quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Estou chorando um rio para ti




POETA REREREVOLUCIONÁRIO

Dedicou-te o poeta alguns versos bem bons
do melhor que pôde, do melhor que soube.
Suou as estopinhas, tirou macacos do nariz,
irritou-se com a mulher, com a filha e com a criada.
Saiu nervoso de casa e, por ti,
nesse dia, em vez de uísque bebeu bagaço.

O poeta quase morreu a pensar em ti
na forma, no conteúdo, no poema,
no dilema, no crítico e na crítica
situação de dizer tudo, tudo
com palavras-pedra, palavras-chave
graves, agudas, fortes e esdrúxulas.

Garanto-te que o poeta quase se suicidou
para transmitir apenas numa folha
de 35 linhas tudo o que sabe de ti;
e disse coisas maravilhosas.

Falou dos horizontes vermelhos, dos amanhãs que cantam,
dos direitos totais e de outras regalias bestiais
até que cansado parou.

Foi quando enviou o poema ao director do jornal
com pedido de publicação e os cumprimentos do autor.


Fernando Madureira 

no volume «Da Angústia de cada coisa»
edição Língua Morta

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