terça-feira, 4 de abril de 2017

Exorcise [the brainwash]


'Exorcise [the brainwash]'
óleo e pastel de óleo sobre tela
45cm por 35cm
2000-2017
ZMB


Exorcise | Brainwash
Exorcisar [a] lavagem cerebral
um pouco como a dualidade amor-ódio
ultrapassar a parede da mente para
por meio do seu contrário
me transformar em algo novo mais estruturado

Quando me lembrei de fazer desenhos para o livro Kcoillapso,
desenvolvi também o objectivo de pintar
quadros em tela para acompanhar o livro --
uma tela por cada capítulo, cada letra.
não cheguei a fazer um quadro por cada capítulo e como em muitos outros casos
a ideia por detrás-dos-montes perdeu-se no tempo,
devido em parte à imagem pictórica ter sido desenhada em estado alienado
ou em mente fracturada pela psicose,

Exorcise -- purgar um sentimento mau, transformando-o em algo
pelo menos mais coerente, articulado, o mais saudável possível.
Brainwash -- transformar por esquecimento um pensamento 
em algo novo totalmente diferente.


(fotografia de época)


'
Décima segunda personagem:
Chego ao Gungunhana e peço um café. Ainda não compreendo os objectivos a atingir, qual é a tua escada? Os teus planos? Mostraste-me os teus planos para a capa no entanto. Tem que ser absolutamente negra mas de um negro veludo com muito ouro, conterá o símbolo de um meio homem ardente de desejo crucificado e envolta na cor sangrento vermelho, irradiando chamas por entre estações de lua nova ou eclipses cíclicos onde ela não está como sempre não esteve, sempre teve medo, serão as aparências? Que fazer? For I was yours and I am yours, and I will be yours till death.
Décima terceira personagem:
É mais fácil dizer do que fazer aquilo que se diz e é mais fácil escrever que dizer tudo o que se deseja dizer a alguém. Escrever permite parar e pensar em cada palavra, analisá-la, retirar-lhe a forma, ficando a realidade ou então retirar-lhe o sentido tornando-se abstracta, uma mera forma poética. Em suma, esquecer-me das palavras. Escrever permite procurar a melhor metáfora porque o tempo de reacção a uma pergunta é infinito e, sobre este ponto de vista, escrever não passa de um monólogo de alguém ao espelho com várias vozes, representações de si próprio. Escrever é uma mentira porque é difícil escrever toda a realidade que se vive, porque não há tempo, porque é difícil de admitir todas as verdades. Então, por isso contam-se meias verdades. São modos de apaziguar todos os que vivem como parasitas dentro do Eu, quantas vezes não perturbam outros que nada têm a ver com a realidade onde vivem. O que são então as metáforas que se escrevem? Será necessário influenciar os outros? É tão impossível controlar mentalidades e modos de agir, nem podemos ter tempo para isso. It never happens. Um livro não deverá influenciar ninguém ao ponto de se viver em função dele. O que será mais importante? Haverá incompatibilidade entre sensibilidade e inteligência? Que dizer das tuas opções? O teu eu inicial desapareceu sozinho, transfigurou-se. Eu cá estou, tenho este emprego do qual gosto, ouço rádio, faço uma data de coisas para aprender que existem seres normais, sensíveis e inteligentes, para que não esqueça o mal que causei e para que R. pinte céus menos académicos.
Décima quarta personagem:
Há dias tive uma revelação passando-se numa barbearia. Só via a minha cabeça e o belo corpo da cabeleireira ruiva. A minha cabeça parecia um disco voador castanho escuro com uma pequena franja loura à frente. Lembrei-me logo do que aquilo queria dizer. Ela disse: Like this you look like a priest. Eu digo: or like a saint.
'
Claudio Mur

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