quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Reconhecer o fascismo dentro de
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e reconhecer a própria maldade,

 comunicá-la violentamente e logo reconhecer a estupidez ou a loucura ou a doença, saltar fora finalmente após receber a ajuda de um músico-filósofo que me leu e respondeu, usar uma experiência de género para me tornar tolerante, e escrevê-lo desde a raíz para que alguém me compreenda mas não siga os meus passos para a cruz:

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Um palhaço guna adicto social, feio, já sem dentes ou aparência, mistura factos e verdades de outros com a sua própria merda e cura-se!

Curo-me quando descubro iguais como eu, só vendo iguais me aceito aceitando-os, os irmãos que nunca tive e dos quais sempre desconfiei por me cheirarem a falos de autoridade. Recebo resposta que, a seu tempo, me faz compreender e libertar do meu fascismo sexual, afinal o resultado torna-se importante, libertam-me as palavras da genealogia adoptada, as quais à ofensa não responde com outra ofensa, transcrevo as palavras deste loving gentleman: 

«Hi irab It seems to me your memories of the past with this person are messing with your head. Forget him. Let it go. He’s no longer important. Enjoy the present moment, reading this message. Play music that makes you fell good, not sad. Later tonight, fuck or be fucked by the people you love (whatever colour, size, gender, you prefer). Believe me, It’s much nicer. Have fun.»

Esta honestidade, que não deve ser confundida com qualquer emoção sexual futura, liberta-me. A verdade é que há uma capoeira que diz que a saudade pode matar, a saudade de uma terra natal que na música se diz «amigos e família» e que na realidade não passa de: esquema e classificação. O real de um mundo em que um troglóbio como eu se tem de inserir nem que seja à força… a verdade é eu posso aceitar uma terra não cartografada e visitá-la sem nunca aderir ao seu programa, sem nunca ter saudade. Assim e a partir do momento em que o compreendo finalmente, a gata negra manuelle biezon morre, aqui hoje, verdadeiramente após ter escrito tão somente um poema, uma ode às borboletas em versão meio puccini meio cronenberg. A ela lhe atribuí uns quantos  textos mais por afinidade: imaginei o necessário.

Talvez seja agora possível reduzir o consumo desta aspirina, desta experiência metafísica de género que usei como alívio do stress pós-catástrofe.

Sabendo que se fosse essa a minha orientação, se o quisesse, se fosse mesmo esse o meu desejo, essa minha vontade poderia tornar possível a experiência.

«Sou livre», uma pessoa respeitou as minhas palavras mesmo sendo elas psicóticas, uma pessoa deu-me o conselho mais útil que poderia ter recebido. Poderei ser aceite se ainda for possível o mundo aceitar-me e comigo fumar o cachimbo da paz, se ainda for possível imaginar e, por força da vontade, inventar uma terra, um covil, um ser com quem me unir… no mínimo partilhar uma intoxicação momentânea: azul-de-terra.

Este amor está acima do género sexual, é simples convívio ou amizade, respeito, aceitação, a comunidade de indivíduos em igualdade, cada um com o seu fetiche, o seu peculiar modo de mandar o mundo à merda. Somos todos boas pessoas se nos deixarem estar em paz no nosso canto, um canto abre sempre um ângulo para o mundo. Amigo, às vezes partilho um charro e a tua dor. Amiga e mulher, o riso é terapêutico, fuma comigo, olha que serei um cruco adorável se verdadeiramente me procurares, far-te-ei sempre uma vénia quando me vieres visitar.

Descubro a minha causa, o meu pau de bandeira e fé, sei já qual é a minha fé a utilizar, começo a opinar em defesa da causa, digo panfletário: 

Não vejo problema em ser-se choné, quanto a parecer será talvez uma questão de preconceito, eu nos meus melhores dias não pareço e sou, pelo menos o diagnóstico é esse. Visto que me identifico muito com a narração na primeira pessoa ponho-me muitas vezes em confronto com essa ideia, e da minha boca sai uma ideia que dialoga num espelho imaginário com uma boca dizendo, nem sempre, uma contra-ideia. Não acha que devia haver uma máquina que escrevesse momento a momento o nosso pensamento? Uma máquina com um botão ON/OFF para termos uma pausa para um cigarro e tudo o mais. Os poucos cigarros que pedi desde a chonézação foram pedidos ou com alguma vergonha por não ter dinheiro ou foram cravados com algum brilho nos olhos em noite de borga, nem sempre com dinheiro no bolso. Agora estou melhor visto que trabalho e dinheiro para onças e papéis conquistador não faltam nunca. Fumar é para mim um prazer. O maravilhoso de se ser choné é que muitas vezes não precisamos de mais ninguém para fazer a festa. O problema é lidar com o excesso de informação — daí a importância do botão on/off. 

Tentem rir do absurdo, existe algo que não pode ser dito... existe algo que só a poesia pode dizer… existe algo que só a loucura pode admitir… existe algo que leva as pessoas a ter medo de dizer… existe algo que pode levar as pessoas à loucura, à prisão... existe algo que só os loucos e a poesia podem admitir e dizer e querer dizer e querer explicar a verdade. E que verdade é essa? Procurem na poesia… procurem na loucura… procurem na música… procurem na cabeça radiotransmissora de shostakovitch. Procurem na electricidade, no éter, na rádio, na tv e pensem no que poderá significar «iluminado». Quando descobrirem enviem relatório para este ateu esquizofrénico e para que se prove a existência de deus e 90% viva das esmolas! Oh and by the way, I am not an islamist but yes I am interested in sufism and that’s just one part of world philosophy, that’s all.

Todo o louco é fascista sem o saber, todo o homem é um grande paneleiro e reprime o medo de o ser, toda a mulher gosta de crucificar o amante mas desfalece viúva e raivosa sempre que o amante faz planos de seguir o seu caminho sem ela e ou por causa dela, todos nos insultamos fascizoidemente. Até o homo normalis é fascista quando manda trabalhar os outros mas… como dá de comer a alguns desgraçados toda a gente assobia para o lado e culpa o desgraçado por ter fome: somos a borra do café. O grande, ao ver que o vimos na rua, vira-nos as costas com indiferença. O remediado inveja a liberdade e diz que cada um tem o que merece. O pequeno rosna ao pensar que lhe vamos roubar o arroz de moelas da caridade.

Só se sai admitindo esta verdade, indo ao fundo mas dizendo-o a si próprio antes de o escrever, antes da terapia de ex-anónimos para que alguns o possam compreender, para que outros sintam conforto em sentir as suas estórias choradas com palmadinhas ou oferta de lenços de papel, este falhanço e esta culpa de existir, a lucidez vem por si, há dialectos que dizem: os paneleiros foderam-me o cabedal, e se esta expressão é racista conservadora, o que no facto quer dizer na maior parte dos casos é: o polícia passou-me uma multa, o estado roubou-me o subsídio, o cabrão despediu-me, ou seja, de tanto significar a palavra tornou-se quase um insulto gratuito, seu paneleiro do caralho axantra a mula, sem sentido que só leva a contra-respostas: não te trates que eu não quero. Vai-te tratar. Cheiras mal, estás cego!

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manuelle biezon

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