara e esqueço

todo o mal que me fazem.

Sou lento nas respostas.

Consigo fugir mas relapso:

'serei sempre um estranho,

não é este o meu lugar.'

Tenho medo, muito muito medo.

Quero esquecer

           para só ter futuro.

'é ali que quero chegar,

sai da frente ó merdas!'

eu -- humilde servo agora opressor

tal que não deixo amigos quando morro,

(e já morri várias vezes) uma das mortes da qual me lembro:

a sociedade das lâmpadas para colorir e

três mil pessoas mais o eclipse e

duas gajas ao mesmo tempo

para tentar matar um amor antigo

                           na minha mente

                           na minha vontade:

-- a uma chamo-a de lésbica,

     e ela sofrendo diz que gosta de uma pessoa;

-- a outra manda-me foder,

     e ela com um sorriso chama-me de parolo.

Três mil pessoas a chamarem-me Paneleiro.

Depois do eclipse dizes:

isto não é imaginação 

                               ou foi?

Não pode ser uma construção da tua mente 

                               ou foi?

Estás louco ou foi simplesmente fuga?

A casa é o local onde deixas de fugir, onde está ela?



Claudio Mur


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