quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

270 fadistas corruptos «de bem» no barbeiro

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E tomava ele consciência daquela tragédia do medo?

A sua valentia era proverbial, conhecida em todas as terras de Entre Douro e Minho, uma valentia física, rica nos momentos de bordoada, falada com respeito pelos que iam escanhoar-se ao Xasco de Ponte de Lima. «Ah, para esse fidalgo não bastam quatro homens armados! Teso como quê! Ainda no outro dia os da Beringela andavam com uma questão de águas da serra e ele veio em socorro e matou dois feitores de Bertiandos sem esfregar um olho. Duro como granito! Assim é que eu gosto de os ver! Conservam a velha raça. Sem medo. É capaz de ferrar uma mula e não desmontar da alimária, com vossa licença. Ó Xasco, tu não ouviste dizer que o fidalgo até escrevia para os jornais? Dizem que manda botar cantigas pelo S. João, que oferece, com os craveiros, às primas da Torre -- as poucas que ele ainda não desflorou. É danado para isso. Valentão. Nem armado se pode andar à confiança. No outro dia passei por ele perto da Fontinha e, não fosse o Cavaleiro da Barbela vir em minha ajuda, ele afogava-me ali mesmo para seu bel-prazer. Tem uma força! E depois ninguém lhe vai à mão! Enfim, são sortes e a gente que se aguente no balanço. É mais a fama que o proveito. Também lá há de ter as suas horas de tristeza já que o medo ele não conhece. (Corte lá isso com mais jeito, seu Xasco, rape para a frente, à escovinha para a piolhagem saltar viva cá para fora!) Parece que os anos em vez de lhe darem mais tino o tornaram pior. Que fidalgos! Querem tudo e não dão nada... Lá para a Beringela é o que se sabe... Nunca foi vista uma mulher que não estivesse prenha; é tudo a eito. Também cruzam uns com os outros e acabam sem raça; uns rafeiros que afinal é o que nós somos. (Ó Xasco, corta-me mais a pera do lado direito.) Dizem que esteve aí uma francesa que os pôs a todos a pão e laranja. Grande mulher! O pessoal de fora esmera-se sempre um bocado; vêm bem arreadas; trazem cheiros para a sovacagem e sabem endrominar coisas sem fazerem filhos. Boa fruta! Parece que já se foi embora. eu cá não tenho visto o carro. Se calhar está para o Porto ou Lisboa. -- Parece-me que sei quem ela é. Não foi ela que esteve no Monte de São Semedo quando das festas? Sei bem quem é. Boa carne! Se é tenra não sei, isso é lá com os que a provaram. (Não deite tanto álcool que me faz arder a cara. Uih, uih, e a toalha? Ah, sempre a mesma porcaria, e a gente que se limpe às mãos!) E esse louco do italiano, o bobo ou lá o raio que ele é, tem aparecido por cá? Desde as Feiras Novas que nunca mais o vi. Dá a impressão que esta gente se mete lá nos buracos e fica fechada todo o ano à espera que cheguem as festas. Mas o tipo é bacano. Diz cada uma, numa língua de preto! Aquilo nem é já italiano nem espanhol e ainda não é português. O bobo é bem caçado, e deita cá para fora cada uma que até faz corar um regimento de artilharia de campanha.

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páginas 208 - 209

de «A Torre da Barbela» de Ruben A.

edição Colecção Miniatura, Livros do Brasil

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