terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Haiku 51


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Jac Balde nunca usava guarda-chuva, dizia que era por causa da música cantada pelo Tó Espera e pela Mariana Cheia-de-Fé. 
Balde era tão fiel que, mesmo chovendo, se sentava à chuva na esplanada com wifi a tomar café e a tossir. Não se importava de morrer novo, achava-se desgraçado. 
Ora acontece que há mui boas pessoas preocupadas neste mundo infame e assim, Bashô imponente na sua perna de platina e bengala de marfim, protegida da intempérie pelo seu abájur capilar resolveu ajudar Jac a mudar de vida a troco dos dez porcento e entrou na Livraria Satie para contrafaccionar um haiku a pedido. 
Jac, tossindo, ligou-se à rede para saber as news e os olhos esbugalharam-se, o pouco cabelo eriçou-se com uma descarga eléctrica imaginando-se no céu a voar: «Ieé, I'm gonna be supermé!»
E assim, a magia tornou-se realidade, Jac Balde colocou-se no terreno à procura de guarda-chuvas e chapéus, escolheu um gorro preto e foi lavá-lo cuidadosamente a quarenta graus na lavandaria da freguesia.
Podemos agora ver como está mudado, passa o tempo no jardim das cerejeiras a fumar e, quando chove, para se proteger pôe o livro na cabeça.
Às vezes, só falta o estímulo.
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Claudio Mur,
inspirado por Cuca Bashô
e com o alto patrocínio de Suzy 3

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