As aventuras laborais de mr. Cool
Apanho o autocarro às nove horas.
Ligo o backoffice às dez e treze minutos.
Ligo o rádio. Tomo café. Vejo o email.
Vou ao multibanco ver se o boss depositou.
Não!
Não está disponível a remuneração em falta.
Passo o tempo a organizar a papelada.
Chega a nossa colega maia.
O pedro saúda-nos do chat.
Descarrego da net o Opel do Syd [Barrett]
Tiro fotocópias.
Conversamos sobre acções a tomar.
Saio para o Xeirinho à uma da tarde.
O meu almoço: um carioca e um napoleão.
Não me recordo agora
das notícias no jornal da tarde.
Sou um leitor compulsivo.
Tenho fumado menos.
Chega o Pedro. Fumamos. Vamos ao mb.
O boss não aparece há uma semana.
Amanhã é dia do trabalhador.
Temos de esperar até às 11h59m
para passar os três meses de prazo legal.
Sim...
uma carta registada com aviso de recepção.
A Maia tem uns olhos lindos.
Bate o horário de fecho. Fecha-se o dia.
O último dia de trabalho.
Parecemos felizes. É a liberdade a chegar.
Vamos todos voltar ao nosso subúrbio
Onde não se faz nada.
E se nos virmos outra vez
Só se for em tribunal para ajudar a colega doutorada
E verificar que a Maia envelheceu
quando resolveu pintar os olhos
mas continua bonita,
Que o Pedro tem vida dupla
e que visita o bar do contrabandista como eu,
Que a Secretária aparecerá mais tarde
num concerto de Gipsy Rufina e me olhará mal
e mostrará que nunca esqueceu as minhas cartas bomba.
Às onze e cinquenta e oito minutos
tiro uma consulta de movimentos.
Às zero horas tiro outra.
Saldo: zero euros e nove cêntimos.
Existe motivo para justa causa.
Hoje dia um de maio, dia do trabalhador
estou oficialmente
desempregado.
Vou ter tempo para ler todos os livros
que acumulei,
Vou ter tempo para ouvir todos os discos
que descarreguei,
Vou ter tempo de ficar maluco
e escrever a psicose a crescer,
a raiva a transbordar
por o subsídio de desemprego só durar 15 dias
e a indemnização não surgir
e o boss inadmissível dizer que a culpa é do sr A.
e o sr A mandar convites pelo hi5.
e eu acabar internado no hospital de Vallis.
