«It was after the end of the world»
óleo sobre tela
60cm por 50cm
2025
ZMB
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-- Gente maldita como você, que estupra as nossas meninas e as nossas mulheres, rouba as nossas terras e registram como suas, merece o pior dos castigos. O seu dia vai chegar e será pelas mãos de meu povo!
A lua resplandece prateada sobre a mata e do clarão surge de asas abertas um carcará de penas cintilantes e olhos de fogo. Ele pia novamente refletindo suas chamas e Jurema entende a resposta dos seus ancestrais e encantados. Ela levanta os braços e se joga do despenhadeiro. Antes de cair nas águas do rio que passa na enseada, é acolhida pela ave que lhe apoia e lhe abraça com as suas asas e juntos mergulha nas profundezas das águas. O carcará se transforma no guerreiro Kauá e continua abraçado à sua amada. Os dois são envolvidos numa luz prateada. Eles se olham, se beijam docemente e novamente se abraçam. O seu amado retorna à superfície na forma de ave e Jurema é acolhida pelos Espíritos das Águas e da Terra, que a encantam, transformando-a na Mãe d’Água, Senhora das Águas, metade peixe, metade mulher, dando-lhes alguns dons de viver no mar e sobre a terra, segundo as leis e os propósitos dos encantados.
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Eva Potiguara em «Os herdeiros de Jurema», edição Exclamação
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O escritor francês André Gide escreveu: «Eu altero os factos de modo que eles se assemelham mais à verdade do que à realidade.» Shakespeare dizia-o também: «A poesia mais verdadeira é a mais fingidora.» Este conceito ocupou-me durante muito tempo. O seu exemplo mais claro é a escultura da Pietá, de Michelangelo, na basílica de São Pedro em Roma. A cara de Jesus, retirado da cruz, é a de um homem de 33 anos, mas a cara de sua mãe é a de uma rapariga de 17. Teria ele intenções fraudulentas? Quereria Michelangelo mentir-nos? Propagar fake news? Enquanto artista, ele fez o que era evidente de modo a mostrar-nos uma verdade mais intrínseca das duas pessoas.
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Werner Herzog em «Cada um por si e Deus contra todos», edição Zigurate
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O que verdadeiramente importa do passado é aquilo que não se recorda. O resto, o que a memória conserva ou reencontra, é apenas sedimento. Uma parte do tempo decorrido começa verdadeiramente a fazer parte, tal como um alimento digerido, do organismo vivo; continua a ser passado, mas é o único passado verdadeiro e vive no cérebro e no sangue, ignorado pela memória. O adágio tradicional «longe da vista, longe do coração» pode ser paradoxalmente invertido: se no passado um rosto suscitou amor ou ódio autênticos, ou respeito, ou desprezo, a recordação dos traços desse rosto poderá permanecer ou regressar nítida e exacta à memória, mas será passado -- no sentido de passado morto e aprisionador; enquanto a experiência genuína do amor e do ódio não será recordada -- recordar-se-ão só as circunstâncias e os indícios -- e permanecerá viva.
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Furio Jesi em «Spartakus, simbologia da revolta», edição VS

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