segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Ru Sousa

Ando há anos com uma frase de Baudelaire atravessada na garganta e desde que a li que tento escrever uma refutação mas acabo sempre a perder-me no raciocínio.
Baudelaire escreveu em O meu coração a nu, fogachos qualquer coisa como isto: Só os pederastas se interessam por mulheres inteligentes.
Eu quis refutar e dizer: É falso o que ele diz, eu não sou gay e gosto de mulheres inteligentes. Mas abandono sempre o assunto e não o concluo porque fico dogmático.
Eu gosto de mulheres inteligentes mas se não lhes descobrir um pormenor de beleza não me aproximo. Ideal seria uma mulher bela e inteligente.
Mas o que é a inteligência? 
É saber falar de um livro ou de um quadro ou de economia empresarial ou de filosofia? Estas despediram-me às vezes com educação mas enojadas com o meu mau aspecto e a minha burrice.
É saber gerir a família e os filhos? Essas chamam-me filho quando se riem dos meus absurdos mas depois quando há algum stress dizem que o marido não deixa.
É fazer-se à vida esgravatando cada cêntimo e assim sobreviver e até subir de nível social? Essas chamam: ó sócio!, arranja aí cinco euros para o café.
Eu quando reparo no que os meus amigos querem das mulheres reparo que casaram com a namorada do liceu, tiveram filhos e engordam de cerveja no café, talvez porque não suportem já a burrice da mulher, porque as inteligentes arranjaram maneira de se divorciar levando-lhes a honra e enchendo-os de ressabiamento contra elas e indo semanalmente satisfazerem-se com prostitutas e crack.
E em que eu sou diferente deles?
Sou apenas diferente porque não casei nem com a primeira namorada e se calhar apenas porque ela não me quis mais e eu como vi que tinha culpa na sua decisão de me deixar.... tentei mudar de atitude, tentei deixar de ser um típico macho ibérico e não quis nunca mais casar, quis partilhar em vez de apenas possuir, quis trocar ideias. No fundo, passei a preocupar-me mais com a satisfação dos seus desejos do com a satisfação dos meus, dar cada vez mais e receber cada vez menos, aniquilar-me.
E como os anos passam e até as mulheres inteligentes querem quase todas constituir família, as mulheres que vão aparecendo são fugitivas a realidades opressivas e já não importa a beleza nem a inteligência, só importa se tens o dinheiro que compra a chave para abrir a prisão.
E assim um Ru transfoma-se num Sousa ditador que não queria ser, o Sousa só queria ser um Ru que conseguisse dar e receber em igual medida.

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