Vallis — a ‘boa selvagem’ do poema,
que nada sabe de tecnologias da informação
e a quem eu mostro o meu mundo nético;
Vallis pensa que os textos do blogue
de uma escritora
são-me dirigidos a mim,
SÓ a mim e tem ciúmes.
O meu caso é mais grave,
comigo a psicose materializa-se.
Explico-me:
Um dia vejo num blogue um post sobre
uma banda de noise chamada Contagious Orgasm.
Durante a noite, ao fazermos yabyum
venho-me dentro de Vallis.
— Como foste capaz
— Deixei-me levar pela emoção
De manhã, vamos ao hospital,
uma pílula do dia seguinte e
um teste negativo.
Quando dizemos nessa tarde ‘até amanhã’
pressinto nos seus olhos a ambiguidade:
talvez se sinta ferida por o filho não nascer
mas se nascesse
seria minha a culpa e ela
apenas uma vítima
tal como é vítima do seu último homem.
Como quando nos zangamos, para ela
eu às vezes sou ele.
E o que se diz e ouve?
‘os homens são todos iguais’
e quem assim não é e é diferente
ou é maricas ou é maluco.
Vallis toma comprimidos para dormir
em excesso.
Não quer acordar amanhã
nem nunca mais
e quando acorda
vai trabalhar como escrava
com a pujança de quem
novamente
‘acordou para a vida.’
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