sexta-feira, 13 de junho de 2025

A benção, minha mãe

 -- Você fala como se os seus problemas fossem graves. Ainda ontem todo preocupado com a sua família...

-- Sim, gata, eu afinal tive sorte em ter pais santos. Olha, o meu antigo vizinho, lembras-te dele, do J? Na altura, ele com mais de sessenta anios, a mãe já não queria saber dele, e olha ele morreu antes da mãe que nunca mais soube dela...

-- Sim e o que é que ele fez à mãe?

-- Eram outros tempos. Anos 70. Ele meteu-se nas drogas. Ele e o irmão. O irmão ainda talvez viva dentro do hospital. O J foi reformado à força e despejaddo num casebre da mãe mas longe e sem luz e água mas com uma gata para caçar ratos. Olha o Giuliani morreu e o casebre ardeu.

-- É, meu amigo. Antigamente, era diferente.

-- Se fosse só antigamente, lembras-te do T? A mãe pôs e ganhou uma ordem do tribunal a impedir que ele se aproximasse dela a menos de duzentos metros...

-- Pois, ele alguma coisa fez...

-- Eu não estou a defendê-lo. O que é que ele fez? Durante um período da vida dele infernizou a vida da mãe com insultos. Se eu fiz o mesmo aos meus pais? Fiz! Mas olha, agora vivo com os meus pais outra vez e numa boa. Até acho que os ajudo. Mas o T não tem essa hipótese. Lembro-me de uma vez ele dizer que viu na rua a mãe e quis chegar perto mas não pode e chorou... Percebes?

-- Ele tem de pagar pelo que fez. Teríamos de ouvir a perspectiva da mãe...

-- Não percebes que é uma condenação para a vida? Uma prisão perpétua? O T tal como o J, eles têm saudades da mãe, arrependeram-se, estão orfãos. Diz-me lá: se o teu filho viesse ter contigo e dissesse Mãe me desculpa eu errei Me abençoe. Tu não lhe davas um beijo?

-- Com certeza. A mãe do T podia ir ao tribunal retirar a queixa.

-- Isto já foi há quase dez anos. Neste tempo a mãe já se esqueceu do T


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