quarta-feira, 9 de julho de 2025

Sopra Vento Sopra

 Ok... não sei como escrever isto.

e o leitor já desconfia das actualidades,

Ando há dias a pensar,

tenho-me lembrado de algumas frases-conclusão

mas tenho adiado,

tenho dito a mim próprio:

escrever um livro em forma de diário... praquê?

Ok, para ordenar as ideias ok mas...

já sei!, encontraste nos cadernos pequenos fragmentos

com sentimentos como:

‘era bom que o telefone tocasse’

mas...

ele hoje até toca, ou melhor tocava

e tu retiraste o volume ao toque de chamada

porque te era insuportável ouvir tocar

cons tan te mente

houve um dia que ela telefonou oito vezes

desde a uma às oito da manhã

por isso imagina o não poderes dormir

e então desliguei o som

porque não suportava

houve muita coisa que não suportei

mesmo que algum paraíso alguma magia tenha havido

mas durou um mês

terminou quando lhe disse que tinha dela pena

o dinheiro escasseou

a paixão terminou

ficou o peso da responsabilidade

de ter alguma culpa se algo lhe acontecesse

os anos seguintes foram desatinos

empréstimos a fundo perdido

choros ameaças

e pouco sexo

mas nem tudo foi mau e a verdade:

ela salvou-me

sem o saber fez-me ver que

vivi o meu passado como uma ilusão e que

tinha de perder a ilusão, tinha de me ‘desiludir’

para viver uma realidade de verdade

mas esta?!

A verdade fica: ela disse que eu não lutei o suficiente

outra verdade: ou vai ou racha, tenho de

dar um passo em frente

ir morar de facto com ela

terminar o bacharelato: chama-lhe dispensa sabática

chama-lhe perversão de teres meio cérebro

ocupado por uma mulher invisível

e na verdade esta mulher real

(Vallis) quase me faz acreditar

num casamento sem aliança ou papel

mas fizeste esta relação temporária

porque depois de qualquer grave sempre discussão

sobre qualquer coisa comezinha

(aquilo que os poetas do sistema chamam a vidinha)

eu não suporto os teus olhos furibundos de polícia

espumando-se de raiva

então saio de casa para comprar pão

a dizer que era temporário

ou que será necessário utilizar

um plano de cinco anos soviéticos

para te fazer um upgrade à consciência e ao teu

‘environment’ em inglês

e tu hoje só sabes dizer ‘lol’

outras vezes dizias que eu queria liberdade

e eu te dizia que o amor não tem de ser uma prisão

mas tu ficas com ciúmes

deixei de gostar de te levar a sair

quando fizeste um recital inquisitório num espaço público

pareciam as galinhas a dar bicadas no garnisé

e para piorar

até o meu pai sustenta que o mau é o

garnisé porque dá bicadas no galo

que é ele.

enfim...

sem muita paixão

reagindo bruscamente

desligando o ouvido quando ela acusava

encharcando-me de axn

aguentei reflecti: pareço um otário

o fim próximo mas mesmo nestes momentos pensava:

eu estou a abandonar todos os meus interesses

para me dedicar à causa de a ajudar

a ter mais estudos, mais cultura, mais trabalho,

mais comida, uma bifana, uma cerveja de vez em quando

e com todos os avisos em contrário

ou vai ou racha

vá lá faz as pazes faz amor

mas como pode haver amor?

até de cobarde me chamou, de velho

e passou-se quando eu disse:

deves pensar que és uma topmodel...

tudo correcto

ela nos momentos de fúria esquece

todo o bem que lhe fiz

e só se lembra do mal

e ataca-me

e pôe-me como culpado de todo o mal

que lhe fizeram na vida durante e antes de mim

até tive culpa de ter tido namoradas antes dela aparecer...

ufa que vai longo

vou-me anulando até ao limite

o superego chega finalmente no último domingo:

andor desampara-me a loja

estou farto de me obrigares a ser mau contigo

porque tu és uma burra que não quer perceber!


Passo a desligar o volume de toque de chamada

dezenas de chamadas por dia

mensagens de chantagem suicida

pensa que tenho outra

porque toda a gente pensa quando não sabe os pormenores

compro-lhe um aspirador

e o que recebo em troca são mais do mesmo

eu quase já sem pena o amor a ir-se

quem me dera poder tomar um café em paz e sossego...

andor!

mas ela finória recaptiva-me quando me diz

precisar de ajuda para um trabalho de pintura na escola

e eu escrevo-lhe um email catita

e nesta noite esqueço tudo

digo a mim mesmo:

vou morar com ela,

que se fodam as dívidas!

Vou a casa dela à noite, peço-lhe desculpa

aceita-me de volta

eu quero vir morar contigo de vez.

E ela diz-me que tem de pensar

e eu digo que compreendo

e sei no fundo que o ‘tem de pensar’

significa que falta faísca, falta paixão

mas no dia seguinte ela telefona

e pergunta se eu estou bem

dá uma de madre superiora e pergunta:

ficaste chateado comigo?

‘sopra vento sopra’

Eis como se passa de cabrão a cornudo:

ela que foi abandonada por um marido

que lhe levou as filhas e o sustento

abandona-me e faz o joguinho da

femme fatale do bairro e ainda assim

precisa de dinheiro!?

(para fazer uma pedicure a dedos com micose.)

Como leio numa tradução brasileira de Erving Goffman:

‘um psicótico é tolerado pela mulher,

até que esta encontre um namorado.’


Rachou

o nosso amor velho imolou-se menino no quintal

e ficou esquecido

mijaram até em cima das cinzas

mas todos os Verões no terreno e com rega suficiente

cresce um valente chuchuzeiro

cujo fruto eu aproveito para fazer sopa.


mas não te preocupes por isso

não morrerá ninguém

eu não tenho ciúmes

e digo-te adeus para sempre

ao dedicar-te o livro como se fosses uma musa

e dizer:

o meu coração é teu

‘até que a morte nos separe.’



https://www.youtube.com/watch?v=vh_-AVsgzAs



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