sábado, 14 de junho de 2025

Vallis toma comprimidos para dormir em excesso.

 Vallis — a ‘boa selvagem’ do poema,

que nada sabe de tecnologias da informação

e a quem eu mostro o meu mundo nético;


Vallis pensa que os textos do blogue

                                  de uma escritora

são-me dirigidos a mim,

                       SÓ a mim e tem ciúmes.


O meu caso é mais grave,

comigo a psicose materializa-se.

Explico-me:


Um dia vejo num blogue um post sobre

uma banda de noise chamada Contagious Orgasm.

Durante a noite, ao fazermos yabyum

venho-me dentro de Vallis.

— Como foste capaz

— Deixei-me levar pela emoção


De manhã, vamos ao hospital,

uma pílula do dia seguinte e

um teste negativo.


Quando dizemos nessa tarde ‘até amanhã’

pressinto nos seus olhos a ambiguidade:

talvez se sinta ferida por o filho não nascer

mas se nascesse

seria minha a culpa e ela

apenas uma vítima

tal como é vítima do seu último homem.

Como quando nos zangamos, para ela

eu às vezes sou ele.

E o que se diz e ouve?

‘os homens são todos iguais’

e quem assim não é e é diferente

ou é maricas ou é maluco.


Vallis toma comprimidos para dormir

                                         em excesso.

Não quer acordar amanhã

nem nunca mais

e quando acorda

vai trabalhar como escrava

com a pujança de quem

                                        novamente

‘acordou para a vida.’


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